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‘A história das línguas: Uma introdução’, de Tore Janson

Tore Janson
A história das línguas. Uma introdução
Parábola. São Paulo, 2015.

 

Tore Janson, professor sueco de línguas africanas na Universidade de Gotemburgo até a sua reforma em 2001 e especialista na história do latim é o autor de The history of languages: An introduction (2012). O livro foi traduzido para a variedade brasileira da nossa língua polo lingüista Marcos Bagno e tirado do prelo em 2015 sob a chancela editorial da Parábola.

capa linguasA História das Línguas analisa processos gerais de mudança lingüística e casos específicos de línguas, desde as mais faladas no mundo -chinês, inglês, galego-português-; a línguas desaparecidas –latim, grego clássico-; línguas minoritárias e/ou menorizadas -gaélico escocês, línguas banta africanas- e ainda casos de desdobramentos lingüísticos, de grande interesse para o público galego, como o holandês/africâner.

O estudo, concebido como um manual didático para estudantes universitários de história, lingüística e línguas em geral, é estruturado num prefácio e seis partes, divididas à sua vez em capítulos, no final das quais há umha proposta de revisom de conteúdos com diferentes atividades para trabalhar em aulas.

A introduçom informa de que o tema do ensaio é o papel das línguas na história e reflete sobre como o estreito vínculo entre ambas “tende a ser obscurecido pela simples razão de que a história é tratada pelos historiadores enquanto os linguistas se ocupam das línguas”. Portanto, um dos propósitos do livro é precisamente esse: “contribuir para transpor a lacuna que separa os praticantes dessas disciplinas”.

A primeira parte intitulada Antes da história é dividida em dous capítulos. O primeiro aborda um tema complexo, quando é que as línguas passárom a existir? Janson fornece os principais dados sobre a origem das línguas, as possíveis razons que explicam o surgimento delas e traz à tona os poucos sistemas linguísticos de sociedades coletoras-caçadoras que chegárom aos nossos dias como os dos bosquímanos no sul da África ou os dos aborígenes australianos. Polémicas tam atuais no contexto galego como a própria definiçom de língua ou o nome que recebe som aludidas aqui. O segundo capítulo expom os grandes grupos lingüísticos com exemplos concretos de línguas indo-europeias, asiáticas, africanas e americanas.

A base da história é o título da segunda parte do livro. Nela explica-se o nascimento da escrita, marco que determina o fim dos tempos pré-históricos e o início dos históricos. Apresentam-se as circunstáncias históricas que tratam a apariçom da escrita na regiom dos rios Tigre e Eufrates, narra-se pormenorizadamente o caso dos hieróglifos egípcios e dos logogramas chineses e da influência histórica que o Estado chinês exerceu sobre diferentes escritas asiáticas.

A terceira parte centra a atençom na expansom das línguas, fenómeno que é explicado através de três capítulos dedicados ao espalhamento do grego, latim e árabe e um último capítulo no qual os casos destas três famosas línguas som contrastados e dadas algumhas conclusons. O prestígio alcançado polo grego serve ao lingüista nórdico como desculpa para debater sobre o darwinismo lingüístico e também para introduzir o conceito de koiné ou língua padrom. Quanto ao latim, é o seu vínculo ao poder imperial que é usado como exemplo para explicar a troca e extinçom de línguas e dos seus usos como língua internacional na Europa medieval. Já o alastramento do árabe é ligado à religiom mussulmana. A queda do império árabe e a sua posterior divisom linguística em “dialetos” também merece a atençom do estudioso para reflexionar sobre a existência de umha ou várias línguas árabes.

Na quarta parte, Línguas e nações, Tore Janson ocupa-se de como os diversos dialetos do latim falados na Europa se tornárom línguas através da chamada mudança metalingüística que é ilustrada através da experiência concreta das línguas italiana e francesa. Depois, é historicizada a língua inglesa, narraçom da qual tirámos liçons bem úteis: De ser umha língua à beira da desapariçom virou o esperanto dos dias de hoje. Um capítulo sobre a noçom de língua nacional e variados aspetos sociolingüísticos encerram esta parte com recomendáveis atividades de revisom de conteúdo, tópicos para discusom e sugestons de pesquisa para os alunos.

É na quinta parte onde o ensaísta se debruça sobre o caso das línguas europeias que hoje som faladas no continente americano, isto é, fundamentalmente o inglês, o espanhol e o galego-português. Os pidgins e crioulos, o contraste entre o holandês europeu e o africano ou africáner, a curiosa duplicidade de grafias para representar o norueguês contemporâneo, a padronizaçom das línguas africanas ou as razons que explicam o abandono do gaélico escocês por parte dos seus falantes ou a diversidade lingüística mundial som outros dos pontos desenvolvidos nesta interessante parte da obra.

Por último, nos primeiros capítulos da parte VI, Passado recente, presente, futuro, o estudioso sueco mostra as causas que figérom do inglês a língua ecuménica e avalia a sua situaçom atual. Logo a seguir, embrenha no chinês contemporáneo para vasculhar sobre o radical processo de simplificaçom que o isolou do chinês clássico. Finalmente profetiza sobre o futuro das línguas no planeta a curto-prazo, douscentos anos, a meio-prazo, dous mil anos e mesmo a longo-prazo, dous milhons de anos, achegando inovadoras ideias sobre a próxima língua hegemónica no mundo, o número de línguas que serám faladas e mesmo lobregando um tempo em que nom existam mais os seres humanos e, portanto, o que hoje denominamos, com melhor e pior fortuna, língua.

Leitura amena e agradável, com informaçons substanciais e cativantes fam deste volume umha leitura indispensável para qualquer professor de galego-português ou de pessoas ávidas de saber sobre a essência dessa ferramenta que nos afasta dos animais e nos humaniza, a língua.

 

Publicado como recensom no nº 2 da Kallaikia, revista de estudos galegos.

Publicado no Blogue da AEG.

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