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Alba Diaz Geada: “A investigaçom doutoral revelou que, detrás daquela aparente modernizaçom inevitável, havia um sentido comum em conflito e umhas comunidades camponesas em luita”

A última novidade da Através Editora é Uma história pequena da Galiza rural, escrita pola historiadora Alba Díaz Geada, é um trabalho literário baseado no trabalho de investigaçom que a autora desenvolve, principalmente nas linhas de história agraria e história social, movimentos sociais, mudança social e cultural, franquismo e transiçom para a democracia. Falamos com ela.

O livro tem no próprio título umha acotaçom temporal, o que se passou entre 1939 e 1982?

Ao situarmo-nos entre 1939 e 1982, estamos a delimitar um marco cronológico, isto é, um ponto de referência específico numha linha do tempo que ajuda a situar fenómenos históricos ou narrativos em relaçom com um contexto temporal mais amplo. Entre 1939 e 1982, podemos observar várias etapas do franquismo, um regime que se pode considerar um regime de dominación extrema, de exceçom. Estas etapas som: a) a toma do poder e o punto de nom retorno, b) a estabilizaçom do regime, c) o início do seu desmoronamento, e d) a formaçom dumha nova hegemonia.

Para entender isto, há que ver como se moverom as forças políticas e sociais durante este tempo. Segundo Gramsci, as forças históricas e as luitas políticas movem-se num campo de forças em constante mudança, com equilíbrios instáveis que podem cambiar em qualquer momento. Durante o regime de Franco, a hegemonia estabeleceu-se quando o franquismo e os seus aliados lograrom formar umha unidade sólida. Esta ditadura manteve-se com o apoio de vários grupos, como a Igreja Católica, o exército e sectores conservadores da sociedade. Ainda que estes grupos nom sempre tinham interesses coincidentes e às vezes entravam em conflito, encontrarom acordos e concessões para manterem-se unidos. Nom devemos esquecer que, umha das características fundamentais do franquismo foi a recentralizaçom burocrática do poder. Porém, a hegemonia franquista nom durou para sempre. Necessitava ser mantida mediante repressom, controlo político e propaganda. Com o tempo, enfrentou desafios e crises, tanto internas como externas, que finalmente contribuíram à sua desintegraçom.

A tua experiência como escritora está mais alicerçada em trabalhos académicos, como definirias o género literário em que escreves Uma história pequena da Galiza rural (1939-1982)?

Podemos considera-lo como um ensaio histórico-sociológico que combina elementos de micro-história e antropologia social. O livro examina o impacto das mudanças políticas e sociais na Galiza rural durante o regime franquista e a mudança cara um regime parlamentario burguês. Utiliza um enfoque analítico para explorar as transformações socioeconómicas e as condições de vida nas comunidades rurais, combinando a história com umha perspectiva sociológica.

O texto foca em aspetos específicos da vida rural e nas experiências tanto pessoais como comunitárias. A micro-história permite unha compreensão detalhada das vivências individuais e coletivas, mostrando como eventos e políticas mais amplas afetarom às comunidades de maneira concreta e diária.

A micro-história permite unha compreensão detalhada das vivências individuais e coletivas, mostrando como eventos e políticas mais amplas afetarom às comunidades de maneira concreta e diária.

Ademais, examina as práticas culturais, sociais e comunitárias das populações rurais, empregando testemunhos e relatos orais para entender a memoria coletiva e as formas de solidariedade e resistência. O livro também analisa como as comunidades se adaptarom e reagirom às adversidades, oferecendo umha visom sobre as dinámicas sociais e culturais da época.

O texto é rigoroso mas permites-te no estilo certas licenças poéticas, como foi para ti explorar umha narraçom fora dos “limites” impostos da Academia?

A decisom sobre como contar como as estruturas de poder e as relações de produçom baixo o regime franquista afetarom às comunidades rurais galegas nom era simples. Sobre todo porque o texto ilustra a exploraçom de classe, a resistência comunitária e a reproduçom ideológica. Nas Teses de filosofia da história, Walter Benjamin convida-nos a reflexionar sobre as narrativas hegemónicas que se imponhem no discurso histórico. Podemos unir-nos a esse desafio a través dum conjunto de perguntas que nos parecem pertinentes: há umha soa maneira de fazer história? E, essa maneira é sempre a maneira dos vencedores? Se a Historia a escrevem os que ganham, que passa com as histórias derrotadas? Logram ou nom logram redimirem-se? A disputa sobre quem escreve a historia nom é, de nenhum modo, um elemento irrelevante. Nom se trata dum simples jogo entre profissionais da História. Do que estamos a falar é da possibilidade dumha justiça real.

Este livro tem origem na tua tese, Mudar en común. Cambios económicos, sociais e culturais no rural galego do franquismo e da transición (1959-1982), quanto há da tua tese fica neste livro, e quanto há de novo?

A tese de doutoramento surgiu dumha preocupaçom polas explicações da mudança histórica, que a miúdo se apresenta como inevitável. Ao tratar de entender a grande transformaçom que atravessou a sociedade rural galega, a investigaçom doutoral revelou que, detrás daquela aparente modernizaçom inevitável, havia um sentido comum em conflito e umhas comunidades camponesas em luita.

Neste livro, mantem-se o núcleo da tese ao revisar e expandir essa transformaçom para oferecer umha visom mais completa de como a mudança na organizaçom social capitalista afetou profundamente as comunidades rurais galegas. Porém, o livro incorpora novas perspetivas e conhecimentos adquiridos nos anos posteriores à tese. Achega umha visom mais detalhada sobre como se consolidou o modo em que hoje nos relacionamos socialmente e explora a resistência e a luita das comunidades que procuravam outras formas possíveis de se relacionar. Ademais, dumha perspetiva teórica, o livro convida a questionar as narrativas linhais do cámbio e a aprender da tradiçom marxista, que revelou a dependência disfarçada de atraso e reconheceu o campesinhado como sujeito histórico ativo, em lugar de entidade passiva em processo de extinçom.

Neste livro, mantem-se o núcleo da tese ao revisar e expandir essa transformaçom para oferecer umha visom mais completa de como a mudança na organizaçom social capitalista afetou profundamente as comunidades rurais galegas.

Há nesta proposta uma polifonia de vozes que foram as tuas informantes durante o trabalho de campo como investigadora, que papel tenhem essas pessoas na obra?

A história oral é fundamental no livro porque permite aceder a experiências vividas que nom ficarom documentadas em fontes oficiais ou escritos formais. A través das entrevistas e das testemunhas, podem captar-se detalhes que som essenciais para compreender a realidade histórica desde um ángulo mais humano e vívido.

As vozes das pessoas informantes aportarom umha riqueza e profundidade que transcende à informaçom disponível em arquivos e documentos oficiais. Enquanto os registos formais podem oferecer umha visom geral e a miúdo impessoal, as testemunhas orais revelam como as pessoas comuns vivirom e experimentaron as mudanças sociais e políticas. Isto permite reconstruir um panorama mais completo dos eventos históricos, proporcionando contextos específicos e detalhes que doutro modo poderiam ter-se perdido.

Os relatos dos informantes também servirom como contrapeso necessário às narrativas dominantes e com frequência enviesadas que emergem da documentaçom oficial. Incorporar experiências e pontos de vista que a miúdo nom aparecem nos registos institucionais pode permitir questionar e desafiar as versões oficiais da história, oferecendo unha visom diferente.

Os relatos dos informantes também servirom como contrapeso necessário às narrativas dominantes e com frequência enviesadas que emergem da documentaçom oficial.

Há mais alguma info imprescindível do trabalho que gostasses de destacar?

Acho que esta pergunta está ligada com a anterior, já que as testemunhas nom achegam apenas dados, mas também ajudam a construir umha narrativa coletiva da vida no rural galego. A través dos seus relatos, pode entender-se como as comunidades se adaptarom, resistirom e vivirom as mudanzas.

A interaçom constante com as pessoas informantes foi crucial para a reflexom e o desenvolvimento das ideias do livro. As conversas e os diálogos sobre as experiências da vida permitirom refinar e ajustar interpretações, achegando umha perspetiva mais rica. Estes intercámbios também influírom na direçom da análise e na formulaçom de conclusões, assegurando que o livro reflita nom apenas umha visom académica, mas também as realidades vividas das pessoas.

As pessoas informantes jogarom um rol ativo na criaçom de conhecimento. As suas experiências nom serven apenas como testemunhas passivas, senom que forom parte integral do processo de investigaçom. A colaboraçom con elas permitiu-me umha compreensom mais profunda.

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