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Adela Figueroa: “Eu não tenho religião, mas, se a tiver, seria a natureza da que todos fazemos parte”

Bióloga, escritora, poeta, ensaísta e ecologista, Adela Figueroa apresenta o seu último poemário, ‘Matria. Poesía para a Terra’, que ela mesma descreve como poesia ecologista. A autora reivindica a necessidade de enfrentar a crise ecológica em qualquer âmbito, também na poesia, pois, como ela mesma diz, “é a parte mais sensível da natureza humana”.

Afirma que Matria é poesia para a Terra. Como nascem os seus poemas?
Eu tinha um desabafo, uma inquietude muito forte ao ver como desfazem a nossa terra. O Governo que temos na Xunta trabalha contra o país. Devido ao sucedido com a mina de Touro, e agora com as agressões dos eólicos, recompilei várias poesias e decidi reuni-las num livro que titulei Matria. O poemário tem três partes. Uma delas, “Coma inducido”, recolhe as lembranças das pessoas que estiveram em coma a partir das que escrevi uma série de poemas que são como delírios de cores e de sensações. A segunda parte tem o nome de “Entre o soño e a distopia” e a terceira “Entre o soño e o delírio”, na que relaciono a mente humana com a própria terra. Eu não tenho religião, mas, se a tiver, seria a natureza da que todos fazemos parte.

A presença da natureza na poesia galega foi sempre um elemento característico das nossas letras. Faz parte a sua obra desse lirismo da paisagem?
Sim. Num dos meus trabalhos, Rosalía poeta Ambientalista, aprofundo em como desde as cantigas medievais a natureza nos domina; porque a natureza galega é poderosa, produtiva e fecunda. A nossa grande poetisa primeira e porta-estandarte, foi também a primeira ecologista que defendeu a identidade da terra.

Com este poemário entrelaça o seu labor como bióloga e como poeta.
Se olhamos para céu vemos a dança das estrelas, vemos todo o ritmo e a música do universo e podemos sentir que fazemos parte dela. As pessoas estamos feitas de carbono, oxigeno, nitrogénio… e a isso somam-se outros elementos químicos que conformam a maravilha que resulta a mente humana, capaz de perceber a beleza e o equilíbro. Gostaria de publicar um livro composto por três contos nos que falo da magia dos números. Quero aprofundar nessa magia das inflorescências das plantas que seguem um ritmo, uma lei matemática, como as volutas do caracol ou os movimentos dos astros. Um tema que também me interessa especialmente é o do ecofeminismo, o paradigma que deveria reger os anos que vêm.

Há uns dias, participou na feira do livro da Corunha. Como está a ser a acolhida do poemário?
Havia muita gente que vinha expressamente polo poemário, vendemos todos. Mas a questão não é a venda, mas que as pessoas vêm buscando algo tão estranho como a poesia ecologista. Atravessamos uma grande crise ecológica, que é a crise total. A Terra, que é o nosso berço, a nossa casa, o nosso abrigo, a mãe que todo nos deu, está em crise e isso é um assunto de grande importância, e acho que as pessoas já o percebem. Eu trato de expressar esta situação através da poesia, pois é a parte mais sensível da natureza humana.

Que importância tem que se divulgue este tema também através da literatura?

É fundamental. Compre difundi-lo em todas as linhas, na luta social, na política, na rua, mas também através desta parte afetiva. Neste momento de urgência temos de implicar-nos todas as pessoas, as que se dedicam à pintura, à poesia, à escritura, ao ensaio, à ciência… Compre escutar a ciência. As científicas são as que podem observar um fenómeno com capacidade criativa e independência intelectual. A ciência é uma forma de expressão artística.

É a terra a nossa Matria?
Sim, é mátria. A minha terra é a Galiza, onde nasci e onde moro. Com isto não quer dizer que esteja por cima de outras terras, mas a Galiza é a minha responsabilidade que não posso diluir esquecendo-me dela. A Galiza é uma nação com mais de 5.000 anos de história na que o indigenismo, o panteísmo e a comunhão com a natureza é fundamental. Porém, está a ser colonizada por um modelo urbanista e patriarcal que não é próprio do pais.

[Esta entrevista foi realizada por Mar Álvarez e publicada originariamente no Nós Diario]

 

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