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Caleidoscópicas: «Contamos a partir da consciência do que somos e donde vimos, ‘temos os pés metidos na lama’»

Capa da revista | Foto: Adriana P. Villanueva
Capa da revista | Foto: Adriana P. Villanueva

Em 28 de novembro passado foi apresentado na galeria Photo Art de Ourense, no Outono Fotográfico, o Caderno de Fotografia n.º 1 da Caleidoscópica. Charo Lopes, Miguel Auria, Silvia Mella, Pilar Abades, Xiana Quintas, Ana Parada e Sabela Iglesias, formados no mundo do jornalismo e da imagem, som as pessoas responsáveis pola proposta.

Esta publicação de fotografia na rede reúne 200 páginas de imagens e reflexões. Conta com trabalhos da equipa promotora, bem como colaborações de Vítor Vaqueiro, que assina um texto sobre fotografia e paisagem, e Inés Salvado.

Para além de reportagens fotográficas, no número pode-se ler também uma entrevista a Delfín Blanco e curiosidades como as fotos descartadas de diferentes trabalhos que se apresentam.

A Revista, que pretende ser anual, aposta com toda a naturalidade no Acordo Ortográfico.

Quem sois? Que procurais? Que quer ser a Caleidoscópica?

As caleidoscópicas somos Charo Lopes, Miguel Auria, Silvia Mella, Pilar Abades, Xiana Quintas, Ana Parada e Sabela Iglesias, todas dispersas polo País adiante! Somos um caleidoscópio, isto é, gente diversa, com focagens diferentes à hora de entendermos a fotografia mas com uns mínimos comuns. Entre todas giramos com sintonia e criamos esta publicação online aprendendo sempre umas das outras. A publicação tem vários pilares: de um lado, a arte, entendida como aquela capacidade criativa de transformar; do outro, o jornalismo, um jornalismo crítico, de ritmos pausados e que dê acolhimento àqueles temas à espera de saírem das margens. Ainda, o pilar mais grosso e prioritário: o próprio meio fotográfico, através do qual expressamos as nossas inquedanças, críticas e pontos de vista e que nos liberta e acalma neste mundo inçado de imagens perversas.

Como chegastes a embarcar-vos neste projeto?

Foto: Adriana P. Villanueva
Foto: Adriana P. Villanueva

Pois o projeto já andava rondando na cabeça a três estudantes da Escola Antonio Faílde de Ourense, alô polo 2012. A necessidade de fazer o grupo mais amplo e juntar mais forças fez com que finalmente sejamos sete pessoas no conselho editorial. A ideia primeira era refletir sobre o meio, sobre a importância da fotografia, a imagem e os imaginários… Recuperar textos, autoras, projetos, compartir no grupo todas as inquedanças e propormo-nos desafios fotográficos tanto individuais quanto em conjunto. Digamos que a revista é o tangível (ainda sendo online) de todos os objetivos que tínhamos como grupo. Outro dos trabalhos fundamentais é a pesquisa e visibilização de trabalhos fotográficos que se estão a fazer aqui para pô-los sobre a nossa mesa e dar com possíveis colaborações. É muito importante para a Caleidoscópica contar a partir da consciência do que somos e donde vimos; como diz o nosso primeiro editorial, «temos os pés metidos na lama», e é daí donde estamos legitimadas para disparar com a câmara. Está muito presente, e ainda mais no primeiro número, o olhar reflexivo cara à nossa própria representação fotográfica como povo e como indivíduos dentro dele.

Que formação, atividade profissional, interesses, contexto sociofamiliar, percurso, expetativas tendes e como se vinculam a um projeto que inclui também dosses de ativismo linguístico?

Todas nós nascemos no rural galego e criámo-nos nele: Boiro, Janceda, Lamela, Porrinho, Neves, Ginzo… As nossas atividades profissionais, para além de difusas, às vezes condicionadas e quase sempre incertas, abrangem campos muito diferentes: a música, o audiovisual, o prelo, a economia, a hotelaria, a fotografia, o artesanato… Todas temos formação académica no meio fotográfico ou ligado dalgum modo à imagem e a nossa expectativa com esta publicação é acolher no âmbito cultural o trabalho fotográfico que se está a fazer na atualidade, bem como gerar conteúdos divulgativos e criativos que permitam ampliar a nossa cultura fotográfica e a dos nossos leitores e leitoras.

A respeito da língua, era sabido do começo que os nossos mínimos compartidos eram que a revista tinha que ser em galego. Realmente, entendíamos que não podia ser doutra maneira. Falamos entre nós nalguma ocasião de que por vezes semelha que há que se justificar por escolhas que não deveríamos ter que andar a mastigar para que se compreendam. Nós preferimos dá-lo por assente e naturalizá-lo, normalizá-lo. Pensamos também em dar-nos em chamar Caderno Galego de Fotografia. Mas «por que redundar? Como não há de ser galego?», preguntávamo-nos. Seria estupendo um dia não termos a necessidade de nos justificarmos e andarmo-nos a resituar constantemente.

Qual o panorama da fotografia na Galiza?

A desenhadora da revista, Ana PArada, fazendo o troquelado manual da capa
A desenhadora da revista, Ana PArada, fazendo o troquelado manual da capa

Achamos que a nível galego não existem suficientes espaços em que a fotografia como expressão transformadora seja a protagonista. E isso sucede a vários níveis, não só criativo; também não existem espaços de referência para conhecermos a história da nossa fotografia, não há espaço para a conservação e o arquivamento da mesma e às vezes dá-nos a impressão de que não é um meio que esteja presente como deveria nos espaços culturais, onde outras disciplinas dispõem de maior reconhecimento e difusão. Neste sentido, nós queríamos, dentro das nossas possibilidades, criar esse lugar para expressar-nos, para visibilizar, esse espaço em que divagar, debater e partilhar…

Falai-nos deste primeiro número; a sua abordagem, objetivos, recepção, público-alvo…?

O eixo que estrutura o número 1 é «Identidade de Terra». Aí fazemos um exercício de nos afirmarmos e nos conhecermos. Considerávamos que era inevitável não começar por aí. Neste número contamos com duas colaborações: Vítor Vaqueiro, que nos achegou o artigo «Paisagem e Fotografia», e Inés Salvado Gontad, com a série «Retrato de uma Mulher Viva. Olhei para dentro dela e descobri a essência». Também podeis encontrar uma entrevista bem interessante ao escultor Delfin Blanco e outros trabalhos e reflexões arredor do retrato e a representação, a experimentação, o álbum familiar, as fronteiras ou o amor romântico.

A acolhida no dia do lançamento foi ótima. A verdade é que a difusão que está a ter nos surpreendeu gratamente. Tivemos oportunidade de apresentá-la no Outono Fotográfico de Ourense e as reações foram muito positivas. Até houve interesse pola edição impressa! Gostamos de poder achegar temas em que transversalmente esteja a fotografia, pois é o meio, mas nos quais não necessariamente seja sempre o eixo temático.

Podeis-nos esclarecer acerca de perguntas, hesitações e respostas; estratégias para a língua no vosso espaço artístico e profissional?

Achamos que a melhor estratégia para a língua a partir do nosso terreno, a criação e o espaço artístico, é usá-la, gerar conteúdos e normalizar que isso suceda assim, sempre desde uma atitude consciente, orgulhosa e não vitimista. De uma forma mais transversal, parece-nos imprescindível conhecer a nossa origem e isso passa por entendermo-nos como povo, conhecer a fundo a situação sociolinguística e criar a partir daí.

A aposta no Acordo Ortográfico. Por que é que se resolveu adotá-lo?

Parte do trabalho de Inés Salvado Gontad, que colabora neste primeiro número da revista
Parte do trabalho de Inés Salvado Gontad, que colabora neste primeiro número da revista

Entendemos que a normativa é como um batismo: vem dada e ninguém cho consulta ao nasceres. Dentro da equipa de trabalho, o ponto em que estava cada pessoa a nível individual a respeito deste tema era mui diverso: pessoas já reintegracionistas desde há tempo, outras em transição mas que continuam a escrever em ILG-RAG, outras com dúvidas… Ainda assim, todas compartimos a ideia de pertencermos à família da Lusofonia, todas estamos afeitas e sensibilizadas com as normas que se afastam da hegemónica, a qual sem dúvida questionamos por derivar de uma história injusta. Tivemos a ajuda para a revisão ortográfica do tradutor André Taboada, a quem pedimos respeitar e manter certa fidelidade a respeito da genuinamente nossa, da Galiza. Também tentamos ver isto como um modo de abrir portas a lugares que a cultura galega por vezes ignora: Portugal, tão presente na própria temática da revista, tão perto… Mas nem só. Está bem também visibilizar o processo grupal a este respeito, pois deu-se com total naturalidade, foi mais uma escolha que nos permitirá aprender e concluirmos processos.

Como gostaríeis que fosse a «fotografia linguística» da Galiza em 2030?

Uma fotografia com um bom enquadramento, com foco onde deve, nítida, sem ruído, em grande formato e em galego.

Sois uma revista digital. Onde se vos encontra, na rede?

Em www.caleidoscopica.gal encontrareis a revista, com possibilidade de descarregamento, e também tendes informação mais ampliada sobre quem estamos trás este caderno de fotografia. Também podeis seguir-nos a pista em redes sociais como Linkedin, Facebook ou Instagram. Nos próximos meses temos previstas várias apresentações públicas do caderno, eventos que iremos dando a conhecer través destes meios, polo que também nos podeis encontrar em pessoa!

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