Entendendo a importância estratégica das ligações comerciais e económicas da Galiza com o Norte de Portugal, e as implicações e facilidades que a língua comum pode achegar nesse âmbito, a AGAL lança um novo desafio, consultar vozes autorizadas que possam deitar luz sobre a importância do estudo de português como ferramenta para as interações transfronteiriças.
Para isso, e com o apoio da Deputación da Corunha, hoje falamos com Sandra González, alcaldesa do concelho arraiano de Tominho.
Qual o papel das eurocidades? Fale-nos da sua eurocidade: o que é que as e os cidadãos tiram em limpo dessa experiência? E que dificuldades encontra esse projeto?
As eurocidades visam dar visibilidade às “unidades funcionais” nas que se desenvolve, de facto, a vida nos territórios transfronteiriços. Som a proposta institucional para definir uma cooperação entre Concelhos e Câmaras que ofereça soluções para as necessidades da sua cidadania.
A nossa comunidade valora positivamente as atividades da eurocidade. Verificámo-lo num inquérito em 2018. Para nós, isso é o melhor reconhecimento aos esforços por partilhar serviços e projetos que melhoram a eficiência do gasto público e aproximam as populações na construção real de uma Europa sem fronteiras.
Paradoxalmente, aí seguimos encontrando as principais dificuldades: existem ainda demasiados obstáculos legais e administrativos aos intercâmbios transfronteiriços, algo especialmente absurdo numa fronteira como a galego-portuguesa.
As relações económicas vão à frente das sociais, culturais ou institucionais?
Na fronteira minhota toda a vida vai diante do institucional. As relações comerciais, laborais e empresariais som fluidas. Por aqui passa, por exemplo, a metade do trânsito de automóveis que circula entre o Reino de Espanha e a República Portuguesa. O intercâmbio sociocultural é natural e descansa numa histórica proximidade de língua e cultura.
As eurocidades acompanhamos e incentivamos estas dinâmicas e visamos combater os obstáculos institucionais derivados fundamentalmente da olhada centralista que ainda mantêm os estados.
Os vínculos culturais e históricos são importantes para fortalecer os laços económicos? E vice-versa?
Sem dúvida. A proximidade cultural e linguística favorece todo tipo de relações, também a económica. E o seu potencial é evidente: Galiza e o Norte de Portugal agrupam case 6 milhão e meio de pessoas, uma comunidade com um potencial enorme para um desenvolvimento baseado na cooperação. Som novamente os estados, e neste caso especialmente o espanhol, quem deve facilitar este progresso na faixa atlântica da península.
A proximidade cultural e linguística favorece todo tipo de relações, também a económica. E o seu potencial é evidente: Galiza e o Norte de Portugal agrupam case 6 milhão e meio de pessoas, uma comunidade com um potencial enorme para um desenvolvimento baseado na cooperação. Som novamente os estados, e neste caso especialmente o espanhol, quem deve facilitar este progresso na faixa atlântica da península.
A reintegração linguística tem um papel entre as outras integrações todas que parecem querer avançar?
Aqui ainda há cousas a melhorar do ponto de vista da educação e da divulgação da história comum entre Galiza e Portugal. Compre também facilitar o conhecimento e o contacto com o galego e o português a ambos os lados da fronteira, permitindo, por exemplo, captar as emissões das televisões portuguesas em todo o território galego. Neste âmbito, a Xunta de Galicia tem deveres pendentes.
Uma maior presença do português no ensino poderia ser um incentivo ao um maior fluxo económico entre a Galiza e Portugal?
Seria um passo lógico no reconhecimento e normalização de uma relação histórica e, como dizia, com um grande potencial de futuro para a qualidade de vida das pessoas que moramos neste território. A melhora da qualidade do intercâmbio linguístico deveria ser uma prioridade para qualquer programa de governo na Xunta de Galicia.
Instituições como o Eixo Atlântico ou a Comunidade de Trabalho Galiza-Norte de Portugal deviam ser revalorizadas? Deviam possuir mais funções e competências?
Sem dúvida, a prioridade é a institucionalização e potenciação das entidades que agrupamos territórios compartilhados. A aparição da AECT Rio Minho significou, por exemplo, um grande avance para a atuação conjunta dos 26 concelhos (16 galegos e 10 portugueses) que a compõem. Permitiu visualizar as necessidades específicas do território fronteiriço, captar fundos europeus e dinamizar iniciativas concretas de cooperação.
A outro nível, a AECT Galiza-Norte de Portugal deveria ser considerada com moita maior ambição pela Xunta de Galicia: há muito por fazer e reclamar para desenvolver todo o potencial deste território e queda moita margem de trabalho institucional e gestões compartidas por construir.
Portugal apostou na Alta Velocidade para a faixa atlântica e na Galiza essa música soa bem a todos os atores políticos e económicos. Caminhamos para uma megacidade Lisboa-Ferrol?
Não sei se essa é uma definição apropriada. A Euro Região Galiza-Norte de Portugal precisa de todo tipo de interconexões e, singularmente, de um caminho de ferro de qualidade. São imprescindíveis as comunicações que facilitem o transporte rápido de passageiros e mercadorias na faixa atlântica, mas comprem também serviços de comboios transfronteiriços de proximidade que permitam, por caso, ir desde a nossa eurocidade a Viana ou a Vigo, algo que já é hoje possível do lado português, mas não do galego. Seja como for, para promover uma mobilidade alternativa, é imprescindível também construir uma rede que facilite a integração de todo o território, superando os desequilíbrios atuais.