A soidade

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Ruth Matilda Anderson

O tema que hoje nos ocupa é tão velho como a vida. A mesma que nos leva a viver ou sobreviver em sociedade. O que acontece é que  poucos querem falar da soidade quando é um mal comum a todos. Tratamos de tapá-la com paradoxos e exemplos, e não interessa aprofundar nas causas da sua existência. Às vezes usa-se como arma de vingança e noutras ocasiões chega por interesses pessoais espúrios. Também pode ser resultado duma perceção individual; assim dizia Ana Frank ao afirmar que: “Una persona puede sentirse sola, aún cuando mucha gente la quiera”, já que se não há presença física o sentimento de soidade agroma sem muito esforço. Nos provérbios temos um versículo que fala de que é melhor ter o vizinho perto de nós que o irmão longe, porque ante qualquer necessidade, os laços de sangue não valem grande cousa.

Nos provérbios temos um versículo que fala de que é melhor ter o vizinho perto de nós que o irmão longe, porque ante qualquer necessidade, os laços de sangue não valem grande cousa.

A soidade tem associadas várias características nas que devêramos pôr atenção. Nestas datas do Natal há que juntar a família ainda que não exista boa sintonia durante o resto do ano, mas mostrar a soidade aos que nos miram, pode ser mais molesto que aturar o cunhado de turno. A soidade é companheira da tristeza, quando existe impedimento para acompanhar os que queremos de coração.  Não posso imaginar a dor de não poder despedir o ser querido que finou só, pola pandemia que nos assedia. E não quero esquecer a todos aqueles que seguem rodeados de soidade, nas ressidências de maiores, ao não receber visitas dos seus. Mário Benedetti dizia que a maioria das vezes não choramos pola razão que choramos, senão polas vezes que não choramos o que tínhamos que chorar. Penso que quando nos carregamos em excesso de soidade, há momentos que estoupamos como um foguete das festas, e depois de passar um tempo, aprendemos a canalizar os sentimentos e as atividades sociais. Alguns querem ocultar-se no trabalho, outros buscam retornar às antigas coleções, que por falta de tempo deixaram de lado. Contudo, a maioria vai superando a fobia ao rejeitamento social, e procuram refúgio nalgum grupo cultural, ecologista ou religioso. Achegados a estes coletivos é habitual ver como agromam as invejas, a luita polos cargos e as ânsias de poder. Daquela aparece de novo a soidade individual ao não ser querido pola comunidade e começa de novo a procura quimérica dum estado em que a soidade esteja proibida, ou não tenha razão de ser.

Lembro muitas personagens que estiveram sós durante muitos anos, sofrendo injustiças, luitando polos direitos dos demais e oferecendo as suas vidas por um obxetivo digno de encómio. Não citarei nenhum nome. Mas tenho pena de desconhecer a tantas mulheres anónimas que levantaram países como o nosso, com o seu trabalho diário, com uma boa administração dentro do pouco que tinham e com a valentia de tirar adiante os seus filhos num mundo de homens, que não sempre valorou o seu quefazer. A soidade dessas mulheres caiu sobre os seus próprios ombreiros, sem queixas, sem salário e sem báguas. Hoje seguem sem nome, mas sabemos que na soidade das aldeias, no silêncio dos eidos e no lume das lareiras conservaram a nossa língua perseguida e isolada polos invasores (que até cortaram as oliveiras). Nunca é tarde para nos lembrar delas. Rosalía também o fez no seu formoso poema: “Tecín soia a miña tea/ sembrei soia o meu nabal,/soia vou por leña ó monte,/soia a vexo arder no lar”. Só me ficam palavras de agradecimento, portanto, por salvar a nossa língua galega, que sendo “materna” chegou, como diria Alonso Montero, a ser também “paterna”. E os que seguem a sofrer a condena da soidade, de qualquer espécie, devem  saber que não são os únicos, e só luitando juntos, em unidade, afasta-se para sempre a soidade.

Máis de José Luís Fernández Carnicero