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Maria Geremias debulha para o PGL o seu trabalho “A presença do Dia das Letras Galegas no campo editorial galego (1978-1989)”

Maria Geremias Taboada graduou-se em junho de 2021 em Galego e Português: Estudos Linguísticos e Literários na Universidade da Corunha (UDC) com um Trabalho Fim de Grau (TFG) intitulado “A presença do Dia das Letras Galegas no campo editorial galego (1978-1989)”, acessível no repositório desta instituição galega (http://hdl.handle.net/2183/29741).

Conversamos com ela na véspera do Dia das Letras Galegas, este ano dedicado a um dos líderes do Grupo Galaxia, Francisco Fernández del Riego, promotor da organização deste evento anual na Real Academia Galega desde 1963.

Com este trabalho graduas-te em junho de 2021 na Universidade da Corunha em Galego e Português: Estudos linguísticos e literários, um grau este, conjunto em galego e português, único na Galiza. Conta-nos por que decides fazer estes estudos e por que escolhes analisar no teu trabalho final de graduação o impacto do Dia das Letras no campo editorial do início do período autonómico?

A escolha deste grau a verdade que foi não diria que acidental, mas sim consequência de diferentes circunstâncias. Quando acabei a secundaria obrigatória ainda não tinha claro se me inclinar por uma carreira de letras ou por uma mais orientada para as ciências sociais. De feito, eu comecei o primeiro curso de Bacharelato pelo itinerário de ciências sociais sem lhe fechar a porta a uma possível mudança no segundo curso que, como é lógico, chegou a termo. Porém, apesar da indecisão inicial —consequência também da idade da criatura—, o que tinha claro era a minha vontade de me dedicar no futuro à docência, assim que comecei a cavilar em qual queria que fosse a minha achega a esta profissão e sobre todo desde que posição queria contribuir. A dada altura, e levando em conta quais tinham sido os meus modelos a seguir por exemplo na Educação Secundária, a decisão de me matricular no grau de Galego e Português foi iniludível e ademais a opção que se me apresentava como natural.

Com a seleção do tema do trabalho final de graduação aconteceu algo similar. A elaboração de um TFG em geral é um processo que, pela minha experiência, precisa de um acompanhamento e de uma orientação previa que começa já no momento de escolha do tema. Neste senso, tenho de lhe agradecer ao professor Roberto Samartim que me apresentasse o projeto Base de dados (BD) do livro galego entre 1978 e 2019 (Samartim e Cernadas 2020) e que me permitisse empregar esta base de dados como ferramenta procedimental para dar cobertura ao meu TFG. O objetivo de analisar a presença do Dia das Letras Galegas (DLG) no campo editorial galego entre 1978 e 1989 abrolha fundamentalmente de uma intuição do professor Samartim, quem já tinha realizado estudos em volta da efeméride e quem me trasladou que o impacto no campo editorial do DLG era um domínio de conhecimento quase estéril. Com base nestas premissas, analisar a presença do DLG no período em foco dava para preencher um défice e gerar um conhecimento específico sobre os materiais publicados entre 1978 e 1989 (isto é, da junta pré-autonómica até o primeiro governo de Manuel Fraga) de e sobre as figuras homenageadas ou que desenvolvem um discurso específico ligado ao DLG.

Analisar a presença do DLG no período em foco dava para preencher um défice e gerar um conhecimento específico sobre os materiais publicados entre 1978 e 1989 (isto é, da junta pré-autonómica até o primeiro governo de Manuel Fraga) de e sobre as figuras homenageadas ou que desenvolvem um discurso específico ligado ao DLG.

Quais são os principais assuntos focados neste trabalho académico, que objetivos procuravas e quais são as principais conclusões que tiras após a sua avaliação e defesa na UDC? Por exemplo, no plano institucional, que agentes (editoras ou outro tipo de instituições) controlam a produção em livro de e sobre os escritores indigitados pola Real Academia Galega para a celebração do Dia das Letras durante o período focado no teu estudo?

O assunto que foca principalmente o TFG é, como o seu próprio nome indica, a análise da presença de materiais no campo editorial galego entre 1978 e 1989 que incluem livros, trabalhos académicos e separatas de revistas vinculados ao DLG e a agentes homenageados. Assim, a população que extraímos compõe-se de materiais virados para ao evento, mas não vinculados a figuras homenageadas, e de publicações de/sobre as pessoas homenageadas. Contudo, este trabalho também tenciona reparar em conceitos tais como campo, cânone, canonização, centro/periferia para compreendermos o funcionamento de um campo editorial.

Os objetivos, levando em conta o assunto focado, são fundamentalmente descrever a presença do DLG no campo editorial galego e fixar um conhecimento específico sobre a presença deste evento no campo editorial galego entre 1978 e 1989. Para isso, tivemos de identificar as publicações de/sobre pessoas homenageadas por ano no DLG e localizar os discursos específicos ligados ao DLG que não se articulam explicitamente em torno às figuras homenageadas, apresentando os agentes (individuais/ institucionais) responsáveis desta produção e descrevendo os efeitos desta comemoração no campo editorial galego.

Após a realização primeira aproximação a presença do DLG no campo editorial galego são várias as conclusões que pudemos extrair. Em primeiro lugar, o trabalho deu para ver que Base de dados de livro galego 1978- 2019 é uma ferramenta de grande utilidade para abordar quantitativamente e qualitativamente estudos sobre o campo editorial galego. Em segundo lugar, permitiu confirmar hipóteses apontadas quando avaliamos o estado do conhecimento em torno a presença do DLG no campo editorial galego, tais como o efeito “terra queimada” que apontava Martínez Tejero, ou a dependência das efemérides e dos atos comemorativos como estimuladores da produção crítica. A respeito desta dependência é bastante revelador que 60% da nossa população sobre autores homenageados entre 1978 e 1989 é publicado nos próprios anos de sua comemoração. Para além disso, nosso estudo permitiu testar que os efeitos são dispares para cada agente homenageado e que os autores que concentram um maior volume de produção são Castelao, Rosalía —centro e base da tradição do sistema literário galego— Otero Pedrayo, Celso Emilio Ferreiro, Manuel Antonio e Vicente Risco, o que confirma a centralidade dentro do âmbito da crítica literária dos estudos focados no Rexurdimento e no primeiro terço do século XX.

Base de dados (BD) do livro galego entre 1978 e 2019 (Samartim e Cernadas 2020) é uma ferramenta de grande utilidade para abordar quantitativamente e qualitativamente estudos sobre o campo editorial galego.

Levando em conta as editoras/ instituições e o as agentes que estão por trás da produção de e sobre as figuras homenageadas, observamos que mais de 50% de nossa população (56% aproximadamente) é publicado pelas seguintes entidades: Editorial Galaxia (21%); Ediciós do Castro (9%); USC (9%); Akal (6%); Xunta de Galicia (4%), Xerais (4%) e RAG (3%). Neste senso, volvemos confirmar a centralidade de Galaxia como tecedora dos fios do campo editorial galego e como núcleo do poder cultural.

Observamos que mais de 50% de nossa população (56% aproximadamente) é publicado pelas seguintes entidades: Editorial Galaxia (21%); Ediciós do Castro (9%); USC (9%); Akal (6%); Xunta de Galicia (4%), Xerais (4%) e RAG (3%). Neste senso, volvemos confirmar a centralidade de Galaxia como tecedora dos fios do campo editorial galego e como núcleo do poder cultural.

Apesar de não haver praticamente estudos sobre esta efeméride, existe a perceção de uma certa unanimidade social em volta do impacto positivo do Dia das Letras Galegas, não apenas no campo editorial mas para o conjunto do Sistema Cultural Galego. Porém, no teu trabalho falas do efeito de “terra queimada” que este evento produz. A que te referes com isto?

A presença de Otero Pedrayo como terceiro agente mais editado e de Celso Emílio como quarta figura com maior volume de produção associado, homenageados em 1988 e 1989, parece apontar para a tendência a aumentar a presença do DLG nos últimos anos da amostra, o que vem confirmar a consagração da efeméride e o aumento de consenso em volta do evento. Contudo, não me atreveria a afirmar que efetivamente existe uma unanimidade social em volta dos impactos do DLG. Sim existe o reconhecimento da autoridade da RAG para fixar a tradição, mas, como explica o professor Samartim, o aumento da presença da RAG no panorama cultural não foi suficiente para legitimar a academia à vista do nacionalismo galego de esquerda.

Quando falo do efeito “terra queimada”, sintagma alicerçado na tese de doutoramento de Martínez Tejero (2014), refiro-me o boom bibliográfico em torno à figura a quem dedica a RAG o DLG e a escassa ou nula publicação de trabalhos bibliográficos sobre os agentes homenageados para os anos seguintes. Falamos, pois, de uma explosão bibliográfica que tem como consequência a esterilidade do campo de conhecimento nos anos imediatamente seguintes. Esta hipótese sustenta-se com o dato fornecido com anterioridade: 60% da nossa população sobre autores homenageados entre 1978 e 1989 é publicado nos próprios anos de sua comemoração.

O teu TFG atingiu a máxima qualificação (matrícula de honra); para além disto, estás satisfeita com o trabalho realizado? Parece-che que um trabalho deste tipo pode servir, por exemplo, para a planificação da política editorial, para a valorização da função da tradição ou para o entendimento de como acontecem os processos de canonização no Sistema Literário Galego autonómico? Em geral, onde achas que reside a utilidade social de uma investigação como esta?

Estou satisfeita por vários motivos: pela aprendizagem atingida, pelas oportunidades que me brindou a nível profissional e, por suposto, pelas possibilidades de ampliação da investigação. Não descarto incrementar os anos da amostra em um futuro e avaliar os impactos do DLG em um período mais extenso.

Por outra banda, quando levamos a cabo uma planificação do tipo que for, o lógico é conhecermos primeiro quais são as debilidades, as ameaças, as fortaleças e as oportunidades (o que vem sendo o aplicativo de uma matriz DAFO). É por isso que, em meu entender, para planificar a política editorial é preciso compreendermos primeiramente o funcionamento do campo editorial. Neste senso, o nosso TFG tenciona precisamente aproximar como se articula a rede editorial em relação com o Dia das Letras Galegas.

Para além disso, a hierarquização dos dados arrumados com a realização deste estudo permitiu-nos nos testar que o volume de produção que concentram Rosalía e Castelao é muito superior ao da produção gerada em torno aos agentes homenageados ente 1978 e 1989. A tradição, ao menos nos anos da amostra, segue a absorver uma alta porcentagem do total da produção que se edita e publica.

No referido aos processos de canonização, haveria que preguntar-se se o DLG produz algum efeito mais sobre pessoas homenageadas que uma subida drástica da produção que concentram em torno a sim o ano de sua homenagem. A priori, diria que os impactos são diferentes para cada figura comemorada e que a entrada no cânone fixo da literatura galega ou a posição de centralidade dentro deste não depende exclusivamente da dedicatória do DLG.

Quanto à utilidade social, por uma banda, aproximar-nos ao funcionamento do campo editorial contribui a entendermos como é que é o sistema cultural galego e por extensão as agencialidades que estão por trás de um dos âmbitos da nossa organização comunitária. Por outra banda, o nosso trabalho, de base fundamentalmente empírica, procurou preencher um défice de conhecimento detectado sobre o funcionamento do campo editorial galego em relação ao DLG e, consequentemente, tentou ser um contributo para o estudo do sistema cultural galego em geral.

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