Partilhar

Tagore, educador universal e sentinela da Índia, criador da Escola Nova de Santiniketon (Morada da Paz)

Aulas ao ar livre em Santiniketon
Aulas ao ar livre em Santiniketon

A dia 7 de agosto de 1941 falecia Robindronath Tagore no paço familiar “Thakurbari” da cidade de Calcutá, hoje de nome oficial Kolkata, que ademais é a capital do estado indiano da Bengala Ocidental. Dois dias antes encontrara-se doente na sua instituição educativa de Santiniketon (“Morada da Paz”) e decidiu ir para a capital, situada a uns 160 quilómetros, para ser cuidado pelos médicos. Ainda hoje, ao lado da estação de Bolpur, próxima a Santiniketon, num museu a ele dedicado, conserva-se o vagão do comboio em que fez a sua derradeira viagem. Tinha um pouco mais de 80 anos e comemoram-se este ano, mês de agosto, os 73 do aniversário de seu falecimento.

Robindronath Tagore nascera no paço “Thakurbari” antes citado, do bairro Jorasanko da cidade calcutaense, o 7 de maio de 1861, sendo o filho número 14 do casal Debendronath Tagore e Saroda Devi. Ao falecer foram esparzidas as suas cinzas sobre o rio Hugli de sua cidade natal. “Robi”, seu nome de criança, que em idioma bengali (bangla) significa “Sol”, tinha herdado uma inteligência pouco comum e uma grande sensibilidade, vendo-se rodeado desde seu nascimento por um esplêndido clima cultural no seu fogar. Seu pai e seus numerosos irmãos e irmãs, cunhados e cunhadas, eram também grandes intelectuais e artistas, literatos, filósofos, pensadores e diretores de revistas e outras publicações periódicas. O paço “Thakurbari” (“Casa do Senhor”) era um autêntico centro cultural que hoje acolhe um formoso museu que merece a pena visitar, onde quase todos os dias havia atos musicais, conferências, tertúlias e representações teatrais. Ademais disto, tão importante na formação de Robindronath desde criança, também ele tinha uma grande avidez leitora. Lia tudo quanto caía nas suas mãos e aproveitava-se das bibliotecas de seus irmãos maiores. Consultada a lista dos livros da sua biblioteca particular, que se conserva no museu-arquivo de “Robindro-Bhovon” de Santiniketon, com muitas anotações a lápis feitas por ele próprio sobre as páginas dos livros, pode-se comprovar que, entre outros, lera as obras básicas da antiga cultura de Índia (Bhagavad-Guita, Uponishads, Ramaiana…) e muitas obras da cultura ocidental, especialmente britânica e germânica. Também os escritos pedagógicos de Confúcio, Goethe, Emerson, Noelle Davis, John Dewey, Rousseau, Pestalozzi, Froebel e, especialmente, Herbert Spencer, ademais das obras filosóficas gregas.

A importância do seu contexto familiar e, em especial, a influência que nele exerceu seu pai, foi decisiva na sua formação. Esta aparece claramente refletida na sua obra autobiográfica Memórias, da qual existe uma tradução na nossa língua. Para a sua formação foram também importantes as numerosas viagens que realizou a todos os continentes e, em especial, à Europa, EUA, Japão e China. Já com 18 anos viajou ao Reino Unido para estudar direito, mas acabou dando-lhe mais importância à literatura e à música popular irlandesa e escocesa, que tanta influência teriam depois na sua música e nas suas canções. Um ano depois, em 1880, regressou ao seu país e foi encarregado por seu pai para cuidar as propriedades familiares de Potisor, Shilaidoho e Shajadpur na Bengala Oriental, hoje país independente com o nome de Bangladeche. A sua vida nestes formosos lugares teve uma grande influência na sua posterior obra literária, musical, educativa e social.

Em janeiro de 1969, dentro da série “O Prémio”, a TVE passou um interessante telefilme realizado por Narciso Ibáñez Serrador, dedicado à vida e obra de Tagore, sob o título O Sentinela da Índia. O mesmo serve para tomar como base dos comentários do presente capítulo, o terceiro dedicado a grandes educadores.

FICHA TÉCNICA DO TELEFILME[1]:

  • Título original: El Centinela de la India (O Sentinela da Índia)
  • Realizador: Narciso Ibáñez Serrador (Espanha, 1969, 60 min., preto e branco)
  • Roteiro: José Maria Pemán. Produtora: TVE.
  • Série: El Premio (O Prémio), Episódio nº 1 (de 7), TV Series: Vida e obra de aqueles que pelo seu labor a favor da humanidade lograram o prezado galardão do Prémio Nóbel. 1ª emissão na TVE o dia 6 de janeiro de 1969, às 22h50 da noite.
  • Secretária de produção: M.ª Sol Carnicero Bartolomé.
  • Atores: Narciso Ibáñez Menta (no papel de Robindronath Tagore), Tomás Blanco, Carmen de la Maza, Vicente Vega, Carmen Nevado, Lorenzo Ramírez, Modesto Blanch, Silivia Tortosa, Valentín Tornos, Mario Alex, Luis Morris, José Carabias, Maria Luque, José Sepúlveda, Pedro Cañones, Vicenta Sangiovanni e Claudio Mefert.
  • Argumento: Dramatização da vida de Robindronath Tagore (1861-1941). O apelativo de “Sentinela da Índia” foi dado a Tagore pelo seu grande amigo Gandhi, a quem Robindronath lhe deu o de “Mahatma”, que significa “Alma Grande”. O telefilme pertence à série de TVE “O Prémio”, dedicada àqueles que pelo seu labor a favor da humanidade mereceram o Nóbel. Junto com imagens e fotografias da Bengala indiana, da cidade sagrada de Benares e do rio também sagrado Ganges, de forma teatral é encenada a vida de Tagore desde o seu nascimento.

 TAGORE, UMA FIGURA DE CATEGORIA MUNDIAL:

Não posso deixar de assinalar um facto decisivo na sua formação, em toda a sua obra e nas suas atitudes vitais, filosóficas, sociais e educativas ao largo de toda a sua frutífera vida: ele (e toda a sua família) não pertencia ao hinduísmo, mas ao “Brahmo-Somaj”, sócio-religião criada nas primeiras décadas do séc. XIX pelo bengali Raja Rammohun Ray. Este, por dominar mais de dez idiomas, e entre eles o sânscrito, hebreu, francês, árabe, latim e grego, lera os livros sagrados das mais importantes religiões, pelo qual decidiu fazer uma síntese dos aspetos que considerava positivos do hinduísmo, o budismo, o judaísmo, o cristianismo e o maometanismo, acrescentando os princípios da revolução francesa de igualdade, liberdade e fraternidade. À sua morte, foi o pai de Tagore quem continuou o que ele criara e iniciara. O “Brahmo-Somaj”, entre outras coisas, lutou contra a queima das viúvas vivas na pira funerária do esposo, pela igualdade dos seres humanos e não apoiar o sistema de castas, pela educação da mulher em igualdade com o homem e por eliminar todo o tipo de superstições e idolatrias. Ainda, defendeu o monoteísmo e a ideia de que Deus está por cima de todas as divisões, ademais de identificá-lo com a vida.

Com toda esta bagagem formativa, Tagore chegou a ser uma figura extraordinária, de categoria universal, destacando em todas as suas numerosas facetas de escritor em todos os géneros literários e merecedor do Prémio Nóbel em 1913, de pintor, de músico genial, autor dos hinos (letra e música) de Índia, Bangladeche e Sri Lanka, compositor de mais de 2.500 canções sobre todo tipo de temas, que interpretam, sob o género “Robindro-Songuit” numerosos cantantes de ambos os sexos, de filósofo e pensador, de jornalista e cineasta, de reformador social, de ator e, muito especialmente, de extraordinário educador e criador em dezembro de 1901 da primeira Escola Nova do Oriente, a “Santiniketon” (“Morada da Paz”), a mais completa de todas as que houve no mundo, ao integrar de forma magistral o modelo das escolas novas europeias e americanas e o modelo dos “ashrams” e antigas escolas indianas no bosque. Na Índia, quando se diz “Kobi”, que significa “Poeta”, todos pensam em Tagore, e quando se diz “Gurudev”, que significa “Mestre de mestres”, este apelativo pertence só a ele.

Tagore foi, sem dúvida, o “Leonardo da Vinci do século XX”, tal como o consideramos todos os tagoreanos. Em Ocidente, infelizmente, ao receber o Nóbel, tema que escureceu as suas restantes facetas, é pouco conhecido como educador, músico e pintor; e muito menos como reformador social. Em 1901, seu pai deixa-lhe a ampla quinta de Santiniketon, para criar ali a sua “escola nova”, onde as aulas ainda hoje se dão ao ar livre, debaixo das árvores, e conta com escolas infantis, primárias e secundárias. Em 1921 inaugura oficialmente a sua universidade internacional, que já criara em 1918 para estabelecer ligações entre Oriente e Ocidente, com o nome de Visva-Bharoti (“Sabedoria Universal”) e que, com mais de dez faculdades, ainda funciona hoje como uma universidade central da Índia, destacando as de Belas Artes e a de Música, teatro e dança. Em 1922 cria, com a ajuda de L. K. Elmhirst, a Escola Profissional de Sriniketon (“Morada da Abundância”), espécie de granja-escola onde se dão ensinanças artesanais e agro-gadeiras, com muita vida também hoje. Por último, em 1924, principalmente para os rapazes das tribos santales da zona, funda a escola rural de Siksha-Sotro, que tem aliás uma escola infantil que leva por nome o de “Sontosh-Patsala”.

O pensamento educativo de Tagore foi evoluindo com o tempo e com as diferentes vicissitudes por que passaram Bengala, Índia e o mundo e, como é lógico, também com a evolução pessoal de Robindronath. Podemos estabelecer quatro etapas bem diferenciadas na evolução do seu pensamento pedagógico:

1ª.-1892-1904: Etapa de forte crítica ao sistema educativo dominante, terminando por criar a sua própria escola e seu desenvolvimento imediato, não sem dificuldades. Defesa do ensino do idioma bengali chamado bangla, e que as aulas fossem ministradas usando esta bela língua.

2ª.-1905-1915: Etapa que podíamos denominar “Nacionalismo e Educação”. Coincide com o momento mais importante dos movimentos nacionalistas bengalis aos quais Tagore se incorpora desde o primeiro momento, sendo um líder importante. No tema educativo, a sua maior preocupação agora é desenhar um Plano Nacional de Educação para Bengala. A meta fundamental é conseguir uma escola e um ensino em que métodos, estratégias, conteúdos, espírito e idioma sejam autenticamente bengalis.

3ª.-1916-1933: Trata-se da etapa conhecida como “Visva-Bharoti”, porque é na qual estabelece a sua universidade de caráter internacional, em que deviam ter cabida todos os estudantes do mundo, todas as etnias, todos os idiomas, todas as religiões e todas as culturas orientais e ocidentais. Na procura de algo essencial: o respeito e o entendimento entre todos os povos do planeta, a partir do conhecimento mútuo, o intercâmbio, a amizade e a reflexão compartida.

4ª.-1933-1941: Podemos denominar esta sua última etapa como “Educação do povo”. É o momento mais álgido do seu internacionalismo. Nesta última etapa destaca a preocupação tagoreana pela difusão do ensino entre os bengalis, procurando uma maior igualdade entre todos. Coincide também com a maior promoção dos centros educativos de Sriniketon para a reconstrução do povo rural, objetivo que fica plenamente identificado com o pensamento tagoreano desta sua última etapa: estender a todos a educação, lutar pela igualdade social, educar ao povo trabalhador e o das aldeias rurais.

A VOZ DE TAGORE, “A MINHA PEDAGOGIA”:

Em 4 de maio de 1921, no Instituto J.J. Rousseau de Genebra, pronunciou Tagore uma linda palestra sob o título de “A Minha Pedagogia”, que, por ser tão clara e diáfana sobre seu pensamento educativo, reproduzo a seguir:

“Tendes-me pedido que vos fale da minha escola e dos princípios que dirigem a minha maneira de educar as crianças. Fundei a minha escola faz vinte anos, mas, a dizer verdade, não tinha naquela altura método nem experiência do ensino. Fui saindo adiante fiando-me de uma sorte de instinto de criança, e não me foi de tudo mal. Hoje mesmo, tenho experiência, mas esta é, por dizê-lo assim, ainda simples e não cristalizou num bloco de arestas cortadas, cujas linhas retas vos possam ser propostas como princípios reitores.

Acabo de dizer-vos que não tinha, ao abrir a minha escola, qualquer experiência. Isto não é rigorosamente exato. Tinha, quando menos, uma experiência negativa adquirida no curso dos meus próprios anos de escola. Sabia como não devem ser tratadas as crianças. Do que eu sofri sobretudo na minha infância, foi o de sentir que a educação que eu recebia estava separada da vida. Tinha eu, reconheço-o, uma certa sensibilidade particular que outros não têm no mesmo grau, se não, sem dúvida, conformar-me-ia antes com a parte que me correspondia naquilo que me magoava, e teria conseguido, como outros, fazer calar em mim, no transcurso desses largos anos de escola, esta ardente aspiração cara à vida, cara à Natureza, de que tinham que arrancar-me cada dia, para ir às aulas, como de uma mãe.

Olho a porta da sala de aulas aberta cada manhã como uma grande boca, os seus muros nus, os seus bancos de madeira, a sua mesa em que se alçava um mestre que dava a sua lição como se fosse um fonógrafo vivente. Ainda sei de cor e escuto o ritornelo, sem qualquer beleza nem na melodia nem no ritmo, que cada manhã dizíamos a coro na galeria de madeira da escola, antes de entrar na sala. Dizíamos coisas muito boas sem dúvida, que era preciso ser bom, não roubar, não pedir empréstimos; mas, com tudo, era um péssimo princípio de jornada. Eu não sei o que acontece nas vossas escolas de Ocidente, não as conheço o bastante, mas tenho ouvido dizer por gentes que estão muito ao corrente que não está tudo muito melhor. Até acredito eu que a vós devemos-vos esses métodos de educação; trouxestes-no-los com multidão de coisas boas, os licores, os soldados…

Nesta escola aprendi a gramática, a aritmética, muitas coisas que esqueci e a maneira de como não devem dar-se as lições. Assim é que aos quarenta anos me senti impelido a sair do pequeno recanto retirado onde tinha vivido até então nas ribeiras do Ganges e nas suas ilhas areosas, para fazer alguma coisa útil: resolvi dedicar-me a educar crianças. E não porque eu acreditasse que tinha um talento particular para ensiná-las, mas porque me parecia que tinha o segredo para as fazer ditosas.
A dizer verdade, ninguém tinha confiança em mim. Eu não tinha nem grau universitário, nem distinção de nenhuma classe. Passava por ser um homem extraordinariamente pouco prático, que não sabia mais que escrever poemas. E tratava-se, para as cinco crianças que me foram confiadas, de encontrar mantas e lenços, de procurar-lhes vida e acolhimento. Esforcei-me em viver com elas na vida. A educação propriamente dita estava num segundo plano. O que se encontrava em primeiro lugar era a nossa vida em comum, a nossa camaradagem.
Para mim, com efeito, a criança vive até os doze anos mais pelo subconsciente que pela consciência clara, e o que importa nos seus primeiros anos não é que a sua memória se encha de conhecimentos que tem muito presentes no espírito, mas que a sua subconsciência se encha de beleza ao contato da Natureza vivente. Eu mesmo, na nossa escola (de Santiniketon), não ensinei nunca mais que línguas e literatura. Não tenho certidões que amostrar-vos, mas posso dizer-vos que as ensino bem. Os meus estudantes disseram-me que sou o melhor professor de línguas que jamais tiveram. Isto obedece, sem dúvida, ao namorado que estou das palavras. Uma palavra, para mim, vive como uma flor ou uma borboleta; cada palavra tem o seu encaixe, o seu brilho, o seu encanto subtil. Isto permite-me ensinar bem todas as línguas que eu sei. Fez a experiência com um aluno, a minha esposa, à que ensinei o inglês em seis meses. Um dia recebi a visita de um inspetor da Universidade de Calcutá, que me encontrou em disposição de ler com rapazes de doze anos o Hino à beleza espiritual de Shelley, e ficou surpreendido de olhar-me explicar às crianças um texto que figura nos programas dos institutos e Universidades. Eu não acredito que deva voltar infantis as coisas que apresento às crianças. Eu respeito as crianças e elas compreendem-me.

Há que dizer também que sempre esteve muito bem secundado. Nos inícios da minha escola, um jovem poeta de dezanove anos veio espontaneamente a oferecer-me a sua colaboração. Se não nos fosse arrebatado aos vinte anos pela sua morte, hoje seria um dos grandes poetas do mundo. Lia Browning com os seus alunos, de maneira capaz de fazer-lhes sentir a beleza.

Não se pode ensinar mais que aquilo que se ama; vale mais calar-se quando não gostamos do que estamos ensinando. Assim pois, não devemos ensinar mais que aquilo que guarda para nós um certo mistério. Eu falei disto aos meus amigos matemáticos; hão ensinar bem a tabuada de multiplicar só se lhe têm carinho. E sem dúvida há quem sente amor por ela. Para mim, a tabuada de multiplicar está inscrita nas pétalas das flores e nas nervuras das folhas; sem sabê-lo, as borboletas transportam-na nas suas asas. Comentei isto aos meus amigos professores de matemática, propondo que tirassem proveito disso nos seus ensinos, e eles, alçando seus ombros, trataram estas ideias de lunáticas; sem dúvida não são poetas como eu não sou matemático. E, apesar de tudo, eu continuo convencido de que um docente não ensina bem mais que o que tem para ele poesia.

Ó, já o sei!, há que fazer concessões à ortodoxia reinante. As crianças hão de entrar nas Universidades, têm que sofrer exames, há que seguir um programa. Os pais sustêm-no. (Os pais são os grandes inimigos!). E enquanto entrarmos por este caminho estamos perdidos… Quando ensino algo, faço-o com amor, dou-me por inteiro a isso. E comentam os meus amigos: “Poderia você obter o mesmo resultado com menos gasto; pode-se dar às crianças alimentos racionados como conservas em botes de folha-de-lata”. Já o sei; mas isto é matar o espírito. Foi preciso fazê-lo assim na nossa escola, mas sei que isto é um crime do que me fez culpável. Eu espero que me há ser perdoado no outro mundo porque, realmente, eu não sou o único responsável e cometi-o muito ao meu pesar.

Passei eu doze anos na escola sem receber jamais alguma recompensa. Não tive nunca mais prémio que o prémio Nóbel, mas este foi muito mais tarde, quando os meus anos de escola já estavam longe. Todos os meus camaradas levavam cada ano livros ou objetos diversos como prémio ou recompensa. Eu, nunca nada. O mestre da minha turma enterneceu-se um dia pela minha sorte e dirigiu-se ao diretor para saber se não me poderia dar quando menos um prémio. O diretor tinha princípios de moral: “Não, diz, não seria justo, posto que não tem méritos!” Mas o meu mestre tinha tanta piedade por mim (que não era de tudo desgraçado) que foi à procura de um livro que compusera sobre a métrica bengali e deu-mo. Na primeira página, não encontrando mais méritos que alegar para esta recompensa, escreveu: “Pela sua boa conduta”. É preciso que soubésseis isto para compreender que eu não tenho direito a falar de escola e de programa.

Pela minha parte, com efeito, nunca segui um programa e seria incapaz de sofrer um exame sobre os meus próprios poemas, coisa que os meus discípulos fariam, estou seguro, obtendo a máxima qualificação. Desprende-se das minhas ideias, se gostardes, um só princípio diretor, um só: ir cara à vida lá onde reinar. Saí da sala de aulas. Não leveis as árvores às aulas, mas deslocai as aulas para baixo das árvores. É, sem dúvida, cómodo ter um tronco de árvore numa sala de aulas, isto permite dividi-lo em lâminas; mas estas lâminas estão mortas; não há ser no interior de uma sala onde uma árvore nos ofereça flores e frutos.

Não vos preocupeis dos métodos. Deixai que o vosso instinto vos guie cara à vida. Diferem as crianças umas de outras e é preciso aprender a conhecê-las; navegar entre elas como se navega entre escolhos. Para explorar a geografia de seus espíritos o melhor guia é um espírito misterioso que simpatiza com a vida”.

TEMAS PARA REFLETIR E ELABORAR:

Depois de olhar o telefilme de Narciso Ibáñez Serrador, organizar um debate-papo ou tertúlia sobre os diferentes aspetos que sobre a figura de Tagore aparecem no mesmo, assim como a interpretação dramática dos diferentes atores. Refletir sobre o seu pensamento educativo e comentar, dando alternativas concretas, sobre como se poderia pôr em prática hoje nas nossas escolas uma didática prática para desenvolver o modelo pedagógico dos estabelecimentos tagoreanos.

Elaborar uma monografia, procurando informações em livros e na internet, sobre Robindronath Tagore e o seu pensamento educativo, incluindo na mesma as experiências que levou à prática nas suas instituções de Santiniketon, Sriniketon, Sikhsa-Sotro e universidade internacional de Visva-Bharoti. Com fotos, textos, cartazes, retalhos de imprensa e materiais elaborados, poderia organizar-se nas escolas uma magna exposição sobre a sua figura e o seu pensamento pedagógico, incluindo as suas obras mais importantes.

Utilizando técnicas de dinâmica de grupos, como discussões públicas ou dirigidas, entrevistas, diálogos simultâneos, etc., seria muito lindo debater sobre o conteúdo da cantiga “Amader Santiniketon” (“A Nossa Santiniketon”), que Tagore criou para a sua escola, e aproveitar também para que cada uma das nossas escolas pudessem criar a sua própria, com letra e música. A cantiga ou hino de Santiniketon diz: “A Santiniketon, a amada dos nossos corações, é nossa, e os nossos sonhos arrolamo-los nos seus braços. O seu rosto, cada vez que o olhamos, é nova maravilha de amor; porque é nossa a amada dos nossos corações. Reunimo-nos à sombra das suas árvores, na liberdade do seu céu aberto, e as suas auroras e seus anoiteceres descem-nos os beijos do céu, e faz-nos sentir, cada vez, que é nossa a amada dos nossos corações. O sussurro do bosque inquieta a sua paz sombria, e seus maciços de amlaki estremecem-se com a embriaguez das folhas. Por longe que formos, vive em nós e ao nosso redor. Tece os nossos corações numa canção e faz-nos um na música, afinando as nossas cordas de amor com os seus dedos. E nunca esquecemos que é nossa a amada dos nossos corações”.

NOTA:

[1] Este telefilme pode-se assistir a partir do sítio web da RTVE, clicando aqui.

 PARA SABER MAIS:

Sobre a teoria e prática educativas de Tagore, da autoria do responsável do presente capítulo, com o título de “A Escola Nova Shantiniketan de R. Tagore” foi publicado um amplo artigo em Agália nº 47-48, ano 2001, Pp. 111-152, que pode baixar-se em formato PDF clicando aqui.

Nesta mesma série de “As Aulas no Cinema” do PGL, foram publicados no seu momento dois capítulos dedicados a Tagore como educador, que podem ser olhados e lidos entrando aqui e aqui.

Susana Arins apresenta cinco corujas na Feira do Livro de Compostela, acompanhada de Raquel Miragaia

Lançamento do livro 50 anos de Abril na Galiza, em Braga

María Xosé Bravo: “A imagem da Corunha como cidade pouco galega é umha falácia reforçada por certos interesses políticos”

Gentalha do Pichel comemora 25 de Abril esta sexta-feira

A iniciativa Aquí Tamén Se Fala organiza festival

Escolas Semente e Concelho da Corunha comemoram o centenário da Escola de Ensino Galego das Irmandades da Fala

Susana Arins apresenta cinco corujas na Feira do Livro de Compostela, acompanhada de Raquel Miragaia

Lançamento do livro 50 anos de Abril na Galiza, em Braga

María Xosé Bravo: “A imagem da Corunha como cidade pouco galega é umha falácia reforçada por certos interesses políticos”

Gentalha do Pichel comemora 25 de Abril esta sexta-feira