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José da Fonseca e Costa, outro cineasta lusófono

jose-da-fonseca-e-costa-foto-arte-factosNa recuperação que estou a fazer, para a minha série de grandes vultos da Lusofonia, de aqueles que, especialmente no Brasil e em Portugal, se dedicaram à sétima arte do cinema, e que chegaram a ter uma destacada filmografia que ficou para a posteridade, para desfrutar das imagens dos seus filmes, tanto jovens como pessoas adultas, quero dedicar este depoimento a outro cineasta lusófono. Estou a referir-me a José da Fonseca e Costa (1933-2015). O presente artigo dedicado a ele faz o número 71 da série que estou a escrever sobre os grandes vultos da Lusofonia, e o 183 da série de grandes vultos da humanidade iniciada no seu dia com Sócrates, o grande educador grego da antiguidade.

UMA PEQUENA BIOGRAFIA

José da Fonseca e Costa nasceu na Caála, Huambo, Angola, a 27 de junho de 1933. Descrevia-se como um angolano de quarta geração, descendente de portugueses. Teve uma infância feliz, num sítio “onde não havia problemas de convívio, nem de natureza racial”. Foi na Caála, a mais de 600 quilómetros de Luanda, que viu os primeiros filmes: “O cinema chegava às quartas e aos domingos. A minha cabeça vivia povoada de imagens que tinham pouco a ver com a realidade que me circundava”, contou num documentário da jornalista Diana Andringa.
Aos 11 anos mudou-se para Lisboa, pois os pais queriam que prosseguisse na capital portuguesa os estudos. E em 1949 descobriu verdadeiramente a sétima arte: foi na primeira fila do extinto cinema Éden, a ver O Terceiro Homem, com Orson Welles. Dois anos depois iniciou os estudos de Direito, em Lisboa, mas não concluiu o curso. Embrenhou-se, antes, na animação cultural no Cineclube Imagem e dedicou-se à crítica cinematográfica nas revistas Imagem e Seara Nova.
A PIDE tinha-o referenciado. Foi preso pela polícia política duas vezes, a primeira em 1957. “Diziam que desenvolvíamos atividades subversivas, o que era completamente ridículo”. A detenção impediu-o de entrar nos quadros da RTP, onde ficara em primeiro lugar num concurso para assistente de realização, e interrompeu a preparação do seu primeiro filme, Lembrança de um Inverno.

A PIDE tinha-o referenciado. Foi preso pela polícia política duas vezes, a primeira em 1957. A detenção impediu-o de entrar nos quadros da RTP, onde ficara em primeiro lugar num concurso para assistente de realização, e interrompeu a preparação do seu primeiro filme, Lembrança de um Inverno.

O ambiente hostil acabou por levá-lo a Itália, onde estagiou como assistente nas filmagens de O Eclipse, de Michelangelo Antonioni, de 1962. Quando voltou, dirigiu peças publicitárias e documentários turísticos.
Foi apontado como um dos autores do movimento do Novo Cinema em Portugal, mas considerava o título abusivo. De convicções fortes, a atriz Lia Gama define-o como um homem do contra, valorizava as improvisações durante as rodagens. “Sabia levar o elenco onde queria”. Em 2014, a Academia Portuguesa de Cinema deu-lhe o Prémio Carreira.
Em 2015 rodava, desde setembro, a fita Axilas, o seu 11º filme, a partir de um conto do brasileiro Rubem Fonseca. Morreu em Lisboa no dia 1 de novembro de 2015, aos 82 anos.
Nota: Mais informação sobre a sua vida e obra pode encontrar-se nas ligações seguintes: wikipedia, infopedia, dn.pt, e sobre algum dos filmes Sem Sombra de PecadoOs Demónios de Alcácer Quibir, Balada da Praia dos Cães, e Cinco Dias, Cinco Noites.

FICHAS DOS DOCUMENTÁRIOS E FILMES

A.-Documentários
1.-José Fonseca e Costa.
Duração: 4 minutos. Ano 2019.

2.-As mulheres de José Fonseca e Costa.
Duração: 3 minutos. Ano 2014.

3.-Apresentação do livro José Fonseca e Costa. Um africano sedutor.
Duração: 10 minutos. Ano 2017.

B.-Filmes
1.-Sem Sombra de Pecado (fragmento).
Duração: 9 minutos. Ano 1982 (vídeo de 2019).

2.-O Recado (fragmento).
Duração: 4 minutos. Ano 1971 (vídeo de 2019).

3.-Viúva rica solteira não fica (fragmento).
Duração: 7 minutos. Ano 2006 (vídeo de 2019).

4.-Os demónios de Alcácer-Kibir (fragmento).
Duração: 14 minutos. Ano 1976 (vídeo de 2019).

5.-Cinco dias, cinco noites (fragmento).
Duração: 7 minutos. Ano 2008.

6.-Os cornos de Cronos (fragmento).
Duração: 7 minutos. Ano 1990 (vídeo de 2019).

7.-A Mulher do Próximo (fragmento).
Duração: 3 minutos. Ano 1988 (vídeo de 2017).

ANÁLISE DA SUA OBRA CINEMATOGRÁFICA

A Cinemateca Portuguesa fez no seu dia uma homenagem a José da Fonseca e Costa, organizando um ciclo cinematográfico com uma escolha das suas longas e curta-metragens. Com tal motivo, publicou uma análise dos seus filmes, parte de cujo texto recolho a continuação.
O ano de 2012 já tinha trazido o desaparecimento de duas figuras centrais do cinema português: Fernando Lopes e Paulo Rocha, dois realizadores que marcaram o nascimento do Cinema Novo português e o seu posterior desenvolvimento em carreiras ricas ao longo de várias décadas. Seria ainda o ano de 2015 a trazer, também, o desaparecimento de outro autor central da nossa cinematografia, também companheiro dessa mesma geração (desde as tertúlias, nas Avenidas Novas, sobre os filmes que se descobriam das diversas novas vagas europeias, até aos inícios na realização de filmes): José Fonseca e Costa. Depois da estreia do seu último filme Axilas em maio deste ano, a Cinemateca apresenta, assim, uma retrospetiva integral do seu trabalho (e um catálogo), tanto da obra realizada em cinema como séries de televisão e trabalhos promocionais realizados ao longo das últimas cinco décadas, ficando apenas de fora participações como ator ou em publicidade.
jose-da-fonseca-e-costa-foto-rodando-1O realizador português, nascido no Huambo, em Angola, em 1933, lançou-se no cinema com O recado, história de ficção centrada nos modos burgueses de uma certa juventude militante que se opunha ao regime do Estado Novo e que se perdia, sem rasto, na tortura e nos segredos da ditadura. A ele, seguiu-se Os Demónios de Alcácer-Kibir, fábula musical e ambulante criada a partir da História de Portugal e, sobretudo, um belo exemplo de filme militante realizado, neste caso, contra a colonização portuguesa. Também à semelhança da geração do Cinema Novo, o trabalho de José Fonseca e Costa dividir-se-ia entre filmes institucionais ou publicitários a par dos seus trabalhos de ficção.

José Fonseca e Costa terá sido, por isso, o realizador português, nos últimos 50 anos, que mais declaradamente terá trabalhado para produzir um “cinema popular”.

Mas se o realizador partilhava um espaço de produção, com essa mesma geração, na criação de um novo cinema português, inspirados pelas novas vagas do cinema europeu (Fonseca e Costa como herdeiro, em Portugal, do cinema de Antonioni), a partir de Kilas, estreado em 1980, o realizador começa a construir uma obra com o objetivo explícito de criar uma comunicação direta, e ampla, com o público português. Por outras palavras, a concretização de um plano tantas vezes falhado ou por cumprir, no nosso país, que refletisse a defesa do valor industrial e popular do seu cinema. José Fonseca e Costa terá sido, por isso, o realizador português, nos últimos 50 anos, que mais declaradamente terá trabalhado para produzir um “cinema popular”, tendo inclusivamente criado, na década de oitenta (com a sequência Kilas, Sem sombra de pecado, Balada da praia dos cães e A Mulher do Próximo), uma relação invejável entre a regularidade do seu trabalho, dentro de uma indústria que ele próprio tentou impulsionar (pela colaboração constante com figuras relevantes do nosso meio cultural), e uma adesão constante dos circuitos de distribuição comercial (por vezes mesmo de culto, como no caso de Kilas, filme com que abrimos o Ciclo).
José Fonseca e Costa nunca deixou de ser, no entanto, e mesmo nos seus filmes de maior sucesso, um autor dotado de um universo pessoal. Visto hoje, não deixa de ser curioso assistir à sua ligação ao cinema de Antonioni, nos seus inícios, e a transição para esse “cinema do meio”, à imagem do que Truffaut fazia em França e outros realizadores replicavam na Europa: a defesa de um cinema da indústria, para um grande público, através de uma linguagem pessoal.

José Fonseca e Costa nunca deixou de ser, no entanto, e mesmo nos seus filmes de maior sucesso, um autor dotado de um universo pessoal. Visto hoje, não deixa de ser curioso assistir à sua ligação ao cinema de Antonioni, nos seus inícios, e a transição para esse “cinema do meio”, à imagem do que Truffaut fazia em França e outros realizadores replicavam na Europa: a defesa de um cinema da indústria, para um grande público, através de uma linguagem pessoal.

Talvez valorizemos ainda mais, por isso, a descobertas dessas características: a constante presença de figuras femininas poderosas, tanto sublimes e misteriosas, mais capazes e dignas do que qualquer outra personagem masculina do seu cinema, a crítica inteligente aos modos de vida hipócritas, mas verdadeiros, da alta-burguesia portuguesa, e a presença, tanto explícita como subliminar, dos silêncios de uma sociedade comprometida com a mentira da ditadura e a podridão dos seus costumes. Nesse sentido, Fonseca e Costa foi um exemplo raro de um cineasta que conseguiu criar uma forte adesão popular, no reconhecimento da capacidade de entretenimento no momento de contar uma história, e de um interesse permanente sobre o “estado de coisas” português e o que a nossa História nos ensinava. Filmes populares e políticos, filmes onde se falava para um grande público, onde não faltaram adaptações literárias ou a participação de figuras celebradas da nossa cultura, sem perder as características de um universo pessoal. Esta é, também, uma retrospetiva que revela as facetas e os interesses multifacetados do autor: entre o cinema, a televisão ou as encomendas institucionais, poucos são os momentos onde não se revelam as entrelinhas do seu fascínio e da crítica ao mundo em que vivemos.

Antologia de seus filmes:

jose-da-fonseca-e-costa-cartaz-do-filme-kilas0.-Kilas: Este filme não é apenas um dos maiores sucessos de sempre do cinema português: é um filme que apanha, como poucos, o cruzamento da cultura popular portuguesa (aqui, na sua versão lisboeta e machista) com o imaginário “pulp” do cinema norte-americano e da ficção policial de bolso. Mário Viegas, figura recorrente do cinema de Fonseca e Costa, tem aqui o seu papel mais emblemático no cinema nacional. No entanto, este é também o filme de Lia Gama (Pepsi Rita), com uma caracterização à imagem da sedução e do poder de Rita Hayworth. Um filme em que os homens são os maus da fita e as mulheres as suas vítimas, deixando o decorrer da história, no retrato de uma Lisboa noturna, conspirativa e suja da década de oitenta, entregar-lhes o destino que cada um merece.

1.-O Recado: A sessão que junta a primeira curta e a primeira longa de José Fonseca e Costa traz-nos aquela que foi uma das suas maiores admirações enquanto cinéfilo e cineasta: Michelangelo Antonioni. Se …É era o Mar é a primeira de uma série de curtas-metragens, realizadas para fins institucionais ou promocionais (a apresentar noutras sessões do Ciclo), onde se nota o interesse do realizador pela arquitetura e os seus espaços sociais e políticos, O Recado, um dos filmes essenciais do Cinema Novo português, filma uma inesquecível Maria Cabral nos espaços públicos e secretos da ditadura do Estado Novo e de uma classe burguesa lisboeta desejosa de independência mas corrompida pela moral do regime. Uma obra de desejos frustrados, de enorme beleza visual e silêncios comprometedores que nos falam, ainda hoje, do estado de alma de um país antes da sua revolução.

jose-da-fonseca-e-costa-cartaz-do-filme-o-recado-12.-Os Demónios de Alcácer-Kibir: José da Fonseca e Costa já tinha deixado implícita a sua crítica ao Estado Novo e ao ambiente policial da sociedade portuguesa em O Recado, a sua primeira longa-metragem. Em Os Demónios de Alcácer-Kibir, o seu filme seguinte, a guerra colonial torna-se motivo de uma aventurada encenação, na paisagem alentejana, entre várias personagens da sociedade portuguesa: artistas, colonos e colonizados, fadas e operários, um encontro musical entre o filme militante e a fantasia histórica a partir de episódios da História de Portugal. A abrir a sessão, A Independência de Angola divide-se em dois filmes compostos por imagens das reuniões entre o governo português e os movimentos de libertação de Angola, nos trabalhos de descolonização do país, e as primeiras imagens da sua vida independente.

3.-Regresso à Terra do Sol: A ligação de José da Fonseca e Costa a África é uma marca presente do seu cinema e da sua vida. Nascido em Angola, em 1933, vem para Portugal com 11 anos de idade e regressa, pelo cinema, com o seu Regresso à Terra do Sol, um filme de encomenda do Banco Comercial de Angola (pertencente ao Banco Português do Atlântico) com o intuito de filmar a sua nova sede em Luanda; um pedido, aliás, cujo resultado seria censurado e faria dele um dos primeiros filmes anticoloniais portugueses. Música, Moçambique!, por sua vez, um retrato da primeira edição do Festival da Canção e da Música Tradicional de Moçambique, poucos anos depois de terminada a Guerra Colonial, é uma celebração da identidade e da nova independência do povo moçambicano através da riqueza da sua música.

4.-Sem Sombra de Pecado: Partindo de uma adaptação de Gaivotas em Terra de David Mourão-Ferreira, Sem Sombra de Pecado veio a tornar-se num dos filmes mais emblemáticos da década de oitenta, em Portugal, lançando José da Fonseca e Costa para um dos seus períodos de maior sucesso junto do público português. Sem Sombra de Pecado é, também, um dos raros exemplos de filme histórico no nosso país, onde o detalhe da direção artística, com a fotografia de Eduardo Serra (num dos seus primeiros trabalhos), reproduz, com riqueza, os inícios de um Portugal aburguesado e fascista sob a manta da ficção do crime passional. Segundo papel de Mário Viegas, depois de Kilas, no cinema do realizador português.

jose-da-fonseca-e-costa-foto-rede-regional5.-A Cidade: A segunda sessão de curtas-metragens de José da Fonseca e Costa reúne os seus filmes promocionais de objeto turístico e paisagístico. A Cidade é um retrato de Évora conduzido pela música de Carlos Paredes. Golf in Algarve e Mónica ou um Diário Algarvio centram-se na região algarvia (este último com argumento de António Quadros). The Pearl of the Atlantic oferece, nos mesmos moldes, uma perspetiva sobre a ilha da Madeira ao público estrangeiro. The Columbus Route é um retrato de Cristóvão Colombo através da evocação da sua primeira viagem. Golf in Algarve e The Pearl of the Atlantic são as primeiras exibições na Cinemateca.

6.-Balada da praia dos cães: Depois do filme militante (Os Demónios de Alcácer-Kibir), o filme “pulp” (Kilas), e o filme histórico (Sem Sombra de Pecado), Fonseca e Costa mergulha, de novo, no ambiente opressivo da sociedade portuguesa (aqui, na década de sessenta) para, a partir da conhecida obra de José Cardoso Pires, oferecer um dos filmes policiais mais bem-sucedidos do cinema nacional. Raul Solnado, no papel de inspetor da PIDE, encarna um dos papéis mais emblemáticos da sua carreira, enquanto Assumpta Serna, no papel de uma fugitiva política, concentra o olhar fascinado da câmara de Fonseca e Costa e o tradicional fulgor das suas personagens femininas. Um filme de conspirações, desejos e silêncios numa sociedade, em ditadura, que convive com a mentira como quem respira.

7.-A Mulher do Próximo: Talvez seja A Mulher do Próximo o filme que melhor reúne os ingredientes do cinema de Fonseca e Costa: um olhar acutilante sobre a burguesia portuguesa, o respeito pela memória do cinema popular (através da presença de Carmen Dolores e Virgílio Teixeira, figuras clássicas do cinema português), a colaboração de figuras relevantes da cultura portuguesa (Miguel Esteves Cardoso como coargumentista), um elenco internacional (a brasileira Fernanda Torres), personagens femininas fortes perante uma fraqueza masculina, e a participação “sui generis” de Mário Viegas, na figura de burguês ocioso, numa família dividida por amores antigos e paixões secretas.

8.-Os Cornos de Cronos: Depois de uma série de sucessos, Os Cornos de Cronos viria a trazer a maior rejeição de público e da crítica a uma obra de Fonseca e Costa, com o próprio realizador a rejeitá-la, posteriormente, no decurso da sua carreira. Uma fábula urbana sobre o envelhecimento e a impossibilidade de viver uma paixão inocente, onde a estranha relação entre as personagens interpretadas pelo brasileiro Carlos Vereza e uma jovem Inês de Medeiros seria compensada pela presença, de novo, do carismático Mário Viegas, numa reprodução da personagem burguesa, intelectual e ociosa da vida moderna da capital lisboeta.

9.-Cinco Dias, Cinco Noites: José da Fonseca e Costa regressa ao filme político com uma adaptação do romance homónimo de Álvaro Cunhal (ou Manuel Tiago). No entanto, se o filme nos leva pelos caminhos que o jovem militante comunista viria a fazer na fuga do país e em busca do exílio, o olhar de Fonseca e Costa foca-se, precisamente, no silêncio dos seus passos e nos espaços secretos do interior português (Trás-os-Montes) até à fronteira espanhola, imagens essas que nos revelam, nos seus caminhos e nas suas personagens perdidas, uma amostra de um Portugal pobre que espera, em segredo, pelos dias de uma liberdade ainda longínqua.

10.-Os Mistérios de Lisboa: Pegando nas palavras de Álvaro de Campos e no guia de Fernando Pessoa sobre a cidade de Lisboa (O Que o Turista Deve Ver), José da Fonseca e Costa assina um olhar sobre a capital portuguesa na linha das suas curtas-metragens promocionais sobre o território português, realizadas vários anos antes e divididas, neste Ciclo, em duas sessões de curtas-metragens.

jose-da-fonseca-e-costa-dvd-filme-viuva-rica-solteira-nao-fica11.-O Fascínio: José da Fonseca e Costa aborda o fantástico, em O Fascínio, para exercer mais um olhar crítico sobre os modos e costumes da burguesia lisboeta, agora enriquecida pelo progresso económico dos anos noventa. Vítor Norte, no papel de um agente imobiliário, vê-se subitamente enriquecido por uma estranha herança. Na busca da sua nova vida e da compreensão de um passado que lhe é desconhecido, vê-se perdido nas teias de antigas lutas de classe e das consequências trágicas que a grande e pequena história de Portugal viriam a impor no seu novo presente. Um filme sobre desejos ocultos e crimes censurados num país ainda agarrado às mentiras da sua História e dos seus costumes.

12.-Viúva rica solteira não fica: Há uma razão muito concreta para que Viúva rica solteira não fica seja o filme mais longo de José da Fonseca e Costa: o número de personagens masculinas que buscam a atenção e o compromisso de Ana Catarina, jovem e atraente aristocrata regressada do Brasil à antiga alta sociedade portuguesa, e que encontram um destino: uma morte prematura. Apesar do tema recorrente, talvez seja esta a obra onde Fonseca e Costa, num filme histórico à volta da comédia de costumes, nos traz um olhar mais cruel sobre a inutilidade dos homens e o fascínio pelas personagens femininas, sem esquecer, também, a crítica às divisões sociais e à moral conservadora de uma sociedade portuguesa que encontra, ainda hoje, alguns paralelos com outros tempos.

13.-Axilas: Dez anos depois de Viúva rica solteira não fica, Fonseca e Costa pega num conto do escritor brasileiro Rubem Fonseca e filma, de novo, a adoração de uma singular personagem masculina (Pedro Lacerda) pela figura encantada de uma mulher (Maria da Rocha): um encontro entre o feitiço dos sentidos e da música e a estranha adoração pelas axilas femininas. Os interesses ocultos do subconsciente misturam-se, de novo, com o mapa social lisboeta e os traços da sua burguesia, juntando o olhar social do realizador às desventuras das suas fantasias. Fonseca e Costa viria a falecer no decurso da rodagem de Axilas, tendo o filme sido concluído sob instruções deixadas ainda em vida.

FILMOGRAFIA BÁSICA DE JOSÉ DA FONSECA E COSTA

jose-da-fonseca-e-costa-cartaz-do-filme-axilasLonga-metragens:
O Recado (1971).
Os Demónios de Alcácer-Quibir (1976).
Kilas, o Mau da Fita (1980).
Sem Sombra de Pecado (1983).
Balada da Praia dos Cães (1986).
A Mulher do Próximo (1988).
Os Cornos de Cronos (1990).
Cinco Dias, Cinco Noites (1996).
O Fascínio (2003).
Viúva Rica Solteira não fica (2006).
Axilas (2016).

Curta-metragens e Documentários:
Clara d´Ovar em Óbidos (1965).
E Era o Vento….e Era o Mar. Sesimbra (1966).
Banco Comercial de Angola (1967).
A Metafísica do Chocolate (1967).
Regresso à Terra do Sol (1967).
A Cidade (1968).
A Pérola do Atlántico (1968).
The Columbus Route (1969).
Voar (1970).
Golf no Algarve (Golf in The Algarve) (1972).
Mónica. Um Diário Algarvio (1972).
Artes e Ofícios: Moustaki em Portugal (1974).
Independência de Angola. O Governo de Transição (1977).
Auto-retrato. Ivone Silva: “A Faz Tudo” (1979).
Música. Moçambique! (1981).
Philirama. As Indústrias Philips em Portugal (1981).
Napoleón et L´Europe: Le Blocus (1991).
Os Mistérios de Lisboa (2009).

TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR

Visualizamos os filmes e documentários citados antes, e depois desenvolvemos um cinema fórum, para analisar o fundo (mensagem) deles, assim como os seus conteúdos.
Organizamos nos nossos estabelecimentos de ensino uma amostra-exposição monográfica dedicada a José da Fonseca e Costa, importante cineasta lusófono. Nela, além de trabalhos variados dos escolares, incluiremos desenhos, fotos, murais, frases, textos, lendas, livros, vídeos, DVDs e monografias.
Podemos organizar no nosso estabelecimento de ensino um ciclo cinematográfico, escolhendo para projetar (com apresentação inicial de cada um e colóquio posterior entre o alunado e docentes espectadores) aqueles filmes mais interessantes de Fonseca e Costa. Nele devem ser incluídos: O Recado (1971), Os Demónios de Alcácer-Quibir (1976), Sem Sombra de Pecado (1983), Balada da Praia dos Cães (1986), A Mulher do Próximo (1988), Cinco Dias, Cinco Noites (1996) e duas ou três curtas-metragens.

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