Benjamin Otero Ferro nasceu em 1934 na aldeia de Nemenzo, em Santiago de Compostela. Aos 17 anos emigrou ao Brasil. E agora, aos 90 anos, vem de publicar o romance “Barnabé. O pequeno e sofrido imigrante”, umha obra autobiográfica escrita em 1995, em Santos, inédita até hoje. Hoje, Benjamin continua a morar no Brasil e regressa a Nemenzo nos verãos.
O livro foi publicado por iniciativa da vizinhança de Nemenzo, inaugurando umha coleçom, “Livros de Nemenzo”, e lançara-se o próximo 21 de julho no local social da aldeia. Neste romance, Benjamin apresenta uma narração da sua vida entre a Galiza e o Brasil. Benjamin, como um Balbino de Xosé Neira Vilas nas “Memorias dun neno labrego”, protagoniza a história da sua vida, com humor, amor, amizade, valores, conflitos e aventuras…
Que sente ao ver publicado o seu livro aos 90 anos?
Eu nom esperava isso. Eu escrevi o relato no 1995. Trougem algumha cópia macanografiada para aqui, para Nemenzo, e repartim algumha entre a familia e a vizinhança. E este ano organizarom-se e editarom o livro. Para mim foi umha surpresa.
O livro intitula-se “Barnabé, O pequeno e sofrido emigrante”. A emigraçom é um tema central no livro?
Sim, o livro é umha autobiografia. Realmente naquela época, nos 50, eram milhares e milhares as pessoas que iam para o Brasil… Da Corunha, Ponte Vedra, Ourense, de toda a parte, porque saiamos dumha época difícil, a posguerra de duas guerras, a Civil e a Segunda Guerra Mundial… Eu criei-me entre as duas guerras porque eu nasci no 34. A minha infância foi todo tempo de guerra. E acordo-me de que quando acabou a guerra, eu tinha doce anos anos, que fum com o meu amigo Alejandro repinicar a campá à igreja e rompemos a campá… Foi umha época mui difícil para todos. Porque a única maneira que eu encontrei de prosperar quando era jovem era sair, aqui nom havia perspetiva de nada. Passou-se umha época mui má. Eu, primeiramente, queria ir para a Argentina porque minha mae tinha ali quatro irmaos. Mas acabei indo para o Brasil porque no 49 veu um tio meu por parte de pai que vivia em Santos e quando regresou lá, eu, que tinha 15 ou 16 anos, enviei-lhe umha carta pedindo-lhe ajuda para ir para lá.
Como se adaptou no Brasil?
Adaptei-me rapidamente. Se bem os costumes som diferentes. A respeito da língua, o galego ajudou-me a adaptar-me rapidamente, ainda que houvo situaçons engraçadas causadas por malentendidos e expresons que eu nom conhecia ao princípio, quando recém chegado. No livro falo dessas cousas. Ajudou-me muito o meu gosto polos livros e por estudar.
Na época, era habitual que as pessoas emigrantes estudassem?
Nom. Nom havia muito tempo. Nom conheço a ninguém mais que estudasse, entre o meu círculo de conhecidos. Eu aqui, na Galiza, sempre gostei de estudar. Gostava de criança e de adolescente também ia à escola de noite. Sempre gostei. No Brasil, eu entrei no seminário e estudei muito. Ainda que nom tinha vocaçom para ser padre e saim do seminário. Mas depois eu continuei a estudar: contabilidade, que me ajudou nalgum dos meus trabalhos, organizaçom social…, mas nunca com ideia de trabalhar naquilo. Estudava porque gostava de estudar. Depois figem cursos de inglés, de enfermagem, porque eu sempre gostei da medicina, mas nunca para trabalhar nisso. Eu trabalhava quando tinha a gasolineira. Trabalhava desde as cinco da manhá até as seis da tarde, trabalhava dez, doze horas, e depois ia estudar. E eu pagava por estudar, numha escola especializada, tipo de universidade, e estudei quatro anos, de noite, sempre de noite, e a trabalhar de dia. Mas a gente trabalhava muito. Quando tinha a padaria, durante cinco anos nom durmim umha noite na casa. Trabalhava 15 ou 16 horas. Faziamos 10.000 ou 12.000 chuscos de pam cada dia… Mas estudar valeu-me muito. Valeu-me tanto a contabilidade como os estudos da saúde. Vale-me até hoje. Sempre estou rodeado de livros.
A gente de Nemenzo, da Galiza, quando leia o livro, o que vai pensar?
Que pensem o que queiram, cada um vai pensar de forma diferente. O resumo do livro para ti pode parecer umha cousa e para mim outra. Estes dias todo o mundo está a me pedir: Eu quero esse livro! E perguntam: Vai lançar o livro? Sim vamos lançar! Pois eu quero um! A gente vai conhecer cousas que nom sabia. Muitas… A vida naquele tempo era mui diferente. A gente mais jovem nom conhece aquela época. As razons polas que eu e outros quigemos marchar… A adaptaçom lá… Para os mais novos vai ser umha novidade. É natural. Agora, o que um pensa e o que outro pensa vai ser diferente. Eu gosto de andar descalço, sentir a terra, a areia, mas nom todo o mundo gosta.
E a gente que leia o livro em Santos?
Todo o mundo vai ficar um pouco admirado porque eu nom o escrevim para publicar. Mas claro que lhes vai chamar muito a atençom. Vam ficar um pouco surpresos.
O livro de Benjamin Otero Ferro é umha iniciativa dumha parte da vizinhanza da aldeia de Nemenzo que abrem com esta obra umha coleçom, “Livros de Nemenzo”, e explicam: “Temos sorte de poder ler a história dum dos milhons de galegos emigrados na diáspora do nosso povo. É uma história cheia de realidade, um documento que ajuda a construir a grande crónica da emigração. Ademais, temos sorte pois podemos ler este romance na nossa língua, em galego internacional, em galego-português. Esta história originalmente escrita em português já forma parte do património cultural de Nemenzo e da Galiza.”