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Celebrar nas escolas o Dia do Livro, vendo os documentários sobre a biblioteca escolar

José Paz Rodrigues (*) – Todos os anos no dia 23 de abril se celebra no nosso país o Dia do Livro. Acho que, agora que estamos a viver uma época de profunda mudança, fortemente marcada pela revolução tecnológica e digital e com grande impacto em todos os domínios da vida social, designadamente na educação e na escola, é muito necessário reivindicar o papel do livro e o seu valor permanente entre os estudantes.

Para serem bem sucedidos na sua vida pessoal, escolar e profissional, os jovens têm hoje, não só de dominar os saberes convencionais, como um conjunto de novas competências de literacia, cada vez mais complexas e variadas. Daí a importância de integrar cada vez mais no currículo escolar os conhecimentos e capacidades transversais considerados nucleares no nosso tempo. E os livros podem e devem ajudar muito nesta tarefa e meta a alcançar, por meio do bom uso e dinamização das bibliotecas escolares nos estabelecimentos de ensino de todos os níveis educativos.

Partilhamos plenamente as ideias educativas da pedagoga brasileira Izabel S. Grispino, quando fala do valor do bom uso da biblioteca escolar. A biblioteca é um recurso didático indispensável no processo de aprendizagem. A adoção, pela escola, do método construtivista coloca a pesquisa na vanguarda da metodologia. Além disso, como despertar o aluno para a imperiosa leitura, como criar o hábito de ler, sem a existência de sua matéria-prima? É muito importante que todas as escolas e colégios tenham uma boa biblioteca escolar, bem dotada, e não só de livros, também de material fílmico e fotográfico, CDs e DVDs. E logo faz falta a boa vontade e criatividade dos docentes, com as que sempre se pode amenizar a possível falta de uma infraestrutura, embora seja dificultoso. Ainda, no nível de educação infantil, poderá haver a alternativa de revezamento, de dispor os livros na sala de aula, pois que os alunos trabalham com o mesmo professor e por mais horas; nos níveis mais avançados, fica incompatível.

A familiaridade com os livros deve acontecer desde a mais tenra idade. Várias são as estratégias utilizadas, lembrando a já consagrada “hora do conto”. Deve-se valer do imaginário mágico da criança e estimular a curiosidade, passar imagens, conceitos, como de que em cada livro há um tesouro escondido, que os mais valiosos tesouros da humanidade estão guardados na biblioteca. Nela, moram os génios da humanidade, os grandes das ciências, das artes, da filosofia; nela está armazenada a nata da intelectualidade mundial, as obras dos maiores artistas, dos maiores pensadores de todas as civilizações. “Depende apenas de ti criança, de tua vontade de crescer como ser humano, na companhia deles”. Descobertas e mais descobertas vão-se acrescentando, ao aluno, nesse outro mundo de convivência, composto por livros, mundo que o transportará para além das fronteiras, para além dos limites que a imaginação humana pode levar.

Um professor torna-se educador quando amplia a sua função, quando, no seu idealismo, abraça o caminho infinito da educação, quando, no dia-a-dia, se vê no olhar de cada aluno, criando, para eles, mundos, mediando esperanças, doando-se no amor e na coragem. Se quisermos formar leitores temos que nos valer de procedimentos que convirjam para esse fim. Montar uma biblioteca, com atrativos visuais, num local claro, mantendo-o sempre limpo, com livros, revistas e jornais, que atendam as diferentes faixas etárias, dispostos de maneira atraente, de fácil alcance e manuseio, de retirada facilitada, inclusive estimulada,  porque  o mais  comum é fazer o contrário, dificultar, desestimulando o aluno. A biblioteca escolar deve-se constituir num ambiente acolhedor, convidativo; o aluno, reiteradas vezes, orientado para colaborar com a boa ordem, ser responsável, ajudando a manter o livro em bom estado de conservação. É indispensável uma pessoa treinada – bibliotecária é sonhar alto, mas tinha que ser – encarregada  da organização, da manutenção, do atendimento à população estudantil. Na Catalunha têm bibliotecários escolares no quadro de pessoal das suas escolas, e este modelo tinha que estender-se por todo o país. A leitura, isentando a pesquisa, não deve ser imposta, mas, sugerida, conduzida, despertada. Deixando-a de livre escolha, o aluno vai revelar suas tendências, suas aspirações, seus anseios. A leitura espontânea é um caminho aberto para conhecer melhor o aluno, sua vocação. Ademais, a cousa imposta produz o efeito contrário, revolta e influencia negativamente. Frases estimuladoras, incentivadoras, slogans, devem ser espalhadas em volta e dentro da biblioteca. E mesmo podem ser colocadas nas portas ou nas paredes da biblioteca, como reflexão e estímulo.

A pedagoga brasileira, em belas palavras, nos diz: “A biblioteca é da escola seu mestre-sala, apontando o brilho do sol. Tem, na riqueza dos livros, a estrela-guia do saber, a fonte do conhecimento, regando a semente educacional, fazendo florir a terra, brotar árvores frondosas, capazes de abrigar, com luz, a humanidade. Sem a educação de nada adiantaria o avanço social; ele perderia sua base de sustentação, de conservação. São os livros que fortificam e dão forma à educação. A biblioteca de uma escola pública coloca, em seu regaço hospitaleiro, também o menino pobre, estendendo-lhe as mãos, ajudando-o a desbravar sua inóspita floresta, fazendo-o alcançar a clareira e com ela encontrar o seu vale do sol. A leitura é a fada-madrinha da educação. Criar no aluno o hábito da leitura, prepará-lo para ler, é, talvez, um dos mais representativos passos do educador, que tem na biblioteca o grande sustentáculo. Já se disse que “os livros constroem as grandes pátrias”. Os povos ignorantes abdicam de si nos outros e voltam-se à servidão, ao desaparecimento. Em termos de infraestrutura, a biblioteca deve ser colocada, pela escola, num grau absoluto de prioridade”.

Para este meu comentário escolhi desta vez dous documentários sobre a Biblioteca Escolar, realizados um na Catalunha e outro na Galiza. Nos mesmos forncem-se ideias para organizar e dinamizar as bibliotecas escolares dos nossos estabelecimentos de ensino.

FICHAS TÉCNICAS DOS DOCUMENTÁRIOS:

1.-Título original: La Biblioteca escolar: ni t´ho imagines! (A Biblioteca escolar: nem imaginas!).

Diretor: Agustí Corominas Casals (Catalunha, 1993, 15 min., a cores).

Roteiro: Teresa Tort. Asesoria: “L´Amic de Paper” (Barcelona).

Produtora: Associació de Mestres “Rosa Sensat”.

Argumento: A Biblioteca Escolar é um serviço de grande importância que oferece a escola aos estudantes e docentes. No documentário mostram-se os aspetos gerais e principais que necessariamente há que conhecer para poder organizar adequadamente uma biblioteca escolar. Entre eles as técnicas para o registo e processamento dos livros e outros documentos. O processamento dos livros de imaginação e de consulta, a organização do sistema de empréstimo, a função da animação leitora e as estratégias motivadoras para fazer pequenos leitores. O filme vai especialmente destinado aos professores encarregados do funcionamento das bibliotecas escolares.

2.-Título original: Como organizar uma biblioteca escolar.

Diretor: José Luis Moar (Galiza, 1991, 30 min., a cores).

Roteiro: Xavier Carvajal Mosquera.

Produtora: Centro de Recursos de Corunha.

Argumento: Similar ao anterior, dando ideias de como organizar as bibliotecas escolares e estratégias para dinamizá-las e para motivar os estudantes para o seu uso e para a leitura continuada de livros, não só de estudo, como também como leitura recreativa e de passatempo nos tempos de lazer.

 

 

IDEIAS BÁSICAS PARA DINAMIZAR UMA BIBLIOTECA ESCOLAR:

Dinamizar uma biblioteca é dar-lhe vida, torná-la movimentada e num espaço de aprendizagem.
Ao dinamizar uma biblioteca, devemos delinear os seguintes objetivos gerais:

  • Sensibilizar os alunos para a utilização da biblioteca.
  • Fazer sentir aos alunos a importância da utilização do livro como processo de recrear ou como fonte de informação.
  • Equacionar o livro em relação a outras formas de expressão.
  • Coordenar atividades da biblioteca com objetivos e conteúdos programáticos.
  • Planear as atividades a realizar na biblioteca.
  • Trazer os pais à escola, assim como a restante comunidade envolvente.
  • Transformar a biblioteca num espaço de lazer e cultura.
  • A biblioteca deve fazer parte do Projeto Curricular de Aula ou turma.

Definidos os objetivos, o professor deverá apostar num conjunto de materiais pedagógicos e atividades que, para além de contribuírem para dinamizar a biblioteca, ou seja, torná-la viva, contribuam também para a incluir na rota diária das aprendizagens e ainda para criar nos alunos o gosto pela leitura, escrita, pesquisa, seleção e organização da informação para a transformar em conhecimento mobilizável, realização de atividades de forma autónoma, responsável e criativa, e cooperar com outros em tarefas e projetos comuns. Assim, seguindo esta linha de raciocínio, os materiais abaixo indicamos uns bons auxiliares no alcance dos objetivos anteriormente mencionados:

Ficha de Leitura:
É uma ficha que obriga o aluno a explorar o livro, para a poder realizar. Esta deve conter o nome do livro, do autor, da editora, um espaço para um pequeno resumo da obra, etc. Podemos ainda acrescentar informação, consoante o nível etário das crianças.

Casinha das Histórias:
É uma fábrica de histórias, constituída por uma série de janelas, cada uma com doze propostas com os “ingredientes” indispensáveis à construção de uma história: uma fórmula para começar, o espaço onde se passa a história, o tempo em que as cousas acontecem, as personagens (boas e más), a missão a cumprir, os que atrapalham o herói, os que ajudam o herói, provas a vencer, “a magia” para vencer os obstáculos e o final da história. Poderá ainda estar acompanhado do Bilhete de Identidade da História. Este material auxiliar ajudará a criança a organizar a história de acordo com a sua sequência de escrita. Possibilitará também aos alunos a elaboração de inúmeras histórias e a sua comparação com as outras, ajudando-os também a aperceberem-se e a irem interiorizando a sequência organizacional que a escrita de uma história implica. Poderá ser usado nas diferentes modalidades de trabalho (individual, a pares, em pequeno ou em grande grupo).

Salada de Histórias:
É um saco onde estão diversas figuras (a cores) de personagens de histórias (uns conhecidos, outros não), de onde os alunos podem tirar uma personagem ou mais (o número de personagens a retirar por cada aluno pode ser definido consoante o número de crianças que participam na atividade) e inventarem uma história (escrita ou oral) onde entrem essas mesmas personagens. Esta atividade pode também ser realizada individualmente, a pares, em pequenos grupos ou em grande grupo.

Tiras das Histórias:
É uma caixa onde estão várias tiras com bocados de diversas histórias (umas conhecidas e outras não), em que os alunos vão tirando tiras e escrevendo a sua história. Estas tiras podem ser tiradas aleatoriamente ou então o aluno deverá retirar as tiras que correspondam à história transcrita na primeira tira que tirou. Este material poderá ser ainda útil para realizar jogos de ordenação com os alunos (cada criança retira uma tira, lê-a e procura os colegas que têm as restantes tiras que pertencem à mesma história que a dela; no final depois de todas as crianças/tiras estarem reunidas, as tiras devem ser organizadas sequencialmente e cada grupo apresentar a sua história aos restantes elementos da aula ou da turma; para apresentarem a história, além de a ler, os alunos podem recorrer à dramatização ou apresentação de fantoches. Para as crianças mais pequenas, as tiras devem estar organizadas por cores e conter pequenas frases sobre a história, de forma a facilitar a atividade e de a adequar à faixa etária dos alunos.

A Caixa Mágica:
É uma caixa que contém diversos objetos que incentivam a criatividade e conduzem à magia. São objetos que entram nas histórias tais como: chave velha, brinquedos, coroa, baú, anel, mapas, entre outros. Na caixa mágica está um cartão que contém as palavrinhas mágicas que os alunos terão que pronunciar antes de colocarem a mão na manga da caixa e retirar o seu objeto, pois só assim, se poderão “transformar” no objeto que tiraram da caixa e escrever a sua história como se fossem aquele mesmo objeto. Este material poderá ser aplicado a qualquer modalidade de trabalho, pois o professor também pode elaborar uma história coletiva com ela (cada aluno retira um objeto, “transforma-se” nele e conta um pedaço da história, um outro colega retira outro objeto e continua a contar a mesma história, acrescentando-lhe uma nova personagem ao seu próprio objeto, e assim sucessivamente, de forma a participarem todas as crianças da aula).

Ficheiro de Leitura das Histórias:
É uma caixa com cartões que servem para brincar com as histórias, ou seja, os cartões têm atividades curtas que obrigam o aluno a interagir com as histórias que leu; servem ainda para testar a compreensão que o aluno obteve da história. Apresenta propostas do tipo: preencher lacunas da história, acrescentar novas personagens e novos enredos à história, identificar o tempo e/ou o espaço onde a mesma se desenvolve, identificar as personagens principais e/ou secundárias, entre outras.

Ficheiro de Escrita Criativa:
Pode encontrar-se organizado num dossiê e apresenta diversas propostas que apelam à imaginação da criança, ou seja são dadas algumas pistas (inícios, meios o finais de histórias), a partir das quais os alunos terão que escrever o resto da história. Uma magnífica alternativa foi oferecida no seu momento pelo italiano Gianni Rodari. O seu livro Gramática da fantasia é uma verdadeira delícia.

Luvas Mágicas:
É um par de luvas que se apresenta como um convite à exploração da imaginação dos alunos, serve também para trabalhar a estrutura narrativa. O aluno calça as luvas, escolhe aleatoriamente um dedo e terá que construir uma história a partir daquilo que está escrito no dedo que escolheu.

 

TEMAS PARA DEBATER, REFLETIR E REALIZAR:

Utilizando a técnica de dinâmica de grupos do “Cinema-fórum” debater, depois de ver estes documentários, os diferentes aspetos dos mesmos e as propostas que os narradores vão dando para a organização e dinamização das bibliotecas escolares.

Organizar em todos os estabelecimentos de ensino dos diferentes níveis educativos, um Clube de Conta-Contos. No mesmo, ademais de aprender docentes e alunos as técnicas mais adequadas para contar contos, deveria desenhar-se um programa anual, em que teriam que incluir-se os contos clássicos da literatura universal, os contos populares galegos, os contos de Miguel Torga e de Manuel Maria e, claro está, os formosos contos de Robindronath Tagore, que escreveu mais de quinhentos. Existem edições dos mesmos em Portugal e no Brasil. Entre eles destaca a tradução realizada a partir do bengali por Telo de Mascarenhas dos contos Mashi e A chave do enigma e outros contos. No Brasil editaram-se As pedras famintas e outros contos, O casamento, Mashi e A irmã maior.

Outra atividade que se pode realizar nos estabelecimentos de ensino, além de teatro escolar, teatro de fantoches e teatro lido, é um Livro-fórum. Todos, estudantes e docentes, teriam antes que pôr-se de acordo para a escolha do correspondente livro a ler por todos. Entre os que eu proponho estaria em primeiro lugar o já mencionado anteriormente Gramática da Fantasia, escrito por Gianni Rodari em 1974.

 

 


 

(*) Didata e pedagogo tagoreano

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