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Dois séculos de imigração galega no Douro

O documentário “Galegos D´Ouro” retrata a cultura emigrante dos galegos que viajavam em quadrilhas para trabalhar nas quintas durienses. De novembro a maio a região recebia, entre o século XVIII e XX, milhares de trabalhadores galegos para construir os socalcos e as infraestruturas de apoio à vinha. 

278605428_6109511252408696_3486551671550055236_nO Douro Vinhateiro comemora, este ano, 20 anos como Património da Humanidade pela UNESCO. Uma das iniciativas enquadradas nas comemorações foi a realização do documentário “Galegos D´Ouro”, de Arminda Deusdado, que conta a história dos trabalhadores e trabalhadoras galegas que emigraram para a região com o objetivo de construir a paisagem que todos nós, hoje em dia, admiramos.

A paisagem do Douro Vinhateiro foi conseguida com a força imensurável da emigração galega desde o século XVIII até meados do século XX. Em Portugal é comum ouvir a expressão “trabalhas como um galego”, que deriva desta cultura que representou a região durante séculos, já que os grandes proprietários das quintas preferiam o trabalho dos galegos do que outros.

Em Portugal é comum ouvir a expressão “trabalhas como um galego”, que deriva desta cultura que representou a região durante séculos, já que os grandes proprietários das quintas preferiam o trabalho dos galegos do que outros.

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fotograma do documentário.

Sem os galegos, que emigravam para o Douro Vinhateiro sobretudo entre os meses de novembro e maio para depois regressarem a tomar conta das suas terras na Galiza, os grandes socalcos, as plantações e replantações, a construção das infraestruturas de apoio à vinha (armazéns, adegas e lagares), não existiriam na atualidade.

A emigração galega para o norte de Portugal e para a região do Douro era uma emigração para fugir da pobreza existente na Galiza e para encontrar verdadeiros meios de subsistência familiares procurando trabalho a nível industrial.

Os galegos decidiam, comunitariamente e familiarmente, ainda na Galiza, quem é que iria formar as quadrilhas (compostas por pedreiros, segadores, mulheres e crianças, entre outros, tal como por um mestre-pedreiro) para viajar para o Douro e quem ficava nas suas terras. Estas equipas iam de quinta em quinta à procura de trabalho, sendo o mestre-pedreiro o encarregado de negociar as condições.

Na Galiza, devido à ausência dos homens, acabou-se por reforçar o papel da mulher, em termos familiares, laborais e sociais.

O trabalho na região era altamente duro devido às temperaturas extremas e à própria orografia do território e segundo Francisco Ferreira, da Quinta do Vallado, só a resistência dos galegos para fazer este trabalho, sendo considerados pessoas quase sobrehumanas.

Os galegos e galegas repetiam este processo de emigração todos os anos, indo no inverno para o Douro e voltando no verão para as suas terras, a região chegava a receber 20 mil galegos e galegas por ano. Assim foi durante dois séculos.

Os galegos e galegas repetiam este processo de emigração todos os anos, indo no inverno para o Douro e voltando no verão para as suas terras, a região chegava a receber 20 mil galegos e galegas por ano. Assim foi durante dois séculos.

Reparem que até uma das personalidades mais importantes da história do Douro Vinhateiro, Dona Antónia Adelaide Ferreira, mais conhecida pelo afetuoso diminutivo de Ferreirinha, era neta de um comerciante galego que se acabou por fixar na região.

O documentário conta com os contributos de Natália Fauvrelle (museóloga do Museu do Douro), Elisa Preto Gomes (diretora do departamento de Geologia da Universidade de Trás-os-Montes), Gaspar Martins Pereira (historiador e professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto), Ramón Villares (historiador e professor da Universidade de Santiago de Compostela), Camilo Fernández Cortizo (diretor da Cátedra Unesco 226 sobre migrações), Francisco Olazábal (Quinta do Vale Meão), Evaristo Rodríguez (gerente da da Abadia da Cova), José António Souto Cabo (professor da Faculdade de Filologia da Universidade de Santiago de Compostela), Francisco Ferreira (Quinta do Vallado) e Alexandra Esteves (investigadora da Universidade do Minho).

O documentário pode ser visto aqui.

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