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Inez Andrade Paes: “O Português tem as suas raízes no Galego e a Galiza tem belíssimos escritores”

Glória de Sant'Anna por Andrade Paes, Porto Amélia, Moçambique, 1969
Glória de Sant’Anna por Andrade Paes, Porto Amélia, Moçambique, 1969

Este ano assinalam-se dez anos desde que Glória de Sant’Anna nos deixou. Para recordar a vida e obra da poeta, mas também para fazer um balanço do Prémio Literário a que dá nome – cujas candidaturas para a edição de 2019 se encontram a decorrer – falei com Inez Andrade Paes, filha de Glória de Sant’Anna e uma das pessoas que está à frente de promoção do prémio.

O que ficou de Glória de Sant’Anna?

Uma grande memória literária e o caminho para a poesia lírica Moçambicana. E também a contida exaltação do Índico como um Mar de Amor e Morte.

E os livros dela, onde estão?

Neste momento são escassos os exemplares restantes das primeiras edições. Estão 15 livros por reeditar. Porém o espólio contém ainda cerca de 30 livros inéditos.

A verdade é que em Portugal, excluindo alguns núcleos, era uma poeta quase desconhecida. Já em Moçambique, onde viveu, a situação é diferente. Alguma razão para isto?

Uma boa pergunta. Talvez uma maior preocupação com a geografia da sua produção literária em detrimento do seu trabalho como autora de língua portuguesa, uma língua universal. Também por ter a ver com a sua poesia. Poesia de denúncia, de alerta para a justiça, fazendo apelo à inteligência e sensibilidade. Não é uma poesia de combate mas pressente e aponta a partir de um ângulo diferente, uma via humanitária para o mesmo fim.

Seriam necessários mais estudos académicos da sua obra? Ou o caminho é outro?

Penso que não terá a ver só com os estudos académicos, porque os há e são sempre úteis para a compreensão da obra. Glória de Sant’Anna foi incluída nos estudos literários orientados pela professora Maria de Lourdes Cortez na Universidade de Lourenço Marques, em 1973/74. Foi convidada a participar em debates sobre Literatura Moçambicana, na Universidade flutuante Americana (Campus), debates que surgiram depois da vinda a Moçambique de Jorge de Sena. A partir de 1975, foi poeta de leitura obrigatória no programa de Português da 5ª à 11ªclasses, em Moçambique. A partir daqui é estudada em universidades na Europa e Estados Unidos. Existem talvez breves monografias mas não um estudo exaustivo da sua obra. O professor Eugénio Lisboa é quem melhor conhece a obra e estudou com maior profundidade o trabalho de Glória de Sant’Anna.

Glória de Sant'Anna, Conferência da Cidade, Porto Amélia, Moçambique, 1968
Glória de Sant’Anna, Conferência da Cidade, Porto Amélia, Moçambique, 1968

A relação da Glória com África torna-a numa poeta ímpar da língua portuguesa, poeta que escutou falas diversas e viu outras geografias. São recorrentes as referências nos seus livros: o céu de Moçambique, a terra vermelha, o Índico… Mas a sua poesia também é de denúncia, como afirmas, da invisibilidade a que os negros estavam votados, das questões de género, dos crimes da guerra colonial. Glória de Sant’Anna tornou visíveis temas muito sensíveis para a época, o que é revelador da sua consciência humanista. Foi coragem? Foi um compromisso para com a sua verticalidade, os seus valores?

Tudo isso. A sua verticalidade permeia a sua escrita e foi sempre parte essencial da sua vida. Foi também sempre preciso ter coragem. Os meus pais viveram o tempo da luta armada em Moçambique. Daqui se retira toda uma essência da verdade oculta pelo ribombar das armas e do medo. A Glória interessou-se sempre pela comunicação e, apesar da aparente contenção da palavra na sua poesia, teve através da rádio, como locutora, nas aulas, como professora, na escrita e na vida social, oportunidades de partilhar essa mesma inteligente sensibilidade e nobreza. A nobreza de ser justa. Outros aspectos podem ser lidos na entrevista que deu a Michel Laban “MOÇAMBIQUE – Encontro com Escritores – Michel Laban”. Na página dedicada a Glória de Sant’Anna há um excerto dessa mesma entrevista.

Além do “outro” presente nos seus poemas, a casa, o Lar, é outro elemento incontornável.

Sim. A Casa. Estrutura de abrigo. O Lar, a família, o bom sorriso. Eram, como dizes, pontos de partida essenciais no seu discurso poético. Dizia-me muitas vezes que nós, os filhos, fomos muitos dos seus Poemas. Aliás, deu o nome de Poema àqueles que foram escritos para cada um dos filhos. O meu pai a força sempre presente e de um amor imenso. Completavam-se. Depois a Casa, o lugar para respirar. Tudo o que o dia a obrigava a reter seria, na casa, descortinado e limpo.

Entretanto, com a descolonização e o processo de independência de Moçambique, a vossa família tem de vir para Portugal. Que impacto teve esse período na escrita da Glória?

A família não teve necessariamente de vir para Portugal. Alguns de nós já cá estávamos a estudar. Os meus pais ainda ficaram a dar continuação aos seus respectivos trabalhos – a minha mãe como professora e locutora da Rádio, o meu pai envolvido em projectos das Obras Públicas com o Governo de transição e depois a convite do então Presidente, Samora Machel. A mãe veio primeiro e mais tarde o meu pai, que voltou já doente, ainda que não o soubéssemos. Ele morreria de cancro aos 62 anos, muito novo. Na escrita teve um impacto prolongado e lento. Leva 13 anos até voltar a publicar. Com Amaranto (Imprensa Nacional Casa da Moeda), volta a revelar toda a sua força poética e deixa em espanto – e indignação – alguns críticos literários que, verdadeiramente não conheciam ou conheciam muito pouco a sua escrita. Dou dois exemplos de artigos que saíram em Jornais: o de Maria Lúcia Lepecki e Helena Barbas, que também podem ser lidos na página de Glória de Sant’Anna.

Fernanda Angius e Glória de Sant'Anna, Válega, Portugal, 1987
Fernanda Angius e Glória de Sant’Anna, Válega, Portugal, 1987

Ironicamente, quase, o regresso a Portugal, o afastamento físico da Poeta – de certo modo um desterro – torna a sua presença mais visível em Moçambique. O seu trabalho revela-se como “a coisa real”, a coisa mais significativa, e começa a ser percebido como a essência do lugar onde foi gerado. Nas palavras de Fernanda Angius, por exemplo, “foi através de Glória de Sant’Anna que eu conheci o mar de Pemba”, a referência colhida das palestras sobre Glória de Sant’Anna e Noémia de Sousa feitas em Moçambique e Zimbabwe. De inestimável importância, ao longo de toda a produção literária de Glória de Sant’Anna, foi o trabalho de Eugénio Lisboa, o seu maior crítico e estudioso. Este acompanhou-a sempre. Eugénio Lisboa faz um trabalho excepcional, escorando a ponte entre África e a Europa e sempre do lado da Poeta. Com Amaranto volta a iluminar o espaço da sua poesia com uma luz cristalina, Índica. Porém, o desinteresse das várias editoras portuguesas para com a autora mantém-se. O chorinho antigo de que a poesia não se vende, ou vende-se muito pouco, é um dos selos nas cartas de resposta. Para continuar a ser ouvida, a poeta recorre à edição de autora e lança, Não Eram Aves Marinhas, uma dissertação poética dedicada às viagens dos Descobrimentos portugueses. Mas como ela própria disse no livro Distância, “Nada se move /na quietude que desce.” Sete anos mais tarde, surge o livro para crianças Zum Zum, com ilustrações de Teresa Roza D’Oliveira, que incansavelmente ajudou a Glória para que este livro fosse publicado (Edições Dinossauro – Portugal). O muro de silêncio mantém-se até a Glória ser contactada por Fernando Couto e voltar a editar em Moçambique. Solamplo surge passados cinco anos, em 2000 na editora Ndjira. É também a Ndjira que, a par com a Biblioteca da Câmara Municipal de Ovar, publica O Pelicano Velho, em 2003. Após estas duas obras e até ao falecimento de Glória de Sant’Anna, os livros publicados foram sempre edições de autor com o apoio do Rui, da Andrea e meu. Gritoacanto (1970-1974), na versão publicada na antologia Amaranto aparece em forma de livro, em 2010, com a chancela da Cooperativa Árvore.

Parece-me uma escrita marcada por longos silêncios, pelo menos tendo em conta o tempo compreendido entre cada livro publicado.

Silêncio imposto entre as publicações dos livros. Não se verificou no acto da escrita da poeta. Todos os dias, o compasso rápido do bater nas teclas e o sinal da campainha da máquina de escrever no final de cada linha ecoavam na casa. De seu corpo e gesto atento, nada a demovia do seu espaço de escrita.

Prosa, 1975, Capa de Andrade Paes e ilustrações de Rui Paes, Edição Académica, Volume 9 da colecção "O Som e o Sentido", Maputo, Moçambique
Prosa, 1975, Capa de Andrade Paes e ilustrações de Rui Paes, Edição Académica, Volume 9 da colecção “O Som e o Sentido”, Maputo, Moçambique

Válega acabou por ser um lugar seguro para viver e escrever? Afinal está tão próxima do mar, que é tão vital para escrita da Glória.

Sim, foi a casa dos avós do marido. Era como uma muralha intransponível que a protegia a ela e às suas memórias. Dentro do desterro um auto-exílio. Aqui continuou a escrever e terminou alguns dos seus inéditos. Apesar de ter escrito tanto sobre o mar, este não era porém o seu mar. Na sua iconografia, o mar de Lagos aparecia mais próximo do Índico. Mas, muitas vezes fomos as duas ver o mar e conversar. Esse mar levava com ele as impossibilidades da vida. E era quase sempre de chumbo. Aquele mar que revolta, segue e é belo, mas que quando volta não é transparente.

Falaste de Lagos. Como entra o Algarve na poesia da Glória? Esses poemas são solares. Têm sal, respiração, amplitude. O diálogo que estabeleceu com esse território lembra-me uma outra poeta, Sophia. Conheciam-se, correcto?

O pai da Glória era de Lagos. Desde muito pequena que ela ia com a família, de Lisboa para Lagos, de férias. Tinha muito boas memórias desse tempo tão livre e estimulante. Muito mais tarde através do trabalho do marido, no Algarve, radicaram-se temporariamente no Sul. E depois dessa altura, sempre que tinham oportunidade, voltava ao Algarve. Ali, era ela. Mais perto da sua poesia. Sophia e Glória encontraram-se algumas vezes em Lagos, cumprimentavam-se, trocavam algumas palavras e seguiam. Numa das vezes em que eu estava presente, falaram sobre a edição do “Primeiro Livro de Poesia” (Caminho 1991), onde a Glória colaborou. Trocaram breves sorrisos e seguiram cada uma para o seu dia. Conheciam a escrita uma da outra mas não se visitavam.

E como eram as relações de amizade da Glória, que amigos e amigas existiam na sua vida?

Era um círculo apertado mas variado. Amigos de viva voz e amigos epistolares. Além de escritores, muitos outros das artes e também colegas da rádio e do ensino. Posso dar-te o nome de alguns já falecidos, sem mencionar os vivos porque me posso esquecer de um nome ou outro: Ló e Garizo do Carmo, Sebastião Alba, Vergílio de Lemos, Jorge de Sena, Augusto dos Santos Abranches, Joaquim de Matos, Armando Cotta Mesquita, Fernando Couto, Malangatana, Céu e Octávio Rego Costa, Fernando Calçada Bastos, Albano Neves e Sousa, Vasco de Lima Couto, Maria Fernanda Paz, os Gouvêa Lemos, os Moreira de Carvalho, António Quadros / João Pedro Grabato Dias /Mutimati Barnabé João, Rui Knopfli, José Craveirinha, Noémia de Sousa, Eduardo White, Babo Carrilho, Cecília Meireles, Lêdo Ivo, Fernando Ferreira de Loanda e o seu amigo de Praga – “o misterioso amigo de Praga” referenciado entre outros nos livros “Do Tempo inútil” (1975) e “Ao Ritmo da Memória” de (2002).

Noémia de Sousa, Glória de Sant'Anna e Carolina de Menezes, Sintra, Portugal, Década de 80
Noémia de Sousa, Glória de Sant’Anna e Carolina de Menezes, Sintra, Portugal,
Década de 80

Além dos livros que escreveu, Glória de Sant’Anna colaborou com a imprensa e também com a rádio, como já referiste.

Ainda estudante colaborou num programa da Rádio Novos de Portugal, de Maria Eduarda Dias – Rio de Janeiro (1947). Na Rádio Emissor Regional de Cabo Delgado, durante 16 anos, como locutora, produtora e jornalista e, mais tarde, delegada gerente da Rádio Clube de Vila Pery, hoje Chimoio. Os seus programas de poesia incluíam os novos e os consagrados. Fez teatro radiofónico com Armando Cotta Mesquita, reportagens sobre temas de carácter social, colhidas entre as populações nas suas saídas no terreno e, muitas vezes, acompanhando o marido quando ele viajava para supervisionar os seus trabalhos de arquitectura e empreitada. Colaborou em várias revistas e jornais: Notícias de L.M, Diário de Moçambique, Notícias da Beira, A Voz de Moçambique, A Tribuna, Caliban, Revista Sul (Brasil), Colóquio Letras, Diário Popular, Revista Tempo (Moçambique), Jornal de Lagos, jornais dos Açores, (São Miguel – sob pseudónimo), João Semana (Ovar) e Jornal de Válega. Neste momento são os de que me lembro.

Tu, a tua família, nos últimos 7 anos têm-se dedicado à evocação da memória de Glória de Sant’Anna. Criaram o prémio literário também com esse objectivo. Em que momento tomaram a decisão de avançar com o prémio, como é que tudo se proporcionou?

Logo após a sua morte, o Grupo de Acção Cultural de Válega- GAC, veio propor aos filhos a criação deste Prémio Literário Glória de Sant’Anna, o que muito nos sensibilizou. O Rui, a Andrea e eu abraçámos o projecto. Já vamos na 7ª edição. Todo um trabalho voluntário, feito com um esforço enorme, mas muita alegria. Do GAC, Américo Matos, Jacinto Guimarães, Daniela Tavares, Belmira Pinho e Fátima Marques têm sido incansáveis. O Prémio, instituído em 2012, visa galardoar o autor do melhor livro de poesia proposto pelas editoras para cada ano. Procura promover a poesia de língua portuguesa no território nacional e internacional e inclui a produção literária em Portugal, Regiões e Espaço da Lusofonia. Em 2014 englobámos não apenas os países lusófonos, mas também todas as Regiões Lusófonas, acrescentando assim na elegibilidade do Prémio as regiões da Galiza, Macau, Goa, Malaca e outras do espaço lusófono.

Houve dificuldades nesse percurso, acredito.

Houve e há dificuldades. O que se desenvolve em volta deste tipo de iniciativas cria várias tensões. Repara que estamos abertos a todos os países de expressão portuguesa e somos contactados por autores que estão por todo o mundo. Fomos os primeiros a incluir as regiões Galiza, Macau, Goa, Malaca e outras do espaço lusófono, abrindo assim um precedente. As perguntas são diárias e o trabalho imenso. Um trabalho voluntário não remunerado. O Prémio é pago através dos patrocínios do sector público e privado. A Câmara Municipal de Ovar e a Junta de Freguesia de Válega são os maiores patrocinadores. Quando os fundos não são suficientes, o apoio restante sai do nosso próprio bolso. Ajudas de entidades culturais externas não se vislumbram. Mas são bem-vindas. Às editoras pede-se-lhes que contribuam com um pequeno montante no acto da inscrição, por cada obra proposta. Esta foi uma resolução tomada para este ano. Até essa altura pedia-se às editoras cujas obras ficassem na lista final que pagassem um montante muito mais elevado. Tal requisito estava explicitamente claro no boletim de inscrição. Surpreendentemente, duas editoras portuguesas fingiram não estar a par deste procedimento e acabaram por fugir a esse compromisso. As contribuições das editoras são revertidas a 100% para a promoção dos autores da lista final e da promoção do prémio.

Entretanto passaram-se 7 anos de prémio. Já é tempo suficiente para um balanço?

Sim, podemos dizer que os poetas podem contar com o Prémio. Tem tido reconhecimento, sucesso e grande interesse internacional. O Prémio não tem um valor pecuniário tão grande, mas uma vez que reverte integralmente para o poeta, celebrando um livro específico, poder-se-ia até aventar que o valor do Prémio equivaleria à satisfação dos direitos de autor desse mesmo livro. Este Prémio foi criado com um perfil diferente e já começou a tornar-se exemplo para outros Prémios. O convívio anual que se realiza com uma pequena celebração na entrega do Prémio torna-se num encontro muito estimulante, com intercâmbio de escritores de vários países. Ligada à entrega do Prémio temos uma pequena venda de livros, com obras do autor vencedor, autores premiados e finalistas. As editoras e os escritores têm aqui a possibilidade de divulgarem as suas obras. Os leitores encontram-se assim com os escritores.

Uma das particularidades que me impressionou, por não ser muito recorrente essa consciência, foi a vossa decisão de incluir a Galiza na lusofonia, aceitando a concurso os livros que lá são publicados. Isso tem muita força no contexto linguístico actual galego, é um posicionamento político. O que vos levou a essa decisão? Glória de Sant’Anna tinha alguma relação especial com a Galiza, conhecia a realidade dos escritores e poetas galegos?

Sim, conhecia. Não é um posicionamento político, embora possa ser pensado assim. É um posicionamento cultural. Claro que política e cultura são causas geminadas – uma e outra são interdependentes. Porém, a ênfase desta posição é fundamentalmente cultural. O Português tem as suas raízes no Galego e a Galiza tem belíssimos escritores. Rosalia de Castro, o multifacetado Valle-Inclán, Camilo José Cela por exemplo, faziam parte do ciclo de poetas e escritores que Glória de Sant’Anna lia. A tradição da literatura Galaico-Portuguesa cala muito fundo. Já Gil Vicente e Camões se serviram dessa dinâmica lírica. Por que não reavivá-la agora? Apesar de ser a mesma língua tomaram direcções diferentes, por influências também diferentes. No Galaico, a pureza e a aspereza na forma e na fonética. É só ouvir, estar atento. À volta disso, rumores expressivos que contribuem para a sua musicalidade. Também através de amigos com quem se correspondia, por exemplo Xosé Lois García, por quem teve muita estima e que muito apoiou o seu trabalho. Xosé Lois García foi membro do Júri por três vezes, desde que a Galiza foi integrada no Prémio.

Inez Andrade Paes, Xosé Lois García, Andrea Paes e Rui Paes, Válega, Portugal, 2015

Sentes que essa decisão foi bem acolhida dentro do sector literário? Em Portugal olha-se com naturalidade a integração de países como Angola, Moçambique ou Brasil nos prémios. Até Goa. Mas continua a haver preconceito com a Galiza, quando é o território de origem da língua que todos falamos, como referes.

O silêncio foi enorme. A cultura em Portugal é feita de silêncios e segredos. É sempre um choque desestruturar seja o que for e enfrentar barreiras. Em volta muito poucos se envolvem porque não se querem nem maçar nem perturbar o seu espaço de conforto. O escritor é mais modesto quando se aplica ao seu trabalho. Os críticos literários podem ser um pouco mais empedernidos. E afinal é de escritores da “mesma” língua de que falamos. São os que podem redescobrir e abraçar essa origem através do que lhes chega de herança literária. Os outros podem estudá-la. A origem já está definida. Existe nos escritores de Portugal e da Galiza um espaço que se inspira ainda no que provém de uma ancestralidade repartida. Logo a seguir à inclusão da Galiza no Prémio Literário Glória de Sant’Anna verificámos com ânimo que outros seguiram os nossos passos.

Já nos é possível dizer que uma das conquistas do prémio é a atenção que tem dado às pequenas editoras?

Sim é verdade. Damos atenção a todas as editoras da mesma forma. Porém temos muito carinho e damos renovada atenção e importância às pequenas editoras. São elas que constituem o corpo e têm a força que propicia a revelação de novos escritores.

E para as próximas edições, alguma expectativa, alguma mudança?

Com o correr dos anos, temos procurado fazer com que o regulamento se torne progressivamente mais adequado aos objectivos do Prémio. Afinando e limando arestas, tornando-o mais claro e acessível. Ao mesmo tempo temos convidado músicos e leitores de poesia, com experiências diferentes, que se juntam ao corpo estável daqueles que anualmente colaboram com o Prémio de uma maneira activa e generosa. Este ano, todos os poetas seleccionados na Lista Final irão receber uma gravura de um retrato de Glória de Sant’Anna, a partir de um desenho de Rui Paes. As gravuras são uma edição limitada, assinada e numerada. A mesma gravura estará também à venda ao público no dia do Prémio e no site de Glória de Sant’Anna. Todos os lucros desta venda reverterão a favor do Prémio Literário Glória de Sant’Anna.

 

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