Desde Carvalho Calero, nunca deixou de estar no horizonte do galego admitir as regras ortográficas portuguesas, polo menos opcionalmente. Por que motivo?
Primeiramente, é preciso esclarecer que esta reforma só se plasmará na escrita, mesmo que incentive na fala formas de sabor antigo como canzón. Teremos “Carvalho” por “Carballo”, pronunciado igual, só que multiplicando o seu potencial comunicativo, dado que nos servirá para comunicar entre nós e países como Portugal ou Brasil.
Teremos “Carvalho” por “Carballo”, pronunciado igual, só que multiplicando o seu potencial comunicativo, dado que nos servirá para comunicar entre nós e países como Portugal ou Brasil.
Contra isto ouvimos principalmente dous argumentos. O primeiro é que esta troca dificilmente vai parar a perda de falantes. É verdade, ao menos prontamente. No entanto, o idioma poderá adquirir suficiente valor pragmático para deixar de ser promovido exclusivamente por motivos sentimentais e principiar a ser valorizado como ferramenta útil.
O segundo é que entre nós continuaremos preferindo o idioma de Cervantes ao de Rosalía, mesmo que este se una ao de Camões, menos empregado no mundo que o primeiro. Isto é verdade se pretendemos competir de forma suicida, só que a proposta de Carvalho proporciona potentes motivos para transmitir pacificamente ambos idiomas, e contra o que tanto se pregoa “El gallego no sirve fuera de Galicia” diremos “Podemos usar os dous para chegar a universos idiomáticos diferentes”.
Contra o que tanto se pregoa “El gallego no sirve fuera de Galicia” diremos “Podemos usar os dous para chegar a universos idiomáticos diferentes”.
O “carballo” segue sendo emblemático para nós, só que nos círculos comerciais agora metemos o “roble” para falar da madeira. Conscientes de que a frase “madeira de roble” é entendida por todo o mundo, iremos deixando de usar carballo, como aconteceu antes a estrada (‘carretera’) ou a pescada (‘merluza’). Para reanimar estes termos é preciso ampliar o seu campo comunicativo. O uso do galego seguramente continuará igual a curto prazo, só que a mocidade terá poderosos motivos para se vincular ao galego no futuro. Da mesma maneira que dar utilidade ao monte é a única forma eficaz de evitar as queimas, dar utilidade ao idioma será o modo de evitar o seu esmorecimento.
[Este artigo foi publicado originariamente em La Voz de Galicia]