Homenagem a Estraviz

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Isaac Alonso Estraviz / Foto: Miguel Villar (LVG)
Isaac Alonso Estraviz / Foto: Miguel Villar (LVG)

Sabemos desde há poucas semanas, que o lexicógrafo Isaac A. Estraviz vai ser homenageado pola Deputação de Ourense, com a medalha de ouro da província, polo seu labor de recolha de palavras galegas, no único dicionário galego que os especialistas usam a diário, e que poucos docentes empregam nas suas aulas. De tendência reintegracionista, Estraviz não tem reparos em afirmar que o galego e o português são a mesma língua. Só muda a grafia. Por isso o agora homenageado sofreu a perseguição de alguns políticos que estavam à frente de importantes instituições. Contudo, Estraviz conseguiu o seu objetivo passeninho e com muita paciência. A atual norma oficial do galego, pouco tem que ver com a criada polo Instituto da Lingua Galega e a RAG, aprovada a 3 de julho de 1982. No ano de 2003 fazem uma profunda reforma das normas, vê-se um claro achegamento ao português e mesmo aos grupos reintegracionistas. Estes sempre estiveram muito divididos; porém, o seu fazer tivo muita sona com a criação da Associaçom Galega da Língua (AGAL), produzindo um material interdisciplinar, linguístico e científico de muita qualidade.

Por outra parte o oficialismo rodeou-se de dinheiro e imposição. Os intentos de que o êxito da norma oficial fosse amplamente aceite estivo condicionada pola dificuldade da sua aprendizagem, esquecendo que nos mesmos lugares onde se salvou a língua, era impossível mudá-la. Isto é, nas aldeias. Todos os nenos e nenas galego-falantes suspendiam galego e os estrangeiros obtinham mui boas qualificações. Os alunos diziam aos docentes “falas mui bem o galego da TVG”, e outras cousas semelhantes aconteceram. Passados os anos, Estraviz, com os seus, continuam na luita. Chegou a ser professor titular de Universidade de Vigo, por Didática da Língua galega, sem haver nenhum professor de galego no seu júri. No outro lado, as normas ortográficas capitaneadas polo asturiano Constantino García esmoreciam pouco a pouco, devido aos artifícios linguísticos e às traduções selvagens que se faziam dos autores galegos, sem respeito nem razões. Cousas do poder!

Estraviz é conhecido polo seu dicionário, mas poucos sabem que em 1966 lançou a primeira tradução do livro dos Salmos para o galego. Daquela a igreja de Roma só permitia traduções da Vulgata Latina. Depois mudaram e hoje as traduções fazem-se a partir dos textos originais, mas antes estava proibido. As numerosas publicações de Isaac Estraviz fazem que este reconhecimento da Deputação tenha sentido e chegue a tempo. Mas não deveríamos esquecer o mais importante, que é o seu labor como docente. Nestes anos pudem ler textos de alunos de Estraviz e todos destacam a sua proximidade com eles. Demasiadas vezes pensamos que a autoridade vai junto com o posto de traballo de profesor, e todo é muito mais complexo. Estraviz é dos poucos que nunca suspendeu um aluno, sem regalar-lhe nada de nada. A clave está em que nos ganhou a todos pola sua forma de dar aulas, e isso gerou um respeito que o levou a acadar umha autoridade sem esforço.

 “A clave está em que nos ganhou a todos pola sua forma de dar aulas, e isso gerou um respeito que o levou a acadar umha autoridade sem esforço”

Outras homenagens dedicadas a Estraviz já tiveram lugar na Galiza. A 21 de setembro de 2019, rodeado de amigos e amigas, em Meira, perto do Pedregal de Irímia, recebeu umha formosa escultura de pedra. A 26 de outubro do mesmo ano, tivo lugar umha homenagem na “Eira de Xoana”  (Ramil), na província de Lugo. Outras homenagens vêm a caminho, e em todas elas está presente, no ambiente, a memória da sua companheira Manuela Ribeira Cascudo (finada em 2017) que permitiu que Estraviz mostrasse a sua faciana mais formosa: dar tudo por amor. Durante os longos meses de doença da sua querida companheira, não faltou nem um só intre para a cuidar. É por isso que nesta homenagem na Deputação de Ourense, para além de receber a medalha de ouro da Província, muitas emoções encherão o seu coração. Deste pequeno espaço envio os meus parabéns ao meu irmão, amigo de amigos e professor exemplar.

Máis de José Luís Fernández Carnicero