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Marcos Abalde: “A atual Junta nom está disposta a criar umha escola livre de violências galegófobas”

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Borxa Toxa

Neste ano 2021 há 40 anos desde que o galego passou a ser cosiderada língua co-oficial na Galiza, passando a ter um estatus legal que permitiria sair dos espaços informais e íntimos aos que fora relagada pola ditadura franquista. Para analisar este período, iremos realizar ao longo de todo o ano, umha série de entrevistas a diferentes agentes sociais para darem-nos a sua avaliaçom a respeito do processo, e também abrir possíveis novas vias de intervençom de cara o futuro.
Desta volta entrevistamos o escritor, filólogo e professor Marcos Abalde.

Qual foi a melhor iniciativa nestes quarenta anos para melhorar o status do galego?
Nestes quarenta anos houvo diversas iniciativas que melhorárom o status do galego: a Lei de Normalizaçom Linguística, a RTVG, a Mesa, o Decreto 247/1995, o acordo normativo de 2003, o Plano Geral de Normalizaçom da Língua Galega, o Decreto 124/2007 ou a ILP Paz-Andrade. Porém, a condiçom prévia e imprescindível destes avanços acha-se no fortalecimento e expansom do movimento nacionalista. Aspecto raramente sublinhado e que se torna determinante. A autoorganizaçom das e dos galegofalantes é crucial para desbordar os limites impostos e propagar a consciência linguística por todas as comarcas, âmbitos sociais e laborais. Quanto maior articulaçom atingir o povo, maior será o status do idioma.

Se pudesses recuar no tempo, que mudarias para que a situação na atualidade fosse melhor?
Do meu ponto de vista, este período pode ser dividido em duas fases: a primeira (1983-2009), dum lento mas progressivo uso da língua; e umha segunda fase (2009 à atualidade), de regressom e restriçons. Na Junta som especialistas em delapidar milhons de euros em açons com nulo impacto normalizador.
A derrogaçom do Decreto 124/2007 foi umha catástrofe como demostram as evidências empíricas e subjectivas e advertem de jeito reiterado organismos nacionais e internacionais. Eu tivem maior presença de galego no ensino do que o meu próprio alunado. A situaçom é tam grave que nom se aplica nem o mínimo que marca o Decreto linguicida de Feijoo. O Plano Linguístico do Centro pode dizer missa, a prática é outra. Sistemática, a vulneraçom dos direitos linguísticos.

 

Eu tivem maior presença de galego no ensino do que o meu próprio alunado. A situaçom é tam grave que nom se aplica nem o mínimo que marca o Decreto linguicida de Feijoo.

Que haveria que mudar a partir de agora para tentar minimizar e reverter a perda de falantes?
A primeira pergunta seria: Que é o que significa “perda de falantes”? Para mim essa expressom naturaliza umha continua violência estrutural que sofre o nosso povo. Na atualidade, a situaçom da língua empiorou, porque o governo do PP fai todo o possível para favorecer a ruptura da transmissom familiar. Desenvolve umha política linguística transversal a todas as conselharias: preservar a hegemonia do castelhano. Feijoo tem claro que esta é a língua veicular no ensino. Há pouco estas declaraçons protagonizárom os cabeçalhos na imprensa. Mesmo, no último número da Revista Galega de Educaçom, o diretor geral de Política Linguística, Valentín García, ousa afirmar que proibírom as matemáticas em galego para promover o galego. E por se nom abondasse com isto, teima em defender a diglossia. Eles sabem perfeitamente qual é o currículo oficial e qual, o currículo oculto. Andam desatados!

Que é o que significa “perda de falantes”? Para mim essa expressom naturaliza umha continua violência estrutural que sofre o nosso povo.

O PP dinamitou os aparentes consensos em matéria linguística e encetou umha nova etapa. Este discurso supremacista atualizado pola FAES calhou numha parte significativa da sociedade e reforçou as posiçons mais reacionárias. O próximo governo vai precisar dumha grande determinaçom para pôr o galego em pé de igualdade.
A pesar desta lamentável situaçom, temos um poder pessoal que nom pode ser desprezado. Um poder individual e comunitário que é preciso ativar. Cada um de nós pode apropriar-se do galego e criar espaços seguros onde a língua respire: família, amizades, redes sociais, literatura, música, teatro, equipas esportivas, associaçons vizinhais, colectivos feministas, centros sociais… Como afirma Goretti Sanmartín, cumpre racharmos “a expectativa de horizontes de uso”. Com independência de quem governar, toda a sociedade deve responsabilizar-se da língua. A Galiza tem que avançar e nom pode aguardar por ninguém.

Que papel pode ter o ensino, e nomeadamente as escolas Semente, neste processo?
Em duas geraçons passamos de entrar na escola com seis anos a começar com seis meses. Há crianças que entre madrugadores, comedor e extraescolares passam mais de dez horas seguidas no centro escolar.
O ensino possui um papel vertebrador da comunidade linguística. Devemos perguntar-nos qual é o seu objectivo: Que o alunado atinja umha série de competências em galego ou que seja a língua de socializaçom? Que seja tratada como umha peça de museu ou como a língua nacional da Galiza? Que ministremos “Gallego” ou “Língua”? Este realmente é o miolo da questom. No ano 2021 umha atividade tam inocente como brincar em galego torna-se profundamente subversiva.

Como existem no rural, nas cidades também se poderiam oferecer Casas Ninho (“Llars de criança”, “childminders”) para famílias galegofalantes e, a partir de três anos, turmas com linhas em galego. Mesmo, um modelo semelhante às escolas unitárias portaria grandes vantagens se se espalhasse polo conjunto do território. Neste sentido, há nos Países Catalans experiências de inovaçom pedagógica bem inspiradoras. Penso na escola El Martinet ou nas Bressolas.
Há quem questiona a Semente porque nom está sustentada com dinheiro público. Este é um debate dumha miopia espantosa. Pois em vez de denunciar o atual sistema castelhanizador, centra-se em atacar duzias de ativista com um enorme compromisso com o idioma. Para além de ignorar iniciativas semelhantes de educaçom popular ao longo da história da Galiza e do conjunto do movimento operário.

Há quem questiona a Semente porque nom está sustentada com dinheiro público. Este é um debate dumha miopia espantosa. Pois em vez de denunciar o atual sistema castelhanizador, centra-se em atacar duzias de ativista com um enorme compromisso com o idioma. Para além de ignorar iniciativas semelhantes de educaçom popular ao longo da história da Galiza e do conjunto do movimento operário.

A mim quando me dói umha moa, nom aguento com a dor nem aguardo a que o dentista entre polo Sergas. Tomo a iniciativa e soluciono o problema. Seria maravilhoso nom ter que pagar, mas a dor é grande demais. Semente existe porque a língua fai parte tam íntima da própria identidade que nos dói. Essa dor mobiliza-nos. Infelizmente, a atual Junta nom está disposta a criar umha escola livre de violências galegófobas. Porque é de violência do que estamos a falar. Violências invisibilizadas, naturalizadas, normalizadas. Miguel R. Carnota acaba de apresentar umha tese que analisa este fenômeno. Suponho que essas pessoas que criticam a Semente serám coerentes e também se negarám a ir ao dentista… A Semente carece de fins lucrativos. Visa a emancipaçom social. Por isso vive numha constante tensom econômica.

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O seu projeto pedagógico possibilita às crianças inserirem-se numha comunidade linguística, pois sem comunidade nom é possível desenvolver-se como falantes. Salvo Margaret Thatcher e Gloria Lago, todo o mundo sabe que as dimensons individual e colectiva estám intrinsecamente ligadas. Nom se podem escindir. Na comunidade desprega-se a primavera da língua.
A Semente fornece um modelo que funciona: o galego como língua fraterna, turmas reduzidas e convivência entre diferentes idades. Hoje sabemos como estender o uso do idioma. Há umha década  era inimaginável. Se queremos umha nova Galiza, precisamos umha escola nova. Agora mesmo, essa escola já existe. Chama-se Semente.
A Galiza leva demasiado tempo habituada ao maltrato. Fai-nos boa falta praticar o reconhecimento, a admiraçom, o carinho. Se de algumha cousa pode ser acusada a Semente é de converter os sonhos em realidades e as ideias em factos. Verdadeiro heroísmo alenta neste projeto.

Achas que seria possível que a nossa língua tivesse duas normas oficiais, uma similar à atual e outra ligada com as suas variedades internacionais?
Na minha vida quotidiana, em Nós Diário ou na Semente já é assim. O reconhecimento da norma portuguesa como oficial só pode trazer benefícios para a Galiza. A normalizaçom consiste em aumentar o repertório linguístico. Umha cheia de recursos estám ao nosso dispor. O contato com a variedade portuguesa é um reforço da autoestima e segurança extraordinário. De facto, esse é o grande segredo da língua galega: a nossa língua nom acaba no Minho. Como dizia Carvalho Calero: “Nom estamos sós”.

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