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Marcos Vence: “No PluriFP o alunado aproxima-se a uma língua sem a pressão dos exames”

Marcos Vence Ruibal é professor de FP Informática no IES San Clemente e membro da comissão de Formação Profissional da Docentes de PortuguêsHá nove anos entrevistáramos Marcos por ser um dos pioneiros na introdução das secções bilingues em português. O San Clemente é um centro PluriFP onde existem diferentes matérias que são oferecidas em português. Hoje em dia conta também com docente da especialidade oferecendo português no bacharelato a distância.

Começaste a dar as aulas em português em 2011, passados onze anos qual é o balanço desta escolha?
Muito bom. Durante estes anos lecionei três disciplinas de FP Informática em português, duas no Ciclo Médio e uma num Ciclo Superior e desde há quatro anos também temos connosco o professor Marcos Arias a lecionar outras três.
Graças a isso, por volta de 500 estudantes tiveram um achegamento ao português bastante descontraído, mas efetivo, que incluiu linguagem técnica. Certificaram B1 no CAPLE mais de 200 e recentemente começaram a examinar-se também no Camões Júnior. Inicialmente as “secções bilingues” e já agora a PluriFP é um invento muito interessante quando é usado assim: o alunado aproxima-se a uma língua sem a pressão dos exames.

Os teus alunos e alunas participaram em múltiplos projetos europeus como o eTwinning, que projetos ou que momentos destacarias destes anos todos? E projetos para o futuro?
Todos tiveram a sua graça e a sua utilidade e vários dos que realizamos em português receberam prémios dos Ministérios da Educação de Portugal e Espanha, como GaliMinho. Antes da pandemia conseguimos fazer alguma atividade presencial em Braga e Viana do Castelo e agora vamos tentar retomar essa prática, aproveitando a proximidade física das nossas escolas parceiras.
Se tiver que destacar algum, seria o mais recente: LusoMicroFonia, que aproveitaremos como semente para participarmos no programa “Radio na Biblio” dum futuro Plambe. Neste ano também iniciamos o projeto eTwinning SOLE dinamizado pela nossa parceira Adelina Moura, do AE Carlos Amarante de Braga.

A PluriFP é um invento muito interessante quando é usado assim: o alunado aproxima-se a uma língua sem a pressão dos exames.

Há muita publicidade arredor da Paz Andrade, que atinge principalmente a incorporação da matérias de português. Contudo, como está a ser a implementação de português na Formação Profissional? Aumentou o número de centros? É hoje mais simples oferecer matérias de português ou em português do que antes?
Sempre foi extremamente simples oferecer disciplinas de FP em português, só é preciso ter B2 certificado e vontade de fazer algo especial com o alunado. A Administração dá muitas facilidades para implementar e manter os ciclos PluriFP, contudo o número de centros só está a aumentar timidamente (somos cinco atualmente).

O governo está a colaborar com a DPG na divulgação de conteúdos que encorajem a inscrição em português em diferentes modelos de ensino. Como avalias esta linha de trabalho?
É ótima, oxalá se mantenha nos próximos anos.

Recentemente tem saído um vídeo onde a FP é protagonista. Achas que os centros FP deveriam ter mais visibilidade como opção de estudo?
Penso que hoje em dia a FP está muito bem valorizada socialmente e tem uma visibilidade adequada.

Quais as vantagens hoje de estudar em português para os teus alunos e alunas de FP informática?
Era boa ideia que se generalizasse que todos os ciclos de FP tivessem uma componente de língua estrangeira e que os PluriFP não fossem a exceção. O facto de serem estudantes de Informática e aprenderem português, é interessante do ponto de vista da possibilidade de estágio ou trabalho no país vizinho, muito perto de casa. Sempre pensei que se fosse professor em Aragão quereria dar aulas em francês por uma questão de proximidade.

O facto de serem estudantes de Informática e aprenderem português, é interessante do ponto de vista da possibilidade de estágio ou trabalho no país vizinho, muito perto de casa.

E para o conjunto dos centros de FP,  o que lhes dirias a alunos/as e docentes doutros centros para encorajá-los?
Que é fácil solicitar ciclos PluriFP, implantam-se sem pressão, os resultados são imediatos e a mais-valia nos CVs do alunado e as portas que se lhes abrem automaticamente para a FCT e outras experiências faz com que valha a pena este pequeno esforço.
Por outra parte, para o professorado também é divertido, satisfatório e uma oportunidade de desenvolvimento profissional. Tenho que dizer que aprendi imenso graças às auxiliares de conversa e ao uso contínuo do português e com o passo do tempo certifiquei o C1 na EOI.

Através da vossa associação ofereceis assessoramento a qualquer docente de FP que queira oferecer a matéria em português. Está a haver demanda neste sentido? O que deve fazer um/uma docente se quiser oferecer a sua matéria em português? Datas? Prazos? Procedimento?
Estamos a ver que há muito interesse de colegas de FP em aprender e certificar Português mas não há muita demanda de informação para solicitar ciclos PluriFP. Uns centros fazem o procedimento sozinhos, porque é bastante simples e não precisam de ajuda ou não nos conhecem. Outros não dão o passo por medo, acho eu. Também há equipas diretivas que querem implementar ciclos PluriFP mas não contam com professorado definitivo.

O que deve fazer um centro? Só precisa que um ou uma docente com praça definitiva certifique o B2. Ainda está a tempo nas convocatórias da EOI de fevereiro e do CAPLE de maio e julho. Feito isto, o resto é canja! Podem pedir informação em fp@dpgaliza.org e consultar na dpgaliza.org

Última atividade presencial no AE Carlos Amarante de Braga em 2019, antes da pandemia. | Equipa docente participante no projeto “GaliMinho 2” e diretoras das escolas.

Graças ao IES San Clemente o português está disponível como optativa a distância em todos os bacharelatos da Galiza, poderias explicar melhor?
Isto não tem nada a ver com a FP, mas com o facto do IES lecionar Bacharelato telemático para toda Galiza. O sistema de ensino está focado naquelas pessoas adultas que não conseguiram tirar o Bacharelato por outras vias.
Porém, se um ou uma estudante doutro IES precisa cursar uma disciplina que não oferta o seu centro, pode solicitar cursá-la à distância no IES San Clemente.

Em 2013 perguntávamos pela fotografia que gostarias de ver em 2020. Esta era a resposta: “Um lugar onde se possa utilizar o galego sem complexos e aprender o português sem preconceitos. Tenho esperança na ILP Valentim Paz Andrade.” Como avalias os avanços conseguidos nesta década?

Nove anos mais tarde continuo a pensar que não se estão a aproveitar as oportunidades que dá a Conselharia de Educação, mas sim, pouco a pouco estamos conseguindo que se aprenda o português sem preconceitos, no dia a dia das nossas aulas.

Qual a fotografia possível para 2030?
Desejo podermos viajar de comboio a Portugal em alta velocidade, isso deveria abrir muitas portas.

 

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