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Paulo Tobio: “existe um arquivo disperso do independentismo galego, mas ainda falta sistematizá-lo e centralizá-lo”

Natural de Cúntis e residente em Vigo, Paulo Tobio iniciou a sua trajetória na causa galega no Movimento de Defesa da Língua a meados dos 90, para logo dar o salto a AMI e envolver-se ativamente nos centros sociais, num ativismo que compaginou sempre com o seu trabalho de operário. Vocalista das bandas Skárnio e Liska!, nas suas várias décadas de implicaçom tem organizado um importante arquivo hemerográfico do independentismo, que hoje pom a dispor do público através da conta @garroahemeroteca, em twitter e instagram. Com ele falamos do passado recente da Galiza e de socializaçom da memória.

Qual a razom de lançares Garroa Hemeroteca?

Trata-se de dar a conhecer o nosso passado recente, e para isso ocorreu-se-me esta palavra tam sonora e carregada de simbolismo, muito presente nas Rias Baixas: “garroa”. É o que em Cambados chamam “vento mareiro”, o vento que vem do océano, do noroeste, e refresca; na Ilha da Arousa, “gharroa” é o vento que traz as dornas a terra. É umha achega à nossa memória histórica através do que contava do movimento independentista, fundamentalmente, a imprensa espanhola na Galiza. Aparecem alguns cabeçalhos galegos, como o extinto semanário A Nosa Terra, ou Tempos Novos, mas fundamentalmente som meios espanhóis, de La Voz de Galicia a La Región, passando por La Opinión, Atlántico, El Correo Gallego…

Para concretizar a iniciativa, contavas já com umha completa hemeroteca, certo?

Eu entrei no movimento em 1995, no reintegracionismo de base, no MDL, de ali passo a AMI. Desde o primeiro momento, com esses costumes da militáncia de ser organizado, de ser ordenado, estou atento a todo o que se publica sobre o independentismo e vou-no recompilando. Fago-o de maneira ininterrupta até 2014. Também acumulo materiais, propaganda, em importantes cantidades, esse apartado doei-no ao centro social Mádia leva, de Lugo, que organiza um bom arquivo do independentismo. Mas quanto à imprensa, comecei no passado 17 de agosto, subo conteúdos diariamente, até agora vam 60 recurtes soltados em instagram e twitter. Nom levo subido nem umha quarta parte do primeiro classificador que tenho na morada.

Qual foi o tratamento mediático nestas duas décadas?

Na maior parte dos casos trata-se de notas de imprensa de agências, provavelmente redigidas polo Ministério de Interior, e os meios jogam o papel que jogam em conflitos políticos como o nosso. O tratamento é basicamente difamatório. Cumpre ser cautos, e ter presente aquela frase conhecida de Malcom X, que dizia que se nom estivermos alerta, os meios farám-nos amar os opressores e odiar os oprimidos. Dito isto, trata-se dum período recente das nossas vidas, e separando o grao da palha, podemos conhecer um período muito interessante.

Que nível de conhecimento há nas novas geraçons militantes daqueles processos sociais e políticos dos 90 e começos deste século?

Nom podo contestar a esta pergunta porque tampouco tenho informaçom abonda, nom falo diretamente com a gente dessa geraçom, assi em termos amplos. A minha ideia foi subi-lo todo a redes porque o que tenho arquivado, na morada, nom fai funçom nenhuma. E penso que este é o meio. Na nossa época consultávamos dossieres impressos como quem lia um livro, analisavam-se, estudavam-se…hoje é mais difícil que aconteça isso, por muito interesse que existir, as formas de leitura som outras, nom se dedica tanto tempo. Entom, o formato, acho, é o das redes sociais.

Na maior parte dos casos trata-se de notas de imprensa de agências, provavelmente redigidas polo Ministério de Interior, e os meios jogam o papel que jogam em conflitos políticos como o nosso. O tratamento é basicamente difamatório.

Como um dos protagonistas daquela jeira, que agora bota a vista atrás, através do que contava a mídia, como caracterizarias aquela época?

Muito distinta à atual, nomeadamente polas circunstáncias históricas que nos tocou viver. Sobretodo entrando neste século, a época das grandes mobilizaçons, as greves gerais sucessivas, e aquele movimento sem precedentes que foi o Nunca Mais. Todo isso condicionou o independentismo; em geral, nas naçons sem estado na Europa ocidental, o ciclo que se abre com o abandono progressivo das armas por parte do movimento basco penso que também foi muito marcante na hora de condicionar as nossas estratégias.

paulo tobio
Imagem: Paulo Tobio

E num plano mais pessoal, como se vivia aquele momento?

Com militáncia plena. Era umha militáncia ativa e intensa, do dia a dia; erguias-te para militar e deitavas-te a pensar na militáncia. Condicionou as nossas vidas, e houvo muitas cousas que deixamos de lado para centrar-nos nisto.

Nom pensas que na mediana idade existe um risco muito recorrente de mitificar o passado, também em termos políticos?

Sem dúvida que existe, e nom apenas na mediana idade. Nós, sendo novos, mitificávamos os anos 80, e em particular a etapa do EGPGC, que estudávamos muito a fundo. Foi importante conhecer os seus protagonistas para pôr os pés na terra e conhecer o tema polo miúdo, tendo umha visom mais cabal. Felizmente, as pessoas protagonistas da jeira que se recolhe em Garroa Hemeroteca estám vivas, muitas ativas, e a mocidade pode dirigir-se a elas para contrastar e ter umha visom rigorosa das cousas, para nom mitificar.

Era umha militáncia ativa e intensa, do dia a dia; erguias-te para militar e deitavas-te a pensar na militáncia. Condicionou as nossas vidas, e houvo muitas cousas que deixamos de lado para centrar-nos nisto.

O independentismo adoita ter organizaçons de curta vida e muitos dos seus locais, ou domicílios de militantes, foram assaltados umha e outra vez polas forças policiais, com o que se perdeu um grande património arquivístico. Concordas com isto?

Concordo parcialmente. É certo, os contínuos embates repressivos das primeiras décadas de século, a moradas e a sedes políticas, com requisas permanentes de materiais, frustrárom ter um arquivo nacional em condiçons. Mas eu acho que perdido nom está. Os movimentos sociais nutrimo-los as pessoas, entom a nível individual temos boa parte do arquivo, se nom todo, em possessom; eu no meu caso concreto tenho muito material, como curiosidade, algum dele com o carimbo da guarda civil, pois por vezes, depois das operaçons, devolvem parte do requisado. Bem é certo que falta sistematizá-lo e centralizá-lo, para o que cumpre umha equipa militante que poida trabalhar em condiçons.

[Este artigo foi publicado originariamente no galizalivre.com]

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