Parafraseando os compositores Braguinha e Alberto Ribeiro que, em 1938 lançaram a marcha de Carnaval “Yes, nós temos bananas” como uma resposta à música norte-americana “Yes, We have no bananas”(Frank Silver e Irving Coh), o cinema brasileiro já conquistou sua estatueta.
O filme “Ainda estou aqui”, baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, que conta a difícil trajetória de sua mãe, Eunice Paiva, em busca de respostas e do paradeiro do marido, após o seqüestro e desaparecimento do deputado Rubens Paiva, pelos órgãos de repressão da ditadura militar, instaurada com o golpe civil-militar de 1964.
O filme dirigido por Walter Salles conquistou o Brasil em um momento oportuno, quando o congresso pensa em conceder anistia à tentativa de golpe de estado, promovido em 2022, após a eleição de Luis Inácio Lula da Silva.
Essa intenção de anistia aos golpistas é a tentativa de, mais uma vez, apagar a memória dos excessos, como ocorreu quando foi votada a Anistia, em agosto de 1979. Se de um lado, essa lei abriu caminho para o fim da ditadura e trouxe os exilados de volta ao país; por outro lado, livrou torturadores e assassinos (dos dois lados) de seus crimes, colocando o país numa falsa normalidade, enquanto famílias procuravam pelos corpos de seqüestrados e assassinados pelo regime.
As feridas ainda estão abertas. Somente 43 anos após a morte de Rubens Paiva que os cinco militares envolvidos no seqüestro e assassinato de Rubens Paiva foram denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF). E o caso ainda não foi julgado.
Somente 43 anos após a morte de Rubens Paiva que os cinco militares envolvidos no seqüestro e assassinato de Rubens Paiva foram denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF). E o caso ainda não foi julgado.
Essa cortina de normalidade, ao não punir os responsáveis por crimes hediondos de tortura, sinalizou aos golpistas de 2022 que “vale tudo no Brasil”.
Mas mostrou a toda a sociedade brasileira e internacional, o quão delicada é a democracia brasileira (e estadunidenses) e quantos riscos ela corre a todo o momento, com ataques diários de extremistas e saudosistas da ditadura.
O filme
Com um elenco de grandes nomes da dramaturgia brasileira, como Fernanda Montenegro, Fernanda Torres, Selton Mello e tantos outros artistas, o filme arrastou multidões no Brasil e elogios e prêmios pelo mundo.
Até o final de fevereiro de 2025, o filme foi assistido por mais de 5,1 milhões de pessoas no Brasil.
O longa é baseado na história real de Eunice Paiva, uma advogada e ativista que enfrentou o desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva, durante a ditadura militar brasileira nos anos 1970.
O longa é baseado na história real de Eunice Paiva, uma advogada e ativista que enfrentou o desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva, durante a ditadura militar brasileira nos anos 1970.
Em 20 de janeiro de 1971, Rubens Paiva foi detido em sua casa por agentes do Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica (CISA). A casa foi invadida por agentes armados, à paisana e sem mandato de prisão.
Fernanda Torres interpreta Eunice em sua fase adulta, enquanto Fernanda Montenegro, mãe de Torres, a representa em uma fase posterior da vida. Selton Mello é Rubens Paiva.
Eunice Paiva enfrentou o Alzheimer e faleceu em 2018 aos 89 anos; sendo considerada um símbolo da memória pelas vítimas e da luta contra as atrocidades cometidas nos 21 anos que os militares estiveram no poder.
A produção foi amplamente aclamada pela crítica, especialmente pela atuação de Fernanda Torres, que lhe rendeu o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme – Drama, sendo a primeira brasileira a conquistar esse prêmio.
O filme também recebeu indicações ao BAFTA e ao Critics’ Choice Movie Awards na categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira.
Fernanda Torres estava entre as atrizes indicadas ao Oscar, que acabou ficando com a atriz Mikey Madison, do filme “Anora”.
E, a festa da entrega do Oscar parou o Carnaval brasileiro, feito raro, Fernanda Torres não ganhou como melhor atriz, mas toda a equipe (e o país) ganhou como Melhor filme internacional, o que foi comemorado como uma Copa do Mundo pela maioria dos brasileiros.
“Ainda Estou Aqui” retrata um período triste da história brasileira, mas que não pode ser esquecido por serem temas universais de resistência e perseverança e atuar para combater a opressão; tornando-se agora um patrimônio do cinema internacional.