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ANTÓNIO MACHADO PARA LEMBRAR A SEGUNDA REPÚBLICA

antonio machado

O dia 14 de abril comemora-se o Dia da República no nosso país, que fora proclamada nesta data do ano 1931. Acho que a figura que escolhi desta vez para a série de grandes vultos da humanidade, que iniciei no seu dia com Sócrates, é uma das mais adequada para lembrar esta jornada comemorativa específica. O depoimento, dedicado ao grande poeta António Machado, faz o número 95 da série.

PEQUENA BIOGRAFIA

De longo nome completo, Antonio Cipriano José María y Francisco de Santa Ana Machado Ruiz, conhecido como António Machado, nasceu em Sevilha a 26 de julho de 1875 e faleceu no exílio em Collioure (França) a 22 de fevereiro de 1939. Foi um poeta excelente que pertenceu ao movimento conhecido como “Modernismo”, e foi membro da denominada geração do 98.

Era filho de António Machado Álvarez, demófilo especialista em flamenco, e de Ana Ruiz. Foi viver para a cidade de Valência a partir de novembro de 1936, fugindo de Madrid sob pressão do Governo, que queria assegurar que Machado não sofresse a mesma sorte que Federico Garcia Lorca, fuzilado em agosto desse ano em Granada. Machado e a sua família viveram na Vila Amparo, na localidade de Rocafort , uma imponente moradia construída nos princípios do século XX num estilo inspirado nas vilas italianas do Renascimento. Em abril de 1938 foi convidado “perentoriamente” pelo Governo a mudar-se para Barcelona. Pouco depois partiu para o sul de França, onde faleceu num hotel de Colliure, nos Pirenéus Orientais.

António Machado possui uma obra poética importante para a cultura castelhana. A sua primeira publicação foi Soledades (1903), ampliada com o título Soledades, Galerias e Outros Poemas (1907). Ele abordou temas ligados ao romantismo do século XIX, como a melancolia, a morte e o tempo. A segunda obra foi Campos de Castilla (1912), no qual, contém o poema “Caminante”, considerado um dos mais conhecidos. Na obra, aplicou em seus poemas a tradição popular e o espírito do estoicismo. O livro Nuevas Canciones (1917-1930) é composto por poemas breves com caraterísticas filosóficas e postura crítica. Apesar de ter sido eleito membro da Real Academia Espanhola e ter colaborado com ensaios e artigos para o jornal El Sol, em Madrid, viveu uma vida de grandes privações financeiras.

Realizou os seus estudos na Instituição Livre do Ensino (ILE) e posteriormente completou os seus estudos nos institutos S. Isidro e Cardeal Cisneros. Realizou várias viagens a Paris, onde conheceu Rubén Dario e trabalhou uns meses para a editorial Garnier. Em Madrid participou do mundo literário e teatral, formando parte da companhia teatral de Maria Guerrero e Fernando Diaz de Mendoza. Em 1907 obteve a cadeira de língua francesa do Instituto de Sória. Depois de uma viagem a Paris com uma bolsa da Junta de Ampliação de Estudos para estudar filosofia com Bergson e Bédier, falece a sua mulher – com a que levava casado três anos –  e este facto afetou-o profundamente. Solicitou o traslado para Baeza, onde continuou a lecionar francês entre 1912 e 1919, e posteriormente mudou-se para Segóvia procurando a proximidade com Madrid, destino a que chegou em 1932. Durante os anos que passou em Segóvia colaborou na universidade popular fundada nesta cidade.

antonio machado e esposa

Em 1927 ingressou na Real Academia e um ano depois conheceu a poetisa Pilar de Valderrama, a “Guiomar” de seus poemas, com quem manteve relações secretas durante anos. Durante os anos vinte e trinta escreveu teatro em colaboração com seu irmão Manuel. Na Guerra Civil Machado não permaneceu em Madrid já que é evacuado para Valência em novembro de 1936. Participou nas publicações republicanas e fez campanha literária. Colaborou em Hora de Espanha e assistiu ao Congresso Internacional de Escritores para a Defesa da Cultura. Em 1939 partiu para Barcelona, de onde cruzou os Pirenéus até Coillure. Ali faleceu ao pouco tempo da sua chegada.

Na evolução poética de António Machado destacam três aspetos: o ambiente intelectual dos seus primeiros anos, marcado primeiro pela figura de seu pai, estudioso do folclore andaluz, e depois pelo espírito da Instituição Livre do Ensino; a influência das suas leituras filosóficas, entre as que são destacáveis as de Bergson e Unamuno; e, em terceiro lugar, a sua reflexão sobre a Espanha do seu tempo. A poética de Rubén Dario, embora mais acusada nos primeiros anos, é uma influência constante.

O teatro escrito pelos irmãos Machado está marcado pela sua poética e não permanece nos limites do teatro comercial do momento. As suas obras teatrais escrevem-se e estreiam-se entre 1926 (Desdichas de la fortuna ou Julianillo Valcárcel) e 1932 (La duquesa de Benamejí) e consta de outras cinco obras, ademais das duas citadas. São Juan de Mañara (1927), Las adelfas (1928), La Lola se va a los puertos (1929), La prima Fernanda (1931) – escritas todas em verso – e El hombre que murió en la guerra, escrita em prosa e não estreada até 1941. Ademais, os irmãos Machado adaptam para a cena comédias de Lope de Vega como El perro del hortelano ou La niña de Plata, assim como Hernani de Víctor Hugo.

FICHAS TÉCNICAS DOS DOCUMENTÁRIOS

  1. Biografia de António Machado.

     Duração: 21 minutos. Produtora: TVE (1973).

     Ver em: http://www.rtve.es/alacarta/videos/documentales-en-el-archivo-de-rtve/biografia-antonio-machado/2395130/

  1. António Machado. Biografia.

     Duração: 5 minutos. Ano 2011.

     

  1. A. Machado. Breve biografia no 40 aniversário da sua morte (1979).

     Duração: 4 minutos. Publicado no ano 2015.

     

  1. António Machado. Vida e obra.

     Duração: 11 minutos. Ano 2013.

     

  1. Biografia de A. Machado.

     Duração: 4 minutos. Realizam: Estudantes de Terceiro de ESO (2009).

     

  1. A. Machado. Biografia e obra literária.

     Duração: 9 minutos. Ano 2018.

     

  1. A. Machado, poeta comprometido e exilado.

     Duração: 4 minutos. Ano 2014.

     

PALAVRAS DE LEMBRANÇA DE MACHADO SOBRE A REPÚBLICA

    Foi um dia profundamente alegre, muitos que já éramos velhos não lembrávamos outro mais alegre, um dia maravilhoso em que a natureza e a história pareciam fundir-se para vibrar juntas na alma dos poetas e nos lábios das crianças.

    O meu amigo António Ballesteros e eu içámos nos Paços do Concelho a bandeira tricolor. Cantou-se A Marselhesa; soaram os compassos do Hino de Riego. A Internacional não tinha soado ainda. Era muito legítimo o nosso regozijo. A República viera ajuizadamente, de um modo perfeito, como resultado de umas eleições. Todo um regime caia sem sangue, para assombro do mundo. Nem sequer o crime profético de um louco, que houvesse eliminado um traidor, turbou a paz daquelas horas. A República saia das urnas acabada e perfeita, como Minerva da cabeça de Júpiter.

    Assim lembro eu o 14 de abril de 1931.”

UM POEMA DE MACHADO

    Nunca perseguí la gloria
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles
como pompas de jabón.
Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse.

Nunca me interessou a glória
nem deixar na memória
dos homens minha canção;
amo é os mundos subtis,
imponderáveis e gentis
como bolas de sabão.
Gosto de vê-los pintar
de sol e de roxo, voar
no céu azul, abanar
de repente e estoirar.
(Trad. por Albino M.)

SÍNTESE DA SUA OBRA LITERÁRIA

  1. Obra Poética:

1903 – Soledades: poesías

1907 – Soledades. Galerías. Otros poemas

1912 – Campos de Castilla

1917 – Páginas escogidas

1917 – Poesías completas

1917 – Poemas

1918 – Soledades y otras poesías

1919 – Soledades, galerías y otros poemas

1924 – Nuevas canciones

1928 – Poesías completas (1899-1925)

1933 – Poesías completas (1899-1930)

1933 – La tierra de Alvargonzález

1936 – Poesías completas

1937 – La guerra (1936-1937)

1937 – Madrid: baluarte de nuestra guerra de independencia

1938 – La tierra de Alvargonzález y Canciones del Alto Duero

  1. Obra em Prosa:

1936 – Juan de Mairena (sentencias, donaires, apuntes y recuerdos de un profesor apócrifo)

1957 – Los complementarios (recompilação póstuma a cargo de Guillermo de Torre publicada em Buenos Aires por Editorial Losada).

1994 – Cartas a Pilar (edição de G. C. Depretis, em Madrid com Anaya-Mario Muchnik).

2004 – El fondo machadiano de Burgos. Los papeles de AM (edição de A. B. Ibáñez Pérez, em Burgos pela Instituição Fernán González).

  1. Obra Teatral (com o seu irmão Manuel):

1926 – Desdichas de la fortuna o Julianillo Valcárcel

1927 – Juan de Mañara

1928 – Las adelfas

1930 La Lola se va a los puertos

1930 – La prima Fernanda

1932 – La duquesa de Benamejí

1932 – Teatro completo, I, Madrid, Renacimiento.

1947 – El hombre que murió en la guerra (homenaje en Buenos Aires) (adaptações de clássicos, em colaboração)

1924 – El condenado por desconfiado, de Tirso de Molina (com José López Hernández), estreada a 2 de janeiro de 1924, no Teatro Espanhol de Madrid, com Ricardo Calvo Agostí como protagonista principal.

1924 – Hernani, de Victor Hugo (com Francisco Villaespesa), estreada a 1 de janeiro de 1925, no Teatro Espanhol de Madrid, pela companhia de María Guerrero e Fernando Díaz de Mendoza.

1926 – La niña de plata, de Lope de Vega (com José López Hernández).

MACHADO PÔDE ENSINAR NO INSTITUTO DE OURENSE

Se dermos ouvidos aos hinduístas, todas as pessoas temos um destino nas nossas vidas. Por muitos motivos eu já começo a acreditar nisto. O grande poeta António Machado também teve o seu próprio destino. No seu momento, ano 1907, tinha o desejo de ser catedrático de francês no Instituto de Ourense. Mas, pelas circunstâncias que a seguir comento, não pôde cumprir este desejo e terminou no Instituto de Sória. Que tanto ia influenciar na sua vida e na sua obra. Para o presente artigo tomamos como base o estupendo livro do investigador hispanista Ian Gibson sobre a vida de Machado, publicado em 2006. E comentamos isto porque não há muito tempo que o nosso excelente poeta recebeu uma homenagem em Colliure, onde morreu (e está soterrado) o dia 22 de fevereiro de 1939. Cumprem-se agora os 80 anos de seu falecimento.

antonio machado conferencista

O pai de Machado, António Machado Álvarez (que escrevia com o pseudónimo de Demófilo), tinha nascido em Compostela a 6 de abril de 1846. Porque ali se encontrava a sua mãe e o seu pai António Machado Núñez, que por concurso conseguira a cadeira de física e química da universidade compostelana em 1845. O pai de Machado gostava muito do folclore e da cultura popular. Chegou a investigar e publicar sobre o folclore andaluz e sobre o nosso folclore galego. E isto influenciou no seu filho poeta e também em Manuel Machado. Como outros muitos grandes escritores e artistas, o nosso poeta formou-se na Instituição Livre do Ensino (ILE), sendo discípulo do seu criador Francisco Giner de los Ríos, grande pedagogo. A quem, após a sua morte em 1915, dedicou um poema emocionante. Giner convenceu o poeta, porque tinha uns bons conhecimentos do idioma francês, para que se candidatasse às vagas recentemente convocadas de cadeiras desta língua em vários institutos. Era o ano 1905 e as cadeiras vagas correspondiam aos institutos de Ourense, Baeza, Huesca, Mahón e Sória. Que no ano 1906 aumentaram a sete, ao agregar as de Albacete e Cabra. Naquela altura os concursos eram muito duros e intermináveis, com infinidade de exercícios eliminatórios e com a famosa trinca dos concorrentes apresentados. Com muitos trâmites burocráticos prévios. Algo assim como uma verdadeira odisseia que durava não só meses como também anos. Machado inscreve-se no verão de 1905. As provas escritas iniciam-se entre março e abril de 1906 e o dia três de maio suspendem-se até novo aviso, ficando aceites 24 opositores dos 125 iniciais apresentados. Por unanimidade do júri o poeta aprova e pode continuar fazendo as provas seguintes. Que se reiniciam no outono desse ano e Machado supera o segundo exercício, sendo convocado para o terceiro em 9 de janeiro de 1907.

O programa elaborado por Machado contém 74 temas de francês e por sorteio cabe-lhe falar do verbo. Em 19 de janeiro realiza o quarto exercício, que é eminentemente prático e dura quatro dias com provas eliminatórias. Em 28 de janeiro, perante um grupo de estudantes, o poeta realiza o exercício prático pedagógico. E, em dias posteriores levam-se a cabo as trincas entre os concorrentes que restam (uns criticam os outros e todos têm que defender-se). Depois de tal odisseia, o concurso termina em 4 de abril de 1907. O júri leva a cabo as votações sobre os concorrentes aprovados e Machado alcança o posto número cinco. Quando é a vez de o poeta escolher instituto só restam as vagas de Sória, Baeza e Mahón. Não pode aceder à de Ourense por ter sido escolhida por um concorrente com melhor lugar. A da nossa cidade ourensana era a que queria, pela amizade que tinha com Valhe Inclám, e pelo antecedente galego de seu pai e os seus estudos sobre o folclore galego. Em 5 de abril opta pela de Sória, e por Real Ordem de 16 de abril é nomeado oficialmente catedrático numerário de língua e literatura francesa no Instituto General e Técnico de Sória, com um salário anual de três mil pesetas daquela época.

Em Sória conhece a sua namorada Leonor e escreve, entre outros, esse formoso livro de poemas Campos de Castilla. Foi pena, porque se Machado viesse de docente para Ourense, não só isso teria muita influência na sua vida pessoal, como também na sua obra. E especialmente na sua poesia, dado que a nossa paisagem e a nossa língua são bem diferentes às de Castela. Ademais de Rosália, Curros e Pondal, teríamos Machado. Que terminaria por identificar-se, estamos seguros, com esta nossa terra atlântica e secular. E desde o Padroado de Missões Pedagógicas, a que Machado pertenceu sob proposta de Cossio, muito teria trabalhado pela nossa cultura. Como muito bem dizia a minha mãe Rosa não estava de ser”. E Machado, o grande poeta a quem muito admiramos, cantou a Castela e não à nossa Galiza.

UM POEMA INÉDITO DE MACHADO DEDICADO A TAGORE

Antonio Machado 2

Embora sejam, dentro das Missões Pedagógicas republicanas, os máximos responsáveis pelas bibliotecas fixas e ambulantes para fazer leituras públicas, Luís Cernuda, Maria Moliner e Juan Vicens, sabemos que foram muito importantes as orientações bibliográficas de Machado, que era membro do Padroado das mesmas, para a escolha dos cem livros de que se compunha cada biblioteca para realizar leituras a viva voz e muitas ao ar livre, se o tempo o permitia. Entre os livros que integravam estas bibliotecas encontravam-se as muito cuidadas edições da editora Signo de Madrid dos livros de Robindronath Tagore, em tradução para o castelhano por Zenóbia Camprubí, e, em concreto, A lua nova, O carteiro do rei, O jardineiro, Morada da Paz e Pássaros perdidos. Livros que levavam o carimbo do Padroado das missões. Na altura foram muitas as crianças que desfrutaram com a leitura dos textos tagoreanos, em escolas e bibliotecas públicas, e nas áreas rurais por onde passavam as missões pedagógicas. Em novembro de 2003, descobriu-se, dentro de mais de 703 fólios de manuscritos originais dos irmãos António e Manuel Machado, escritos entre 1917 e 1936, adquiridos por uma entidade bancária andaluza, um poema inédito de Machado dedicado a Tagore, escrito com toda a probabilidade em 1917 ou 1918, últimos anos da primeira grande guerra, pois de forma acertada faz referência ao profundo pacifismo do educador e poeta bengalí, amante como ninguém, igual que seu amigo Gandhi, da paz e da não violência. O poema, incompleto, e ainda com correções manuscritas diz:

    “Desde la tierra de los grandes lotos

y santos ríos, príncipe y poeta,

tras la bélica Europa en que el planeta

cruje entre sangre, con los huesos rotos,

poder en Oriente y mística oriental

nos llega tu corazón como un latido,

Rabindranath, tu corazón se ha oído

en este promontorio occidental.

    Esta tarde de otoño, mientras suena

la lluvia en los bambús y se achubasca

tu cielo bengalí, la guerra truena

y el río de la vida se aborrasca

en la Europa sombría

tu libro (en)<viene á>la sangrienta Europa

-clamor de guerra y caminar de tropa-

cual vino el cuento de Gotamana un día.

Por esta Europa sobre el blanco toro

Jove cabalga, cantan militares

(…los) <habrán de ser los cielos (?)>, montes de oro

(larga la guerra) <irá la guerra>por los siete mares”.

 

Nota: A transcrição para o nosso idioma podia ser:

 

“Da terra dos grandes lotos

e santos rios, príncipe e poeta,

após a bélica Europa em que o planeta

range entre sangue, com os ossos quebrados,

poder no Oriente e mística oriental

vem-nos teu coração com seu batimento,

Robindronath, teu coração foi ouvido

neste promontório ocidental.

Esta tarde de outono, enquanto soa

a chuva nos bambus e se tolda

o teu céu bengali, a guerra troa

e o rio da vida se aborrasca

na Europa sombria

teu livro vem à sanguinolenta Europa

– clamor da guerra e caminhar da tropa –

tal como veio o conto de Gautama um dia.

Por esta Europa sobre um branco touro

Jovem cavalga, cantam militares

terão de ser os céus, montes de ouro

e a guerra irá pelos sete mares”.

 

MACHADO E TAGORE: VIDAS PARALELAS

Se dermos uma olhada nas biografias de Tagore e Machado, é surpreendente encontrar tantos temas comuns nas vidas de ambos, os dous grandes poetas e os dous grandes amantes da vida e da Natureza. Morando em lugares tão distantes, Bengala e Andaluzia-Castela, existem muitos aspetos similares nas suas vidas. Em primeiro lugar, a importância nos dous da positiva influência na sua formação das suas respetivas famílias, avós, pais e irmãos. Em segundo lugar, a formação escolar de ambos é muito semelhante, pois a ILE em que Machado se forma é uma “escola nova” e a Santiniketon de Tagore é outra escola nova similar, com o mesmo modelo pedagógico, iguais atividades educativas, dando muita importância às artes, à música, à poesia, ao teatro, às excursões e aos passeios escolares. Em terceiro lugar, ambos casam com duas mulheres muito menores que eles. Machado namorado da sua Leonor, esperando a casar-se quando esta tenha mais um ano, e Tagore com a noiva que lhe escolheu seu pai, que teve que esperar ao casamento até que fizesse a sua maioridade. Aos dous faleceram muito cedo as esposas, que ambos tanto queriam, com a frustração profunda que isso supôs, e mais em Tagore, que na altura perdeu também dous de seus filhos. Inclusive ambos tiveram posteriores amorios mais ou menos platónicos: Tagore com a argentina Victória Ocampo e Machado com a sua Guiomar.

antonio machado caricatura

Surpreendente é também a semelhança no seu labor social e educativo. Ambos amam o povo e a cultura popular e trabalham pela sua melhoria, criando a quinta pedagógica de Sriniketon (“Morada da Abundância”) Tagore e organizando missões pedagógicas rurais nas aldeias e para as tribos “Santales” próximas a Santiniketon, e Machado, como já se comentou antes, implicando-se nas Missões Pedagógicas da Segunda República. Ambos gostam também do folclore e do teatro, e da poesia. Machado colaborou na Universidade Popular de Segóvia e no seu livro Juan de Mairena apresenta a ideia de criar uma “Escola Popular de Sabedoria Superior”. Pela sua parte, Tagore, em terras que hoje pertencem ao Bangladesh, cuidou das propriedades familiares, embora em vez de ser o latifundiário do costume, criou escolas para as crianças e noturnas para os camponeses das terras que cuidavam. Depois em Santiniketon organizou um serviço de ajuda ao povo rural, levado pelos estudantes das seções maiores da sua escola. E finalmente fundou uma Universidade Internacional com o nome de “Visva-Bharoti”, que significa “Sabedoria Universal”, para alcançar o entendimento entre o Oriente e o Ocidente e formar o que denominava “Homem Universal”. Um projeto muito parecido com o proposto por Machado no seu Juan de Mairena. Depois do resenhado, foi lástima que Machado não tivesse conhecido pessoalmente Robindronath, por culpa das circunstâncias do momento, e por não viver numa época como a atual com tantas facilidades para viajar e deslocar-se a outros países e lugares do planeta. E também, porque em abril de 1921, a viagem de Tagore a Espanha, que estava prevista e organizada, frustrou-se afinal, sendo anulados todos os atos que se iam celebrar na Residência de Estudantes da ILE, em Madrid, nos quais Machado ia estar presente. Ao igual que Lorca, Dalí, Buñuel, Juan R. Jiménez e outros. A frustrada vinda de Tagore parece ser que foi por culpa dos britânicos e do seu governo, que não gostavam de que Tagore viesse ao nosso país.

TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR

Vemos os documentários citados antes, e depois desenvolvemos um Cinema-fórum, para analisar a forma (linguagem fílmica) e o fundo (conteúdos e mensagem) dos mesmos.

Organizamos nos nossos estabelecimentos de ensino uma amostra-exposição monográfica dedicada a António Machado, a sua obra literária, as suas ideias republicanas e o seu labor social. Na mesma, ademais de trabalhos variados dos escolares, incluiremos desenhos, fotos, murais, frases, textos, lendas, livros e monografias.

Podemos organizar no nosso estabelecimento de ensino um Livro-fórum. Com a colaboração de escolares e docentes, pode ser escolhido algum dos livros de Machado. De entre eles, são muito interessantes Poesias Completas (edição de Austral), Campos de Castilla, Juan de Mairena, e Antonio Machado para crianças. Ao mesmo tempo, estaria muito bem organizar um recital poético escolar com uma escolma dos seus poemas mais lindos e famosos, recitados por rapazes e raparigas. Também podemos organizar uma audição musical dos seus poemas mais formosos cantados por Joan Manuel Serrat. O disco foi editado em 1969 pela Zafiro-Novola, e também existe um CD posterior.

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