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JENARO MARINHAS, O TEATRO PARA EDUCAR AO POVO

Jenaro Marinhas

Na jornada do 27 de março têm lugar a comemoração do Dia Internacional do Teatro. Acho que a figura que escolhi desta vez para a série de grandes vultos da humanidade, que iniciei no seu dia com Sócrates, é a mais adequada para lembrar esta jornada comemorativa, de grande interesse para celebrar com atividades artísticas, didáticas e lúdicas, nos diferentes estabelecimentos de ensino dos distintos níveis escolares, e mesmo universitários. O depoimento, dedicado ao nosso grande escritor, romancista, poeta, ensaísta, filólogo defensor do reintegracionismo e dramaturgo, que acertadamente opinava que o teatro era um grande recurso pedagógico para educar o povo, o corunhês Jenaro Marinhas, faz o número 93 da série.

PEQUENA BIOGRAFIA

Jenaro Marinhas del Valhe nasceu a 25 de novembro de 1908 na Corunha, dentro de uma família de pensamento e ideias profundamente galeguistas. O seu pai pertencia à tertúlia da famosa Cova Céltica. Desde criança assistiu às veladas teatrais da Irmandade da Fala da Corunha, da qual chegou a ser tesoureiro.

Depois de fazer o ensino secundário na sua cidade natal, junto com Urbano Lugrís, Emílio Pita e Luís Seoane, iniciou o curso de Filosofia na Universidade de Compostela, que deixaria para seguir os de empresariais. Desde então dedicou-se à profissão mercantil como contabilista. Na década dos anos vinte viram a luz poemas da sua autoria na revista Vida Galega e realizou colaborações jornalísticas em A Nossa Terra.

Marinhas del Valhe figurou entre os fundadores das Mocidades Galeguistas, em 1933, das quais foi primeiro presidente, e em 1936 tomou parte ativa na campanha a favor do Estatuto de Autonomia para Galiza. Finalizado o conflito bélico, que seguiu ao golpe de estado militar fascista, em que fora mobilizado à força e enviado à frente das Astúrias, realizou uma viagem em segredo pela Europa do Leste e, já de volta, assistiu em 1943 à juntança clandestina celebrada na casa de Francisco Fernández del Riego, onde nasceria o projeto cultural da editorial Galaxia.

Jenaro Marinhas 2

Por proposta de Rafael Dieste foi nomeado membro numerário da RAG no ano 1978, porém, em 1990, depois do falecimento de Ricardo Carvalho Calero, decidiu renunciar à cadeira que ocupava, por não estar conforme com o rumo que estava a tomar a Academia, com o qual, infelizmente, ainda continua hoje.

A sua primeira peça teatral, que Marinhas entregara a Ángelo Casal, perdeu-se com o assassinato do editor. A obra posterior abrange principalmente produções dramáticas ou textos teóricos à volta do facto cénico, entre os quais figura o seu discurso de ingresso na RAG (A importância do público na revelação teatral). Entre as primeiras incluem-se, entre outros, títulos como A revolta e outras farsas (1965) ou Ramo cativo (1990). Contudo, cultivou igualmente a poesia, Lembrando a Manuel António (1979) e a narrativa, A vida escura (1987).

Preocupado fundamente pelo nosso idioma, foi nomeado Membro de Honra da Associação de Escritores em Língua Galega e da Associação Galega da Língua. Ocupou, ademais, os cargos de Vice-Presidente da Comissão para a Integração da Língua da Galiza no Acordo da Ortografia Simplificada e de Membro do Conselho Consultivo da revista Nós, na sua nova etapa, editada pelas Irmandades da Fala da Galiza e Portugal.

Marinhas del Valle faleceu na Corunha em 23 de dezembro de 1999, aos 91 anos de idade. Os principais estudiosos da sua obra e pensamento foram Henrique Rabunhal Corgo, José Maria Monterroso Devesa, Joel R. Gomes, António Gil Hernández e Isaac Estraviz. O resultado dos seus trabalhos de pesquisa refletem-se em artigos de revistas e em algumas monografias publicadas no seu momento.

FICHAS TÉCNICAS DO FILME E DOS DOCUMENTÁRIOS

  1. Arraianos.

     Realizador: Eloi Enciso (Espanha, 2012, 70 min., cor).

     Roteiro baseado na peça teatral de Jenaro Marinhas O Bosque, elaborado por Enciso e J. M. Sande.

     Fotografia: Mauro Herce. Produtoras: Artika e Zeitun Films.

     Atores: Aurora Salgado, António Ferreira, Eulália González e Celsa Araújo.

     Argumento: Crónica sobre uma pequena aldeia perdida nas montanhas da fronteira entre a Galiza e Portugal, uma comunidade rural que se resiste a desaparecer. Os momentos de ficção coexistem com a vida diária dos vizinhos que, surpreendentemente, interpretam diálogos de uma obra existencialista e lírica chamada O bosque, do escritor Marinhas del Valhe. Enquanto realidade, mitos e sonhos se confundem, aparece um estranho que anuncia uma profecia.

      

  1. Um passeio com Jenaro Marinhas. A Corunha Galeguista.

     Realizador: Vítor Lourenço (“Vitinho”). Rodado em 2009. Duração: 44 min.

     Publicado em 2013.

     Roteiro pela cidade da Corunha (Galiza – Europa) em homenagem a Jenaro Marinhas del Valhe. O evento decorreu no dia 2 de fevereiro de 2009 sob a organização da Associação Galega da Língua (AGAL).

     

  1. Conversas em Irmandade. Jenaro Marinhas.

     Duração: 52 minutos. Ano 2017. Falam J.M. Monterroso e Pablo G. Marinhas.

     

  1. O rosário de A Vida Escura (fragmento).

     Duração: 3 minutos. Ano 2010.

     Leitura por José Maria Monterroso Devesa.

     Ver em: https://www.aelg.gal/centro-documentacion/autores-as/jenaro-marinhas-del-valle/obra/3761/a-vida-escura/video/1

  1. A Nossa Língua: mil anos de história, 8 séculos de escrita.

     Duração: 11 minutos. Abril de 2015. Produtora: AGLP.

     

O SEU LEGADO

O legado literário de Jenaro Marinhas é importante tanto do ponto de vista qualitativo como quantitativo. A sua obra teatral atingiu os cinquenta títulos. Antes de 1936 escreveu o seu primeiro texto teatral, que entregou a Vítor Casas, quem por sua vez o entregou a Ángelo Casal para que o publicasse. Com o assassinato de Casal, editor e alcaide de Compostela, da mão dos fascistas sublevados contra o governo legítimo da República, o texto não chegou a sair do prelo e perdeu-se. O estudioso da obra de Marinhas, Henrique Rabunhal, salienta, da obra dramática de Marinhas, peças como A Revolta. “Situava-se fora do teatro comercial e burguês. Falava da emigração, do poder, da revolução, do drama da guerra civil”, chegou a assinalar no seu dia.

Jenaro Marinhas esteve em contato, desde muito jovem, com a intelectualidade galeguista da Corunha. Através de seu pai conheceu os integrantes da Cova Céltiga. Frequentou, mais tarde, as Irmandades da Fala, e participou na criação da Mocidade Galeguista da Corunha. Foi, ademais, um dos impulsores da fundação da editorial Galáxia. Em 1990, depois da morte de Carvalho Calero, renunciou ao seu posto na Real Academia Galega.

Jenaro Marinhas amizades

O posicionamento de Jenaro Marinhas em favor das teses do reintegracionismo foi-o afastando da linha que ao redor da normativa da língua acabou adotando a RAG. Jenaro Marinhas foi escolhido Membro de Honra da AGAL. Colaborou com a revista Agália, participou em 1987 no II Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa na Galiza, organizado pela AGAL, e em 1988 começou a trabalhar na Comissão para a Integração da Língua da Galiza no Acordo de Ortografia Unificada.

Entre as suas obras podem citar-se A Serpe, editada por Galáxia em 1952; Monifates, publicada em Grial em 1964; A revolta e outras farsas, com que ganhou o Prémio Castelão de teatro, convocado pela associação cultural O Galo, editada por Galáxia em 1965, Importância do público na revelação teatral. (Edições do Castro-Sada, 1979), e Lembrando a Manoel António. Ida-epístola ao meu duplo, (Junta da Galiza, 1979) e A língua do escritor (Agália, 1991). O Portal Galego da Língua (PGL) publicou um completo texto sobre a sua vida e obra, assinado por Joel R. Gômes. Na revista Grial de Vigo, saíram à luz títulos como A festa de Cheneque e outras histórias (1967), Pequena farsa dos amores desencontrados (1968) e Loucura e morte de Peregrino (1972). Na revista Agália O real em cena. Notas a esmo (1990), Lugrís, oratória e teatro (1990), Os alárvios (1990), A língua do escritor (1991) e Teatro Interte (1997). A AGAL publicou-lhe em 1987 A vida escura.

Leal a um ideário galeguista, e erguido, mesmo nas épocas mais duras, como a ditadura franquista. Consequente, na sua conduta ética e na sua produção literária, que convidou os galegos para agir como seres humanos livres e críticos, e como cidadãos conscientes do seu país, comprometidos com a sua língua, construtores da sua própria identidade. Assim foi, segundo Henrique Rabunhal, Jenaro Marinhas (1908-1999), o dramaturgo, ensaísta, poeta e narrador galeguista cuja figura foi analisada no seu dia na cidade herculina num congresso organizado pela AGAL em 2009.

DEPOIMENTO DE ISAAC ESTRAVIZ SOBRE JENARO MARINHAS

Em 2 de maio de 2015, encontrando-se na bela localidade portuguesa de Amarante, o professor Isaac Estraviz, redigiu um formoso depoimento dedicado a Jenaro Marinhas. Do mesmo, a seguir, apresentamos aqueles treitos mais significativos. Falando do ambiente cultural da cidade da Corunha, no momento de nascer Marinhas, Estraviz escreve:

“A cidade da Corunha era naquela altura um fervedoiro de cultura e de inquietações galeguistas, farol e guia de um renascimento em todos os sentidos da palavra. Vilar Ponte cria as primeiras Irmandades da Fala, gérmen do futuro Partido Galeguista. A ela acudiam de todas as partes pessoas como Otero Pedraio e Castelão, para aprender e ensinar. Por iniciativa dos emigrantes de Cuba é nela onde se acaba de criar a Academia Galega com as perspetivas de lhe dar à nossa língua e cultura projeções internacionais. Lá estavam A Nossa Terra, Lar, e depois foi para ela Nós, fundada antes em Ourense por Vicente Risco.

O nosso protagonista via deambular pelas ruas da Corunha, entre outros, a Manuel Murguia, Eduardo Pondal, Emília Pardo Bazán, Francisco Tettamancy Gaston, Eugênio Carré Aldao, Eugênio e Leandro Carré Alvarelhos, Manuel Lugrís Freire, César e Florêncio Vaamonde Lores, Eládio Rodríguez Gonçalez, Antão e Ramão Vilar Ponte, Manuel Banet Fontenla, João Vicente Biqueira, Alfredo e Arturo Somoça, Ângelo del Castilho, Urbano Lugrís, Emílio Pita, Luís Seoane, Cebreiro e tantos e tantos pró-homens do galeguismo. Foi cofundador e presidente da Mocidade Galeguista da Corunha.

Ele, como Otero Pedraio, Ben-Cho-Shey, Isaac Díaz Pardo, e outros muitos, estavam por cima de tudo, alheios a ideias fechadas e partidistas. Nas suas amizades o único que se tinha em conta era se amavam Galiza e demonstravam interesse pela sua cultura e sua língua. Este era o bilhete de identidade das pessoas com as quais se relacionavam. Resulta interessantíssimo o que lhe vai contando a Rabunhal Corgo e José Monterroso Devesa na entrevista que lhe fizeram, que foi publicada no número 18 da revista Agália”.

Estraviz apresenta a seguir, para justificar o que comenta, as respostas que Marinhas dá aos entrevistadores. E assinala que ninguém que tenha tratado Marinhas duvida que fosse um patriota integral, comentando que o sintetizara muito bem Joel R. Gomes na palestra que deu em 19 de junho de 1992, com motivo da homenagem organizada pela AGAL, que fora publicada no número 32 da revista Agália. Sobre a obra de Jenaro Marinhas Estraviz continua comentando:

“Jenaro Marinhas é um leitor apaixonado dos clássicos portugueses, leitura que se vai notar na sua obra literária. Como autor teatral, entregou a Ângelo Casal uma peça teatral que se perdeu ao ser assassinado o editor pelos fascistas. O seu discurso de entrada na RAG versou sobre a importância do público na revelação teatral. Em 1965 publica A revolta e outras farsas e, em 1990, Ramo Cativo. Em poesia Lembrando a Manuel António, em 1979 e em narrativa A vida escura, em 1987, reeditada pela mesma editora em 2009. Obra dramática completa foi publicada em 2006 por Espiral Maior, e, em 2008, pela mesma editora Amarga memória”.

Sobre a sua obra Invenção do mar, publicada pela AGLP em 2014, com um prefácio de Pablo G. Marinhas e um epílogo de António Gil Hernández, que fora transcrita por Jenaro Marinhas na década de 1980 para o galego reintegrado, na denominada “norma AGAL”, Estraviz escreve o seguinte:

“O título de Invenção do mar radica no canto terceiro de Os Lusíadas. A obra consta de 88 sonetos decassílabos, a maioria em rima clássica (ABBA). O Ofertório, contudo, é um soneto de versos brancos, sem rima, cuja intenção, manifesta, persegue não sacrificar à forma e conteúdo. Jenaro Marinhas grande dramaturgo, era ante todo poeta. Aqui cita a Gama e Magalhães. Neste livro segue a linha marcada por Os Lusíadas, que também seguirá no seu dia Pondal em Os Eoas. Nele, além de Camões e Pondal, Jenaro tem presente António Nobre, Antero de Quental, Gil Vicente, Afonso o Sábio, Eça de Queiroz, Jorge de Lima, Pessoa e Teixeira de Pascoaes, que tanto influiu nos homens da Geração Nós.

Começa com uma epígrafe de Camões: Antes querem ao mar aventurar-se que nas naus inimigas entregar-se (p. 33). Antes do soneto 9 cita um poema de Francisco de Sá de Miranda Os que mais sabem do mar fogem de ouvir as sereias, do poema “Cerra a serpente os ouvidos” (p. 49), que continua ele com três versos. No soneto 19, v. 5, cópia de Camões a expressão “sórdidos galegos” (p. 61). Antes do soneto 24 outra epígrafe: Hei de fazer parte do Mar! , de António Nobre, , poema que explica com três versos seus (p. 67). Cita-o novamente no soneto 25, no qual compara as suas vidas: “Que desgraça nascer em Portugal / clamou António no seu dessassego / maior desgraça, António, é ser galego” (p. 70). No soneto 26 emprega uma expressão tomada do escritor portuense Alberto D´Oliveira: “que aldraba em alcantis de Índia imprevista” (p. 71). No soneto 29, p. 74, cita os dous mais importantes navegantes portugueses: “Se não é mar de Magalhães e Gama”…

Antes do poema 31 coloca a epígrafe: “As margens / e o rio, somos nós. / Quem nos leva à foz? / …./ somos onde vamos / nós nos tripulamos”. Tomados do poema “Arras” do poemário Breve história do mundo, p. 129, de Carlos Nejar (Luís Carlos Verzone Nejar, Porto Alegre, 1939). Eu tomo-o do Epílogo de António Gil hernández. Antes do soneto 46, outra epígrafe esta vez de Afonso o Sábio: Ca mais me pago do mar / que de ser cavaleiro / ca eu fui já marinheiro (Cantiga de escarnho), p. 95. No soneto 56 cita novamente a Eça e Camões (p. 107) como salvadores do galego.

Antes do soneto 59 coloca outra epígrafe, desta vez do poema “Ângulo” do poemário Indícios de Oiro (1937) de Mário de Sá Carneiro: Aonde irei neste sem-fim perdido / Neste mar oco de certezas mortas? (p. 111). Antes do soneto 72 coloca uma epígrafe de Pessoa: Que costa é que as ondas contam / e se não pode encontrar / por mais naus que haja no mar? Tomado de “Calma”, terceiro poema de Os tempos (p. 127). A epígrafe anterior ao soneto 83 é do Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente: “-Ó da barca! / -Que me queres? / -Quereis-me passar além / -quem eres tu? / -não sou ninguém (p. 141).

Como acabamos de ver, Jenaro Marinhas não estava só intimamente familiarizado com os clássicos portugueses, senão que monstra uma capacidade de os fazer seus e ampliá-los à sua vontade”.

OPINIÃO DE JOEL GOMES SOBRE MARINHAS

O escritor e jornalista Joel R. Gomes publicou um seu depoimento no número 32 da Agália, sob o título de “Uma leitura do teatro de Jenaro Marinhas”, de que tiramos um treito com a sua opinião sobre Marinhas:

“Porque Jenaro Marinhas demonstra ser um homem comprometido com a literatura, arte na qual trabalhou nos seus diferentes campos até nos dar a conhecer poesia, teatro, narrativa e ensaio/investigação. Uma trintena de obras às quais se devem somar duas novelas e outra produção, esperemos por pouco tempo: comprometido com o teatro, como o demonstra o córpus constituído pela sua obra de criação dramática e investigação em redor do mundo da dramaturgia, para além de publicar um teatro adaptado às necessidades da realidade dos grupos: comprometido com a língua, pois só em galego estão os seus contributos; e comprometido com o país, como demonstrou sobejamente na sua função e presença pessoal e artística.

Linguisticamente optou para o galego por uma ortografia própria de toda língua românica e não perdeu o tempo em dedicar-se a desfigurar palavras ou pôr-lhes um mendinho aqui e outro acolá. Lexicalmente procurou empregar um galego culto, nobre, sem renunciar às raízes vernáculas. E foi ainda mais alá dedicando-se à brincadeira de inventar, a partir de prefixos e sufixos próprios da língua, novos vocábulos, a maioria muito acertadamente.

Jenaro Marinhas homem bom e generoso, culto, alegre, social, tolerante, apaixonado pela sua pátria e pela sua cultura, respeitoso de todos e amigo leal dos amigos, é um modelo a imitar por todos nós”.

JENARO MARINHAS NAS SUAS PALAVRAS

A seguir apresentamos uma escolma de pequenos textos de Marinhas, com as suas palavras sobre alguns temas.

  • Sobre a Irmandade da Fala diz-nos: “A Irmandade gozou de vida próspera porque ali coincidiam todos quantos alimentavam um sentimento galeguista, qualquer que fosse o seu ideário político, social ou religioso (…). Para formar parte da Irmandade não se exigia mais que galeguismo e em todo o demais cada quem tinha liberdade de aderir ao que quigesse, sempre que não contrariasse a essência galeguista”.
  • Sobre o tema da língua, que para ele era essencial, não concebia um galeguismo falando outra língua que não fosse a galega: “Eu não admito que possa haver galeguismo com o espanhol como língua, da mesma maneira que o espanholismo não admite outra língua que a castelhana e se diz admitir o catalão, o basco e o galego como línguas espanholas é de boca para fora, enquanto pode eliminá-las não deixa de fazê-lo”.
  • Sobre o nacionalismo amostra-se como um patriota galego integral. E isto está presente sempre, de forma autêntica, quando fala, quando escreve e quando pensa: “Teatro e nacionalismo marcham colhidos da mão, juntos se elevam e somem-se juntos. Claro que não falo aqui de nacionalismo meramente político, mas de nacionalismo integral e popular”.
  • Sobre a RAG tem a sua própria opinião: “Entre os académicos impera o critério tão antiacadémico de que o melhor galego é o falado pelos mais incultos. Os clássicos portugueses foram os mestres que me lecionaram para escrever em galego., quem os leia com atenção comprovará que são menos lusos que galegos. Camões é um poeta tão galego como pode sê-lo Anhão, Curros ou Rosália”. No seu momento chegou a queixar-se com razão de que lhe mudaram a grafia e vocábulos no texto do seu discurso de entrada na academia. Nomeado membro em 1978, em 1990, depois do falecimento de Carvalho Calero, com quem o unia uma grande amizade, renunciou à cadeira que ocupava por desconformidade com o rumo que tomava a instituição da rua corunhesa das Tabernas.
  • Sobre o reintegracionismo, no seu dia comentou: “Não se me oculta que aderir ao reintegracionismo contribui a encontrar-se com muitas portas fechadas, mas não tenciono aldrabar a nenhuma e como nunca pretendi alcançar sinecura de Poderes Públicos nem subsídio de condessa ricalhoa, sou livre e escrevo a ditado exclusivo do integral nacionalismo galego que professo”.

O TEATRO COMO GRANDE RECURSO PEDAGÓGICO

O teatro e a expressão dramática têm grandes valores didáticos. É necessário sensibilizar a nossa sociedade sobre a importância que o teatro tem em muitos aspetos da vida e na personalidade dos seres humanos. Tanta que ainda hoje não compreendemos bem como não está generalizada a atividade teatral nos estabelecimentos de ensino. E como não tem um lugar preeminente no currículo e nos tempos escolares. A expressão dramática é sem dúvida alguma, a atividade mais completa que existe. Abrange todas as expressões possíveis do individuo. A verbal em primeiro lugar, tanto oral como escrita, como literária e comunicativa. A plástica, ao ter que desenhar decorados, trajos e disfarces. A musical, quando a encenação tem fundo musical e, por vezes, os atores se expressam cantando. A corporal ao ter que pôr em funcionamento todos os membros do corpo, braços, pernas, cabeça, rosto, mãos e pés. Também a mímica, a psicomotricidade, o domínio do esquema corporal, o prazer de jogar… O teatro é ademais, a atividade lúdica mais extraordinária que existe e todos devemos saber que não há, para crianças e jovens, atividade mais educativa e completa que jogar.

Como se isto fosse pouco, a expressão dramática tem um alto valor propedêutico e terapêutico. Gregos e romanos na antiguidade clássica utilizavam o teatro como terapia. Por meio do teatro nas aulas podemos resolver pequenas necessidades educativas especiais: alguns tipos de dislexia, problemas de fala, introversão e timidez. Podemos favorecer o nascimento de habilidades sociais, habilidades para nos relacionarmos e comunicarmos e interagir, para respeitar as diferenças, para adquirir valores humanos como a tolerância, a solidariedade e a identificação com os outros. Para a aquisição da autoestima e a superação de variados complexos. De passagem o teatro na escola também serve para trabalhar todas as áreas transversais, para fomentar a criatividade, para ensinar a utilizar o tempo livre de forma adequada, para aprender a cooperar trabalhando em grupo e para adquirir conhecimentos variadíssimos: literários e de idiomas, da cultura própria, éticos, artísticos, biográficos, históricos, etc. Por isso perguntamos: existe alguma outra atividade educativa tão valiosa e tão didática como o teatro? Pedagogos e educadores tão insignes como Giner e Cossío da ILE, Tagore, Milani e Don Bosco, tinham muito claro o valor pedagógico do teatro e o levavam à prática nas suas escolas. Como esse nosso grande educador que foi Andrés Manjón, que nas suas escolas granadinas da “Ave Maria” ensinava por meio de dramatizações e jogos dramáticos. Igual que, no seu dia na escola anexa de Ourense fazia o excelente mestre José Caseiro, de quem muito aprendemos nós. Como também no Instituto Laboral de Lalim, onde se fomentava muito o teatro. Ainda lembramos com carinho que, na nossa primeira escola como professor, a número 5 de Ourense em Marinha Mansa, em 1969, representámos com os nossos estudantes a peça de Tagore “O Carteiro do Rei”. Igual que lembramos Segundo Alvarado, e este comentário é uma homenagem à sua pessoa, o estupendo labor teatral que durante muitos anos desenvolveu em Ourense, deixando uma colheita humana difícil de superar.

Quando viajamos a Portugal admiramos o nosso país irmão em língua e cultura, porque em todos os estabelecimentos de ensino se organiza teatro. Por professores que o aprenderam antes na Escola Normal, na sua formação inicial de docentes. Aqui, na Galiza, ainda fica muitíssimo por fazer neste campo, e Jenaro Marinhas, com a sua obra e pensamento, muito nos pode ajudar. Para pôr a andar um projeto para estender a prática teatral a todas as escolas do país. Projeto que teria que incluir o teatro de títeres, marionetas e fantoches, o mimo, o teatro lido e representado, o teatro de sombras, o teatro popular e cómico, as farsas, os jogos dramáticos e as dramatizações de contos, lendas e temas redigidos pelos estudantes. Recuperando também o teatro de Jenaro Marinhas, Manuel Maria, Dieste, Blanco Amor e, entre outros, Manuel Lourenço.

TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR

Vemos o filme e os documentários citados antes, e depois desenvolvemos um Cinema-fórum, para analisar a forma (linguagem fílmica) e o fundo (conteúdos e mensagem) dos mesmos.

Organizamos nos nossos estabelecimentos de ensino uma amostra-exposição monográfica dedicada a Jenaro Marinhas, a sua obra e as suas ações e ideias. Na mesma, ademais de trabalhos variados dos escolares, incluiremos desenhos, fotos, murais, frases, textos, lendas, livros e monografias.

Podemos organizar no nosso estabelecimento de ensino uma representação teatral de uma das obras dramáticas de Jenaro Marinhas. Dentre elas podia ser A revolta e outras farsas, cuja primeira edição, em Galáxia, é do ano 1965. Também a Pequena farsa dos amores desencontrados (Grial 1968). Paralelamente, seria lindo organizar um recital de uma escolma das suas poesias mais formosas.

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