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Andreea Birsanu: «Desaparecendo o galego, desaparece algo mais que umha língua, desaparece um povo»

Andreea Birsanu:

  • Idade: 16 anos
  • Procedência: Roménia
  • Residência: vivo em Arçua desde 2005
Andreea nasceu na Roménia em 1998, mas reside em Arçua desde 2005
Andreea nasceu na Roménia em 1998, mas reside em Arçua desde 2005

Existe umha imagem, tópica como muitas imagens, de que as pessoas da vossa idade nom se interessam por questões de índole social. Sodes umha exceçom?

A imagem tópica sim que existe. E eu creio que isto começa desde que somos crianças e nos inculcam através da sociedade, publicidade,… que temos que cuidar o nosso aspeto físico, (e as pessoas passam a converter-se em seres planos sem evoluções, com poucas inquietudes, curiosidades), e nom se fomenta o desenvolvimento pessoal, nom se fomenta o interesse por temas sociais, políticos… O único que parece importante é que sejas submissa, estejas magra, vaias todos os domingos à missa e busques um homem que te mantenha toda a vida mentres tu te encarregas do labor do lar e dos nenos. Sim, pode-se dizer que somos umha exceçom, mas, nom deveríamos sê-lo porque nom deveria existir tal tópico, nom deveria acontecer o que ocorre.

Como é a fotografia lingüística de umha turma de secundário em Arçua? Que línguas som usadas e quando som usadas, tanto dentro como fora das aulas?

Em secundário creio que há um consenso sobre o galego. As pessoas nom se envergonham da sua língua e da sua cultura e temos a sorte de que a maioria do professorado dá suas aulas em galego e com um léxico cuidado. Mas o galego da maior parte dos estudantes está castelhanizado e nem nós mesmos nos damos conta. É incrível a quantidade de erros cometidos mesmo cuidando o léxico. A língua que se emprega, tanto dentro como fora das aulas, é o galego. A exceçom de algumha matéria concreta, como a física e a química que é obrigatória lecioná-la em castelhano. Gostaria-me saber o porquê mas quando perguntei dixérom-me que era umha lei e que as leis estám para ser acatadas. Esta é a educaçom de agora. Nom preparar-nos para pensar por nós mesmos, senom preparar-nos para acatar ordens, cumprir leis ainda que ataquem a nossa integridade como mulheres/homens e a nossa cultura, tradiçom, etc. dá igual. Há que acatar umha lei porque assim o quer o governo. Isso é o que se busca com as reformas ao ensino público,…

Outra imagem tópica revela que quando umha pessoa galego-falante conversa com umha castelhano-falante, de umha cidade por exemplo, acaba por renunciar a usar a sua língua. É mesmo assim?

Sim, por desgraça isto ocorre. E nom tenho que ir muito longe para confirmá-lo. Eu mesma tinha a língua galega como umha língua inferior e se ia a umha cidade e me atendiam, sem dar-me conta, estava pedindo em castelhano. O mesmo na administraçom. E isto acontece com muitos galegos. Continua em nós essa perceçom de inferioridade como povo e essa inferioridade com a nossa língua. E atualmente continua-se a olhar o galego como língua de incultos, de gente sem formar, tanto na Galiza como fora. O castelhano oprime, de forma clara e direta o galego.

Para ti, a língua galega nom acaba na Galiza sendo compartilhada por outras sociedades como a brasileira ou a portuguesa. Como chegaste a essa forma de ver e de viver a língua com umha focagem reintegracionista?

Por que deste o passo à escrita em reintegrado? Eu conhecim a existência de tal corrente através de pessoas que a empregavam, e a curiosidade levou-me a investigar, a ler, a informar-me. Depois de este processo, comecei a dar-lhe muitas voltas ao assunto. A reflexionar sobre o galego como língua, a Galiza e os/as galegos/as. Andei a pensar muito nisso e tomei umha decisom. Porque eu, como pessoa, tenho capacidade para ver as injustiças e nom aceitá-las, atuar em contra delas, porque entendo que pode existir outra situaçom. Assim que como tenho a sorte de ter umha professora que nos educa para pensar e nom para obedecer, comentei-lhe as minhas reflexões e pedim-lhe conselho. Depois disso decidim começar a empregar o galego-português. O mais básico de tudo aprendim-no quando estava documentando-me e entrei na página de Agal e vim um pouco como era a escrita. Depois praticando ao falar com umha pessoa que a empregava, lendo um livro de Agal, que é ‘Quando o sol arde na noite’ que encontrei na biblioteca Rosalía de Castro de Arçua e por último, e mais importante, através de um livro (Do Ñ para o NH – Valentim Fagim) que me prestou a professora anteriormente mencionada, Maca.

Que seria preciso para haverem mais companheiros e companheiras com essa vivência?

Gostaria-me saber isto mas nom o sei. Porque umha vez, com o espírito de compartir descobertas, de conscienciar as pessoas sobre as injustiças cometidas no mundo, comentei o tema do reintegracionismo. A primeira resposta foi ”Parece-me bem mas eu som galega e quero falar galego” assim que a raiz disso dei umha longa explicaçom sobre esta corrente, sobre o galego e demais. E nom houvo resposta. Assim que nom sei que fai falta, se madurez, se vontade de mudar o mundo, se é cousa de nom querer ser um ser passivo e ser umha pessoa de açom,… realmente nom o sei.

Que dirias a alguém que vive o galego como sendo só a língua da Galiza?

Que o galego isolacionista está cada vez mais influenciado polo castelhano e que o mais provável é que acabe por desaparecer e se funda no castelhano. Ademais de que o português é umha língua muito mais próxima à nossa, que nos compreende melhor, que partilhamos mais com essa língua que com o castelhano. Que um dia o galego e o português fôrom umha única língua mas que evoluirom de maneira distinta e o galego foi e continua a ser reprimido polo castelhano, criando esse sentimento de inferioridade nos galegos e galegas. Que nom tentem mudar as suas raízes, o que eles som, e que depois de que o galego sobrevivera graças às famílias da classe baixa que o falavam entre si, seria horrível que desaparecesse agora. Que desaparecendo o galego, desaparece algo mais que umha língua, desaparece um povo, um sentimento, umha cultura, tradições, umha forma de ver a vida, e perde-se tudo polo que se luitou.

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