Falamos com o boirense Mario Brión, gestor de redes sociais e comunicação, youtuber e desportista profissional.
Desde há 2 anos tem uma conta no Youtube e no Instagram com conteúdos diversos, mas, em geral, ligados à língua, à cultura e à atualidade galegas. Nela podemos encontrar desde entrevistas a “Creadoras milenials galegas”, até reações a anúncios do Gadis ou canções da Pabllo Vittar ou explicações sobre o binormativismo. Porque tratar estes temas?
Tento tratar temas que falem às novas gerações, evitando deliberadamente o ruralismo e o pailanismo imperantes na produção cultural hegemónica galega contemporânea. Quando tenho uma ideia para fazer um vídeo não me preocupo muito de que siga uma linha de conteúdo. Mas vendo-o agora um pouco em retrospetiva, geralmente interesso-me por tratar sempre em tom humorístico as identidades queer, a construção da identidade nacional e as problemáticas linguísticas (não só da Galiza, mas também doutros lugares onde coabitam várias línguas).
Interesso-me por tratar sempre em tom humorístico as identidades queer, a construção da identidade nacional e as problemáticas linguísticas (não só da Galiza, mas também doutros lugares onde coabitam várias línguas).
Aliás, nos seus vídeos é capaz de conjugar a comicidade, o didatismo e a crítica. Que o motivou a iniciar este projeto e porque o fazer desta forma?
Não sei muito bem porquê, mas muitas vezes, quando partilho a minha postura sobre certos temas com as pessoas, costuma ser muito bem recebida. Mas explicar coisas pessoa por pessoa é complexo porque não tens em todo o momento o discurso preparado e adaptado para cada indivíduo em concreto, assim que decidi expressá-las em formato vídeo de Youtube porque era o mais exequível no momento, ainda que continuo tentando melhorar as narrativas na plataforma. Ah, e faço-as deste jeito porque é do jeito no qual falo na vida real, não sou uma personagem. Esta é a minha forma de amenizar os conteúdos e de escapar do didatismo pedante.
Tendo arredor de dous mil subscritores, assumimos que tem uma boa acolhida entre o público. Como descreveria o perfil dos seus seguidores? Quais as reações aos seus conteúdos?
Boa acolhida é um termo relativo, mas tampouco dá para queixar-se. Segundo as estatísticas das minhas redes, quase metade da minha audiência são pessoas de entre 20 e 35 anos, sendo o seguinte grupo de 10 a 20. Porém, surpreendeu-me ver que na segmentação por géneros tenho muitíssimas raparigas de menos de 20 anos subscritas, dá para ver, as novas gerações, a full comigo.
Para além de youtuber, é desportista profissional. Como integrante do Club de Remo Cabo da Cruz, na sua experiência, que nos pode contar do panorama linguístico deste desporto a nível galego? Qual a língua maioritária da afeição e dos desportistas? Esta língua coincide com a língua veicular dos clubes nas redes sociais, comunicados, equipamento, etc.?
No caso particular de Cabo dá-se um fenômeno, que não é inusual, mas sim que é preciso recordar, que é a segmentação por género das galego-falantes. Enquanto nas equipas masculinas quase não há falantes de espanhol e os que vêm doutros clubes adotam dito código linguístico, nas equipas femininas, a língua imperante é o espanhol e as raparigas pequenas, galego-falantes, que passam à categoria absoluta adotam o código para falar publicamente na sua equipa.
No caso particular de Cabo dá-se um fenômeno, que não é inusual, mas sim que é preciso recordar, que é a segmentação por género das galego-falantes. Enquanto nas equipas masculinas quase não há falantes de espanhol e os que vêm doutros clubes adotam dito código linguístico, nas equipas femininas, a língua imperante é o espanhol.
Há um par de anos houve um pequeno “conflito” por eu ter comentado numa publicação da LGT (Liga Galega de Trainheiras) que usavam o espanhol como língua de comunicação nas redes, pelo que me chamaram, literalmente, de impositor. Hoje em dia, a maioria dos clubes galegos e a Liga utilizam o galego nas suas comunicações em redes, ainda que o grosso das desportistas de outros clubes seja sim castelhano-falante.
6. Também tem relação com equipas bascas, já que compete na Liga ACT. Como foi a experiência? No sentido linguístico, viu alguma diferença entre os clubes bascos e os galegos?
A experiências na ACT é dura muitas vezes, mas também reconfortante. É uma competição muito exigente tanto a nível pessoal como de equipa e clube. Além disso, os clubes galegos temos de nos deslocar quase todos os fins de semana a Euskal Herria para competir, com o desgaste físico, mental e económico que isto supõe.
No sentido linguístico, penso que a maioria dos clubes, excetuando os da área de Bilbo que utilizam predominante ou unicamente o espanhol, usam o euskera como língua veicular, ou usam as duas línguas. Sobra dizer que, ainda que percentualmente haja menos falantes de euskera que de galego, a consciência social sobre a língua está bastante mais arraigada.
7. Por último… A língua, para quê?
Para que não me entendam quando falo, óbvio… Ai, não, isso é o alemão. Pois para não reduzir a minha existência à folclorização, ritualização e fossilização que tantos celebram. Estou aqui, tenho menos de 70 e hablo el gaiego.