Caro Henrique,
Que melhor ano que este de Carvalho Calero para trocar publicamente certas ideias sobre questões que a este autor preocupavam tanto? Fagamo-lo, se queres, a partir do artigo Horizontes para o idioma galego que tu mesmo escreveste para a revista Grial em 2013. Penso que na altura passou despercebido, injustamente, cabe dizer, porque nele se encontram bem apresentados os dilemas que o movimento normalizador no seu conjunto vai ter que encarar nos próximos anos.
Entre outras cousas, explicavas que o reintegracionismo, alinhado nos argumentos utilitários do idioma, viria ganhar relevância na Nova Ordem Global, ajudado polo discurso da “liberdade lingüística” frente ao da “normalización lingüística” e num momento em que o conjunto dos países lusófonos também estariam a desenvolver respostas adaptativas à mundializaçom (CPLP, Acordo Ortográfico de 1990). Por outro lado, consideravas (acho que ainda consideras) que quer o reintegracionismo quer o galeguismo (polas tuas palavras) se encontravam num ponto de madurez que permitiria diálogos proveitosos. Assim, o reintegracionismo teria deixado de sonhar com mudanças revolucionárias, virando-se para estratégias mais graduais, enquanto o galeguismo começaria a contemplar no português um aliado para salvar o galego da iminente desfeita perante a capacidade fagocitadora do castelhano. Para finalizar, falavas de alguns esforços a realizar. Permite-me resumi-los em três e mostrar-lhes desde já o meu sincero apoio: (1) Incrementar a nossa competência em português; (2) Aproveitar o português no plano teminológico e estilístico; (3) Intensificar o contacto com a Lusofonia, procurando o reconhecimento do galego nos países de língua portuguesa.
Falavas de alguns esforços a realizar, permite-me resumi-los em três e mostrar-lhes desde já o meu sincero apoio: (1) Incrementar a nossa competência em português; (2) Aproveitar o português no plano teminológico e estilístico; (3) Intensificar o contacto com a Lusofonia, procurando o reconhecimento do galego nos países de língua portuguesa.
Porém, existe o risco de estes esforços ficarem no plano retórico, sem darem lugar a medidas eficazes para os objetivos que perseguem. Por isso, passados sete anos, penso que faríamos bem em revê-los à luz de umha proposta surgida entretanto: o binormativismo. Segundo esta ideia, como sabes, o português escrito (com mais ou menos traços galegos), para além de poder ser conhecido, também deveria poder ser usado na Galiza por quem assim o entender.
E é que, se a única via para o incremento da nossa competência em português fosse a presença (seguramente parcial e instável) desta língua como estrangeira no ensino, ela iria repercutir pouco na saúde do galego. Melhor que nada, em qualquer caso, mas a experiência no ensino de idiomas mostra-nos como a melhor forma de se adquirirem competências linguísticas é dando autonomia às pessoas para exercitarem o seu uso social.
O mesmo se pode dizer quanto ao aproveitamento do português para reforçar o galego no plano estilístico. Se queremos que o uso do português exerça influência, ponhamos por caso, no restabelecimento do infinitivo conjugado ou da ênclise do pronome, o modelo português deve ser algo mais que mero conhecimento passivo adquirido nas aulas: deve poder conviver na sociedade por iniciativa das pessoas que, ao lado do nosso galego local, o quiserem usar, acedendo a input e ferramentas linguísticas do português quando as virem necessárias.
Finalmente, observando a nossa e outras línguas multinacionais, penso que a melhor forma de intensificar o relacionamento natural entre populações e instituições é diluir no possível as fronteiras linguísticas entre elas. O binormativismo também pode ser de grande ajuda nisto, para além de que desafogaria essa parte do galeguismo que, com enorme esforço, já nunca parara de promover iniciativas de grande interesse para o futuro de um galego conectado com a Lusofonia (Lei Paz Andrade, escolas Semente, etc.).
Haverá quem, desconfiadamente, pense que isto vai “servir de escusa para apuxar o galego cara a súa disolución”, mas eu creio que esta política linguística estaria longe de impedir o desenvolvimento do galego como língua independente para quem a continuasse a cultivar como tal. E digo mais: reforçaria a sua independência frente ao castelhano e facilitaria o reconhecimento do próprio galego académico como variante lusófona, ao lado do português, no âmbito da nossa Galiza. Como o vês tu?
Haverá quem, desconfiadamente, pense que isto vai “servir de escusa para apuxar o galego cara a súa disolución”, mas eu creio que esta política linguística estaria longe de impedir o desenvolvimento do galego como língua independente para quem a continuasse a cultivar como tal. E digo mais: reforçaria a sua independência frente ao castelhano e facilitaria o reconhecimento do próprio galego académico como variante lusófona, ao lado do português, no âmbito da nossa Galiza. Como o vês tu?
Abraços galeguistas e fraternos!
[Este artigo foi publicado originariamente em Nós Diario ]