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Ângelo Merayo: “Quando passo muito tempo sem vir cá, desta vez ano e meio, torna-se mais perceptível a profunda descaracterização e perda de identidade da sociedade galega”

Angelo Merayo tem escrito crónicas para o PGL nos últimos tempos. Os leitores e leitoras do portalÂngelo Merayo (foto Alex Azevedo) conhecemos um bocado, palavra a palavra, a sua experiência em Lisboa. Pronto, eu tenho a sorte de acompanhar a sua trajetória vital e profissional por ser amiga dele há anos… mas hoje armo-me em entrevistadora.

És galego e professor de português em Lisboa. O que achas que isso pode significar para o reintegracionismo?

Considero que talvez possa ter um valor simbólico importante. No contexto do meu trabalho, no qual desenvolvo um papel de, poderíamos dizer, professor nativo, ter sido selecionado para o emprego é, em certo modo, reconhecer que os galegos também somos lusófonos.

Vens de dar agora uma palestra na livraria Ciranda. Explica-nos um bocado de que tratava.

A ideia do colóquio na Ciranda era, principalmente, dar a conhecer o meu trabalho como formador de português para pessoas refugiadas e nesse contexto, a realidade dos refugiados em Portugal e do trabalho desenvolvido pelo Conselho Português para os Refugiados, o parceiro estratégico do ACNUR em Portugal.

cartazAngeloTrabalhas com refugiados/as, pessoas de muitos países e situações muito diferentes. Quais são os maiores desafios no teu trabalho?

O principal desafio é criar um ambiente de diálogo entre as diferentes culturas, visões do mundo e individualidades que compõem cada turma. Num só grupo podem existir 15 nacionalidades diferentes, um número semelhante de línguas maternas, crenças e histórias de vida.

Manter o nível de motivação também é um desafio fundamental. Os meus alunos e alunas encontram-se em situações de grande stresse. De um lado temos as histórias que motivaram a fugida, do outro a espera de respostas ao pedido de asilo por parte das instituições e por fim todas as expetativas e sonhos de recomeçar uma vida num país e numa sociedade estranhos.

A pesar desta instabilidade, a maioria dos requerentes de asilo percebem logo que a aprendizagem da língua é a chave e a base para a inclusão. Os desafios não deixam, contudo, de existir mas as aulas são uma partilha maravilhosa na qual eu também me enriqueço e aprendo imenso com essa diversidade que referes.

Havia tempo que não vinhas à Galiza. Como vês a situação do reintegracionismo de fora?

Bem, acho que o reintegracionismo tem uma presença social mais alargada e isto tem dado alguns frutos também em Portugal. Para mim, que tenho vivido intermitentemente entre a Galiza e Portugal, considero que existe uma visibilidade maior do galego e da Galiza na comunicação social portuguesa e na sociedade no conjunto. Acredito que o reintegracionismo é responsável por esta mudança e evolução.

Em contrapartida, quando passo muito tempo sem vir cá, desta vez ano e meio, torna-se mais perceptível a profunda descaracterização e perda de identidade da sociedade galega. Reparo que se tem tornado mais difícil viver em galego e que a língua continua, no seu difícil caminho de resistência, o percurso da miscigenação com o castelhano.

Interessam-nos as visões, lugares comuns, opiniões que alguém do teu círculo em Lisboa pode ter da Galiza e da língua. Quais são as perguntas que suscitamos/suscitas?

Como referi na resposta anterior, considero que o conhecimento da realidade da Galiza, ou de uma parte desta, tem aumentado na sociedade portuguesa. Por exemplo, na televisão quando é noticiado um acontecimento na Galiza, costuma aparecer o nome “Galiza”, quando é no resto do Estado espanhol, é simplesmente Espanha. A perceção geral, por parte de muitas pessoas, pode resumir-se nas seguintes frases que já ouvi várias vezes: “Na Galiza querem ser portugueses”, “Falam quase português”, “A Galiza é a região de Espanha mais parecida connosco”. No entanto, para uma grande parte da sociedade portuguesa, especialmente em Lisboa, onde não existe o fator da proximidade geográfica, Galiza é simplesmente Espanha.

Estamos no ano 2016. Como imaginas a AGAL em 2026? Faz-nos uma descrição

Eu sou naturalmente otimista, e apesar de que a situação atual do galego não pareça promissória, acredito que as teses reintegracionistas estão progressivamente a ganhar espaços. Penso que a AGAL vai ter uma responsabilidade cada vez maior como entidade de referência. Acho que a visão reintegracionista daqui a 10 anos pode não ser hegemónica mas, com certeza, terá um papel mais referencial não só no mundo cultural mas também nas política institucionais. Neste sentido, a AGAL terá um papel fundamental.

O que achas que atualmente é mais urgente para espalhar a visão reintegracionista da língua e da cultura?

Creio que apostar no ensino do português nas escolas é, sem lugar a dúvidas, a ferramenta principal, não só para espalhar a visão reintegracionista, mas para criar autoestima linguística.

Como galego, professor de português e reintegracionista, acredito firmemente que o caminho para a recuperação do galego é olhar para Portugal e para os países de língua portuguesa. Velhas lutas como a receção dos canais de tv portugueses acho que deveriam ser recuperadas.

Investir na divulgação de cultura (e também da subcultura) em português é infinitamente beneficioso para a preservação e recuperação do galego.

 

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