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Ana Miranda: “Se não virmos que a nossa língua é universal estaremos cometendo um erro para gerações, pois isolar-se é um erro histórico”

ana-mirandaNeste ano 2021 cumprem-se 40 anos desde que o galego passou a ser considerada língua oficial na Galiza, passando a ter um status legal que lhe permitiria sair dos espaços informais e íntimos aos que fora relegada pola ditadura franquista. Para analisarmos este período, estivemos a realizar ao longo de todo o ano umha série de entrevistas a diferentes agentes sociais para nos darem a sua avaliaçom a respeito do processo, e também abrir possíveis novas vias de intervençom para o futuro. Acabamos a série falando com Ana Miranda, vozeira do BNG Europa, eurodeputada em Bruxelas em 2011-2012, 2018-2019 e no próximo período de 2022-2024.

Qual foi a melhor iniciativa nestes quarenta anos para melhorar o status do galego?
Um passo adiante fundamental neste sentido foi a aprovação em 2014 da Iniciativa Legislativa Popular Paz Andrade, depois de ser apoiada por mais de 17.000 assinaturas. Não só prevê a incorporação do galego internacional no ensino, mas também o desenvolvimento de relações com os países de língua portuguesa, a participação nos foros da lusofonia e a facilitação da receção das rádios e televisões de Portugal. Se não virmos que a nossa língua é universal estaremos cometendo um erro para gerações, pois isolar-se é um erro histórico.

Se pudesses recuar no tempo, que mudarias para que a situação na atualidade fosse melhor?
A política linguística deve ser transversal a todas as políticas que se desenvolvam ou ativem por qualquer instância e deve estar no cerne de toda ação. Dito isto, mudaria sem dúvida as decisões tomadas polo PP que constituem um ataque direto à nossa língua. Assim, revogaria o Decreto 79/2010 do plurilinguismo e substituiria-o por uma nova norma que incorporasse os compromissos assinados polo Estado ao ratificar a Carta Europeia das Línguas Minorizadas. Também mudaria a decisão de não ter implementado uma lei como a Paz Andrade antes e, obviamente, normalizaria o galego em todos os âmbitos, principalmente dando-lhe um maior valor e impulso entre a mocidade, inculcando nela o apego pola língua, de modo a que a sintam como sua, pois como estamos a ver a situação é de esmorecimento e cabe a esta geração travar as consequências de decisões terríveis que tomárom outros: o governo antigalego e minimizador da língua que temos. A propósito, adoro a palavra recuar, minha defunta mãe usava-a sempre e fai parte da nossa vida.

Revogaria o Decreto 79/2010 do plurilinguismo e substituiria-o por uma nova norma que incorporasse os compromissos assinados polo Estado ao ratificar a Carta Europeia das Línguas Minorizadas.

Que haveria que mudar a partir de agora para tentar minimizar e reverter a perda de falantes?
1930732São precisas várias medidas para reverter a perda de falantes. Por um lado,  impulsionar a normalização do galego no ensino, em sintonia com o relatório do Conselho da Europa, que é mui crítico em relação à realidade da língua galega neste âmbito. Por outro lado, pensamos que é fundamental o reforço da programação infantil e juvenil em galego, bem como o fomento da investigação e do desenvolvimento para incorporar o galego às novas ferramentas comunicativas e tecnológicas.
É imprescindível garantir às pessoas que querem viver em galego na Galiza poder fazê-lo, sem atrancos, com segurança e garantias e com toda a oferta possível em todas as esferas da vida, desde administração, justiça, ensino,  serviços públicos em geral, consumo, lazer, entre tantas outras. As diversas administrações têm muita responsabilidade. Eu diria mesmo tanta que se não o fizerem agora poderemos entrar num declínio, não só objetivo, em número de falantes, mas também emocional, em que as pessoas não sintam já o galego como seu mas como algo alheio, de maneira a apagar a nossa identidade como povo. Muitas organizações de defesa da língua e meios que defendem o seu valor estão, estades, a fazer uma chamada de SOS, com base nas estatísticas e na realidade. Agora ou nunca!

Achas que seria possível que a nossa língua tivesse duas normas oficiais, uma similar à atual e outra ligada com as suas variedades internacionais?
Certamente, a proximidade com as variedades internacionais constitui uma vantagem que devemos potenciar, conferindo conteúdo concreto à Lei para o aproveitamento da língua portuguesa e vínculos com a lusofonia, aprovada na sequência da ILP Paz Andrade mas não desenvolvida polo governo do PP. Introduzir o português nos centros de ensino da Galiza, e mantê-lo ali onde já existe, é uma fórmula que teria consequências mui positivas no desenvolvimento da variedade considerada atualmente como oficial e da ligada às variedades internacionais. Neste sentido, defendemos que a Galiza esteja inserida na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

No dia a dia do trabalho político uso as duas variedades com total normalidade, em função do contexto, do lugar ou do tema a tratar, e é-vos uma riqueza!

Pessoalmente, não teria qualquer problema com que tivesse duas normas, e seria até mais democrático para quem quiser usar uma ou outra. No Parlamento Europeu sempre tive e continuarei a ter a sorte de poder falar a nossa língua na maioria das intervenções no plenário, e isso também ajuda a naturalizar que o galego é uma língua mundial, universal. Isso não o podem fazer as parlamentares catalãs nem bascas, como acabei de dizer ainda esta semana numa palestra sobre línguas em Bruxelas. Aliás, no dia a dia do trabalho político uso as duas variedades com total normalidade, em função do contexto, do lugar ou do tema a tratar, e é-vos uma riqueza!

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