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HERMANN KEYSERLING, CRIADOR DA ESCOLA DA SABEDORIA

Com o número 86 da série que estou a dedicar a grandes vultos da humanidade, que os escolares dos diferentes níveis devem conhecer, e que iniciei com Sócrates, desta vez escolhi para a minissérie de amigos de Tagore, a figura de um grande filósofo e pacifista nascido em Lituánia, mas com a sua vida desenvolvida fundamentalmente na Alemanha, chamado Hermann von Keyserling (1880-1946). Foi escritor, educador e filósofo, e criou em 1920, em Darmstadt, a denominada “Escola da Sabedoria”, que foi visitada em alguma ocasião por Tagore, e foi fechada pelo nazismo quando Hitler subiu ao poder.

PEQUENA BIOGRAFIA:

hermann-keyserling-foto-4De nome completo Hermann Alexander Graf Keyserling, tinha nascido a 20 de julho de 1880 na localidade de Könno-Livônia (Condado de Pärnu), da Estónia, que na altura fazia parte do império russo. A sua família era aristocrática, pertencente à nobreza, pelo que também é conhecido como “Conde de Keyserling”. A sua tataravó foi uma Muraviov, descendente do Gengis Kan, e num princípio ostentou a nacionalidade russa. Cursou estudos superiores de Ciências Naturais e Filosofia nas universidades de Genebra, Dorpat (Tartu), Heidelberg e Viena. Antes da primeira guerra mundial também se interessou pelo estudo da geologia e era um destacado ensaista popular. Foi discípulo de Houston Stewart Chamberlain, Rudolf Kassner e Wolkoff Muromtzeff. Com a chegada da revolução russa perdeu a sua quinta de Livónia e a sua nacionalidade russa. Com o pouco que ficava da sua herança fundou a denominada “Sociedade para a Filosofia Livre”, na localidade germana de Darmstadt, e uma revista que exerceu uma grande influência sobre a vida cultural europeia. A sua missão era conseguir a reorientação intelectual da Alemanha. Mudou-se para este país, onde casou em 1919 com Maria Goedela von Bismarck-Schönhausen, neta de Otto von Bismarck, e teve um filho chamado Arnold, que seguiu os passos de seu pai e se converteu num filósofo reconhecido.

Em 1911 viajou por muitos países e do resultado das suas viagens nasceu um dos seus livros mais conhecidos, intitulado Diário de Viagem de um Filósofo, publicado mais tarde em 1925, e no qual descreve o seu percurso pela Ásia, América e Europa do Sul e estabelece importantes comparações entre povos, culturas e filosofias.

Keyserling tinha opiniões muito curiosas que provocam refletir sobre elas. Influenciado por Bergson, funda, como já comentámos, em Darmstadt, em 1929, uma Escola de Sabedoria e uma Sociedade de Filosofia Livre, onde pretendia luitar pelo renascimento da Europa, de acordo com o conceito oriental de sabedoria. Profere três celebradas conferências em Lisboa, em Abril de 1930. Considera o homem como a síntese de elementos telúricos e espirituais, salientando que, se as ideias permitem saber, só a alma pode compreender, isto é, penetrar no sentido daquilo que se sabe, um sentido que é o lugar onde se mistura o espiritual e o vivo. Analisando o processo das relações internacionais do seu tempo, fala na Rússia como a Eurásia, onde o gosto da destruição e a santidade, a crueldade aguda e o heroísmo não se sustentam senão quando se opõem, desafia todas as definições e escapa mesmo às classificações habituais. Sim, a Ásia começa aí, ao mesmo tempo que a Europa acaba, o Oriente e o Ocidente aí se misturam estreitamente, formando um continente, ao mesmo tempo explosivo e amorfo. Conclui, proclamando: Moscovo é o centro revolucionário de todo o Oriente que desperta… Em todo o lugar do Oriente, isto é, a Leste dos Urales e a sul dos mares Negro e Cáspio, reina um espírito cujo símbolo extremo é Moscovo. Também considera a Espanha como já pertencendo à África.

Embora não seja um pacifista doutrinário, acreditou que a velha política do militarismo alemão tinha morto para sempre e que a única esperança da Alemanha estava em adotar os princípios democráticos internacionais. O seu pensamento filosófico gira ao redor de uma ideia central: a filosofia não é uma ciência, saber dogmático ou abstrato, senão que é a vida mesma em forma de saber. Só com a renascença do espírito antigo da sabedoria será comunicado ao mundo um impulso espiritual novo, diferente do árido intelectualismo. Ressoa nisto o tema da “filosofia da vida” de Bergson, Simmel ou Spengler.

FICHAS TÉCNICAS DOS DOCUMENTÁRIOS:

  1. Keyserling, o filósofo que enxergou o paraíso.

Duração: 7 minutos.

Ou em: https://www.youtube.com/watch?v=bmIOaFY6pys

  1. Noticiário do Cinema Clube 1930.

Duração: 10 minutos.

  1. Hermann von Keyserling.

Duração: 5 minutos.

https://www.youtube.com/watch?v=tDo1lLxvwSY

  1. Sonhos do Conde Keyserling.

Duração: 12 minutos.

UMA IMPORTANTE CRIAÇÃO: A ESCOLA DA SABEDORIA:

A fundação da Escola da Sabedoria partiu de um texto programático de 1919 de título “O que nos é necessário, o que eu quero”, onde Keyserling salientava que o principal objetivo da Escola seria uma nova vinculação e alma e espírito, acentuado que queria dizer em primeiro lugar uma humanização ao mais alto nível, não um aumento de saberes. O seu aluno e colaborador, Oscar A. H. Schmitz (1873-1931), vinha de Salzburgo da época do círculo da academia fundada por docentes e alunos do Mozarteum, em cuja tradição se insere a A.B.E.

Escola da Sabedoria de Darmstadt
Escola da Sabedoria de Darmstadt

Com a sua experiência, pois a sua entrada universitária em Berlim tinha sido impedida, Keyserling anteviu os problemas que o intento do Grão-Duque de criar uma colonia de filósofos em Darmstadt trazia devido à filosofia institucionalizada academicamente e que não se coadunava com a sua compreensão de uma prática filosófica orientada segundo uma sabedoria enraizada e vivenciada na vida.

 Como organização mantenedora, criou, em 1920, a Sociedade de Filosofia Livre. Keyserling inaugurou a sua Escola da Sabedoria em 1920 com uma conferência de título “Cultura do ser e do poder”. Nela, salientou que o poder assim tematizado apenas pode levar à desumanização e à autodestruição. Durante anos, até 1927, essa Escola realizou jornadas anuais que se tornaram um evento de relevância na abalada Alemanha dos anos 20, visitada por escritores, artistas e pensadores do país e do estrangeiro. Criou-se um anuário, onde foram publicados os trabalhos da Escola da Sabedoria e que, já no seu nome, revelava a intenção da entidade: ser um candelabro irradiador de luz. Oito volumes desse anuário foram publicados entre 1919 e 1927. Nos trabalhos da Escola participaram destacadas personalidades da época, sendo as suas contribuições para um tema previamente selecionado “orquestradas” nas jornadas realizadas anualmente. Os conferencistas eram concebidos como que instrumentos de uma orquestra que executavam uma “sinfonia do espírito”.

Com Tagore
Com Tagore

O patrocinador da Escola foi o Grande Duque Ernst Ludwig de Hesse. Os objetivos fundamentais da mesma foram, em primeiro lugar, ser interlocutora entre o pensamento europeu e o das religiões e filosofias da Ásia. Tema pelo que, António Machado no seu Juan de Mairena chegou a dizer acertadamente sobre Keyserling que, “esse leva o Oriente na sua mala de viagem, disposto a que saia o sol por onde menos o pensemos. Em segundo lugar, colocar em pé um centro de alta cultura com duas dimensões: uma pública, como centro de educação independente da Universidade oficial e das igrejas, organizador de conferências, e outra menos conhecida, de carácter ocultista, que na Alemanha do momento não era um tema mal visto, pois existia terreio favorável para as sociedades secretas e as suas doutrinas de salvação.

Entre os nomes que se relacionaram com a Escola da Sabedoria encontram-se os de Thomas Mann (1875-1955), Max Scheler (1874-1928), Carl G. Jung (1875-1961), Ernst Kretschmer (1888-1964), Hendrik de Man (1885-1953), Ernst Troeltsch (1865-1923), Leo Frobenius (1873-1938), Leo Baeck (1873-1956)  Hans Driesch (1867-1941), Georg Groddeck (1866-1934), Richard Wilhelm (1873-1930) e sobretudo Rabindranath Tagore (1861-1941), para o qual chegou-se a organizar toda uma semana.

Publicados em francês, os livros de Keyserling escritos na década de 20 alcançaram grande difusão no Exterior, também nas Américas. Paralelamente, desenvolveu uma intensa atividade como conferencista.

AMIGO DE VICTÓRIA OCAMPO E VISITA À ARGENTINA:

Victória Ocampo soube de Keyserling ao ler uma publicação de Ortega y Gasset na Revista de Occidente em 1927 e ficou tão entusiasmada que leu os seus livros publicados em inglês. No Diário de Viagem de um Filósofo (1925), a Ocampo encontrou a confirmação do que pensava sobre a Índia e, segundo a sua biógrafa, “um sentido da exaltação da natureza que tinha experimentado até a emoção frente à paisagem da Pampa argentina”. No livro O mundo que nasce (1929) descobriu a atração de Keyserling pelos problemas vitais do homem e foi aí quando pensou que o filósofo podia estar perto dos seus sentimentos e experiências, ao ponto de sentir uma admiração similar à que chegou a ter por Dante. Quando ela, pela correspondência que mantinha com ele, soube que Keyserling ia publicar um novo livro na Alemanha, contactou com Maria de Maeztu para comentar-lhe o desejo de que fosse traduzido para o castelhano e supervisionado por Ortega. Em 1928, Ortega enviou-lhe uma carta em que comentou: “É o meu destino navegar para si, quando você está entregue. Em 1916… ignoro o que a possuía, mas era uma possessa. Agora encontro-a “colonizada” por ilusões da Alemanha e lembranças da Índia”, em referência a Keyserling e Tagore.

Apesar de Victória ter solicitado a Keyserling que visitasse Buenos Aires para dar palestras, a sua resposta num primeiro momento foi negativa devido aos muitos compromissos que tinha, ainda que em dois anos o pensaria. A resposta dela foi que não podia garantir que durasse até então o entusiasmo por escuitá-lo. A correspondência entre Victória e Keyserling perdurou durante um ano e meio, e tratou sobre a sua possível visita e os diversos aspetos da sua obra. Em janeiro de 1929 Victória viajou a Paris e ali encontrou-se várias vezes com o filósofo, que chegou a pensar que ela estava apaixonada por ele. O filósofo chegou finalmente à capital argentina no outono de 1929 e o seu hotel foi pago pela própria Victória. Porém, quando ele escreveu, referindo-se a ela como “a índia com frechas envenenadas”, Victória, com grande irritação, solicitou-lhe a devolução de todas as cartas que lhe tinha mandado e a embaixada da Alemanha interveio no tema a favor de Ocampo. Em 1932, Keyserling publicou um livro intitulado Meditações sul-americanas, em que se expressou com ódio contra Victória e desenvolveu uma série de teorias disparatadas sobre o continente americano. A relação entre ambos terminou muito mal, e também Victória no seu livro O viageiro e uma das suas sombras: Keyserling nas minhas memórias, também realiza uma profunda crítica da personalidade humana do filósofo.

Em agosto de 1929 Keyserling visitou a cidade argentina de S. Miguel de Tucumán, no noroeste do país, perto de Salta. Nesta altura já tinha renome de grande pensador. Pronunciou uma palestra com o título de “O espírito da terra”, na Sociedade Sarmiento, com a sala cheia e fez um passeio por Vila Nougués. Foi entrevistado por um jornalista do jornal El Orden. Segundo recolhe o diário La Gaceta de Tucumán, era um homem de um metro e noventa de altura, falava com voz forte e a cada momento lançava risos estentóreos. A reportagem, intitulada “Um quarto de hora com Keyserling”, foi publicada em 10 de agosto e é muito ilustrativa sobre as suas opiniões extravagantes, embora interessantes. Chegou a dizer que “o argentino não é arrogante, mas antes vaidoso. Não é preguiçoso mas intermitente no seu trabalho. Posso sintetizar nesta frase um traço fundamental do argentino: tem o desejo e não tem a vontade”. O que é o mesmo que dizer: “quer de forma impulsiva fazer uma coisa, mas não tem continuadamente o plano de fazer algo”. Portanto, “é um improvisador, vive para o dia”. Afirmava também: “é a psicologia contrária à minha, por isso eu a pude ver de forma tão clara. Eu moro no porvir. Sei o que vou fazer dentro de dois anos. Sou um homem com imaginação”, acrescentou com uma risada. A seu ver o argentino “carece por completo de imaginação. Quanto mais cultivado é um homem, é mais imaginativo. A improvisação é o contrário da imaginação. O improvisador é uma pessoa a quem surpreendem os acontecimentos. O imaginativo está sempre preparado”.

Keyserling achava conhecer a Argentina “melhor que nenhum outro povo no mundo. Outros os conheci em dois dias. O que não se compreende imediatamente não se compreende nunca. Essa é a intuição. Quanto à Argentina, o que preciso agora é conseguir perspetiva. Necessito alojar-me. Vi homens aos centos, como não vi noutra parte. Este cúmulo de impressões tem que sedimentar-se. Não deve isto surpreender porque até os 40 anos eu era um solitário. Via durante o ano umas três ou quatro pessoas”. Por último lançou uma observação final, assinalando que considerava a Argentina o país dos “ré”. Porque é o lugar dos “ressentimentos e receios. Noutras partes há sentimentos e ciúmes. Eu não vi nunca esse estado da alma”.

VISITOU TAMBÉM ESPANHA:

Com Baroja, Alberti, Salinas e Outros
Com Baroja, Alberti, Salinas e Outros

Em Espanha Keyserling teve um grande predicamento. A intelectualidade e as altas classes sociais da época recebiam-no muito gostosas. E o agasalhavam com banquetes e almoços, esperando escuitar as suas palestras e prédicas, interessados e céticos, sem importar as tendências e ideias dos assistentes, que na altura não se tinham radicalizado até chegar ao enfrentamento civil posterior. José Ortega y Gasset, Eugênio d´Ors, os irmãos Machado, os Baroja, Eernesto Giménez Caballero, Rafael Alberti, Ramiro Ledesma Ramos, Ramón Menéndez Pidal, Américo Castro e outros muitos, partilharam agradáveis serões com o filósofo báltico. Também existia outra motivação para viajar Keyserling ao nosso país, ademais da sintonia com o mundo hispânico, que era a de poder criar nas Ilhas Baleares uma sucursal da Escola de Sabedoria. Os jornais da época comentavam esta empresa cultural que queria estabelecer como um centro da formação das elites castelhano-catalãs com a intenção de propagar o pangermanismo. Porém, o semanário do falangista Ledesma A conquista do Estado, reagia contra criticando as pretensões germânicas, entendendo que era uma intromissão estrangeira nos assuntos hispanos as idas e voltas de Keyserling. Que tinha o interesse com as suas ações de amizade espanhola, para influenciar depois na América Latina, e criar ciúmes na vizinha França. Naquela altura o nosso país era uma terra onde se decidiam as reuniões de sociedade e cultura com o grande peso das potências em litígio. Finalmente, o triunfo de Hitler na Alemanha, com o seu “nacional-socialismo” nazi, provocou a perseguição de todas as ações de Keyserling, dentro e fora do país, conseguindo a sua extinção das organizações similares, pelo que também Rudolf Steiner teve graves problemas com a sua antroposofia. E em Espanha, depois da guerra civil, a filosofia de Keyserling declinou e a sua estrela apagou-se, ficando como uma obscura lembrança de tempos anteriores às matanças em que estivemos desgraçadamente envolvidos.

E VISITOU NO SEU DIA PORTUGAL:

hermann-keyserling-foto-2Em 2014 o português Pedro Teixeira da Mota escreveu um depoimento muito interessante, que reproduzimos, sobre a visita que em 1930 Keyserling fez a Portugal para pronunciar várias palestras.   “Em 15 de Abril de 1930, o conde Hermann de Keyserling, convidado pela Junta de Educação Nacional, depois de ter exprimido a Alberto de Oliveira, escritor e ministro (ou embaixador português) em Roma, a vontade de visitar Portugal, chega a Lisboa, para pronunciar três conferências, animadoras de ideias, às quais assistirá grande parte da intelectualidade portuguesa e que os jornais ecoaram em artigos assinados por Simões Dias, Vitorino Nemésio e outros. A primeira conferência foi pronunciada na Sociedade de Geografia, a 16, sob o título A Alma de uma Nação, seguindo-se mais duas, a 21 e 22, tendo depois partido para o Porto, onde o escutariam pensadores da Renascença Portuguesa, tal como Leonardo Coimbra e Sant’Anna Dionísio, como este último me confirmou. Ora também Fernando Pessoa assistiu certamente, pelo menos à primeira das conferências, pois escreveu uma carta dactilografada a Keyserling, com a data de 20 de Abril (e que esteve longo tempo perdida ou inédita antes de eu a publicar), para além de dever ter lido ainda os relatos jornalísticos, alguns bem desenvolvidos.

Na impressiva receção que lhe foi oferecida na Academia das Ciências de Lisboa, a 15, o insigne professor da Universidade de Coimbra Joaquim de Carvalho proferiu uma notável conferência, na qual realçou a importância da sabedoria, «tensão infatigável, sinónimo de uma qualidade espiritual, onde a inteligência e a vida se fundem, num centro irredutível a todo o exclusivismo, sempre sinónimo de limitação», concordando com Keyserling que «é de uma educação espiritual que o homem do nosso século carece», elogiando a Escola da Sabedoria, que aquele fundara na Alemanha: «nos já vastos tipos de instituições escolares que a cultura europeia tem conhecido, a Escola de Sabedoria é a primeira escola onde se ministra um ensino sem conteúdo. Ninguém a demanda para aprender: sob a influência da personalidade desperta-se e intensifica-se o pensamento, e, acima de tudo, se forma uma orientação espiritual, sem cânones». Elogiará ainda tanto as palavras de Keyserling, vindas de «quem compreende a sua vida como uma missão», inserindo-as nas vozes que se elevam contra «as pretensões do pensamento racional, crítico e analítico, como também a sua visão «do primado da vida, libertada pela compreensão e espiritualizada pelo sentido», lembrando por fim o sentido universal de Portugal e «que se fomos os primeiros a ocidentalizar o Oriente, fomos também os primeiros a compreendê-lo sem perder a nossa essência», dando mesmo o exemplo de Wenceslau de Morais, o nosso grande amante do Japão.
Keyserling, ao agradecer as palavras, aceita este enunciado final de Joaquim de Carvalho e afirma, provavelmente pelas suas capacidades psíquicas intuitivas ou de imediata absorção, segundo o relato do Diário de Notícias de 16, que «nas poucas horas da sua presença em Portugal sentia-se já mais português do que suponha. Referindo-se ao pensamento português, afirmou que ele era, sobretudo, realista, apesar do seu romantismo. Assim como ele, orador, viajava, para se ampliar em matéria de conhecimentos, assim os portugueses foram para as descobertas, não por motivos de ordem material, mas sim para dilatarem a sua espiritualidade. E, assim, o português é um verdadeiro criador de almas».
Filósofo alemão, reformador prático do espírito, como se intitulava, fundador em 1919 da Escola de Sabedoria, ou Sociedade de Filosofia Livre, em Darmstaad, figura mundial graças ao sucesso dos seus vários livros de viagens e análises do que observava e compreendia, então com 46 anos, de envergadura avantajada, foi bem recebido em Portugal, encontrando-se com Joaquim de Carvalho, Afonso Lopes Vieira, Agostinho de Campos e outros pensadores. Os seus discursos acentuaram a sua visão ou intuição profética da passagem da humanidade das épocas da crença e da ciência, ambas cegas, para a da compreensão, na qual o homem, conhecendo-se a si próprio, acabará por dar a plenitude espiritual ao desenvolvimento material, «realizando na Terra a nossa missão – essencialmente, fundamentalmente espiritual». O Espírito de um povo é apresentado como tensão, como «associação profunda do sentir, pensar e querer dos homens», que serve o sentido de vida nacional.
Considerado um ecuménico, conhecendo o Oriente e as suas visões e perspetivas, ainda que com as suas limitações bem patentes em algumas apreciações do seu valioso e original Diário de viagem de um Filósofo, Keyserling, contudo, não aceita que a humanidade esteja já num estado de decadência contrapondo antes o de juventude e portanto, de renovação, de criatividade, de novos sentidos. Considerando-se um chefe de orquestra do espírito, queria que os seres humanos «se tornassem conscientes da sua missão no mundo, capazes de exprimirem pelos seus atos o sentido cósmico que as suas vidas comportam», pois assim «mais ricas serão as culturas que tais homens ajudem a constituir».
A seguir, no seu depoimento, o autor comenta uma carta de Fernando Pessoa em que o grande poeta português dá a conhecer o que ele pensa das ideias e opiniões de Keyserling.

É muito interessante também ler a informação que se publicou na revista Seara Nova de Lisboa, com o título de “Hermann de Keyserling”, no número 204 de 13 de março de 1930, páginas 182 a 184, que pode consultar-se na Internet.

A SUA PRODUÇÃO LITERÁRIA:

Infelizmente, na nossa língua existem poucos livros publicados da autoria de Hermann Keyserling. Uma listagem não completa das suas obras filosóficas, educativas e sociais é a que a seguir indicamos: Prolegómenos à filosofia da natureza (1910), Diário da Viagem de um Filósofo (1919), Relações internas entre os problemas culturais de Oriente e Ocidente (1913), O homem e a terra (1928), A revolução mundial e a responsabilidade do espírito (1934), O conhecimento criador (1921), Imortalidade (1920), A filosofia como arte (1920), Presságios de um mundo novo (1926), O Livro do Casamento, O Mundo em Formação, Europa, A filosofia do senso, A vida íntima, Do sofrimento à plenitude ou Realidade e América do Norte libertada.

TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR:

Vemos os documentários citados antes, e depois desenvolvemos um Cinema-fórum, para analisar a forma (linguagem fílmica) e o fundo (conteúdos e mensagem) dos mesmos, assim como os seus conteúdos.

Organizamos nos nossos estabelecimentos de ensino uma amostra-exposição monográfica dedicada a Hermann Keyserling, a sua obra, as suas ideias sociais e educativas, o seu pensamento e a sua defesa da liberdade e do espírito livre. Na mesma, ademais de trabalhos variados dos escolares, incluiremos desenhos, fotos, murais, frases, textos, lendas, livros e monografias.

Podemos organizar no nosso estabelecimento de ensino um Livro-fórum, lendo antes todos, estudantes e docentes, um dos livros escrito pelo Conde Keyserling. Dentre eles podemos escolher o intitulado Meditações Sul-Americanas, publicado pela Editora UNB da Universidade de Brasília em 2009.

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