A batalha da cultura

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A cultura galega dos últimos quarenta anos nom pode ser analisada a partir dumha foto fixa, redutora e simplificada. O que chamaremos de cultura da normalizaçom sustenta-se na tensom entre três polos, identificados por Roberto Samartim no tardo-franquismo: o da oficialidade, o da resiliência e o da resistência. Transmutados mais tarde num novo campo de disputas entre instituiçons oficiais, nacionalismo e movimentos sociais. A hegemonia desta cultura palpita no sentido comum galeguista atual: a cultura normalizada é a cultura nom politizada, (só) pode ter lugar no quadro autonómico e pode ser levada a termo dentro do capitalismo. Mais: a mercantilizaçom seria um sintoma do avanço do processo normalizador.

Alfonso Rodríguez

As políticas culturais oficiais baseárom-se numha açom de baixa intensidade. Desligadas de qualquer projeto transformador e orientadas para evitar o conflito com a cultura espanhola, vampirizárom o galeguismo para legitimar o novo quadro institucional. Mantivêrom a galega como cultura menor, regional preferente. Contra o que promove a vulgata nacionalista, nunca pretendêrom acabar com ela, mas mantê-la como marca e estigma de diferentes grupos sociais, às vezes antagónicos. Do rural folclorizado às classes intelectuais críticas.

As políticas culturais oficiais baseárom-se numha açom de baixa intensidade. Desligadas de qualquer projeto transformador e orientadas para evitar o conflito com a cultura espanhola, vampirizárom o galeguismo para legitimar o novo quadro institucional. Mantivêrom a galega como cultura menor, regional preferente.

Por seu turno, o nacionalismo transitou dum modelo anti-institucional para um modelo de pacto, dada a incapacidade para pôr em prática o projeto que procurava articular umha cultura expressiva nacional-popular. Olhou de longe as formas de vida, as práticas, os interesses, os sentidos comuns, as sensibilidades populares que escapam aos padrons do tradicional ou do autêntico. Acabou por apostar numha cultura representativa e no ideal da excelência. A celebraçom dos Premios Nacionales de. O catálogo de IKEA em galego. As aulas de galego no Instituto Cervantes. Um antagonismo só aparente, adubado com periódicas aldragens, mas na prática neutralizado polos consensos normalizadores.

O nacionalismo transitou dum modelo anti-institucional para um modelo de pacto, dada a incapacidade para pôr em prática o projeto que procurava articular umha cultura expressiva nacional-popular. Olhou de longe as formas de vida, as práticas, os interesses, os sentidos comuns, as sensibilidades populares que escapam aos padrons do tradicional ou do autêntico. Acabou por apostar numha cultura representativa e no ideal da excelência. A celebraçom dos Premios Nacionales de. O catálogo de IKEA em galego. As aulas de galego no Instituto Cervantes. Um antagonismo só aparente, adubado com periódicas aldragens, mas na prática neutralizado polos consensos normalizadores.

Nas últimas quatro décadas, as culturas associativas sobrevivêrom subterraneamente. Redes de inserçom local que procuram a coesom de comunidades e tenhem capacidade, constante ou pontual, para atuar como contra-poderes. Processos novos como o do Liceo Mutante de Ponte-Vedra, a Emerxencia Cultural de Ourense ou até a Rede de Apoio a Chema Naia, entre bastantes outros, parecem ainda inspirar-se neste modelo. Sem esquecer que o feminismo se consolidou como o movimento social com maior capacidade transformadora e que conseguiu estabelecer práticas, esquemas de experiência, um novo reparto do sensível (já) nom (necessariamente) subordinado à construçom nacional.

O encerramento mais simples e previsível para este artigo consistiria em afirmar que toda prática cultural oficial deve ser desprezada, que o nacionalismo tem de retificar os seus planos, que a única folha de rota desejável é a cooperativa. Mas acontece, aqui e agora, que o âmbito institucional é quase o único viável para a imensa maioria das profissionais da cultura que querem viver do seu trabalho. Que é difícil pensar numha alternativa ao existente que nom implique, no mínimo, dialogar com a herança do projeto nacionalista. Que faltam ainda redes colaborativas que impliquem um salto qualitativo dos precários projetos associativos. À frente temos o desafio de pensar e praticar umha açom cultural transformadora de várias velocidades e escalas: molesta no interstício da oficialidade, valente e nom essencialista nos programas partidários, persistentemente popular e nom tutelada no plano associativo.

[Este artigo foi publicado originariamente no Novas da Galiza]