Em “Paraó e Peba”, a autora Mônica Bonilha nos convida a mergulhar em uma narrativa sensível que, embora não mencione explicitamente, remete à tragédia de Brumadinho, ocorrida no estado de Minas Gerais.
Uma imensa tragédia em poucas palavras
No dia 25 de janeiro de 2019, a barragem da Mina de Córrego do Feijão, da empresa Vale e da empresa alemã Tüv Süd, se rompeu na cidade de Brumadinho, em Minas Gerais.
O rio Paraopeba, a vegetação e a fauna de 26 municipios sofreram impactos e prejuízos ambientais e socioeconômicos com esse rompimento.
Não foi apenas um desastre ambiental—foi uma tragédia humana
Cerca de 12 milhões de m³ de rejeito foram derramados em comunidades e no Rio Paraopeba. Comunidades inteiras ficaram marcadas pela dor e a natureza sofreu danos irreparáveis. Ao todo, 270 pessoas morreram na tragédia. Três seguem desaparecidas até hoje.
Os processos e indenizações correm morosamente na Justiça, e por enquanto, ninguém foi condenado pela tragédia.
Em razão do descumprimento dos acordos ambientais por parte das empresas, os moradores continuam convivendo com contaminação da água e do solo no entorno do rio, o que também afeta os animais.
Por causa disso, muitos dos atingidos não retomaram as suas atividades econômicas na região.
Falar da dor
E como falar sobre tragédias com crianças? Como abordar temas como dor, luto e destruição sem causar medo ou angústia? Como ajudá-las a compreender eventos tão impactantes sem perder a esperança?
Foi com essa sensibilidade que nasceu Paraó e Peba, um livro da jornalista e artista plastica Mônica Bonilha, com ilustrações de Ana Lasevicius que, por meio da história de dois peixinhos amigos, convida os pequenos leitores a refletirem sobre a força para superar, resistir e continuar vivendo.
A aventura dos personagens acontece no rio Paraopeba, cenário desse que foi um dos (mas não o único) maiores desastres socioambientais da história do Brasil.
O livro Paraó e Peba

A obra, destinada ao público infantil, aborda de forma lúdica e poética as consequências de desastres ambientais, oferecendo uma perspectiva acessível para as crianças compreenderem eventos tão impactantes.
A história acompanha dois peixinhos amigos, Paraó e Peba, que vivem felizes em seu rio até serem surpreendidos por um estrondo que transforma seu mundo em escuridão e destruição.
Separados pela catástrofe, ambos enfrentam desafios em sua jornada para se reencontrarem, simbolizando a luta pela superação diante da adversidade.
As ilustrações de Ana Lasevicius enriquecem a narrativa, utilizando elementos lúdicos e cores que refletem as mudanças no ambiente dos peixinhos, desde as águas claras até a lama turva que invade o rio.
Detalhes como escamas feitas de casca de abacaxi e objetos humanos submersos acrescentam profundidade e convidam os leitores a explorarem cada página com atenção.

Mônica Bonilha, jornalista e artista plástica de Belo Horizonte, encontrou inspiração para o livro ao observar uma flor amarela que nasceu em meio à lama após a tragédia de Brumadinho.
Essa imagem simbólica de esperança em meio à destruição motivou a autora a criar uma história que resgatasse o protagonismo da natureza e abordasse o impacto ambiental sob a perspectiva dos seres que habitam o rio.
“Paraó e Peba” não apenas sensibiliza as crianças sobre questões ambientais, mas também oferece uma mensagem de resiliência e amizade.
Através da jornada dos peixinhos, os pequenos leitores são encorajados a refletir sobre a importância da preservação ambiental e a força dos laços afetivos diante das adversidades.
A obra está disponível em diversas livrarias e plataformas online, sendo uma leitura recomendada para pais e educadores que desejam introduzir temas complexos de maneira acessível e tocante para as crianças.
Rede Social da autora.