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“Autodeterminação funcional. Poder e instituições aquém do Estado”, último número da revista Clara Corbelhe

Neste quarto número da revista Clara Corbelhe, intitulado «Autodeterminação funcional. Poder e instituições aquém do Estado», o coletivo aprofunda na hipótese de Ramón Obella no período de pré-guerra ao redor do conceito de autodeterminação funcional.

“As propostas, projetos, coletivos, experiências… que projetamos incluir nela durante a planificação inicial do número foram enormemente variadas, o que indicia as potencialidades por explorar do conceito.” sinala o coletivo, que lança com este o quarto número da revista monográfica. “Mas também mostra que o que aqui apresentamos finalmente constitui em ato apenas uma pequena fração dessas potências.”, esclarecem.

Em lugar de oferecer uma proposta técnica fechada e dirigida, o conselho editorial optou por contactar pessoas de âmbitos intelectuais e tradições políticas muito diversas e solicitar-lhes que se achegassem ao núcleo teórico da autodeterminação funcional a partir das suas próprias experiências militantes e interesses investigadores.

Os numeros anteriores foram:

Quem é Clara Corbelhe?

Na sua investigação sobre a sociedade labrega da Terra Chá entre os séculos XVIII e XX, o historiador José María Cardesín tem descrito em repetidas ocasiões um singular grupo social: as «caseteiras». As caseteiras eram mulheres que, por terem tido crianças fora do matrimónio, não chegavam nunca a se integrar na instituição da família patriarcal, formando grupos residenciais e (re-)produtivos independentes. População flutuante, pobres de solenidade, as caseteiras sabiam instrumentalizar a sua condição de mães solteiras para viver de jeito autónomo. Os seus corpos e trabalho eram, no entanto, parte do troco comunitário.

Filha de caseiros, Clara Corbelhe tinha trinta e cinco anos quando confrontou o homem que a deixou prenhe, pedindo em juízo oral, que «le reconozca una hija que de él tubo». Perdeu. Ganhou. E começou assim a sua vida como caseteira. Sem terras de seu, estas mulheres aproveitavam os montes comunais para o pastoreio e o tojo, ou recolhendo a palha triga que deixavam as casas familiares após a sega. Parindo crianças não reconhecidas por homem nenhum, fundavam casais bastardos, espaços de promiscuidade e autonomia. Como afirmou um idoso de Sam Martinho de Castro de Rei que ainda as lembrava nos anos oitenta, quando José María Cardesín levou a cabo a sua investigação doutoral: «Havia muito trabalho para elas».

O Espaço Clara Corbelhe nasceu para reimaginar o trabalho das caseteiras. À procura dum espaço dissonante, heterogêneo e inconciliável. Uma agência para a reapropriação dos saberes, das práticas e das formas de relacionamento e existência popular, na procura dum instrumento para a interpelação, a escuita e a aprendizagem. Para ampliar o possível e o pensável na crítica emancipadora galega, sobre e desde a prática social, abrolha esta morada.

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