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Iolanda Aldrei: “Os livros prometem pervivência e antecipam os diálogos livres”

iolanda-aldreiA filóloga e escritora Iolanda Aldrei vém de lançar o seu último livro, “Entrecortar”, que já está disponível, publicado com Através Editora. Falamos com ela para debulhar esta última obra.

Que nos queres “Entrecontar” no teu livro?

Entrecontar, mais que a uma fórmula narrativa, responde a uma vontade de polifonia, a um encontro de vozes, de histórias, de sentires. Quero abrir as janelas de um coletivo de individualidades fechadas em coordenadas impostas, que chegou a acreditar que essas estruturas eram reais, e mesmo que eram lógicas. Quero libertá-lo no labirinto, no direito de perder-se e achar-se por diversos caminhos, com trajetórias múltiplas e de assumir a vertigem de ser.

Quero permitir que todas as personagens contem, porque a sua revelação pode estar relacionada com a vontade da autora, mas parte de existências prévias em dimensões possíveis. Quero mostrar o plano de um tear no que se entrecruzam fibras e cores, texturas e cadências, para criar uma peça única, compactada na sua diversidade. Mais que contar algo, quero permitir que um microcosmos conformado por muitas histórias sejam visíveis: histórias que têm sido, histórias que são, que serão… não importa… foram nascendo (e algumas delas tornando-se publicas em espaços como A Palavra Comum, Elipse, A Sega, ou os Cadernos de Q de Vian), e neste livro acharam um espaço para manifestar-se no entrecruzamento.

Quero mostrar o plano de um tear no que se entrecruzam fibras e cores, texturas e cadências, para criar uma peça única, compactada na sua diversidade. Mais que contar algo, quero permitir que um microcosmos conformado por muitas histórias sejam visíveis.

Andrea Nunes, no prólogo, reflexiona com grande acerto sobre esta intenção que tem tanto a ver com a reivindicação de uma escrita de mulher, de fiadeiro. Eva Xanim, Valentim Fagim… também souberam dar-lhe apreço. Oxalá esta aposta de Através seja acolhida por muitas outras pessoas, porque é um convite aberto que tem a ver com isso que chamamos pós-modernidade, aínda que a própria pós-modernidade nasça da necessidade de abrir passo ao ar e de respirar novamente no ritmo da Terra, da memória e da liberdade.

Queres dar vozes a várias gerações, por que?

A ucronia permite que os diálogos convivam no espaço do comum, no ciclo. As nossas raízes bifurcam-se, ramificam-se e também formam círculos, como os micélios. Matar a persistência da memória, a continuidade da Companha no nosso imaginário, e condenarmo-nos à perda da identidade.

O livro tem como narradora hegemónica uma morta, e nele deixa-se também espaço para contar os sentires de uma criatura que nasce. Em meio abrem vidas de jeito horizontal, sem jerarquia cronológica.

Essas gerações estão em nós, como o ADN mitocondrial, também na assunção da tríade que unifica os três tempos: no passado que pode ser, no presente que será, no futuro que é retorno à origem. A nossa soberania depende desse ninho de forças.

 

Essas gerações estão em nós, como o ADN mitocondrial, também na assunção da tríade que unifica os três tempos: no passado que pode ser, no presente que será, no futuro que é retorno à origem. A nossa soberania depende desse ninho de forças.

capa-entrecontar-488x710Qual é a tua parte favorita do livro?

Há um personagem que se desenvolve com mais corporeidade, a Senhora Amália. Trata-se de uma mulher que com outro nome existiu, a quem muito escutei e de quem ainda aprendo. Nela, na sua história, há para além de literatura homenagem.

A história central, é, em linhas gerais a que desenha o labirinto e permite o encontro desta deconstrução, um fio de Ariadna que também me guia. Há alguns dias, a poeta Lara Rozados crónicava para mim a história de umas landras semeadas com a sua filha, que foram tornando-se carvalhinhos nestes tempos de confinamento, soube então do sentido de este tronco central, da história que se erguia desde a página escrita.

É aínda há três relatos que me sensibilizam especialmente: Isolda dos Beijos Tristes, Borboletas e As Pulgas: as três têm em comum o canto á libertação possível.

Que achas da supervivência dos livros em tempos de COVID-19?

Os livros, os recitados, a música, a dança, a dramatização, as artes plásticas são o mais excelso desta humanidade aparentemente tão feble ante um vírus e tão fácil de recluir. Mais que nunca o imaterial persiste e mais que nunca os livros, como outrora as pedras gravadas, lembram que nenhum vírus, nem nenhum poder ata o imaginário.

Alguns livros, também filmes… vão transformar este momento em leitmotiv, e haverá ramas que o mitifiquem de muitos jeitos: o importante é a crónica que qualquer relato faça do miúdo, do quotidiano, do magnífico, do extraordinário… neste é em qualquer momento, simplesmente porque está a comunicar no sem tempo, no sem espaço, na pervivência da palavra.

É curioso que Entrecontar poderia estar a falar desta encruzilhada, ainda que foi redigido antes da crise do COVID-19, a pessoa leitora pode achar um possível cenário que tem agora o seu ponto de inflexão.

Os livros são as sementes da cultura, do trabalho coletivo de habitar um ecossistema determinado. Prometem pervivência e também antecipam os diálogos livres.

É curioso que Entrecontar poderia estar a falar desta encruzilhada, ainda que foi redigido antes da crise do COVID-19, a pessoa leitora pode achar um possível cenário que tem agora o seu ponto de inflexão. Não foi vontade da autora. O livro é mais importante que quem o escreveu, mas nunca mais importante que quem o recebe.

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