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EDUARDO PONDAL, POETA DO RESSURGIMENTO GALEGO

Apresento hoje, dentro da minissérie dedicada à “Semana das Letras Galegas”, o segundo depoimento desta vez, tal como anunciei, dedicado ao nosso grande bardo e autor do nosso hino Eduardo Pondal (1835-1917), que tenho a bem incluir com o número 48 na série dedicada a grandes vultos da humanidade, iniciada no seu dia com Sócrates, e que todos os escolares devem conhecer.

Eduardo Pondal, conhecido como “o bardo de Bergantinhos”, é um dos grandes poetas da Renascença literária galega, junto com Curros Henriques e Rosália de Castro. Tinha nascido na vila de Ponte Cesso a 8 de fevereiro de 1835, dentro de uma família de origem fidalga que se enriqueceu na emigração na América e que, ao seu regresso à Galiza, ocupou postos destacados na vida política e económica da comarca bergantinhã. Era filho de João González Pondal, comerciante, e de Ângela Abente Chans, que deixou órfãos os seus filhos ao ano seguinte de nascer Eduardo. Como era o menor de sete irmãos, formou-se num ambiente de alto poder aquisitivo que lhe permitiu dedicar toda a vida à escrita e literatura, já que os recursos necessários para o seu mantimento provinham das rendas familiares. Em 1844 estudou gramática latina na reitoral de Vilela de Neminha, com o pároco de Tourinhão, Cristóval de Lago, como era habitual nos moços que queriam iniciar carreira eclesiástica ou universitária. A composição “O dolmem de Dombate” constitui uma boa amostra de influência que esta etapa de primeiros estudos na terra de Bergantinhos causou nele. Durante esses anos, o moço Pondal esteve muito pendente dos acontecimentos históricos do país e na Galiza, especialmente de todo o movimento político e militar que desembocou no fuzilamento em Carral do general Solís, defensor das ideias liberais e progressistas, que tanto interessavam a Pondal, em oposição ao poder centralista e conservador do governo de Madrid. No ano 1848 instalou-se em Compostela para cursar o bacharelato em Filosofia e, a seguir, de 1854 a 1860, o curso de Medicina. Em Compostela frequentou as tertúlias literárias do Liceu da Juventude, situado no rés-do-chão do convento de Santo Agostinho, junto com Aurélio Aguirre, Manuel Murguia e Rosália de Castro. Foi nesta época quando se revelou como poeta, numa ocasião que ia passar à posteridade como “Banquete de Conjo”: um jantar celebrado a 2 de março de 1856, sob a organização de Luís Rodríguez Seoane, Aurélio Aguirre e o próprio Pondal, em que confraternizaram operários e artesãos de Compostela com estudantes liberais. Na sobremesa, Pondal leu o poema “Brindis”, escrito por ele, o que lhe supôs a abertura dum processo na Audiência da Corunha, devido ao seu avançado carácter progressista.

No ano 1857, seguindo os parâmetros literários do poeta português Luís Vaz de Camões, apareceram os versos de Os Eoas e, no ano seguinte, viu a luz a primeira versão de A Campã de Anlhões (O sino de Anlhões), publicada no jornal pontevedrês El País em 14 de fevereiro. Terminou os estudos em 1860 e, um ano depois, concorreu ao corpo de Sanidade Militar em Madrid. Porém, logo se iniciou nele o desinteresse pela carreira que tinha escolhido. Em 1864, ao pouco de conseguir um posto na fábrica militar de Trúbia (Astúrias), deixou a vaga e abandonou definitivamente a profissão médica. Em 2 de julho de 1861 celebraram-se na Corunha os primeiros Jogos Florais da Galiza, aos quais Pondal concorreu com o texto “A Campã de Anlhões”, o seu primeiro poema em galego, que se publicou no ano seguinte no Album da Caridade, e no qual ainda não se encontram pegadas do celtismo. A partir desse momento, Pondal retirou-se à casa paterna, em que residiu com frequentes visitas a Compostela e, especialmente, à Corunha, onde participou na tertúlia regionalista da “Cova Céltica”, como era conhecido aquele encontro de intelectuais na Livraria Regional de Carré Aldão. Através de Murguia pôde aceder ao livro Ossian, barde du IIIè siècle (1867), de James Macpherson, que o levou a aprofundar no seu convencimento sobre a influência do mundo céltico na Galiza e, por extensão, na sua língua. Nesses anos publicou títulos como A fada dos montes, um folheto de 12 páginas introduzido por uns versos hendecassílabos de Ariosto, e Rumores dos pinheiros, numa linha poética que lhe dava à sua obra um eco importante na intelectualidade galega da época, pela pureza da sua língua e a potência do seu estilo. Os 21 poemas que conformam este pequeno poemário serviram-lhe de base para a criação de Queixumes dos pinos, onde recupera as composições em galego, incluindo alguns dos poemas em castelhano traduzidos para o galego.

OS ÚLTIMOS ANOS DA SUA VIDA:

No ano 1888 decidiu ir para Carvalho, onde entrou em contacto com a música da mão do compositor Pascual Veiga, quem lhe solicitou a letra para uma melodia sua com que ia participar num certame corunhês em que se ia escolher a melhor Marcha Regional Galega. Pondal entregou-lhe “Os pinos”, um poema surdido das sucessivas reelaborações de Rumores dos pinos. Se bem a adaptação dos versos de Pondal à música de Veiga se realizou nesse tempo, a apresentação em sociedade do hino não teve lugar até 20 de dezembro de 1907, num ato organizado pelo dinamizador José Fontenla Leal no Grande Teatro do Centro Galego de Havana. No ano 1894 Pondal instalou-se na Corunha, onde frequentou os círculos mais conhecidos da época, como a Sociedade Cooperativa Militar e Civil ou a Reunião Recreativa e Instrutiva de Artesãos. Em 1895 Ugio Carré editou O dolmem de Dombate e uma nova versão de A Campá d’Anlhons. O relativo sucesso das composições pondalianas estendeu-se para além das fronteiras de Galiza, não só pelo resto de Espanha, como também por Portugal e França. Assemade, colaborou com artigos e poemas em diversas publicações periódicas, em Espanha e na América, como Eco de Galicia, Galicia Diplomática, Galicia Emigrante, La Ilustración Gallega y Asturiana e Revista Gallega.

 

Durante a última etapa da sua vida sofreu constantes ataques depressivos e mostrava sintomas de neurose obsessiva. O seu carácter misantrópico e hipocondríaco derivou numa crise, em 1903, que lhe provocou um trastorno psíquico. A respeito da sua obra, ainda que é significativo o interesse por parte dos seus conhecidos por publicar a versão definitiva de Os Eoas nesse momento da sua vida, as contínuas correções a que Pondal submetia o texto e o avanço da sua doença impediram que saísse à luz. Entre 1905 e 1908, consciente já do seu débil estado mental, voltou novamente para Ponte Cesso. Viveu de forma intensa dous importantes acontecimentos: a fundação da Real Academia Galega, na qual não chegou a participar, ainda que foi membro numerário, e mais a morte de Curros Henriques, no ano 1908, a quem dedicou alguma composição nas publicações da época. Em finais de 1908 decidiu voltar à Corunha, onde recebeu, em 1910, a nova da sua nomeação como académico honorário da Academia de Poesia Espanhola de Madrid. No meio-dia de 8 de março de 1917 falecia na Corunha, tal e como informava a imprensa galega da época que, ademais, oferecia avondosos dados sobre o seu soterramento, no qual compareceram diversos políticos, como o próprio alcaide e presidente da câmara municipal da Corunha, e intelectuais, muitos deles pertencentes à Real Academia Galega e a outras instituições relevantes da cidade.

FICHAS TÉCNICAS DOS DOCUMENTÁRIOS:

1. Eduardo Pondal 1835-1917.

Vídeo biográfico de 6 minutos. Produtoras: Fundação Eduardo Pondal e Asubio Média.

2. Biografia de Eduardo Pondal.

Vídeo de 3 minutos.

3. Um Homem chamado Eduardo Pondal.

Vídeo de 4 minutos.

4. Eduardo Pondal: A fala e falade galego. A paisagem pondaliana.

Vídeo de 4 minutos para o ensino secundário.

5. Hino Galego (Poema de Eduardo Pondal).

Cantado por Maria do Ceu. Duração: 4 minutos.

HINO DA GALIZA (Poema “Os Pinheiros” de Pondal):

Que dim os rumorosos
na costa verdecente,
ao raio transparente
do plácido luar? Que dim as altas copas
de escuro arume harpado
co seu bem compassado
monótono fungar? Do teu verdor cingido
e de benignos astros,
confim dos verdes castros
e valoroso clã, não dês a esquecimento
da injúria o rude encono;
desperta do teu sono
Fogar de Breogám. Os bons e generosos
a nossa voz entendem
e com arroubo atendem
o nosso rouco som, mas só os ignorantes
e férridos e duros,
imbecis e obscuros
não nos entendem, não. Os tempos são chegados
dos bardos das idades
que as vossas vaguidades
cumprido fim terão; pois, onde quer, gigante
a nossa voz pregoa
a redenção da boa
Nação de Breogám. Teus filhos vagorosos
em que honra só late,
a intrépido combate
dispondo o peito vão;
sê, por ti mesma, livre
de indigna servidume
e de oprobioso alcume,
região de Breogám.
À nobre Lusitânia
os braços tende amigos,
aos eidos bem antigos
com um pungente afã;
e cumpre as vaguidades
dos teus soantes pinos
duns mágicos destinos,
ó, grei de Breogám!
Amor da terra verde,
da verde terra nossa,
acende a raça briosa
de Ousinde e de Frojão;
que lá nos seus garridos
justilhos, mal constreitos,
os doces e alvos peitos
das filhas de Breogám;
que à nobre prole ensinem
fortíssimos acentos,
não mólidos conceitos
que às virgens só bem estão;
mas os robustos ecos
que, ó pátria!, bem recordas
das sonorosas cordas
das harpas de Breogám.
Estima não se alcança
com vil gemido brando;
qualquer requer rogando
com voz que esquecerão;
mas com rumor gigante,
sublime e parecido
ao intrépido sonido
das armas de Breogám.
Galegos, sede fortes,
prontos a grandes fatos;
aparelhai os peitos
a glorioso afã;
filhos dos nobres celtas,
fortes e peregrinos,
luitai pelos destinos
dos eidos de Breogám.

POEMA A “Rosalia de Castro” por Pondal (1891):

– Néscias filhas da Grécia,

tão somente fiadas,

na corpórea beleza,

e nas caducas graças;

nos braceletes de ouro,

e nas ricas sandálias;

e nas vistosas clâmides

do ilissos pelas brisas agitadas! –

Disse a donzela lésbica,

da musa arrebatada,

tendo na mão tremente,

a lira belamente recurvada;

das cordas bem tendidas,

e bem apareadas,

onde as ardentes notas,

de rapsódia magnífica expiravam:

-Certamente vos juro, que tão escura infâmia com um duro suplício pagareis, que Témis vos prepara.

Quando deis o tributo inevitável

à terra do meónio celebrada

caireis num eterno esquecimento

sem honra e sem fama.

Mas aquela que em vida desprezastes,

qual de mérito falta

porque do sol da Hélade

nascera levemente requeimada

viverá eternamente

em mil diversas falas.

Depois que a bela luz abandonareis,

E fordes sepultadas

não ficará da vossa rica pompa,

a mais escura e leve remembrança! “

OS POEMÁRIOS DE PONDAL:

Queixumes dos pinos foi publicado na Corunha em 1886.

Pondal recolheu neste poemário a maior parte dos poemas publicados no ano 1877 na obra Rumores de los pinos, ainda que reelaborando-os, traduzindo alguns para o nosso idioma e fazendo desaparecer outros escritos em idioma castelhano. O conjunto inicial, que estava composto por trinta composições, foi-se ampliando em posteriores edições, incluindo poemas como Os Pinos. A segunda edição publicou-se pela Academia Galega na Corunha, no prelo de Zincke Hermanos, em 1935, com uma introdução de Manuel Murguia, e um epílogo de Manuel Lugrís Freire.

Os Eoas é um poema épico, que finalmente foi publicado em 2005, graças aos trabalhos dos investigadores Manuel Forcadela, Ferreiro e José R. Pena.

Apesar de que se sabe que, já em 1857 o nosso poeta estava a trabalhar no projeto dum poema épico cujo motivo temático fosse descrever o descobrimento da América, o certo é que tal labor ocuparia toda a vida do poeta sem que finalmente desse à luz o texto (que passou, ao longo dos anos, por diferentes nomes: A América descoberta, Colom, Os Hespéridas). À luz dos fragmentos – autógrafos, embora também provas de imprensa – conservados, parece, no entanto, que Pondal chegasse a concluir por acaso até duas versões completas do poema; porém, quer fosse pelo afã, realmente patológico, de corrigir de contínuo, quer fosse por dificuldades editoriais, Os Eoas nunca foram publicados em vida do nosso autor. Deste jeito, o poema apenas sim foi conhecido pelos citados fragmentos conservados e, sobretudo, pelos centos de papeletas autógrafas conservadas, em desordem, numa mítica mala que Pondal legou à RAG antes de morrer. A partir deles surdiu no ano 1992 a (controversa) reconstrução levada a cabo por Amado Ricón. Porém, depois das pesquisas e análises levadas adiante por Forcadela, Ferreiro e Pena sabemos na atualidade que, entre os anos 1913 e 14 o poeta levou adiante a última versão do texto, preparada para ser levada ao prelo em Madrid. Embora, quer pela idade de Pondal, quer pelo seu afã de emendar o escrito, quer por novas dificuldades económico-editoriais, estes Eoas tampouco fossem publicados. Após a morte do poeta, e a partir das investigações dos autores citados cabe chegar à conclusão de que foram fatores de carácter ideológico, com a presença singular de Vicente Risco e outros, a considerarem o texto como pouco condizente com o resto da obra do Bardo que determinaram que o mecanoscrito dos Eoas se “perdesse” nos arquivos da Academia Galega sem que os diferentes estudiosos dessem nenhuma referência dele até à sua “reaparição” nos inícios do segundo milénio. Estudados, analisados e, por fim, editados em 2005 Os Eoas vieram à luz. Trata-se, nesta versão definitiva, de um conjunto de 28 cantos, que descrevem, efetivamente, a descoberta da América. Neles, Pondal levou adiante um processo singular: o de ensamblar num todo coerente o mundo mítico celta que figura ao longo de toda a sua produção com o afã de cantar as glórias dos descobridores e, singularmente, a chegada da fé cristã ao novo continente.

TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR:

Vemos os documentários citados antes, e depois desenvolvemos um Cinema-fórum, para analisar a forma (linguagem fílmica) e o fundo (conteúdos e mensagem) dos mesmos, assim como os seus conteúdos.

Organizamos nos nossos estabelecimentos de ensino uma amostra-exposição monográfica dedicada a Eduardo Pondal, a sua vida, a sua obra, as suas ações e a sua influência na cultura e literatura galega e lusófona. Na mesma, ademais de trabalhos variados dos escolares, incluiremos desenhos, fotos, murais, frases, textos, lendas, livros e monografias. Com uma amostra especial dos seus livros.

Para realizar na nossa escola ou no nosso Liceu-Instituto podemos escolher uma das seguintes atividades: -Lemos todos, estudantes e docentes, o amplo capítulo que Carvalho Calero dedicou a Eduardo Pondal na sua História da Literatura Galega Contemporânea, muito detalhado, completo e interessante, e depois organizamos sobre o mesmo um Livro-fórum ou debate-papo. Existe uma monografia antiga editada pela Galáxia de Vigo, escrita por Carvalho, que também podemos utilizar para a nossa leitura.

-Organizamos um recital poético em que participem os escolares e os professores, dedicado monograficamente ao recitado de poemas pondalianos.

-Aprendemos todos a cantar de forma íntegra o Hino Galego, que é o poema “Os Pinos” de Pondal.

 

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