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Estar para ficar

semente vigo
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Em todos as esferas sociais é comum haver mais de uma perspetiva e de uma estratégia. Estas dançam, colidem, absorvem-se, cindem-se, acordam, desacordam e assim por diante. Nos anos 70 conformaram-se as duas perspetivas da língua galega que chegaram até hoje: o galego é uma língua ligada a outras variedades internacionais vs. o galego deve ser construído como um ente autónomo. No ano 81, o primeiro governo da Junta, liderado por Alianza Popular, decidiu este debate da única forma que podia ser, e um partido nacional-espanhol escolheu a norma mais galego-espanhola.

Na sequência deste facto histórico, fui educado, como a imensa maioria das pessoas da minha geração, nascim em 1971, em que a língua da sociedade portuguesa e brasileira era alheia, tal como o da sociedade francesa ou sueca. O português foi uma descoberta pessoal, não um saber estrutural que me fornecia a escola obrigatória. Se tivesse disposto deste recurso antes, antes me teria tornado galego-falante e antes teria abandonado usos linguísticos em castelhano que agora realizo na minha língua.

O português foi uma descoberta pessoal, não um saber estrutural que me fornecia a escola obrigatória. Se tivesse disposto deste recurso antes, antes me teria tornado galego-falante e antes teria abandonado usos linguísticos em castelhano que agora realizo na minha língua.

Durante décadas, duas esperanças alimentaram ambas as estratégias. Dum lado, a expetativa de que o galego Ilg-Rag se descastelhanizasse. Do outro, que o reintegracionismo desaparecesse. Quanto a esta, apesar das políticas linguísticas vigentes, cada vez há mais pessoas, sobretudo mães e pais, que recorrem às produções brasileiras e portuguesas para preencher os enormes défices da produção galega. Somos uma sociedade pequena e se contamos apenas a comunidade galego-falante, ainda somos menores. Não temos a capacidade de produzir uma percentagem mínima do que precisa uma sociedade do séc. XXI. Felizmente, não estamos sós.

O outro desejo que se revelou fantasioso foi que o galego Ilg-Rag se ia descastelhanizar. Esta frustração costuma provocar ataques contra as decisões lexicográficas dos seus construtores, em parte porque não é preciso dispor duma enorme formação filológica para desnudar o rei. Qualquer uma de nós o pode fazer com um mínimo de interesse e de mente critica. Lembremos as sentadelas, a coada do vulcão, os xonquis, a desescalada e os gromos da Covid e tantas outras. O rei gosta de cantar.

O outro desejo que se revelou fantasioso foi que o galego Ilg-Rag se ia descastelhanizar. Esta frustração costuma provocar ataques contra as decisões lexicográficas dos seus construtores, em parte porque não é preciso dispor duma enorme formação filológica para desnudar o rei.

2022. A minha filha, cuja formação escolar decorre na Semente, vive a língua do Brasil ou de Portugal como uma prolongação da sua, tem um galego bastante genuíno e o seu contacto com o castelhano é escasso, por desnecessário. Na escola Semente tem acesso a textos nas duas estratégias do galego, em ambas as normas, e são textos que alternam de forma fluída.

Esta fluidez está longe de existir fora da Semente nos espaços onde deveria ser habitual: o público. As pessoas responsáveis por esta rigidez trabalham com a equação: a ou b. Só pode haver uma perspetiva e uma estratégia, com consequências perniciosas. Aquela parte da sociedade, cada vez maior, que vive o galego como uma língua internacional, goza de menos direitos que as que se expressam em galego Ilg-Rag ou em castelhano. E nessa parte da sociedade secundarizada figuram pessoas e grupos envolvidos ativamente na promoção social da língua. Não somos tantas, nem tão fortes.

A língua também se vê afetada. 40 anos de a ou b não se revelaram a melhor estratégia para fornecer a comunidade galego-falante de recursos para viver na sua língua. Fruto da altíssima exposição diária ao espanhol, as falas estão cada vez mais castelhanizadas. E juntando tudo isto ao seu baixo prestígio, para a maioria das mães e pais galego-falantes não é importante as suas crianças falarem a língua da família e, mesmo naqueles casos em o é, a percentagem de êxito neste desafio é escassa e cheia de dissabores.

Se um observador forâneo olhasse para a saúde social do galego com a frialdade dum cientista, não albergaria muitas esperanças. O que sabemos, ou podemos saber com umas doses baixas de olhar frio, é que a ou b é a antessala da funerária. Ambas as estratégias estão para ficar por várias gerações. A única porta que conduz para ter “alguma” expetativa de sucesso social para a nossa língua é a+b. Que existem forças que querem manter a porta murada? Com certeza. E não todas moram no lado escuro da força.

[Este artigo foi publicado originariamente no Nós Diario]

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