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“O Zeca nom era um cantor qualquer, não é estranho que o Grândola fora senha para iniciar a revolução”

25 de abril aja galiza

Há hoje 45 anos, Rádio Renascença emitia a canção Grândola, Vila Morena do célebre cantor Zeca Afonso. O relógio marcava as 0:20 horas da madrugada, e a música confirmava o golpe e dava sinal para o começo das operações. Ficava marcado um fito na história e a ligaçãofirme do músico de Aveiro com a Revolução dos Carvos.

Hoje, 45 anos depois, a célula galega da Associação José Afonso celebra esta efeméride com uma bateria de atividades que lembram a figura do Zeca e a sua luta revolucionária. Odilo G. Carnero, membro da diretiva da AJA Galiza, explica em conversa para o PGL o programa dos próximos dias e a importância desta data e do cantor português.

Quais som as atividades que organiza a AJA Galiza com motivo deste 25 de Abril?

Este ano dende a AJA Galiza imos a organizar em colaboração com o C.S. da Gentalha do Pichel varias atividades de mui diferente índole. A primeira das atividades será a inauguração, às 17:00 do próprio 25 de Abril, da exposição“Os cartazes do 25 de Abril” na Fundação Eugénio Granell. Esta mostra estará composta por uma série de cartazes comemorativos das diferentes celebrações do 25 de Abril após da revolução dos cravos até os nossos dias.

Ao dia seguinte, a sexta feria 26, será a jornada com mais atividades programadas. Para começar, às 17:00 na Gentalha do Pichel, será o espetáculo infantil do conta-contos musicado “A formiga no carreiro” (Rilo&Penadique) que interpretará as obras que recolhe o livro “Zeca Afonso para crianças“, o qual será apresentado ao mesmo tempo que o espetáculo por Bruno Vilela, membro da escola Semente, a qual, editou o livro para difundir o legado do Zeca entre as crianças e para conseguir financiamento para a escola infantil. No mesmo entorno da Gentalha, às 20:00 será projetado e haverá uma palestra sobre o pequeno documentário”Foi na cidade do Sado“, obra realizada por João Pires com o apoio da AJA e que nos fala sobre a figura do Zeca. Já para rematar e ligando uma atividade coa seguinte, às 21:30 haverá uma ceia convívio e um concerto do grupo Meninos.

Para rematar a programação, o dia 29 às 19:30 na livraria Couceiro, apresentaremos o livro-CD “José Afonso ao vivo” obra que recolhe dois concertos inéditos do Zeca. Ademais, contaremos com o autor, José Moças, para falar sobre os pormenores da edição dum trabalho destas características e com Xico de Malheiro que interpretará algum dos temas recolhidos na publicação.

Por que é importante celebrar ainda hoje o 25 de Abril?

O 25 de Abril é sem dúvida um fito histórico que compre lembrar, foi uma revolução levada adiante por um povo unido contra a irracionalidade do fascismo. Hoje mais que nunca, vemos como as forças ultradireitistas voltam a ter força em toda Europa. Pelo que cumpre lembrar a história próxima para não cometer os mesmos erros, assim coma ter a esperança de que se estes erros som cometidos de novo, em última instância o povo sempre será quem mais ordene.

Ademais, devido à nossa cercania cultural e geográfica com Portugal, é preciso recuperar a memória histórica sobre a repercussão que o 25 de Abril teve em nós, achegando ar de liberdade e esperança ao povo galego.

Qual foi a ligação de José Afonso com a Revolução dos Cravos? Além do Grândola, ele também foi ativista anti-colonialista e forte opositor do salazarismo…

Efetivamente o Zeca não era um cantor qualquer, era uma pessoa com muitos interesses. Já desde pequeno mudou a sua residência a África (Angola) à que depois voltaria de adulto (Moçambique) para trabalhar e levar adiante umha militância claramente anti-colonialista. Ademais, foi umha pessoa com grande sensibilidade cara todos os aspetos da vida, por exemplo tinha uma posição abertamente ecologista, também se posicionava de forma clara no reconhecimento das realidades nacionais silenciadas (coma fez no caso do nosso país). A nível político, manteve contatos com o PCP e com o LUAR, o qual lhe deu bastantes problemas coa polícia política. Por todos estes feitos, não é estranho que o seu tema “Grândola Vila Morena” fora a senha para iniciar a revolução dos cravos.

“O Zeca foi uma pessoa com grande sensibilidade cara todos os aspetos da vida. Tinha uma posição abertamente ecologista e também se posicionava de forma clara no reconhecimento das realidades nacionais silenciadas como com a Galiza”

A Revolução dos Cravos teve impato na Galiza?

Sem dúvida que assim foi, a revolução dos cravos teve repercussões em toda Europa e em África. Polo tanto nós, que estamos próximos, também o notamos. Para começar, foi um ar de vento fresco e esperança saber que as cousas podiam ser mudadas a nível político no nosso país. Por outro lado, serviu como refugio para as pessoas que estavam a ser perseguidas na nossa terra, as quais puderam exiliar-se com maior seguridade na republica vizinha. Por último, a nível cultural foi uma autêntica revolução, as relações musicais entre os dois países potenciaram movimentos culturais já desde antes do dia da revolução. O exemplo mais salientavel foi o de movimentos musicais dissidentes coma “Voces Ceives“, mas também se levou adiante um grande avanço na normalização da língua e na recuperação desta, vendo como autores portugueses vinham a tocar cá numa língua não nos era nada desconhecida.

No contexto atual, continua vivo e com ração de ser o espírito do 25 de Abril?

Sim, por suporto. Depois do 74 (ano da revolução) ou o 75 (ano da morte do ditador Franco) o sentimento que se respirava no ambiente era bem diferente. Nestas épocas, as jovens (e não tanto) desejavam mudar as cousas cara melhor, mais liberdade, mais justiça social, mais igualdade e desprender-se de todas as ataduras às que o fascismo as tinha submetidas. Analisando isto dente a perspetiva atual, também pode detetar-se um medo ao cambio por parte duma sociedade ainda mui rural, na que se mantinha grande medo à repressão sofrida na guerra e pós-guerra, o qual junto co poder que tinham (e têm) as elites franquistas cristalizou numa série de reformas do estado espanhol que não supõe uma grande mudança nas cotas de poder.

odilo g carnero
Odilo G. Carnero, membro da diretiva da AJA Galiza

Devido a que o “status quo” simplesmente reformou-se para dar-lhe uma aparência cosmética-democrática ao estado, mantendo as estruturas judiciais, amnistiando todos os delitos cometidos por fascistas, permitindo que ministros de Franco formaram os seus partidos políticos, que estes foram chamados democráticos, etc. Todo isto formou o perfeito caldo de cultivo para que hoje estejamos diante dumas eleições nas que a ultra-direita (que nunca marchou do arco parlamentário), se posicione com posturas mais claramente neoliberais e reacionárias. E isto referendo-nos só ao estado espanhol, cada estado a nível europeu também teve o seu processo evolutivo que rematou dalguma maneira cristalizando no rexurdir de partidos de ultra-direita, o qual deveria fazer-nos pensar sobre o papel que tem o neoliberalismo na nossa sociedade e que fins pretende lograr.

Polo tanto, sim, hoje mais que nunca cumpre recuperar o espírito do 25 de Abril.

Como é a relação da AJA Galiza com o resto de células da associação na lusofonia?

A AJA-Galiza nasceu há um ano como célula da AJA (Portuguesa), a pesar disto desde o primeiro momento revindicou-se a sua independência, é dizer, por temas legais nós temos que ser uma associação cultural legalizada no estado espanhol, ademais temos as nossas associadas próprias (que podem ser se querem também associadas da AJA Portugal). Outra diferencia com o resto de AJAs, é que ademais de reivindicar a figura do Zeca propusemos a missão de ser algo mais, isto é uma espécie de embaixada galega, uma ponte que una as duas ribeiras do Minho para que a nossa cultura e idiossincrasia se conheça no país irmão e vice-versa.

Por outro lado, a relação com todas as células da AJA é mui boa. Temos contato com elas para falar sobre grupos de música, artistas, livros, ou atividades que gostávamos difundir em Portugal ou por Galiza. Por suposto, a língua é uma ferramenta fundamental para comunicar-nos com elas, já que principalmente fazemo-lo por correio eletrónico ou por telefone. Quando foi a inauguração da AJA Galiza, assinamos um documento de irmandade e foi mui emotivo. A este ato viu gente de muitas das células da AJA e a comunicação com todas estas companheiras aportou uma quantidade de retroalimentação cultural tremenda, a língua comum serviu-nos para comunicar-nos com portugueses do norte e do sul, mas também para falar com pessoas que, ainda que agora moravam em Portugal, nasceram em países africanos onde a língua falada é a mesma que a nossa.

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