Gerardo Rodrigues – Alberto Pombo é um homem multifacetado. Filólogo de formaçom, comunicador vocacional, músico… e também fotógrafo. Convida-nos para o acompanharmos o sábado na Corunha à inauguraçom da sua primeira exposiçom fotográfica individual, ‘Negrume’. Conversámos com ele para saber um bocadinho mais desta incursom pola fotografia.
A tua formaçom é claramente lingüística, com umha licenciatura em Filologia Galega e atualmente estás a realizar o doutoramento. Contudo, na tua trajetória aparecem também os meios de comunicaçom (PGL e Diário Liberdade), a música (Avante) e, já agora, a fotografia. De onde procede o teu interesse por esta disciplina?
Desde criança vivim o interesse pola fotografia em casa. Tenho na memória a imagem do meu pai com umha velha Olympus Trip 35 documentando as suas viagens e as minhas recordaçons de infância. Aí, desde muito cedo, fôrom colocadas diferentes cámaras nas minhas maos e nom lembro nenhum período da minha vida sem fazer fotografia.
Porém, só depois de receber formaçom, e fascinado polas obras de Anders Petersen, Michael Ackerman, Jacob Aue Sobol, Antoine D’Agata ou Nan Goldin, entre tantos outros, é que decido aprofundar na linguagem fotográfica e desenvolver um projeto pessoal.
A fotografia, ademais de arte, nom deixa de ser também um ato de comunicaçom, como a imprensa, a música… Aparece aí essa constante no que tu fazes…
Efetivamente, essa constante está aí. Fago um exercício de memória e na construçom do que hoje som. Situo o ponto de partida consciente aos sete anos. Naquele momento, marcado pola morte prematura do meu pai, tornei-me umha criança muito reflexiva e, ainda, tivem de deixar a escola rural em Loureda para assistir à da vila em Arteijo, onde a vida infantil decorria em espanhol.
É sabido que as crianças de rural, galego-falantes, nom estávamos representados nos modelos comunicativos a que tinha acesso, quer música, quer televisom, quer cinema etc. Mas, já no caminho à adolescência, fôrom aparecendo pequenos espaços como o da música ou o da literatura em galego com os quais fui encontrando identificaçom. De forma natural fum rachando com aquele sentimento de nom-pertença ao modelo fornecido, descobrindo outros.
Apareceu assim a necessidade formativa em diferentes disciplinas como a filológica ou a musical como exercício lingüístico e comunicativo consciente e aí, nesse caminho, aparecêrom diferentes espaços a partir dos quais poder exercer este ativismo.
Escrevendo, agora com luz, abro apenas umha nova janela a partir da qual me situar como indivíduo e galego no mundo.
O que queres comunicar com ‘Negrume’?
Cito o dicionário do professor Estraviz e recolho a seguinte definiçom de negrume:
s.m.
(1) Escuridade, trevas, negror, negrura: o negrume da noite.
(2) Nevoeiro espesso. Cerraçom.
(3) fig. Tristeza, melancolia.
Sendo um projeto ainda em andamento, Negrume nasceu no inverno de 2012 num contexto transitivo e existencialista muito concreto da minha vida. Através da fotografia tentei criar um espaço de auto-encontro, íntimo, individualista e, em certo modo, útil para a reconstruçom emocional.
Nessa treva longínqua e melancólica que me oferece o mundo da noite, situo-me para analisar os mecanismos de contato social partindo da minha própria experiência como sujeito.
Desta forma, neste trabalho nom existem as imagens roubadas, mas apenas aquelas de que sou partícipe, alertando em muitos casos através do uso do flash e expondo, de forma crua e sem aditivos, diferentes momentos da minha vida.
Apresentas Negrume na tua cidade natal, Corunha. Porém, já participaste em exposiçons coletivas. Podes-nos falar um pouco delas?
Tenho participado em exposiçons coletivas em Lisboa e na Estremadura espanhola com obras que fôrom finalistas em diferentes concursos dos quais pouco podo contar; apenas agradecer a decisom dos diferentes júris por considerá-las merecedoras de exibiçom.
Já quanto à exposiçom que virá a se realizar na Galeria TEST da Corunha, foi motivada após o projeto ter recebido a chamada do festival Begira Photo e da galeria LocArt de Nova Iorque, priorizando assim a saída e exibiçom na minha cidade.
Neste primeiro projeto, Negrume, tiveste a supervisom do professor Yorgos Karailias. Como entraste em contato com ele? Qual foi a sua funçom?
No ano 2010 fum contratado como leitor de galego pola Universidade da Estremadura espanhola para ministrar aulas de literatura, história e cultura galegas e, nesta terra, com tempo para me formar noutros campos diferentes aos da filologia, tivem a oportunidade de conhecer este homem recém chegado atrás dos passos de Eugéne Smith: Yorgos Karailias, docente e fotógrafo profissional da agência Art/if/Act que vinha de ser premiado na Photobiennale de Thessaloniki polo projeto Boatmen.
Através de diferentes cursos dados por ele, tivem a oportunidade de me formar sobre história e estética da fotografia e desenvolver umha linguagem artística. Para além do trabalho formativo, Karailias exerceu como diretor deste projeto que agora apresento, alentando o seu nascimento, marcando umha série de diretrizes dentro das quais trabalhar ou, ainda, realizando a crítica e trasladando-a para outros professores como Yorgos Prinos ou Ana Hernando.
Até quando poderemos visitar a amostra?
O projeto poderá ser visitado entre 12 de abril e 8 de maio; de segundas a sextas-feiras em horário de 10-14h e 16-20h e os sábados de 12 a 14h. Aproveito a ocasiom para convidar as leitoras do PGL a virem no sábado, dia 12, à inauguraçom de Negrume, que estará acompanhada de umha sessom vermute entre as 12 e as 14h na Galeria TEST da Corunha (rua Barcelona, 58).
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