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José Saramago, o único literato lusófono premiado com o Nobel

José Saramago em 2006 | José Luís Roca
José Saramago em 2006 | José Luís Roca

O dia 8 de outubro de 1998, José Saramago recebia o Nobel de Literatura, vai fazer agora 22 anos. Porém, quantos outros autores de língua portuguesa já foram contemplados com esse prémio tão importante? Não se precisa de pesquisar. A resposta é fácil: nenhum. Apenas o português, autor de Ensaio sobre a cegueira e O Evangelho segundo Jesus Cristo, entre outras importantes obras, levou o nosso idioma a esse patamar. E olhem que não faltaram oportunidades! Afinal, o Nobel de Literatura é concedido desde 1901. De lá para cá, só não houve a entrega do prémio em sete anos, na maioria deles, devido a conflitos bélicos.
Mas o que faltou para que mais portugueses, brasileiros, angolanos, moçambicanos e outros falantes (e escritores) da nossa língua chegassem lá? Encontrar uma resposta é difícil, mas acho que podemos dizer que “falta de talento” não está entre as opções. É só lembrar nomes como Jorge Amado, Cecília Meireles, Graciliano Ramos, Fernando Pessoa, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade…
O meu palpite é a pouca representatividade que, historicamente, afeta os falantes da língua portuguesa. Embora formemos uma população de perto de 300 milhões de pessoas, ainda estamos longe de ter o nosso idioma valorizado mundo afora, até por não sermos tão fortes em termos políticos e económicos. Há até quem pense que o brasileiro fala italiano ou castelhano…
Nesse sentido, vale apresentar alguns números. Enquanto apenas Saramago nos representou no Nobel, 13 autores da língua francesa e perto de dez da alemã já receberam o prémio. Dos que escreviam em inglês, foram, pelo menos, 25. T.S. Eliot, William Faulkner e Bertrand Russell deram sequência de três prémios para a língua inglesa, de 1947 a 1949. Coincidentemente ou não, os destinos do Nobel guardam relação com a situação político-económica mundial, ou, para ser mais específico, com os países em destaque na conjuntura internacional. Por exemplo: dos 25 prémios a autores de língua inglesa, 19 vieram após a Segunda Guerra Mundial, da qual britânicos e (sobretudo) norte-americanos saíram vitoriosos e fortalecidos. Esse número representa 26,38% do total de vencedores entre 1944 e 2013. Antes de a concessão do prémio ser interrompida, de 1940 a 1943, por sua vez, 38 autores foram contemplados. Destes, sete escreviam na língua francesa e cinco na alemã (quatro deles, antes da Primeira Guerra Mundial). Dos Estados Unidos, país ainda na altura sem grande poderio no âmbito mundial, apenas três, e todos eles, na década de 1930. Desconfio, portanto, que, no que se refere ao Nobel, o português vai demorar a brilhar novamente. Quem dera o prémio já fosse concedido na época das Grandes Navegações… Não é mesmo, Camões?!

Coincidentemente ou não, os destinos do Nobel guardam relação com a situação político-económica mundial, ou, para ser mais específico, com os países em destaque na conjuntura internacional. Por exemplo: dos 25 prémios a autores de língua inglesa, 19 vieram após a Segunda Guerra Mundial, da qual britânicos e (sobretudo) norte-americanos saíram vitoriosos e fortalecidos.

Nascido em 1922 e morto em 2010, José Saramago tornou-se o maior expoente da literatura portuguesa desde Camões. Com uma obra literária importante, embora com alguns erros de opinião, como a sua absurda ideia, que mais adiante comentaremos, de unir Portugal a Espanha criando outro país com o nome de Ibéria, indo contra o ditado popular tão acertado de que “de Castela nem bom vento nem bom casamento” (se calhar como o que ele teve com a espanholíssima Pilar del Rio). Dedico a Saramago o presente depoimento, que faz o número 47 da série sobre grandes vultos da Lusofonia.

ALGUNS DADOS BIOGRÁFICOS

José Saramago com a sua mulher Pilar del Río
José Saramago com a sua mulher Pilar del Río

Em outubro de 2018 o jornalista português João Gama publicou um interessante e curioso depoimento biográfico dedicado a Saramago, que merece a pena reproduzir.
O dia 8 de outubro de 1998 deu-nos o primeiro, e até agora único, Prémio Nobel da Literatura não só português, mas também de todos os países lusófonos. Hoje, no mesmo dia e passadas duas décadas, não podíamos deixar de celebrar o escritor que o recebeu, José Saramago, o eterno expoente da literatura. José de Sousa teria sido o seu nome se o funcionário do Registo Civil não lhe tivesse acrescentado a alcunha pela qual a família do seu pai era conhecida na aldeia: Saramago (uma planta que em tempos de carência servia de alimento na cozinha dos pobres). Nasceu a 16 de novembro de 1922, na pequena aldeia de Azinhaga, “uma pequena povoação situada na província do Ribatejo, a uns cem quilómetros de Lisboa”.
Nunca viveu um verdadeiro desafogo económico quando era jovem e a falta de meios forçou os seus pais a tirarem-no do liceu e a entrar numa escola de ensino profissional, onde aprendeu o ofício de serralheiro mecânico durante cinco anos. A paixão pela literatura veio dos livros escolares de Português, únicos livros a que conseguia deitar as mãos, e essa paixão cresceu com escapadinhas noturnas à biblioteca pública de Lisboa, onde foi guiado apenas pela sua curiosidade. Temos que lembrar de Saramago que foi quem “nunca esperou nada da vida e por isso teve tudo”.
Em 1947 estreou-se no universo literário, com o seu primeiro livro, que intitulou A Viúva, mas que por razões editoriais, viria a sair com o título de A Terra do Pecado. Só se voltaria a fazer ouvir no universo literário em 1966, com os seus Poemas Possíveis. A isso seguiram-se coletâneas de poemas e recolhas de crónicas, deixou para trás a vida operária e saltou de editora para editora, de jornal para jornal.
Chega abril de 1974 e é com dois livros que assinala a época revolucionária que fez tremer Portugal: O Ano de 1993, considerado o primeiro das suas muitas futuras obras de ficção e Os Apontamentos onde reuniu artigos de teor político, críticos do regime salazarista, que tinha publicado nos jornais onde tinha trabalhado. É também importante recordar que a política entrou cedo na vida de Saramago. O autor possui um historial de luita contra o Estado Novo, tendo sido apoiante e interveniente ativo na candidatura do General Norton de Matos à Presidência da República, nas presidenciais de 1949. Viria mesmo afiliar-se no Partido Comunista Português, em 1969, uma ligação que permaneceu até ao fim da sua vida.
É em 1976 que se vê novamente sem emprego e se decide dedicar por inteiro à literatura: “já era hora de saber o que poderia realmente valer como escritor”. O refúgio que encontrou foi a ruralidade alentejana, na pequena Lavre, que inspirou o romance Levantado do Chão. A década de 80 é a década dos seus grandes romances: Memorial do Convento, em 82, O Ano da Morte de Ricardo Reis, de 84, A Jangada de Pedra em 86 e História do Cerco de Lisboa em 1988, e começa assim o seu percurso de merecedor do Prémio Nobel da Literatura. A isto seguiu-se a polémica que rodeou o seu romance O Evangelho segundo Jesus Cristo, em 1991, cuja censura exercida pelo Governo português vetou a sua apresentação ao Prémio Literário Europeu, sob o pretexto de que o livro era ofensivo para os católicos. O resultado foi Saramago ter decido ir viver para Espanha, para a sua casa na ilha de Lanzarote. A década de 90 é igualmente recheada com grandes romances como Ensaio sobre a Cegueira, em 95 e dous anos depois publicou Todos os Nomes e O Conto da Ilha Desconhecida.
Prémio Camões em 1995 e Prémio Nobel de Literatura em 1998, o autor português deixou a sua marca também na história da defesa dos direitos humanos e do meio ambiente, uma luita que a sua fundação, criada em 2007, continua. Viajou pelos cinco continentes, ofereceu conferências, recebeu graus académicos, nunca se limitando ao universo literário, estimando sempre a luita pelos Direitos Humanos, “pela consecução de uma sociedade mais justa, onde a pessoa seja prioridade absoluta, e não o comércio ou as luitas por um poder hegemónico, sempre destrutivas”.

Prémio Camões em 1995 e Prémio Nobel de Literatura em 1998, o autor português deixou a sua marca também na história da defesa dos direitos humanos e do meio ambiente, uma luita que a sua fundação, criada em 2007, continua. Viajou pelos cinco continentes, ofereceu conferências, recebeu graus académicos, nunca se limitando ao universo literário, estimando sempre a luita pelos Direitos Humanos, “pela consecução de uma sociedade mais justa, onde a pessoa seja prioridade absoluta, e não o comércio ou as luitas por um poder hegemónico, sempre destrutivas”.

O Prémio Nobel não foi, contudo, razão para abrandar o seu trabalho. Desde 1998 publicou Folhas Políticas (1976-1998) em 1999, A Caverna em 2000, A Maior Flor do Mundo em 2001, O Homem Duplicado em 2002, Ensaio sobre a Lucidez em 2004, As Intermitências da Morte em 2005, As Pequenas Memórias em 2006 e em 2008 a fábula A Viagem do Elefante.
Não existe no mundo um escritor que tenha sido nomeado como “Doutor Honoris Causa” por tantas universidades do planeta, agás da Ásia, onde de forma inexplicável Saramago foi a um continente ao que nunca quis ir. Nada mais e nada menos que quarenta universidades lhe concederam desde 1991 até 2007 este título de honra em outros tantos atos oficiais de homenagem. Três italianas, sete brasileiras, dez espanholas, duas britânicas, duas portuguesas, duas francesas, uma sueca, uma canadiana, uma irlandesa e onze de outros tantos países latino-americanos (duas do México, uma da Argentina, outra do Uruguai, Costa Rica, Chile, Salvador, etc.).
Até 2010, ano da sua morte, a 18 de junho, em Lanzarote, José Saramago construiu uma obra que se assumiu como incontornável, não só na literatura portuguesa, mas na literatura mundial, com obras traduzidas por todo o mundo.

A SUA VIDA NAS SUAS PRÓPRIAS PALAVRAS

“Eu chamo-me José de Sousa Saramago, mais conhecido por José Saramago. Nasci numa aldeia do concelho da Golegã, distrito de Santarém, chamada Azinhaga. No meu bilhete de identidade diz que nasci no dia 18 de novembro de 1922, mas não é verdade, nasci no dia 16, porque como a declaração de nascimento se fez dois dias atrasada em relação ao prazo, para não pagar a multa mudaram-me o dia de nascimento para o dia 18. Divido a minha vida por entre Lisboa e Lanzarote. Sou escritor, quer dizer, escrevo, tenho o privilégio infinito de viver daquilo que escrevo. E não sei se há mais alguma coisa para contar.”.
Interessantes biografias do escritor podem ser consultadas e lidas entrando na wikipedia, na página josesaramago.org, na ebiografia.com, na infoescola.com e aqui também a sua cronobiografia.

FICHAS DOS DOCUMENTÁRIOS

0. José Saramago: “Levantado do Chão”.
Duração: 52 minutos. Ano 2013. Produtora: RTP1.

1. José Saramago: Roda Viva (26-10-1998).
Duração: 58 minutos. Ano 2010.

2. José Saramago: Entrevistas raras (de 1987 a 1995).
Duração: 17 minutos. Ano 2016.

3. José Saramago: Roda Viva (1992). Brasil.
Duração: 88 minutos. Ano 2017.

4. José Saramago: Janela da alma.
Duração: 9 minutos. Ano 2008.

5. José Saramago (Documentário da Universidade Aberta).
Duração: 42 minutos. Ano 2012. Fala: Prof. Carlos Reis.

6. Entrevista a José Saramago.
Duração: 56 minutos. Ano 2017. Entrevistadora: Ana Sousa Dias (da RTP).

7. José Saramago 90 anos (Belo Horizonte, 1999).
Duração: 47 minutos. Ano 2012.

8. José Saramago apresenta Caim. (2 de novembro de 2009).
Duração: 57 minutos. Ano 2019. Produtora: Casa de América.

9. José Saramago, escritor português Prémio Nobel.
Duração: 4 minutos. Ano 2016.

10. José Saramago.
Duração: 55 minutos. Ano 2017. Produtora: Canal 22 de México.

11. José Saramago: Encontros na Caixa. (3 de agosto de 2007).
Duração: 32 minutos. Ano 2012.

12. José Saramago: “Estamos renunciando a pensar”.
Duração: 3 minutos. Ano 2018. Produtora: Peru Cultural.

13. José Saramago: A luz das ideias.
Duração: 3 minutos. Ano 2020.

14. José Saramago em “A beleza de pensar” (2000).
Duração: 8 minutos. Ano 2019. Produtora: REC 13 (Chile).

15. O teatro de José Saramago.
Duração: 20 minutos. Ano 2020. Relata: Adelardo Méndez.

16. A Jangada de Pedra de José Saramago.
Duração: 11 minutos. Ano 2016. Relata: Márcia Estima.

17. José Saramago: Falecimento.
Duração: 3 minutos. Ano 2010.

A OBRA LITERÁRIA DE JOSÉ SARAMAGO

José Saramago tem uma ampla obra literária em língua portuguesa e também muito variada, com inúmeras traduções para outros idiomas.
Romances
-Terra do Pecado (1947).
-Manual de Pintura e Caligrafia (1977).
-Levantado do Chão (1980).
-Memorial do convento (1982).
-O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984).
-A Jangada de Pedra (1986).
-História do Cerco de Lisboa (1989).
-O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991).
-Ensaio sobre a Cegueira (1995).
-Todos os Nomes (1997).jose-saramago-12-das-suas-obras
-A Caverna (2000).
-O Homem Duplicado (2002).
-Ensaio sobre a Lucidez (2004).
-As Intermitências da Morte (2005).
-A Viagem do Elefante (2008).
-Caim (2009).
-Claraboia (2011).
-Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas (2014).

Literatura Infantil
-A Maior Flor do Mundo (2001).
-O Silêncio da Água (2011).
Diário e Memórias:
-Cadernos de Lanzarote (I-V) (1994).
-As Pequenas Memórias (2006).
-Último Caderno de Lanzarote (2018).

Crónicas
-Deste Mundo e do Outro (1971).
-A Bagagem do Viajante (1973).
-As Opiniões que o DL Teve (1974).

Peças teatrais
-A Noite (1979).
-Que Farei com este Livro? (1980).
-A Segunda Vida de Francisco de Assis (1987).
-In Nomine Dei (1993).
-Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido (2005).

Contos
-Objecto Quase (1978).
-Poética dos Cinco Sentidos. O Ouvido (1979).
-O Conto da Ilha Desconhecida (1997).

Poesia
-Os Poemas Possíveis (1966).
-Provavelmente Alegria (1970).
-O Ano de 1993 (1975).

Viagens
-Viagem a Portugal (1983).

SARAMAGO E O CINEMA. FILMES BASEADOS NA SUA OBRA

O diário digital brasileiro Eu Sem Fronteiras publicou no seu dia um acertado depoimento escrito por Sumaia de Santana Salgado, que tenho por bem reproduzir.
“O cinema flerta com a literatura. Já viu quantos livros ganham adaptações cinematográficas? Elas são vistas com desconfiança, afinal, terão a essência da obra original? Esse “campo minado” fica mais perigoso dependendo do escritor. José Saramago é um dos que dá bastante trabalho. A obra do português ganhador do Nobel de Literatura é marcada pela observação e análise das misérias humanas. Felizmente, há cineastas que aceitam o desafio. O Eu Sem Fronteiras preparou uma lista de filmes baseados nos livros de José Saramago. Será que você já viu todos?

1. Ensaio sobre a Cegueira
Talvez a adaptação mais conhecida. O livro lançado em 1998 conta a história de um motorista que fica cego enquanto dirige, após ver uma “luz branca”. O homem é ajudado por um desconhecido, mas tem o carro roubado por ele. Um dia após o estranho fato, o homem e sua esposa vão ao oftalmologista que nada descobre. Rapidamente, o homem, sua esposa, o desconhecido, o médico e todos na cidade perdem a visão, exceto a mulher do médico. Os cegos vão para um local afastado onde lidam não apenas com a cegueira, mas também com os desafios da coexistência que os levam a atitudes nada nobres em prol da sobrevivência. A adaptação cinematográfica de Ensaio sobre a cegueira foi lançada em 2008 e a direção é do brasileiro Fernando Meirelles.

Fotograma do filme "ensaio sobre a cegueira"
Fotograma do filme “ensaio sobre a cegueira”

2. A maior Flor do Mundo
Saramago afirmava que as histórias infantis deveriam ser simples. O aclamado escritor ainda dizia “se soubesse contá-las seria a mais linda de todas desde os contos de fadas”. O livro lançado em 2001 conta a história de um menino que cultivou a maior flor do mundo. A narrativa mostra como o menino conseguiu fazer a flor dar sombra igual ao imponente carvalho, mas como um esboço das pretensões do autor de escrever a mais linda história infantil. A adaptação cinematográfica de A maior flor do mundo foi feita através de um curta-metragem lançado em 2008. A direção é do uruguaio Juan Pablo Etcheverry.

3. Embargo
O conto traz a saga de Nuno, um balconista que desenvolve uma máquina digitalizadora de pés. O rapaz acredita que seu invento o livrará de seu ostracismo pessoal. Entretanto, um fato curioso acontece: Nuno fica preso dentro do seu carro e perde uma chance incrível de vender sua ideia. A adaptação cinematográfica de Embargo foi lançada em 2011. A direção é do português António Marcos Ferreira.

4. A Jangada de Pedra
A obra de 1986 relata a separação da Península Ibérica da Europa e a transformação em ilha após uma cratera nos Pirenéus. Ela mostra o isolamento que Portugal e Espanha ficam em relação ao continente. O incidente geográfico ocorre após acontecimentos sobrenaturais vividos pelos quatro protagonistas que veem suas vidas entrelaçadas e partem em busca de algo que salve suas almas. Curiosidade sobre o livro é que ele não perdeu as expressões típicas de Portugal nas traduções para os países de língua portuguesa, a pedido de Saramago. A adaptação cinematográfica de A jangada de pedra foi lançada em 2008. A direção é do francês George Sluizer.

5. O Homem Duplicado
Publicado em 2002, O Homem Duplicado é a história de Tertuliano Máximo Afonso. O pacato professor de história mostra-se depressivo após o divórcio e aluga um filme para espairecer por sugestão de um colega de trabalho. O protagonista vê sua vida mudar após descobrir um sósia entre os figurantes do filme e Tertuliano começa uma saga para descobrir o sósia. Será realmente um sósia ou o personagem sofre de múltipla personalidade? A adaptação cinematográfica de O Homem Duplicado foi lançada em 2014. O nome do protagonista foi alterado para Adam Bell. A direção é do canadense Denis Villeneuve.

6. Bônus: O evangelho segundo Jesus Cristo
O livro publicado em 2001 mostra Cristo questionando Deus e o cristianismo, causando a repulsa de católicos e evangélicos. O responsável pela adaptação cinematográfica é o cineasta português Miguel Gonçalves Mendes, o mesmo do documentário José e Pilar. Segundo notícia da emissora portuguesa TVI, o filme estreou no país em 2015, mas ainda não foi lançado no Brasil”.

SARAMAGO E A GALIZA

José Saramago participou como palestrante no IIº Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa, organizado pela AGAL e celebrado em Compostela e Ourense de 23 a 27 de setembro de 1987. O dia 27, em Ourense, Saramago apresentou a sua palestra sob o título de “Um ponto de vista de escritor: necessária reinvenção da língua portuguesa”. Eu intervim na edição deste Congresso o dia 26 com a palestra “As ideias pedagógicas de A. Vilar Ponte”. Isto me permitiu conhecer pessoalmente Saramago e estar bastante tempo falando com ele. De quem me surpreendeu a maneira fria e pouco entusiasta sua sobre a nossa defesa da unidade linguística do galego e do português, dentro de uma alternativa lusófona.

José Saramago participou como palestrante no IIº Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa, organizado pela AGAL e celebrado em Compostela e Ourense de 23 a 27 de setembro de 1987. Isto me permitiu conhecer pessoalmente Saramago e estar bastante tempo falando com ele. De quem me surpreendeu a maneira fria e pouco entusiasta sua sobre a nossa defesa da unidade linguística do galego e do português, dentro de uma alternativa lusófona.

Nas seis edições da “Mostra do Livro Português na Galiza”, que organizou a ASPGP a que eu presido, entre os anos 1988 e 1993, com a colaboração da livraria Minho de Braga, no Museu Municipal de Ourense, os livros do escritor editados pela Caminho eram sem dúvida os mais solicitados e os mais vendidos. O mesmo que o ano em que na Feira do Livro de Ourense, por minha proposta, houve um pavilhão dedicado a Portugal, do qual se encarregaram os meus amigos da Livraria Bertrand de Viana do Castelo.
Quando Saramago teve a infeliz ideia de propor a união de Portugal e Espanha, criando um novo país com o nome de “Ibéria”, não é de estranhar que os cidadãos portugueses por ampla maioria, e muitos de nós galegos, criticassem tal opinião. Amparando-se, acertadamente, em que se isso fosse feito, ademais da “pequena Olivença” de Badajoz e “a grande Olivença” que já é a Galiza, Portugal passaria a ser sem dúvida “a imensa Olivença”.
Anos mais tarde, já em 2005, recebi a encomenda por parte do presidente do governo do Estado indiano de Bengala, Dr. Budodev Bhatacharyo, para que falasse com Saramago, se houvesse hipótese, pois queriam dedicar a ele e a Portugal a feira do livro de Calcutá (cidade de nome oficial Kolkata), a mais importante da Ásia. Para isto o escritor tinha que deslocar-se à Índia durante os dias de celebração do evento, intervir no ato de abertura, e editariam em bengali as suas obras mais importantes. Sabendo que Saramago ia participar em Viana do Castelo, no Teatro Sá de Miranda, num ato para apresentar a estudantes a sua obra, acompanhado por Isaac Estraviz, desloquei-me de Ourense a Viana. A sala teatral estava cheia e na entrada a editora Caminho de Lisboa, regida pelo seu diretor, vendia as suas obras para depois serem assinadas pelo escritor. O responsável da editora estava entusiasmado com a ideia da oferta indiana. Tive que esperar várias horas para poder falar com Saramago e comentar o tema. A resposta foi rotunda no sentido de que não tinha qualquer interesse em ir à Índia. O responsável da sua editora e mais eu tivemos um grande desgosto por esta sua recusa.
Para redigir o presente depoimento, procurando informação na internet, encontrei que a minha Universidade de Vigo, de que fui professor desde a sua criação, tem uma página dedicada a Saramago, que eu não conhecia.

A PALAVRA DE JOSÉ SARAMAGO

Apresento a seguir uma antologia das suas mais lindas frases:
-“Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar”.
-“Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo”.
-“Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos”.
-“Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia”.
-“Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia mais”.
-“De que adianta falar de motivos, às vezes basta um só, às vezes nem juntando todos”.
-“Dirão, em som, as coisas que, calados, no silêncio dos olhos confessamos?”.
-“O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas”.
-“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”.
-“Há esperanças que é loucura ter. Pois eu digo-te que se não fossem essas já eu teria desistido da vida”.
-“Para temperamentos nostálgicos, em geral quebradiços, pouco flexíveis, viver sozinho é um duríssimo castigo”.
-“Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória”.
-“O espelho e os sonhos são coisas semelhantes, é como a imagem do homem diante de si próprio”.
-“O que dá o verdadeiro sentido ao encontro é a busca, e é preciso andar muito para se alcançar o que está perto”.
-“Sempre chega a hora em que descobrimos que sabíamos muito mais do que antes julgávamos”.
-“Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo”.
-“Nada é para sempre, dizemos, mas há momentos que parecem ficar suspensos, pairando sobre o fluir inexorável do tempo”.
-“Cada dia traz sua alegria e sua pena, e também sua lição proveitosa”.
-“As palavras proferidas pelo coração não tem língua que as articule, retém-nas um nó na garganta e só nos olhos é que se podem ler”.
-“A única maneira de liquidar o dragão é cortar-lhe a cabeça, aparar-lhe as unhas não serve de nada”.

TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR

Vemos os documentários e filmes citados antes, e depois desenvolvemos um cinema-fórum, para analisar o fundo (mensagem) dos mesmos, assim como os seus conteúdos.
Organizamos nos nossos estabelecimentos de ensino uma amostra-exposição monográfica dedicada a José Saramago, excelente escritor de Portugal, o único da nossa língua que conseguiu o Prémio Nobel. Na mesma, ademais de trabalhos variados dos escolares, incluiremos desenhos, fotos, murais, frases, textos, lendas, livros e monografias.
Podemos realizar no nosso estabelecimento de ensino um Livro-fórum, em que intervenham alunos e docentes. São muito interessantes as suas obras comprometidas com as causas sociais dos cidadãos, e entre elas O Ano da morte de Ricardo Reis (1984), A Jangada de Pedra (1986), O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991) ou Todos os Nomes (1997), das quais podemos escolher uma para ler por todos. Pode ser interessante também a leitura do seu livro Viagem a Portugal, publicado pela primeira vez em 1981.

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