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Séchu Sende, sobre o seu último livro: “O passa-montanhas é um símbolo para a resistência de meio mundo”

A editora Chan da Pólvora é a encarregada da publicaçom do último livro do escritor Séchu Sende, un poemário que recompila, sob o título de Passa-montanhas, dúzias de texto que previamente foram filmados e difundidos na rede Tiktok.

Que significa o passa-montanhas?

O passa-montanhas é um símbolo para a resistência de meio mundo, das pessoas que tenhem que ocultar o seu rosto para defender, por exemplo, os direitos humanos, num planeta dominado pola represom e a falta de liberdades coletivas e pessoais. É um símbolo de rebeldia e dissidência. Na Galiza há referentes simbólicos como, na fotografia, os gaiteiros enmascarados de Roberto Ribao.  Em diferentes épocas históricas, desde os anos setenta, também foi utilizado polo movimento popular em momentos de boicote. Zara também vendia pasamontañas, ainda que lhe chamava “Balaclava canalé”, está esgotado.

Como nasce este livro?

No momento inicial da última vaga de projetos eólicos, a gente começa a organizar-se e eu participo no Courel na plataforma Eiqui Eólicos Non. Nessa época, a título individual, começo também a experimentar com discursos e diferentes formas de intervençom, com desenhos ou textos, para intentar sensibilizar e conectar o conflito com mais pessoas. Umha dessas acçons é um vídeo com alguns colegas com passa-montanhas que lem umha espécie de manifesto contra o sistema capitalista, extrativista e neoliberal, que gravamos em vídeo. Mas há gente, com mais experiência política do que eu, que me recomenda nom publicar o vídeo para evitar problemas legais e de repressom. Assim que nom dou esse passo. Mas a partir dessa experiência decido experimentar com o passa-montanhas. E é aí quando abro umha conta em tiktok e começo este projeto. Basicamente nasce com a intençom de comunicar ideias e emoçons através da imagem e a oralidade. O formato é singelo: aparece umha pessoa com passa-montanhas e umha voz em off a ler um poema.

Dúzias de pessoas diferentes aparecem acompanhando os poemas de Passas-montanhas em forma de vídeo, difundidos nas tuas redes sociais.  Como avalias o papel das redes para o poético?

O projeto nasce para tiktok quando eu ainda nom conhecia muito o funcionamento desse rede. Assim que aparece essa conta, passa-montanhas, que chega a reunir mais de 60 vídeos, com umha intençom: intervir, participar na rede galega de tiktok. A experiência foi interessante. Experimentar com vídeo-poemas é algo que levo fazendo desde antes dos tempos de nunca mais. Lembro um video-poema com umha coleçom de banheiras nos prados que gravei durante anos… Ou um com o grupo Sex Please, com um poema sobre Man… As redes servem para comunicar, ou seja, para criar comunidade. Dalgum jeito podem ajudar o ativismo a nos comunicar e eu vivim isso por vez primeira quando participei nos processo de organizaçom e comunicaçom de Burla Negra, com a companha de Vieiros, ou de Area Negra, com a ajuda da Casa Encantada. Assim que penso que podem ser um instrumento útil. Mas, claro, o sistema tem todos os recursos para invisibilizar a dissidência e a resistência. Neste projeto, sucedeu ao começo, quando tiktok apagou a conta por “incitamento à violência”. Recuperei-na, cousa excepcional, alegando que se tratava dum projeto de poesia. Mas, claro, as normas som as do sistema. E a autocensura e a censura formam parte desse processo de comunicaçom.

Além disso, a expresom poética adapta-se a qualquer mecanismo de comunicaçom, desde que somos seres humanos, antes da invençom da escritura e na sociedade atual. Assim que nom é nada novo que apareçam poetas a expresar-se nas redes, de diferentes jeitos, por todo o planeta. É inevitável. A força da poesia é imparável, abre caminhos onde nom os há. Um exemplo, a expansom da poesia oral improvisada na Galiza, desde a regueifa ao rap ou o slam, vai unida ao audiovisual porque as redes som, além das escolas ou os bares, as ruas ou os teatros, um novo espaço de encontro poético.

Forom os vídeos parte da campanha para dar a conhecer o livro, ou o formato audivisual para redes foi primeiro e depois surgiu a possibilidade da publicaçom em papel?

O objetivo do projeto sempre foi audiovisual e mui relacionado com a oralidade. Foi umha experiência que me obrigou a experimentar com a minha escrita. Mas, claro, cada poema escrevia-se em papel ou no computador e eu sempre pensei em que esses poemas orais podiam reunir-se num livro. Mas a ideia do livro chegou depois. Botamos dous anos a gravar vídeos e quando sentim que chegava o momento de finalizar o projeto, de avançar por outro caminho, pensei que seria bom reunir os poemas por várias razons, entre elas, para agradecer às pessoas que colaboraram ponhendo o passa-montanhas com um presente físico. E para compartir esses textos com mais pessoas, especialmente as que vivem longe da contaminaçom das redes sociais.

Participar no festival “Alguén que respira” com o passa-montanhas vinculou-me com Antón Lopo, a quem um tempo depois lhe propugem publicar o livro em Chan da Pólvora. O certo é que nos últimos anos investim mais tempo na poesia oral, -especialmente no movimento de revitalizaçom da regueifa- e com este livro estou a viver um reencontro “formal” com a poesia, que foi a minha primeira expressom literária de adolescente e o género do meu primeiro livro publicado, Odiseas. E tivem muita sorte porque Chan da Pólvora dixo que si e, claro, estou mui contento e agradecido.

O certo é que nos últimos anos investim mais tempo na poesia oral, -especialmente no movimento de revitalizaçom da regueifa- e com este livro estou a viver um reencontro “formal” com a poesia, que foi a minha primeira expressom literária de adolescente e o género do meu primeiro livro publicado, Odiseas.

Umha reflexom: penso que nos últimos anos acabei trabalhando muito com a oralidade porque foi umha forma de evitar a censura por questom de norma escrita.  É mais difícil censurar a poesia oral que a escrita. Como escritor reintegracionista, o próprio ecosistema galeguista coloca muitos atrancos para a gente que escreve -ou que escreveria- com NH. Mas quando o NH deixa de ser escrito e é um fonema a cousa muda um pouco. Assim que, mais umha vez, gostaria de denunciar o apartheid contra o reintegracionismo e as pessoas que colaboram com a represom ativa ou passivamente. Num momento em que o reintegracionismo demonstrou que, por exemplo, é umha ferramenta utilíssima e imprescindível para a galeguizaçom da infância, com o modelo das Escolas Semente como projeto galeguizador nas cidades, colocar atrancos ao NH e à dimensom internacional do galego continua a ser umha das causas do processo de castelhanizaçom. Eu animo a gente a conhecer o mundo do NH.

Como escritor reintegracionista, o próprio ecosistema galeguista coloca muitos atrancos para a gente que escreve -ou que escreveria- com NH. Mas quando o NH deixa de ser escrito e é um fonema a cousa muda um pouco.

A proclama de “cubrir o rosto, para dar a cara” segue a ter vigéncia, na tua opiniom?

Bom, quando estava a gravar os vídeos de passa-montanhas chegou-me um vídeo de duas rapazas, de noite, a sabotar a peagem da autoestrada, com passa-montanhas, que servirom de inspiraçom para um dos poemas. Só é um exemplo. É a realidade quem inspira a literatura. Tem vigência, sim. O passa-montanhas é algo mais que um recurso literário. Neste livro aparece muita gente com passa-montanhas. Som pessoas que eu conheço e colocarom o passa-montanhas representando o que seja que signifique o passa-montanhas. Som gente mui variada: família, amizades, gente querida. Há exalunado, poetas admiradas, labregas, um arqueólogo, pessoal do País Basco, da Catalunya ou do Curdistám, um operário especializado em altura, duas regueifeiras, um profe de música, pessoas no desemprego, a minha mae…. Também editei 100 cartazes para esta gente, que quero e admiro, com o título “Poesia é Revoluçom” e a legenda “Exército Poético do Povo Galego Ceive”. Umha das intençons do livro é visibilizar que há umha parte do povo que nom gosta do sistema. E que entre as nossas vizinhas, na rua, no trabalho… há militantes, ativistas, pessoas que estám a construir outra Galiza, que temos umha tradiçom de rebeldia e de construçom nacional e de valores contrahegemónicos que é pouco visível.  Ou, simplesmente, que há gente que empatiza com a rebeldia.

Umha das intençons do livro é visibilizar que há umha parte do povo que nom gosta do sistema.

Mas, claro, o livro também é umha reflexom sobre a autodefensa, sobre a resistência. Um colega comentou-me que este livro era possível porque neste momento histórico nom há umha organizaçom armada de libertaçom nacional. Outra colega, que para parar o projeto de ALTRI faria falta algo mais que palavras e manifestaçons. A poesia pode ser um caminho mais de construçom social e participar com palavras é umha das formas de luita, ainda que bem sabemos que as palavras também podem ativar a Audiencia Nacional espanhola e processos represivos de diferente natureza.

Também desde as redes, tens andado, recentemente, a difundir vídeos de intervenções de arte na rua, colocando referências da luita palestina sobre publicidade, placas e cartazes. Que relaçom encontras entre o político e a arte?

Sim, depois de experimentar com os poemas de passa-montanhas continuei com os vídeos das kuffiyas nos sinais de tránsito ou com as fotos dos animalinhos contra ALTRI ou contra os eólicos.  E a campanha das kuffiyas passou do local ao global. A arte tem umha potência imensa para transformar o mundo. Eu vivim isso a formar parte de projetos coletivos do movimento social e também desde iniciativas pessoais. E como vivim, sentir, toquei, mudanças reais, fruto do trabalho coletivo, do movimento social, creio firmemente na capacidade da arte e das palavras para mudar a sociedes e as pessoas. Se um “Quero-te” pode mudar umha vida como podemos pensar que a arte nom é transformadora. Dalgum jeito, passa-montanhas também é um poema de amor à Galiza.

É o teu primeiro livro na editora Chan da Pólvora, como foi o processo editorial? Como foi a aceitaçom da questom normativa?

Sucedeu com total normalidade. De feito, nem se falou do tema, em nenhum momento. Ala foi o texto com NH e LHs para a editora, da editora à imprenta, da imprenta às livrarias e das livrarias às maos da gente. Foi algo normal, como deveria ser. 

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