Na tua última carta levas a proposta de reconhecimento do português ao Estatuto, para o qual propões: “A lingua portuguesa, historicamente emparentada coa galega, será obxecto de ensino e gozará de recoñecemento oficial nos termos establecidos por lei”. Perante os meus receios, pões-me o exemplo occitano no Estatut. Pois bem, começarei por dizer que a tua proposta me satisfaz, e, como primeiro passo, consta-me que ela também agradou a muitas pessoas no reintegracionismo e fora dele. Fica assim provado que o nosso diálogo vale a pena ;).
Teríamos, por assim dizer, um binormativismo à luxemburguesa, que poderia avançar com o apoio do reintegracionismo, do autonomismo e até de quem nom usa o galego. O primeiro veria uma fenda para usar o galego à sua maneira. O segundo veria protegida a independência da sua língua. Quanto ao terceiro, só haveria de ver a praticidade da proposta, que se abstém de regatear espaços ao espanhol.
Mas desculpa que te acautele de novo: o texto que propões continua na corda bamba constitucional, porque a Lei fundamental refere-se com clareza à cooficialidade das línguas “españolas”, requisito, o da espanholidade, que cumpre o aranês (occitano, portanto) no território da Catalunha, mas é duvidoso que cumpra o português (galego, portanto?) no território da Galiza. Por isso, um oportuno parecer da RAG conforme o português é mais uma forma/norma do galego (entendido como língua histórica, se quiseres) poderia salvaguardar o novo articulado estatutário de recursos judiciais de grupos extremistas. A oficialidade do português assentaria assim no reconhecimento da sua galeguidade (espanholidade, portanto) por parte da RAG, organismo à qual a Lei de Normalización Lingüística parece conferir essa potestade.
O texto que propões continua na corda bamba constitucional, porque a Lei fundamental refere-se com clareza à cooficialidade das línguas “españolas”, requisito, o da espanholidade, que cumpre o aranês (occitano, portanto) no território da Catalunha, mas é duvidoso que cumpra o português (galego, portanto?) no território da Galiza.
Noutro plano, discrepas de colocar o debate em termos de galego local (RAG) e galego internacional (português), já que, havendo oportunidades para o contacto, ambos seriam intercompreensíveis. Quer dizer, o galego (RAG) já seria internacional precisamente graças à semelhança com o português. Se, como parece, pensas que alguém pode ver menoscabo no qualificativo “local” para o galego, comprometo-me a deixar de usá-lo. Porém, a fórmula “galego internacional” continua a parecer-me acertada para fazer ver que uma das formas do idioma que aqui nasceu é oficial em várias nações do mundo. Sem ideologia linguística integradora nem modelo ortográfico convergente (polo menos opcional), a mera capacidade de compreender em condições favoráveis é insuficiente, porque outras fronteiras continuam a desincentivar a partilha dos recursos imprescíveis para insuflar vitalidade ao nosso galego.
E como é disto que se trata, ligo aqui com outra focagem que me propões: a “ampliación do repertorio d@s galeg@s”. Como discordar se, além de oferecer oportunidades pessoais, ela também repercutiria na estabilidade interna do próprio galego?
O conhecimento do português daria oxigénio a muita língua em desuso. Adormecer, barulho, bochecha ou brincar, do meu repertório ativo ou passivo quando ainda era um neno, já som mais fáceis de encontrar em livros portugueses que galegos, rendidos às concorrentes durmirse, ruído, meixela ou xogar para expressar os mesmos valores.
Entretanto, enquanto sonhamos que o galego voltará a ser língua de crianças, comecemos por unir todo o galeguismo para reclamar português no ensino… e no Estatuto.
[Este artigo foi publicado originariamente em Nós Diario ]