Tal como anunciei no depoimento anterior, no presente, para continuar celebrando a Semana das Letras Galegas, realizarei uma aproximação ao cinema galego. Em depoimentos anteriores, já comentei alguns filmes realizados por galegos, de temática galega ou baseados os seus roteiros em obras literárias de autores galegos. Como é natural, dado que já foram estudados no seu momento, não os incluirei na listagem deste depoimento.
Infelizmente, agás o valdeorrês Manolo González, são muito poucos os críticos e pesquisadores sobre o cinema galego que citam nos seus trabalhos que a ideia de um cinema galego, e a necessidade de que a Galiza contasse com um cinema próprio, por bem de seu futuro e promoção, nasceu nas “Iª Jornadas do Cinema de Ourense” em janeiro de 1973, organizadas pelo Cine Clube “Padre Feijóo”, que presidia Emílio Losada Vila, e do que era secretário o professor da Escola Normal ourensana José Paz. Ambos acolheram com grande entusiasmo a proposta de Luis Álvarez Pousa, para organizar estas “Jornadas”, em cujo programa o escritor e professor López Cid escrevia acertadamente: “O cinema galego é a consciência do seu nada. Já é algo”. O criador do cartaz fora o pintor Vidal Souto. Nas edições seguintes, seguiu-se promovendo a ideia de que a Nossa Terra, com a sua cultura e a sua língua próprias, tinha que contar com a sétima arte cinematográfica. E mesmo na edição de 1978 estas “Jornadas”, de forma significativa, mudam de nome, passando a denominar-se “VIª Jornadas do Cinema das Nacionalidades e Regiões”, das quais, assinado por vários críticos e cineastas das diferentes “autonomias”, saiu um interessante “Manifesto cinematográfico”, a favor de que as diferentes nacionalidades do Estado, especialmente aquelas com idioma próprio, contassem com um cinema que, expressado na sua língua, apresentasse a vida, a cultura, a paisagem e os problemas próprios de cada uma delas.
Desde um primeiro momento, o crítico Júlio Pérez Perucha participou nas “Jornadas de Ourense”, pelo que a sua opinião sobre o cinema galego merece ser tida em conta. Em 1996 escreveu: “Durante várias décadas, desde finais dos anos trinta até meados dos setenta, não existe cinema galego. Uma vez assente tão triste premissa aclaremos, preliminarmente, que entendemos por cinema galego aquele produzido por empresas galegas, com morada na Galiza, e que, portanto, não cabe falar de cinema galego se considerarmos o protagonizado ou produzido por galegos em qualquer lugar do mundo, nem o referido a temas galegos ou circunstancialmente filmado em terras galegas por empresas administrativa e fiscalmente alheias à Galiza, nem as presumivelmente financiadas por capital galego fora do seu lugar de origem”. Pela sua parte, já em 2008, quando todos aceitam a existência dum “Novo Cinema Galego”, com os trabalhos fílmicos de novos cineastas como Eloi Enciso, Pela del Álamo, Otto Roca, Alberte Pagán, Pablo Cayuela e outros, Manuel Fernández Iglésias escreve: “Na minha opinião, não existe um “cinema galego” no senso dum cinema com identidade própria, consequência de uma identidade cultural ou geográfica. Neste senso, esse processo de desenvolvimento de um cinema galego quiçá poderia ter acontecido como consequência de um processo de afirmação de uma identidade cultural nacional durante os últimos anos do franquismo ou da transição. Se bem é certo que nessa época existiu um broto que poderia ter dado lugar a um cinema galego, com iniciativas como as do grupo “Lupa” na Compostela de inícios dos setenta, o grupo “Imagem” na mesma década, ou inclusive a obra de Chano Pinheiro, os resultados conseguidos por essas iniciativas foram desaparecendo no tempo por diferentes razões”.
É claro que existe um problema para identificar o que devemos entender por “cinema galego”. Para uns só se podem incluir no termo os filmes realizados na Galiza e falados na nossa língua, dirigidos por cineastas galegos, e financiados por capital autóctone. Para outros, porém, um filme é galego se está rodado por um cineasta da Terra, dentro ou fora da Galiza, ou por cineastas de qualquer procedência que vêm rodar à Galiza. Perante as duas posturas ou visões, eu prefiro uma postura eclética ou intermédia, tendo em conta a temática do filme, o espaço geográfico do mesmo, o roteiro, se está baseado em relatos de escritores galegos, os aspetos apresentados da nossa cultura e da nossa história, o idioma e a procedência do realizador, tanto se for natural da Galiza, como se tiver nascido na diáspora da emigração, e de família galega.
FILMOGRAFIA GALEGA BÁSICA: Antologia de Filmes Galegos:
A) Longa-metragens:
1- Malapata
- Dtor.: Carlos A. López Pinheiro (1979, 75 min., cor).
- Roteiro: Manuel Villanueva Prieto e Carlos A. L. Pinheiro. Fotografia: Javier Iglesias. Argumento: Um rapaz vai viver com uns familiares quando os seus pais emigram para o estrangeiro. Discriminado pela sua aparência física, terá que luitar para demonstrar a sua valia.
2- Urxa
- Dtor.: Alfredo Garcia Pinal e Carlos A. L. Pinheiro (1989, 87 min., cor).
- Roteiro: Alfredo Garcia Pinal e Carlos A. L. Pinheiro. Fotografia: Javier Serrano. Música: Alecrim.
- Atores: Luma Gómez, Alfonso Valenzuela, Laura Ponte, Raquel Lagares, Vicente Montoto, Lois Lemos, Pancho Martínez, Miguel de Lira, Manolo Bouzón, María Bouzas, Blanca Cendán, Ernesto Chao, Antonio Lagares, Manuel Lourenzo, Fely Manzano e Miguel Pernas.
- Argumento: O filme conta três momentos da vida de uma mulher na sociedade galega de princípios, meados e finais do século XX. O seu papel mágico está vinculado ao meio social e à natureza da qual é preservadora e “médium”.
3- Continental
- Dtor.: Xavier Villaverde (1990, 104 min., cor).
- Roteiro: Teresa Ordás, Raul Veiga e X. Villaverde.
- Fotografia: Javier G. Salmones. Música: José Nieto. Atores: Eusebio Poncela, Marisa Paredes, Féodor Atkine, Héctor Alterio, Jorge Sanz, Cristina Marcos, Fernando Guillén, Lola Baldrich, Nancho Novo, Alberto Alonso, Antón Reixa e Will More.
- Argumento: A finais dos anos 50, depois de assassinar o mítico capo Gonçalves e repartir-se os seus domínios, Ventura e Otálora, capos rivais e velhos amigos, luitam com as suas bandas pelo controlo da prostituição e do contrabando. Anabel, prostituta favorita de Ventura e sua jovem amante, viverão a sua paixão entre a violência que envolve a cidade portuária.
4- Nena
- Dtor.: Xavier Bermúdez (1997, 98 min., cor).
- Roteiro: César Fernández, Javier Izquierdo e X. Bermúdez, segundo o relato de Ivão
- Turgenev. Fotografia: Ángel Luis Fernández. Música: Coché Villanueva e Bios.
- Atores: Gary Piquer, Juan Querol, Nerea Barros, Pilar Pereira e Carlos Elicechea.
- Argumento: Daniel Paz, professor universitário, retira-se uns dias a um balneário para escrever uns roteiros cinematográficos e superar assim um desengano amoroso. Durante o seu retiro conhece dous irmãos: David e a jovem Eli. Intima com ela e pouco depois descobre que a relação entre os dous irmãos vai para além do amor fraterno.
5- Fisterra
- Dtor.: Xavier Villaverde (1998, 97 min., cor).
- Roteiro: Miguel A. Murado. Fotografia: Javier Salmones. Música: José Nieto.
- Atores: Nancho Novo, Elena Anaya, Enrique Alcides, Geraldine Chaplin, Chete Lera, Manuel Manquiña e Kasia Perminio.
- Argumento: Berto e Mário são dous irmãos nascidos na Costa da Morte, na Galiza. Os seus pais eram uns “hippies” que se instalaram ali a finais dos anos 60. O pai abandona- os quando Mário ainda era uma criança. Berto, o mais velho parece saber o porquê e aonde é que foi. Fascinados pela figura ausente do pai, os dous irmãos crescem fazendo planos para se reunirem com ele.
6- Sei quem és
-
Dtora.: Patrícia Ferreira (2000, 100 min., cor).
- Roteiro: Inés París e Daniela Fejerman. Fotografia: José Luis Alcaine. Música: José Nieto.
- Atores: Ana Fernández, Miguel Ángel Solá, Roberto Enríquez, Ingrid Rubio, Manuel Manquiña, Héctor Alterio, Mercedes Sampietro, Gonzalo Uriarte e Luis Tosar.
- Argumento: Paloma, uma jovem psiquiatra namorada do seu trabalho, conhece num hospital Mário, um paciente inquietante e sedutor que padece da síndrome de Korsakoff: uma estranha doença que altera a memória e pela que Paloma está muito interessada. Começa a tratá-lo, e a relação entre ambos faz-se cada vez mais estreita. Ele inspira-lhe sentimentos contraditórios, medo e atração simultaneamente, embora ignore que a memória de Mário oculta um passado tecido de factos perturbadores.
7- O alquimista impaciente
- Dtora.: Patrícia Ferreira (2002, 110 min., cor).
- Roteiro: Enrique Jiménez e Patrícia Ferreiro, segundo o romance de Lorenzo Silva.
- Fotografia: Marcelo Camorino. Música: Javier Navarrete.
- Atores: Ingrid Rubio, Roberto Enríquez, Chete Lera, Adriana Ozores, Miguel Ángel Solá e Jordi Dauder.
- Argumento: Num motel de estrada encontra-se o corpo de um homem nu e atado a uma cama. O sargento Rubén Bevilacqua (Vila) e a sua colega Virgínia Chamorro encarregam-se da investigação do caso, que é especialmente delicado pois Trinidad Soler, o morto, era engenheiro de uma central nuclear, de modo que a imprensa apontou-se às especulações mais tremendistas. A vítima era um homem corrente, apreciado no seu trabalho, casado e com filhos pequenos e, num princípio, não há suspeitos. O único que averiguam Bevilacqua e Chamorro é que o engenheiro tinha chegado ao motel acompanhado de uma jovem muito linda, que desapareceu sem deixar o menor rasto. Chega-se à conclusão de que a morte deveu ocorrer por acidente e o caso é arquivado. Embora, três meses mais tarde, a aparição do cadáver de uma mulher num bosque, faça que se reabra o inquérito.
8- Treze badaladas
-
Dtor.: Xavier Villaverde (2003, 106 min., cor).
- Roteiro: C. Royo, Juan V. Pozuelo e X. Villaverde, segundo um relato de Suso de Toro.
- Fotografia: Javier Salmones. Música: Javier Navarrete.
- Atores: Juan Diego Botto, Luis Tosar, Marta Etura, Rosa Álvarez, Elvira Mínguez, Laura Mañá, David Álvarez, Diego Infante, Gonzalo Uriarte, Yolanda Muiños, Mariana Carballal e Susan Ritz.
- Argumento: Jacobo, um jovem escultor, volta à sua cidade natal depois de 20 anos de ausência. A razão do seu regresso é a delicada saúde da sua mãe, hospitalizada num psiquiátrico. Ali se reencontra com pessoas quase esquecidas, que o ajudarão a enfrentar-se a uns factos de que leva meia vida fugindo. Isto o vai levar ao centro de um pesadelo sem saída, em que há descobrir algo terrível: é a peça fundamental dum enigmático plano.
9- O lápis do carpinteiro
-
Dtor.: Antom Reixa (2003, 109 min., cor).
- Roteiro: José Morais e A. Reixa, segundo o romance homónimo de Manuel Rivas.
- Fotografia: Andreu Rebés. Música: Lúcio Godoy.
- Atores: Tristán Ulloa, Luis Tosar, María Adánez, Nancho Novo, María Pujalte, Manuel Manquiña, Anne Igartiburu, Maxo Barjas, Carlos Sobera, Sergio Pazos, Monti Castiñeira, e Miguel de Lira.
- Argumento: Galiza, 1936. Daniel da Barca é um jovem médico e intelectual republicano encadeado pelas suas ideias. A sua noiva, Marisa Malho, filha de um conhecido reacionário luita por devolver-lhe a liberdade. A testemunha do seu amor é Herbal, um apoucado carcereiro que assiste entre atónito e furioso às conversas que mantêm os presos para fazer mais suportável a sua condenação. Em plena Guerra Civil (1936-39), cometem-se toda a classe de excessos, muitos presos são fuzilados clandestinamente e de maneira aleatória. Quando chega a vez de Daniel, Herbal, dominado pelo medo debater-se-á entre a violência e a consciência.
10- Bs. As
- Dtor.: Alberte Pagán (2006, 79 min., cor).
- Atores: Marta Vázquez, Jesvir Mahil, Célia Pagán, Pepe Vázquez, Glória González e
- Daniel Vázquez.
- Argumento: O filme trata sobre a capital da Argentina e o seu relacionamento com a Galiza, tocando temas como a emigração, que marcou tantas gerações de galegas e galegos. Embora, não sobre a Buenos Aires real, denotativa, física, mas sobre a Bs. As, assim abreviada, mítica, conotativa, sonhada. O realizador escarva nas misérias, nas tragédias, nos traumas, nas separações, nos desencontros que a emigração implica, e ainda perduram na atualidade. Num prólogo fotográfico, as velhas imagens recuperam do esquecimento os parentes ausentes e o devir histórico de uma família muito ligada a América. As fotografias servirão de ancoragem gráfica ao relato que depois se desenvolve em várias partes, terminando com um epílogo.
11- 18 comidas
- Dtor.: Jorge Coira (2010, 107 min., cor).
- Roteiro: Araceli Gonda, Diego Ameixeiras e Jorge Coira.
- Fotografia: Brand Ferro. Música: Piti Sanz e Iván Lage.
- Atores: Luis Tosar, Esperanza Pedreño, María Vázquez, Cristina Brondo, Sergio Peris
- Mencheta, Víctor Clavijo, Juan Carlos Bellido, Víctor Dupla, Xosé Barato, Pedro Alonso e Milan Tocinovski.
- Argumento: O filme conta seis histórias ao longo de um único dia de ficção. A fita de formato pouco convencional, com diálogos abertos à improvisação, viaja por 18 refeições, pequenos-almoços, almoços e jantares, que nos fazem partícipes de alguns desses momentos que nos podem mudar a vida.
12- Todos vós sois capitães
-
Dtor.: Óliver Lage (2010, 79 min., cor). Documentário.
- Roteiro: Óliver Lage. Fotografia: Inés Thomsen. Produtora: Zeitum Films.
- Atores: Shakib Ben Omar, Nabil Dourgal, Mohamed Bablouh, Said Targhzaou, Asharaf Dourgal, Mohamed Selushi, Redouan Negadi, Youssef Boughari e Bilal Belcheikh.
- Argumento: Ensaio visual a meio caminho entre o documentário e a ficção, que ao tempo que retrata o Magreb, relata a história de Óliver, um professor que anima um grupo de crianças para rodar um filme em Tânger.
13- Vikingland
- Dtor.: Jurjo Chirro (2011, 99 min., cor). Documentário.
- Roteiro: Jurjo Chirro, segundo o relato de Herman Melville.
- Fotografia: Luís Lomba. Música: Seném Outeiro. Produtora: Filmika Galaika, SL.
- Atores: Luís Lomba “O Haia” e Manolo González “Bulina”.
- Argumento: Adaptação da obra Moby Dick, por meio de imagens recolhidas dum diário filmado dum marinheiro mercante galego que trabalha entre a Dinamarca e a Alemanha.
14- Arraianos
-
Dtor.: Eloy Enciso (2012, 70 min., cor).
- Roteiro: José Manuel Sande e Eloy Enciso. Fotografia: Mauro Herce.
- Produtoras: Artika Films e Zeitum Films.
- Atores: Aurora Salgado, Antonio Ferreira, Eulalia González e Celsa Araujo.
- Argumento: Crónica sobre um pequeno povo perdido nas montanhas da fronteira entre a Galiza e Portugal, uma comunidade rural que se resiste a desaparecer. Os momentos de ficção coexistem com a vida diária dos vizinhos que surpreendentemente, interpretam diálogos de uma obra existencialista e lírica chamada O Bosque, do escritor Jenaro Marinhas del Valhe. Enquanto realidade, mitos e sonhos se confundem, aparece um estranho que anuncia uma profecia.
15- N-VI
- Dtor.: Pela del Álamo (2012, 86 min., cor). Documentário.
- Roteiro: Pela del Álamo. Fotografia: Francisco Amoso “Pixi”. Música: Xavier Mera.
- Argumento: Antes viajávamos por estradas que atravessavam lugares habitados. Hoje, aquelas estradas foram substituídas por autoestradas idoladas da paisagem que atravessam. Durante muito tempo, a N-VI foi uma das estradas mais importantes do país. Unia Madrid com a Galiza ao longo de 600 quilómetros. Agora a autoestrada A-6 cobre todo o treito. Alguns troços da velha N-VI desapareceram, outros ficaram quase abandonados, como ilhas à deriva, quilómetros de asfalto que começam e terminam em nenhuma parte, e com eles as aldeias e povos que atravessavam. Nas margens daquela estrada permanecem os seus habitantes cujas vidas ficaram encalhadas num presente sem demasiado futuro.
16- Piedade
- Dtor.: Otto Roca (2012, 73 min., cor). Documentário.
- Roteiro: Marcos Nine. Fotografia: Otto Roca. Música: Benamín Otero.
- Atores: Piedade Ferreiro e Amadeo Ferreiro.
- Argumento: Piedade viveu parte da sua vida em Leiroso, uma pequena aldeia, isolada do mundo urbano. Junto ao seu esposo decidiram ficar ali, quando os seus filhos e vizinhos foram abandonando o lugar. Aos 76 anos aparece o alzheimer na sua vida. O seu esposo faleceu há tempo e é a única habitante da zona. A doença motiva que o seu filho mais novo decida levá-la para viver com ele e com a sua família na cidade. Isto provoca uma mudança radical na vida de Piedade, no seu dia-a-dia, no seu meio familiar e nas lembranças da sua anterior vida. Na nova vida de Piedade não se sabe que é verdade, lembrança ou produto da sua doença.
17- Fora
- Dtor.: João Gómez Vinhas e Pablo Cayuela (2012, 95 min., cor). Documentário.
- Roteiro: Pablo Cayuela e Maria do Cebreiro.
- Fotografia: Pablo Cayuela. Música: Urro e Faust.
- Argumento: Indagação sobre as histórias ocultas dum lugar: o edifício do hospital psiquiátrico de Conjo, em Compostela. Empregando um dispositivo audiovisual que parte da posta em imagem do documento, a longa-metragem gera uma corrente alterna entre as imagens da instituição e as vozes, ligadas aos relatos que alberga o edifício ou a leitura de fragmentos literários e fontes documentais escolhidas pela sua capacidade de ressonância no presente. A história de Conjo, imagem especular da história de Compostela, vai-se desfazendo em pequenas histórias que amostram a necessidade de explorar o significado social de determinados espaços reprimidos da memória urbana.
18- Costa da Morte
-
Dtor.: Lois Patinho (2013, 84 min., cor). Documentário.
- Roteiro: L. Patinho. Fotografia: L. Patinho. Música: Ann Deveria. Produtora: Zeitum Films.
- Atores: Manuel Barga, Emília Demina e José Fábregas.
- Argumento: A Costa da Morte era considerada em tempos dos romanos como o fim do mundo. O seu nome vem dos trágicos naufrágios que tiveram lugar nesta rochosa e tormentosa região de abundantes nevoeiros. A câmara explora a zona, centrando-se nos pescadores e trabalhadores que ali moram. Reflete a relação adversa que têm com os elementos, examinando o mistério que une um povo à sua terra, à sua história e às suas lendas.
19- Norte, adiante
- Dtor.: Eloy Domínguez Serén (2014, 60 min., cor).
- Argumento: Entre referências a Jonas Mekas e ao novo cinema galego, este filme narra em forma de diário a emigração dum jovem cineasta de menos de 30 anos, no qual a nostalgia se vence submergindo-se no processo de aprendizagem de uma nova língua e de um novo ofício, à vez que com o desarraigo se aproveita a construção de uma identidade que nunca se teve no país de origem. Mas, esta emigração só é o reflexo da dos seus avós, os quais também migraram para combater uma precariedade que neste filme volta de forma cíclica. Por meio da documentação constante do seu novo habitat, o seu novo ofício de peão de obra, e as suas novas relações, Serén reflete sobre a condição e o sentido desse inadaptado em que por força se converte qualquer emigrante.
20- A esmorga
- Dtor.: Ignacio Vilar (2014, 111 min., cor).
- Roteiro: Carlos Asorey e I. Vilar, segundo o romance homónimo de Eduardo Blanco Amor.
- Fotografia: Diego Romero. Música: Zéltia Montes. Produtoras: TVG e Via Láctea Filmes.
- Atores: Karra Elejalde, Ledícia Sola, Miguel de Lira, António Durán ‘Morris’, Sabela Arán,
- Monti Castinheiras, Mela Casal, Santi Prego, Alfonso Agra, Patxi Bisquert, Mónica Garcia,
- Pepo Suevos, Elena Seijo, Covadonga Berdinhas, Iago López, Lois Soage, Fina Calleja,
- Amélia Guede e Melánia Cruz.
- Argumento: Crónica tensa e intensa de 24 horas na vida de três companheiros de farra que vão deixando um regueiro de destruição, de sexo equívoco e reprimido, e também fechando portas e depois deitar fora as chaves, como se de forma deliberada procurassem a perdição. A ação transcorre por diversas ruas e bairros da cidade de Ourense.
Nota: Por serem tratadas em anteriores depoimentos, não se incluem na listagem as longa-metragens Sempre Xonxa de Chano Pinheiro, Belas dormentes de Eloi Lozano, A língua das borboletas de José Luis Cuerda e O bosque animado em desenhos animados.
B) Curta-metragens:
1- Galiza
- Dtor.: Carlos Velo (1936 / 2011, 24 min., com a nova montagem de Margarida Ledo, Pablo Cayuela e Ramiro Ledo. Preto e branco). Documentário.
- Tema: Imagens da Nossa Terra gravadas por Velo no ano 1936.
2- O documento
- Dtor.: Henrique R. Baixeras (1974, 30 min., branco e preto).
- Roteiro baseado num conto de Ángel Fole. Grupo “Enroba”.
3- A tola
- Dtor.: Miguel Gato Luaces (1974, 30 min., branco e preto).
- Roteiro de Francisco Tajes. Tema: A repressão fascista na Galiza e os “passeios” dos
- Falangistas. O filme foi sequestrado pelo TOP [Tribunal de Ordem Público], depois de ser projetado nas “IIIª Jornadas do Cinema de Ourense”, e não apareceu mais. A ordem de sequestro foi dada pelo mais nefasto e fascista governador de Ourense, o valenciano Llobell Muedra.
4- Fendetestas
- Dtor.: António F. Simón (1975, 31 min., cor).
- Roteiro de M. Gato e A. F. Simón, baseado num relato de Wenceslau Fdez. Flórez.
- Tema: João de Malvís, alcunhado “Fendetestas”, jornaleiro que se faz ladrão de caminhos.
5- O cadaleito
- Dtor.: Henrique R. Baixeras (1976, 30 min., cor).
- Roteiro de Francisco Tajes, segundo o conto de Ángel Fole “A caixa de mortos”.
- Tema: Aos ladrões de um paço aguarda-lhes a vingança do administrador.
6- O herdeiro
- Dtor.: Miguel Gato Luaces (1976, 15 min., cor).
- Roteiro de M. Gato e A. F. Simón. Tema: Um homem de dinheiro falece deixando a fortuna ao seu neto. Este terá que viajar ao lugar do avô para conhecer as suas últimas vontades.
7- Ilha
- Dtor.: Carlos A. López Pinheiro (1976, em 16 mm., cor).
- Filme premiado em vários festivais. Tema: a vida dos que moram numa ilha galega.
8- A ponte da vera velha
- Dtor.: Carlos A. López Pinheiro (1977, em 16 mm., cor).
- A produtora deste e do anterior filme foi o “Grupo Imaxe”.
9- Os pássaros morrem no ar
- Dtor.: Chano Pinheiro (1977, 34 min., cor).
- Tema: Uma moça pretende fazer uma ponte entre dous montes, pensando que vai ser
- uma vantagem para o seu povo. Na procura de ajuda encontra-se com Castelão e Basílio Álvarez.
10- O monte é nosso
- Dtor.: Llorenç Soler (1978, 37 min., cor). Documentário.
- Tema: A defesa dos montes comunais [baldios] na Galiza e a luita dos vizinhos.
11- Mamasunción
-
Dtor.: Chano Pinheiro (1984, 21 min., cor).
- Roteiro: Ch. Pinheiro. Música: J. L. Rivas “Mini” e Pablo Barreiro. Foto: Miguel A. Trujillo.
- Tema: Olhada lírica e crítica sobre os efeitos da diáspora galega na emigração.
12- Embarque
- Dtor.: Carlos A. López Pinheiro (1984, 10 min., cor).
- Tema: Quando uma atrativa e endinheirada turista americana lhe faz as beiras a um moço da vila, este vai descobrir que as aparências enganam… Aguarda por ele um inesperado embarque.
13- Esperança
- Dtor.: Chano Pinheiro (1986, 34 min., cor).
- Roteiro: Ch. Pinheiro. Música: Pablo Barreiro.
- Tema: O problema do alcoolismo no pai de uma família, visto da perspetiva de uma criança.
14- Rio de sombras
- Dtor.: Daniel Domínguez (1986, 21 min., cor).
- Tema: Uns jornalistas investigam um crime na fronteira com Portugal. Baseado num relato de Méndez Ferrim.
15- 1977
- Dtor.: Peque Varela (2007, 9 min., cor).
- Tema: Uma cidade pequena, um nó que medra e uma menina procurando a sua identidade.
16- Paris
- Dtor.: Oliver Lage (2007, 35 min., cor).
- Tema: Regresso estival desde o chamado pelo realizador “exílio” a Amil (Múxica, região dos Ancares), aldeia nos montes galegos. Estampas de uma visita à família no campo compiladas em álbum familiar rodado a preto e branco.
17- Eclipse
- Dtor.: Alberte Pagán (2010, 20 min., cor).
- Tema: O tempo passa. A vida flui. A natureza completa um ciclo inteiro de vida e morte. Eva e Adão reinterpretam e corrigem o mito da árvore da ciência: a fruta proibida faz-nos sábios. Enquanto a terra dá uma volta ao redor do sol a câmara recolhe uma sinfonia barroca de luzes e cores. Não há manipulação digital: todos os efeitos são produzidos analogicamente pelo mecanismo da câmara.
18- Montanha em sombra
- Dtor.: Lois Patinho (2012, 14 min., cor). Documentário.
- Tema: Uma olhada poética sobre a relação entre o homem e a paisagem.
- Contemplamos, de uma longa distância, a atividade de vários esquiadores sobre uma montanha nevada. O tratamento da imagem, à maneira de um quadro, e a atmosfera escura transforma um espaço conhecido em algo irreal, impreciso, quase uma experiência tátil.
Nota: Por serem tratadas em anteriores depoimentos, não se incluem na listagem as curta-metragens O carro e o homem de António Román, O pai de Miguelinho de Miguel Castelo e todas as curta-metragens realizadas por Eloi Lozano Coelho.
ASPETOS BÁSICOS DO CINEMA GALEGO:
Acho que, para uma acertada pesquisa ao redor do cinema galego, devem ter-se em conta os seguintes aspetos:
- Pesquisadores: O mais importante de todos, o mais digno e mais objetivo, é Manolo González, que chegou a ser diretor da Escola de Imagem e Som da Corunha. Também merecem ser citados José Mª Folgar de la Calle, Ángel Luis Hueso Montón, José Luis Castro de Paz, Júlio Pérez Perucha, Manuel J. Fdez. Iglésias, Daniel Domínguez, Miguel Castelo, Miguel A. Fernández, Margarida Ledo Andión, Luis Álvarez Pousa (com um magnífico labor no tempo que foi Diretor Geral de Cultura da Junta da Galiza), Eduardo Galán, David Paz Nóvoa e o professor Emílio Garcia Fernández.
- Cineastas: José Gil, José Suárez, António Román, Carlos Velo, Ernesto Diaz Noriega, J. A. Nieves Conde, Miguel Gato, António F. Simón, Henrique R. Baixeras, Eulógio R. Ruibal, Carlos Varela Veiga, Cruz Risco, Carlos A. L. Pinheiro, Chano Pinheiro, Xavier F. Villaverde, Eloi Lozano, Ismael González, Alfredo G. Pinal, Miguel Castelo, Manuel Abad, Llorenç Soler, Daniel González Alén, Jorge Prelorán, Daniel Domínguez, Xavier Bermúdez, Patrícia Ferreira, José Luis Cuerda, Alberte Pagán, Oliver Lage, Eloi Enciso, Pela del Álamo, Jurjo Chirro, Antom Reixa, Lois Patinho, João C. P. Leira, Jorge Coira, Peque Varela, Eloi Domínguez Serén, Pablo Cayuela, J. Gómez Vinhas e Ignácio Vilar.
- Grupos e entidades: Cines Clubes “Padre Feijóo” de Ourense, “Carvalhinho”, “Adega” de Vila Garcia, “Abertal” de Vigo, “Groucho Marx” de O Barco e “Carlos Varela Veiga” de Lugo. Grupos “Lupa”, “Enroba”, “Imagem”, “Rula” e “Deza Cinema Galego”. “Nós” Cinematográfica Galega, IGAEM, TVG, Arquivo da Imagem, Museu do Povo Galego, Escola de Imagem e Som da Corunha, CGAI e AGA (Agência Galega do Audiovisual). Entre os produtores mais importantes temos Vítor Ruppén Pardo, Ismael González e Ana Fernández Puentes.
- Escritores base para roteiros: Castelão, Fernández Flórez, Ángel Fole, Blanco Amor, Joaquim Lourenço, Méndez Ferrim, Manolo Rivas e Suso de Toro.
TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR:
Servindo-se da técnica do Cinema-fórum, analisar e debater sobre a forma (linguagem cinematográfica: planos, contraplanos, panorâmicas, movimentos de câmara, jogo com o tempo e o espaço, truques cinematográficos, etc.) e o fundo dos filmes que vejamos da listagem antes resenhada.
Organizamos nos estabelecimentos de ensino dos diferentes níveis educativos, uma amostra-exposição sobre a história do cinema galego, com livros ou obras literárias que serviram de base para os diferentes roteiros. Completamos a mesma com DVDs dos filmes que possamos conseguir. E finalmente, tomando como base a listagem dos 48 filmes resenhados no presente depoimento, democraticamente escolhemos 6 ou 7 filmes e organizamos um ciclo cinematográfico com eles, incluindo o cartaz do mesmo, que podem desenhar os estudantes, e um programa com críticas dos filmes. Os quais serão apresentados, antes de ser projetados, e depois organizaremos, uma vez vistos, os oportunos cinema-fórum para cada um.
Entre todos, alunos e docentes, de comum acordo, escolhemos um dos filmes que esteja baseado o seu roteiro em algum livro, conto ou relato, lemos todos o livro, relato ou conto em que está baseado, vemos o filme, e posteriormente passamos a analisar livro e filme. Também podemos elaborar uma monografia, que se pode editar ou policopiar.