Existe a crença errada de que o povo inuíte, esse que chamamos coloquialmente de esquimó, tem centenas de palavras para designar a neve. Vaia, tem algo de certo e algo de errado. As línguas inuítes som polissintéticas, e o que parece umha só palavra é na realidade umha aglutinaçom. Ou seja, que ainda que escrevam neveameioderreter todo junto, umha só palavra nom é.
Nalgum momento indeterminado houvo alguém que, ao escuitar esta crença, tivo umha revelaçom. Se aquela gente que vive entre a neve tem tantas palavras para ela, nós, na Galiza, temos que ter outras tantas para a chuva. E começou a escarvar no léxico galego. E nom importa que haja 20 termos diferentes que designem exatamente o mesmo tipo de chuva, nem que haja variantes dialetais que se diferenciam em apenas umha letra. Tanto tem, tudo conta. O importante é reunir o máximo número de palavras para poder escrever um artigo sobre o fermosa que é a língua galega.
Pois bem, eu renego totalmente deste riquinhismo, deste galeguismo de anúncio de Gadis, desta idealizaçom romântica da Galiza e a sua língua. O galego nom é umha língua preciosa que tenha que estudar-se como umha língua preciosa. Contra o Miña terra galega, donde el cielo es siempre gris dos Siniestro Total, eu proponho o Galicia es una mierda dos Ataque Escampe. E contra as 100 palavras em galego para designar a chuva, eu ofereço-vos as 100 palavras em galego para designar a merda. Preparai-vos, que aí vos vam.
No nosso dia a dia temos a merda, a frasca, a borra, a caca e a cagada. Quando queremos soar finos ou cultos temos os excrementos, as deposições, as fezes, as defecações, as evacuações, as dejeções e mesmo as egestas. Pola contra, se queremos soar vulgares, podemos dizer cagalheta, cagalhada, cerolho, cerelho, cerote, cirolo, pistilom, turulho, zorolho ou zulhom. Se tem umha consistência líquida chamamos-lhe diarreia, cagarrela, cagarria, caganeira, cagaleira, cagarela, cagarriça, foira, furrica, forrica, furriqueira, forriqueira, descomposiçom ou desventria. Se passeamos polo monte podemos ver as bostas, bostões, bostras, bóstias, bogas, boias, bosteiras, bosteiros, boleiras, buleiras, bulas, boligas, bostaregas, botaregas, arguieiros, barnadas ou parameiras que deixa o gado vacum; o gasto que deixa o cam; ou algum cagalhom, estravo, cagalha, cagalheira, galhete, galheto ou azabal dalgum outro animal. Podemos aproveitar essa matéria fecal para esterco, argueiro, cuito ou cútio, ou mesmo para guano se é de aves. E por último, se lemos um texto médico, podemos encontrar-nos com escíbalos, coprólitos, estercólitos, coprémeses e mecónio. Vam 71 palavras. Se nom vos parece avondo com os substantivos, somai-lhe os verbos cagar, ciscar, esfoirar, esfurricar, esforricar, escagarriar, escagarrinhar, escagarriçar, bostar, bostrar, bostear, gastear, borrar, estercar, bular, desempachar, estravar, defecar, excretar, sujar, evacuar, descarregar, cursar, cirlar, livrar, obrar, depor, deponher, dejetar, ejetar, evacuar, expelir e aliviar. Já passamos das 100, mas vamos contar também as expressões fazer de corpo, dar de corpo, fazer de ventre, ir de ventre, dar de ventre, soltar o ventre, soltar o intestino, fazer as suas necessidades, fazer os seus feitos, fazer os seus mandados, ir de campo, ir-se por si, ir a maiores e fazer águas maiores. No total, 118 formas de chamar à merda. Nom está mal.