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Aprender a ler é vital na China, segundo o filme ‘Um Lindo Pé’

Aula na China
Aula na China

Tal como indiquei no capítulo anterior da série de “As Aulas no Cinema”, cada 8 de setembro celebra-se no mundo o “Dia Internacional da Alfabetização”. Depois de falar de Cuba como modelo de país que desde os anos sessenta erradicou quase por completo o analfabetismo de seus cidadãos, esta vez quero falar da China e da sua luta a favor da alfabetização do povo chinês, apoiando-me num interessante filme, no qual as suas protagonistas são duas mestras, formadas em diferentes ambientes, uma na aldeia e outra na cidade. O filme foi realizado em 2002 pelo realizador chinês Yang Yazhou, sob o título de “Um lindo pé”, com o que é conhecido no mundo lusófono, embora também fosse intitulado como “Belos pés grandes” ou “Grandes pés bonitos”. E no âmbito anglo-saxónico como “Para as crianças” (“For the Children”).

A taxa de analfabetismo na China está a descer a uma média de dous milhões por ano desde 2000, sendo a alfabetização das mulheres, agricultores e minorias étnicas o maior desafio para o governo chinês, tal como se deu a conhecer na imprensa estatal do grande país asiático. Desde o início da década de 90, a China retirou 46,5 milhões de pessoas da condição de analfabetos, de acordo com dados apresentados pelo conselheiro de Estado Chen Zhili, durante uma conferência sobre educação, em Pequim. “A luta contra o analfabetismo na China fez-se através da promoção da política educativa dos nove anos mínimos de escolaridade, particularmente nas zonas rurais, onde vive 90 por cento da população analfabeta do país”, afirmou Chen, citado pelo jornal China Daily. O governo comunista tem como objetivo reduzir a taxa de analfabetismo nos adultos para os 40 milhões de pessoas em 2015, e para isso aposta em ações para educar as mulheres, as minorias étnicas e os trabalhadores migrantes, informou no seu dia o Ministério da Educação chinês em conferência de imprensa. Já em 2005, Pequim gastou mais de 356 mil milhões de renminbi (34,4 mil milhões de euros) na implementação do sistema de educação obrigatória até ao nono ano, um acréscimo de 106 por cento em relação ao ano anterior. No seu momento o diretor da UNESCO, Mark Richmond, elogiou o “forte compromisso e as medidas inovadoras” que levaram a China a “liderar a luta contra o analfabetismo”. “O modelo da China, assente nos esforços do governo, é muito interessante para as regiões onde a maior parte das melhorias na área da educação foram feitas a um nível mais básico”, disse Richmond no decorrer da mesma conferência na capital chinesa. De acordo com as últimas estatísticas oficiais, em 2000 a China tinha mais de 80 milhões de analfabetos com mais de 15 anos, 72 por cento dos quais eram mulheres. O censo de 2000 revelou ainda que a taxa de analfabetismo em idade adulta na China era de 9,08 por cento, enquanto a nível mundial se situava nos 20,3 por cento. Tema em que algo teve a ver a revolução cultural, apesar dos problemas que também criou e que acabou como acabou. Em todo o mundo há 774 milhões de adultos que não sabem ler nem escrever (dous terços são mulheres), e 74 milhões de crianças em idade escolar não estão a estudar, revelam os últimos dados da UNESCO. Na China é considerado letrado alguém que consiga ler e escrever 1500 caracteres, enquanto uma pessoa licenciada deve conhecer entre sete mil e dez mil caracteres. No início do século XX, uma grande percentagem da população chinesa era analfabeta, mas a simplificação dos caracteres e as campanhas de alfabetização lançadas pelo regime comunista levaram a China a atingir em 2000 uma taxa de alfabetização de 90 por cento, segundo dados das Nações Unidas.

A alfabetização na China aumentou nos últimos anos, mas ainda é baixa entre as mulheres, a população rural e as minorias étnicas, segundo informou no seu momento o jornal estatal “China Daily”. Naquela altura o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Koichiro Matsuura, qualificou o programa de alfabetização na China de “exemplo” para outros países em vias de desenvolvimento. Matsuura falou durante a Conferência Regional de Apoio à Alfabetização Global, que se celebrara em Pequim. A conselheira de Estado chinesa Chen Zhili declarou que “desde o ano 2000, o número de analfabetos desce 2 milhões por ano” no país. Apesar da melhoria, ainda há na China 80 milhões de analfabetos acima dos 15 anos. Eles são 9,08% da população, e 72,7% dos analfabetos são mulheres, segundo os dados do Censo Nacional de 2005. Chen declarou que a China promove uma política de educação obrigatória, especialmente nas zonas rurais, onde vivem 90% dos analfabetos do país.

Matsuura disse que há 774 milhões de adultos analfabetos no mundo todo. Dous terços são mulheres.

Na região do leste e Sudeste Asiático, a alfabetização atinge 91,7% da população, e 70,4% dos analfabetos são mulheres. E este é um grande problema, que também acontece em esse outro grande país que é a Índia.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

  • Título original: Meili de dajiao (Pretty Big Feet / For the Children / Um lindo pé / Grandes pés bonitos).
  • Diretor: Yang Yazhou (China, 2002, 103 min., colorido, V.O. em chinês mandarim com legendas em português).
  • Roteiro: LiWei. Fotografia: Wang Xiaoming. Música: Zhao Jiping.
  • Produtores: Yan Yiyun e Yiping Cui. Produtoras: Xi´an Film Studio e China TV Media Ltd.
  • Atores: NiPing (Zhang Meili), Yuan Quan (Xia Yu), Sun Haiying (Shu Wang), Xu Yajun (Zhipeng Liu), Ge Zhijun (Mianfen Zhao), Yang Jiahe (Dahe Wabg) e Wang Xiaoming.
  • Prêmio: “Galo de Ouro” ao melhor filme e ao melhor diretor em 2002.
  • Argumento: O filme conta a história de Zhang Meili, uma professora simples, autodidata, moradora de uma remota montanha no noroeste da China, que desdenha de si mesma por causa dos seus pés, enormes para os padrões de beleza de lá, mesmo nos dias de hoje. A personagem foge do estereótipo da chinesa submissa não somente pelo tamanho dos pés, mas também porque mostra determinação em mudar o destino miserável das crianças de sua aldeia. E, embora o costume de enfaixar os pés para atrofiá-los esteja em desuso no Oriente, há vasta literatura sobre o tema, que continua despertando interesse. Os pés, de uma forma geral, são muito valorizados pela cultura oriental. Seu tamanho determinava classes e castas. Técnicas ancestrais como as massagens terapêuticas e o “do-in” têm por base a estimulação dos meridianos de energia nos pés. Na literatura erótica chinesa, há relatos de homens acariciando pés atrofiados. E no filme “Lanternas vermelhas”, a protagonista, casada com um aristocrata poligâmico nos anos 1920, sabe usar os pés para atrair a atenção do marido. A protagonista do filme é uma mulher comum que vive numa aldeia afastada. Por ter pés grandes, ela considera-se uma pessoa que não poderá ter realização nenhuma, porque pés pequenos eram um dos critérios da beleza das mulheres de acordo com os conceitos tradicionais. Depois que o seu marido foi executado por cometer um grave crime por ignorância da lei por ser analfabeto, ela criou uma escola para que as crianças da aldeia tivessem a oportunidade de receber educação e aprender a ler e escrever. Xia Yu, a professora voluntária de Beijing por um ano veio ajudá-la no seu ensino. Por diferenças culturais, surgirão muitos equívocos entre elas. Mas as duas mestras e as suas crianças vão-se compreendendo, apesar de alguns enfrentamentos, e cuidam-se mutuamente sob umas condições de vida bastante duras. Por desgraça, um acidente de viação tira-lhe a vida a Zhang, mas a vida e o sonho dos pequenos escolares continua.

Pretty Big Feet

UMA ESCOLA CHINESA NA QUAL SE COMPLEMENTAM OS MUNDOS RURAL E URBANO:

O diretor de 'Um Lindo Pé', Yang Yazhou
O diretor de ‘Um Lindo Pé’, Yang Yazhou

A evolução individual e o relacionamento entre as duas mestras Zhang Meili e Xia Yu, as duas personagens principais do filme objeto do nosso comentário, serve como um símbolo da evolução e o relacionamento entre a vida rural e urbana de China. As duas mulheres, e portanto as duas formas de vida, têm cousas em comum, e também contrastes, mas, gradualmente vão compartilhando os mundos de ambas. E experiências unificadoras importantes. O ensino e a escola criada pela primeira terminam por juntar os espíritos de ambas, tão díspares e diferentes num começo, por pertencerem a ambientes muito opostos. À medida que a história que conta o filme avança, faz-se evidente que as duas mestras amigas vão ser grandes companheiras, que terminam por herdar alguns dos traços mais definitórios de cada uma. Alguns pontos em comum mais aparentes incluem as perdas que sofrem estas duas mulheres. Nas primeiras cenas do filme, através de uma série de retalhos artísticos e surpreendentes, fica claro que o esposo de Zhang Meili foi executado muitos anos antes, ao ser condenado à pena de morte. Da mesma maneira, Xia Yu sofre a perda do seu esposo, embora de forma totalmente diferente. Divorcia-se dela, provavelmente por causa, em parte, de amostrar lealdade ao país que vem de descobrir. Ambas partilham também o ter perdido cada uma seu filho único. Zhang o perdeu quando tinha sete anos e Xia, ao saber que está grávida, decide abortar. Mais uma vez, embora os métodos da perda sejam muito diferentes, provocam uma identificação entre ambas, que se veem mais juntas cada vez. A perda em Zhang é mais trágica e fora de seu controlo, e por completo não desejada. Por contra, em Xia, a perda é por falta de controlo, ou ao menos em parte, pois ao divorciar-se de seu marido, a decisão que toma de abortar é plenamente consciente e suficientemente pensada. Isto põe de manifesto as diferenças entre as personalidades das duas mestras, simbolizando também a dicotomia entre o campo e o rural e o mundo urbano da cidade. Zhang representa o mundo rural e Xia o urbano. Curiosamente, ao final do filme intercambiam-se os papéis entre ambas. De repente a do meio rural quer viver na cidade e a que procede da cidade no ambiente do campo. É muito significativo o discurso de Zhang a seus alunos quando lhes diz: “Deveis estudar muito para não terdes que cultivar batatas toda a vida”, e antes de falecer comenta: “Se tivesse uma próxima vida, gostaria de ser uma das pessoas da cidade”. Ao contrário, Xia começa a apreçar o mundo rural, e já não se importa com rodar livremente por um caminho de terra em costa e lixar-se. Pois deu-se conta de que a riqueza ou a limpeza da cidade são valores inferiores aos da tradição e a família do mundo rural. A cena final em que Xia corre e se atira pela ladeira de uma colina grande de terra, igual que o que faziam as crianças da escola ao início do filme, tem uma formosa e grande mensagem: que por fim a mestra Xia aceita de forma renovada a simplicidade da vida do povo que agora, depois de sua experiência docente, reverencia. Justo, quando agora decide atirar-se pela ladeira de terra, amostra metaforicamente que desfruta com a vida rústica, que ao princípio repelia. Também, depois das últimas lindas palavras de Zhang, Xia abandona as suas inibições para desfrutar da vida ao máximo, seguindo a edificante mensagem de sua amiga sobre a beleza das relações humanas e as virtudes da singeleza da vida rural.

O filme retrata muito bem o choque cultural e ideológico entre o mundo rural e o mundo urbano caraterístico da China, representados simbolicamente como comentamos pelas duas mestras. O relacionamento entre ambos os mundos, um profundamente tradicional e o outro mais acorde com os tempos modernos, têm uma difícil coexistência, pelas grandes diferenças culturais e pela incompreensão entre ambos. A mestra que chega da cidade, com a sua roupa, a sua conduta e a sua educação propriamente urbanas, introduz na escola a tecnologia por meio de um computador. Este tipo de tecnologia normalizado nas escolas urbanas é quase inexistente nas aulas da China rural. Ao final ambas mestras terminam por ser grandes amigas, influindo-se mutuamente desde as suas diferentes atitudes, formação e influências ambientais. Xia, a mestra da cidade, termina por admirar a paixão e determinação da mestra rural na educação das crianças da sua escola rural. A cena em que se encontra a docente da aldeia no seu leito de morte é muito comovedora, ao lado da sua amiga da cidade, que agora muito a admira e a anima, comentando-lhe que tinha desenvolvido um grande e modelar labor educativo com as crianças de seu povo. Conseguindo um grande sucesso e sendo uma verdadeira mãe para eles, ademais de os educar e criar neles bons hábitos e atitudes. Finalmente todos se enriquecem: as duas mestras, as crianças, as famílias, o povo e os valores dos dous mundos acabam por se complementarem. Numa realidade, a da China rural, onde ainda há muito por fazer. Com problemas de todo o tipo: ambientais, necessidade de água (o leito seco de um grande rio é exemplar no filme), culturais, costumes ancestrais, atitudes, políticos, sociais, etc. Um país imenso, com uma grande população, com grande corrupção, com uma falta evidente de democracia e que nas décadas próximas pode ser um dos países mais potentes em todo o mundo. Integrado já no grupo dos países emergentes, junto com o Brasil, Índia, África do Sul e Rússia. Que vêm de criar o seu próprio banco, com participação de representantes de todos estes países, no governo do mesmo.

TEMAS PARA REFLETIR E ELABORAR:

Depois de ver este filme, utilizando a técnica de dinâmica de grupos do “cinema-fórum”, debater sobre os aspetos fílmicos do mesmo, o roteiro e a linguagem cinematográfica utilizada pelo diretor, os planos, os movimentos de câmara, os “travellings”, os “flashbacks”, o uso do tempo e do espaço, a montagem e a trilha sonora e outros recursos fílmicos que aparecem na fita. Também sobre a psicologia e as atitudes das diferentes personagens que aparecem no mesmo, especialmente as das duas mestras pertencentes a mundos diferentes, o rural e o urbano.

Elaborar uma monografia sobre a China, consultando livros, atlas, dicionários e a internet. Na mesma devem incluir-se textos redigidos pelos estudantes, fotos, retalhos de imprensa, mapas, centrando-se fundamentalmente em aspetos culturais e educativos, e também históricos, geográficos e de riquezas naturais. Uma secção principal há de ser a do atual estado do sistema educativo chinês. Com todo o reunido pode organizar-se nos estabelecimentos de ensino uma amostra ou exposição. Mesmo os estudantes podem elaborar trabalhos em grupo sobre diferentes temas chineses, seguindo a técnica da biblioteca do trabalho de Freinet. Um tema importante para estes trabalhos seria um estudo da educação na China antiga, em que as escolas davam importância fundamental à música, à poesia e à cerimónia ou “lid”.

Analisar os aspetos negativos e positivos da Revolução cultural chinesa da época de Mao. Com as influências que teve na China de hoje e no seu papel mundial nesta altura. Podem utilizar-se para fazer esta análise técnicas de dinâmica de grupos como: diálogos simultâneos, mesas redondas, “philips 66”, discussões guiadas, foros, entrevistas, etc.

 

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