Atopamo-nos ante o terceiro livro de Ramiro Vidal Alvarinho.
O seu primeiro poemário Letras de amor e guerra veu à luz no 2012.
Mares de Queixo publicou-se em papel no 2015. Anos antes já se publicara em formato digital.
Origem e ruptura está dividido em três partes:
- A mai invadida
- Bitácora de viagem
- Duas palavras.
- A mai invadida
São 12 poemas onde há uma constante menção à morte da sua mãe
O poeta faz referência a uma sociedade enferma. Invoca à memória da mãe nestes dias de guerra onde também há lugar a um sentimento de esperança:
Prometemos-te ressurgida
prometemos-te de novo à vida
voltarás, mai
tu com nós
e nós a ti
Ramiro pinta com os seus versos um panorama social desolador. Um sistema social que se cai a pedaços pelo seu próprio peso.
Nos, sioux, Kaiowas, Mapuches
nómades do concreto cadavérico
resistimos
e desafiamos
as legions escuras do poder
- Bitácora da viagem
15 poemas. Há um fio condutor: A viagem pelos espaços habitados do poeta: Compostela, Vigo, A Corunha, Sta. Cruz.
Está presente o comboio, Isso confire a viagem, ao meu modo de ver, um tom mais poético. As viagens de carro são sempre mais prosaicas. A serpe de ferro (meio de transporte público) também quadra melhor com o componente social presente na sua poética.
Ramiro faz referência de novo a esta sociedade que nos tocou viver cheia de violência.
engole-nos a distância
também a chúvia
as travessas
cantam o blues
dos quilômetros velhos
gastados
até que outra cidade nos abraça
com o seu nevoeiro choroso
Mas na viagem há também lugar para o amor que convive com a visão social do poeta.
as bocas viajam
as palavras bordam
na tea do amor
A ultima parte do livro é Duas palavras
São XII poemas tingidos dum sentimento filosófico. É a parte talvez mais intimista e reflexiva do livro.
Os temas que faz referência são o silêncio, a dor, a loucura a tristeza.
Há um leit-motiv que está presente nestes poemas, é o desengano amoroso, a cuita do amor.
Poema XI
Pactuei com o desespero
honrar o teu nome
invocando a vida
Poema XVI
duas palavras e consumará-se o sacrifício
duas palavras para te gelar o coraçom
Todo termina mal….
Também nesta parte Ramiro deixa-nos ver o que é uma constante na sua produção poética: o conteúdo ético dos seus versos, o pensamento político crítico defendendo a liberdade, lutando contra a opressão do fascismo imperante.
Isto proporciona a sua poesia um carimbo de voz própria que o leitor agradece ao começar a viagem nestes textos de amor e guerra, parafraseando o título do seu primeiro livro.