Nestes dias de fins de março e começos da primavera lembramos o falecimento do professor Carvalho Calero, que aconteceu em Santiago no dia 25 de março de 1990.
Desde dous anos antes (abril de 1988) vinha sofrendo um cancro de pulmão. Ao longo de todos esses meses fora suportando a doença com grande inteireza, alternando a sua vida familiar com períodos de atenção médica na clínica compostelana La Rosaleda, e sem renunciar nunca à sua constante atividade intelectual de leitura e escritura até os últimos dias (e mesmo como conferencista nos períodos de melhoria).
A sua última aparição pública foi uns três meses antes do falecimento, no dia 7 de janeiro, em Ferrol: apesar de ir já muito avançada a doença, quis receber pessoalmente da Câmara Municipal o título de Filho Predilecto no dia da festa de São Julião, padroeiro da cidade. A todos produziu impressão aquela cerimónia de afeto e reconhecimento por parte das autoridades municipais, e de resistência e dignidade por parte de Carvalho, como lembrava mais tarde a sua filha Maria Vitória:
“Depois de momentos melhores e piores no decurso da sua enfermidade, no Natal do oitenta e nove o deterioro da sua extraordinária vitalidade fijo-se mais ostensível. Nom obstante, nomeado filho predilecto de Ferrol, parecia-lhe um dever de cortesia estar presente no acto de entrega de tal nomeamento, que teria lugar o sete de Janeiro, dia de Sam Juliám, patrom da cidade. E nom só nom faltou, senom que pronunciou as palavras de rigor, que para quem sabíamos qual era entom o seu estado de saúde, resultárom memoráveis.” (Maria Vitória Carvalho-Calero Ramos, «Meu pai na lembrança», Agália, nº. 29, primavera de 1992, p. 117).
Na sexta-feira 2 de março teve de ser ingressado novamente na clínica. Seria a última vez. Na segunda-feira seguinte, 5 de março, o jornal La Voz de Galicia publicava a seguinte notícia:
“«Carballo Calero, internado en un hospital a causa de una enfermedad respiratoria».
La Coruña (Redacción). El filólogo Ricardo Carballo Calero ha experimentado una mejoría en su estado de salud, después de que el pasado viernes fuese ingresado en un centro sanitario de Santiago tras agudizarse una enfermedad respiratoria que padece desde hace algún tiempo. Carballo Calero, de 80 años, está siendo asistido con oxígeno y medicación, y permanece ingresado en una habitación del hospital, donde ayer se interesaron por su estado de salud numerosas personalidades de la cultura gallega, así como sus familiares y amigos.” (La Voz de Galicia, segunda-feira 5 de março de 1990, p. 13).
Viveria ainda 20 dias mais. Faleceu ao anoitecer do domingo 25 de março. Como nascera em outubro de 1910 em Ferrol, não chegou, pois, a completar os 80 anos. Na manhã do dia seguinte, segunda-feira 26, instalou-se a câmara-ardente no Hospital Provincial, em Conjo, onde ao longo desse dia e da manhã do seguinte passaram render-lhe honras personalidades diversas da cultura, da política e da sociedade em geral.
Nos ambientes culturais galegos fora-se divulgando a notícia da sua doença e da sua gravidade. Para a maioria dos seus amigos e admiradores não foi, pois, uma surpresa.
De diversos sectores da sociedade galega surgiram manifestações de pesar, com o sentimento de uma perda valiosa para a cultura. Os jornais galegos dos dias seguintes recolhiam esses testemunhos e refletiam o sentir comum com titulares que manifestavam, de diversos modos, “Galiza chora a morte de Carvalho Calero”.
Na tarde do dia 27 celebrou-se o funeral de corpo presente na igreja conventual de São Francisco, de Santiago, com missa concelebrada por vários sacerdotes e presidida pelo padre franciscano José Manuel Isorna Ferreirós (1921-2016), amigo da família.
Seguidamente o seu cadáver recebeu sepultura no cemitério compostelano de Boisaca. Ali, no túmulo número 1439, repousam os seus restos.