- Quando num território de longa data convivem as gentes num contínuo misturam-se entre si, produz-se que o seu ADN leva inscrito características que o identificam como um mesmo grupo humano, em termos modernos, um mesmo povo2, e o diferenciam dos povos com os quais matêm contacto e limitam. Produzem-se mutações que de forma recessiva estendem características entre as suas populações. Galiza1 e Portugal compartilham no âmbito da genética um grupo de mutações exclusivas comuns. (Professor Anxo Carracedo3 USC), de ordem de 5, o que chama bem a atenção o seu número, quando se comparar com povos europeus isolados, como fineses ou islandeses etc.
Olhemos isso em mapas4:
A homogeneidade genética na Península Ibérica dá-se em faixas de norte a sul
Galiza-Portugal somos uma unidade genética muito homogénea entre ela, e isso que nela se incorporaram desde o século IX e desde o XV genes de variada procedência, -muitos deles africanos-.
De oeste para leste as faixas verticais, vão-se afastando, quanto mais separadas as faixas, mais afastamento5.
Quanto mais claro é a cor do mapa, maior existência de genes africanos e norteafricanos. Na parte oriental da penísula, Países catalães e Aragão a sua genética é junto com a basca a mais distinta do resto da penísula. O reino de Aragão, na reconquista, foi fazendo uma absoluta limpeza étnica e acabou por expulsar as populações mouriscas. De facto não se produz conversão dos muçulmanos, mas permanecem em sociedade afastados. Os Países catalães eram os territórios com mais população mourisca, chegando a ser por cima dos 30% no reino de Valência. Mas toda essa população acabou por ser expulsa da península em 1609 6.
- Na faixa ocidental, não houve nunca expulsão das populações muçulmanas, além de casos isolados e o que houve foi assimilação e integração, não só isso, mas também o cristianismo da faixa ocidental santificou a Mohamet, sob o nome de São Mamede.
- Bem antes de invadirem a península os exércitos muçulmanos, chegaram eles a Tingitânia. No norte de África, a província da Tingitânia, que era uma província romana que fazia parte da Hispânia desde a reforma do emperador Diocleciano, era uma das zonas mais cristianizadas do império romano. No ano 740 produziu-se uma importante rebelião dos cristãos berberes, estimulada por muçulmanos fanáticos carijitas, o que deu lugar a fugida de cristãos, rematada a inicial tolerância muçulmana, motivo mais do que suficiente como para provocar a fugida dos cristãos, seguindo a rota peninsular. Além disso, referido a Galiza lucense, (as Astúrias na altura faziam parte do espaço lucense), existem vários documentos dos anos 745, 747, 757, e 769, que nos falam do bispo de Lugo Odoário, e de outras autoridades da Galiza, que recolhiam e davam casa e terras a famílias cristãs do Norte de África.
Que nos documentos se lê em relação ao Odeário como «arzobispo» bem pode ser uma ruim leitura da forma aepiscopus. Não existe motivo algum na altura para fazerem falsificações. Onega López tem demonstrado que estes documentos têm um fundo autêntico e parece ser que inúmeros cristãos norte-afriucanos foram acolhidos na parte da Galiza que ficara na península como o único território sem dominação muçulmana.
O autor francês Barrau-Dihigo afirmava, com não justificada ironia, que a conquista de África não era cousa recente, de modo que não se tinha motivo para a fugida. Porém não há lugar a ironia nenhuma quando uma pessoa encara a violentíssima reação muçulmana de imposição religiosa que se produz a partir de do 740 7.
- Porém a norte do Douro e nas Astúrias, zonas não ocupadas pelos muçulmanos, o professor Carracedo demonstrou, que há um fundo antigo de genes norteafricanos que chegaram ao território há uns 5000 anos, quando se intensificou a dessecação do Saara.
- Todas as populações que com anterioridade chegaram à Península Ibérica, vieram do leste e através do Pirineus. Ainda que a Penínsuila Ibérica está só a 16 km de África, a passagem do estreito é uma das mais difíceis, pois de jeito contínuo entra uma corrente marinha, um grande rio do Atlântico no Mediterrâneo, que faz muito difícil a travessia. Os barcos e os submarinos podem entrar do Atlântico ao Mediterâneo, com os motores desligados. A douscentos quilométros ao leste do estreito, e a só 250 mts da costa, a velocidade da água ainda é de dous nós. Isso dificultava muito na antiguidade para os barcos conseguirem sair do Mediterrâneo. Mas há uns 5000 anos, aqueles norteafricanos, conseguiram o grande sucesso de serem os primeiros a atravesarem o estreito de Gibraltar8, e desse ADN do que fala o professor Anxo Carracedo como substrato genêtico do noroeste, e que faz que todos os do noroeste da península mostrem no seu ADN, uma pequeníssima percentagem, sempre inferior a uns 0,3% como uma recordação de há cinco mil anos, e muito menos significativo que o ADN muito mais moderno norteafricano e africano, que está bem mais incorporado a Sul do Douro.
1-Com o termo Galiza, estou-me a referir, não à Galiza histórica, -que ocupava a faixa ocidental peninsular e ia desde a Mar Catábrica ao Tejo, da qual o cerne era Braga e que foi quem constituiu Portugal; -senão à parte da Galiza a Norte do Minho, que acabou sob o domínio castelhano, porém foi quem acabou por usufruir o nome.
O Norte de Portugal não tem nome, chama-se mesmo com uma simples definição geográfica, será por ser ele o cerne da Galiza, a Galiza mesmo, tal como é Portugal todo do Tejo para cima?
2-Na Gália há até organizações que acreditam e agem sob essa palavra de ordem como a COMISSÃO PARA A REUNIFICAÇÃO NACIONAL DA GALIZA E PORTUGAL: 2006 (galizaunidaportugal.blogspot.com)
3-Anxo Carracedo, (Santa Comba, A Corunha, 12 de novembro de 1955), é catedrático de Medicina Legal, pesquisador e especialista internacional em genética. É membro da Real Academia Galega de Ciências.
4-https://www.nature.com/articles/s41467-018-08272-w/figures/5
5-Há na península e nos Pirineus sul e norte, um territótrio que não é uma faixa, que é uma ilha, o território basco.
6-Expulsão dos Mouriscos. É bem interessante ao respeito a analise que faz disso Joan Fuster, nessa obra extraordinária, que é Nossaltres els valencias, de leitura muito recomendável para entederem não pouco o estado espanhol.
7-Barrau-Dihigo, L. (1989): 273-5, contra Onega López, J. R. (1986). Tamém os considerava documentols auténticos Cotarelo Valledor, A. (1933): 61-4. Cf. Floriano, A. C. (1949-51): I, 40-59 y 62- 66.
8-Acederam à península e acederam à Sicília e ao Sul da Itália.