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Teresa Moure recebe o XI prémio da USC à introduçom da perspetiva de género na docência e na investigaçom

teresa-moure-5-e1433254814576Esta iniciativa foi desenvolvida pola Oficina de Igualdade e Género da USC, dirigida por Eva Aguayo e conta com a colaboraçom do Concelho de Santiago de Compostela como entidade cofinanciadora dos prémios. A iniciativa foi seleccionado polo European Institute for Gender Equality (EIGE) como unha das dez melhores boas práticas de “Integraçom da igualdade de género nas universidades e centros de investigaçom europeios” e incluída na ferramenta em linha (GEAR tool) de apoio a organizações investigadoras (como as universidades) na criaçom, execuçom, seguimento e avaliaçom dos planos de igualdade de género.

Teresa Moure obtivo o primeiro prémio na modalidade docente, mas há seis premiadas: três na modalidade docente e três na modalidade investigadora. A escritora e docente exprime para o PGL que: “Numa época tão complexa como a que estamos a experimentar acho que produz algum otimismo que tantas companheiras estejamos a trabalhar com entusiasmo em implementar atividades ou enfoques de justiça e de aceitação da diversidade também no mundo universitário.”

A escritora e docente explicou para o PGL o seu trabalho: “O que apresentei é um conjunto de unidades didáticas desenhadas com a minha turma para rastrejar nomes femininos e genealogias feministas no pensamento linguístico, e para revisar se foram ou não desimportantes ou secundárias ou, aliás, se foram invisibilizadas. Existem diferentes tradições em linguística, como a criptografia (a decodificação de mensagens secretas), a tradução, ou a primatologia (vinculada ao estudo de línguas humanas em grandes primatas) onde as investigadoras mais reconhecidas foram mulheres (apesar de não entrarem nos manuais). A minha hipótese indica que, precisamente por esta causa, esses temas são considerados secundários na história da linguística.”

“O que apresentei é um conjunto de unidades didáticas desenhadas com a minha turma para rastrejar nomes femininos e genealogias feministas no pensamento linguístico, e para revisar se foram ou não desimportantes ou secundárias ou, aliás, se foram invisibilizadas.”

Como avalias os avanços a introduzir perspectivas feministas até hoje no ámbito universitário?

Penso que se a Universidade quiser defender o seu papel de produzir conhecimento transformador, novo e não trivial, estas iniciativas são importantes. Obviamente, em muitos foros a Universidade é visualizada como parte do entramado capitalista e, nesse sentido, são favorecidas as cooperações com bancos ou empresas. Mas numa ótica mais social, que vincula a universidade a “universal”, quer dizer, ao bem comum da sociedade, os valores éticos devem fazer parte, como conteúdo transversal, dos seus programas.

Há um ano, quando um companheiro se reformou, vi-me obrigada a acrescentar a minha carga docente com mais uma matéria optativa para estudantes de filologia: Panorâmica das ideias linguísticas.

Surpreendeu-me que os manuais universitários, mesmo os muito prestigiosos, não incluíam nenhum nome de mulher. A partir daí, tentei criar uma “história em paralelo”, digamos, uma história da linguística que focasse nos temas tratados por elas. Porque, embora apagadas e silenciadas, as mulheres sempre estudaram e, assim que foi aceite a sua entrada nas universidades, preferiram os estudos humanísticos e nomeadamente os vinculados às línguas e às literaturas. 

Qual é o papel que jogades as professoras feministas para esta transformaçom?

cartel-xi-edicion-pipxenero_-usc-oix-2020O professorado, a meu ver, deve incluir nas suas exposições de aulas e nas suas propostas de investigação linhas críticas. Observar se foi praticada uma exclusão deliberada de determinados agentes (por exemplo, das mulheres) ou se algumas “verdades” das ciências eram parciais (por causa de sexismo, racismo, homofobia ou outras discriminações) completa a perspetiva e aprimora os objetivos de qualquer investigação, quer @ investigador(a) seja explicitamente feminista, quer não. No meu caso, sou linguista mas também professora de Estudos de género num mestrado da USC dependente da faculdade de Educação. Numa faculdade ou noutra, o feminismo serve-me para criar massa crítica: refletir sobre linguagem inclusiva, sobre a maneira em que os diferentes géneros abordam um debate, sobre como falam eles, como falam elas e como falam os diferentes géneros são questões que abrem para a multiculturalidade, que permitem entender os conflitos e negociar e, finalmente, que ajudam a ver a realidade duma outra forma.

Eu tenho colaborado com alguma dessas iniciativas, como docente de cursos específicos para o professorado da USC introduzir a perspetiva de género nas suas matérias e na atualidade estou a lecionar um curso de doutoramento sobre a perspetiva de género para pessoas que estejam a escrever a sua tese.

O feminismo serve-me para criar massa crítica: refletir sobre linguagem inclusiva, sobre a maneira em que os diferentes géneros abordam um debate, sobre como falam eles, como falam elas e como falam os diferentes géneros são questões que abrem para a multiculturalidade, que permitem entender os conflitos e negociar e, finalmente, que ajudam a ver a realidade duma outra forma.

Como nesse período de formação são poucos os cursos que têm ao seu dispor, a matéria é bem aceite e inclui pessoas cujas teses não assumem essa perspetiva. Alegra-me essa pluralidade; até porque também é sugestivo ver como é assumido este enfoque por quem trabalha em problemas muito técnicos de física ou de engenharia, sem conexão aparente com o género.

E o papel do alunado?

O alunado mostra-se sempre altamente sensibilizado e neste caso participaram de maneira entusiasta. Acho que consideram que o debate sobre o género constitui uma grande encruzilhada que devem enfrentar. Devo agradecer à turma do curso passado que aceitassem incorporar esta proposta, que ainda não estava incorporada ao programa da matéria, e que investigassem muito pela sua conta. Também que informassem positivamente da experiência (O conjunto de materiais didáticos, para ser avaliado no prémio, exigia incorporar relatórios do estudantado). Foram muito generos@s comigo ao destacar o quanto mudara a sua maneira de ver a realidade e ao dirigir-me palavras bem carinhosas e desafios para os próximos anos.

Apresentaste o teu projeto em galego reintegrado? Qual achas que é a situaçom de respeito à ortografia internacional na USC? E no campo académico galego em geral?

Escrevi a minha proposta didática em galego reintegrado. Penso que em convocatórias anteriores eu própria me autocensurara a pensar que fora da ortografia oficial o meu projeto não seria lido. Mas, como outras vezes, encontrei que a comunidade universitária é plural e respeitosa. Indiquei numa nota a rodapé que escrevia em galego internacional e, imagino, que o grupo de colegas que atuou como júri não viu problema nenhum em que escrevesse com coerência desta maneira. Obviamente, não tiveram problemas para perceber.

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