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Mário Regueira: “A normalizaçom jogou as cartas do sentimentalismo e a nom conflitualidade e muito pouco a do conhecimento e a exigência”

foto de Lorena Souto
foto de Lorena Souto

Neste ano 2021 cumprem-se 40 anos desde que o galego passou a ser considerada língua co-oficial na Galiza, passando a ter um status legal que lhe permitiria sair dos espaços informais e íntimos aos que fora relegada pola ditadura franquista. Para analisarmos este período, iremos realizar ao longo de todo o ano umha série de entrevistas a diferentes agentes sociais para nos darem a sua avaliaçom a respeito do processo, e também abrir possíveis novas vias de intervençom para o futuro. Desta volta entrevistamos o escritor e doutor em Teoria da Literatura e Literatura Comparada, Mário Regueira.

Qual foi a melhor iniciativa nestes quarenta anos para melhorar o status do galego?
Ao rever quarenta anos dumha mudança que inicialmente foi tam radical no status jurídico e social da nossa língua é difícil passar por alto algumhas destas novas possibilidades. Poder termos umha rádio e umha televissom pública, a incorporaçom do galego ao ensino ou a sua normalizaçom na política autonómica fôrom sem dúvida referências muito relevantes para umha língua minorada e desvalorizada polo franquismo precedente. Sem esquecer estes factos inegáveis, gosto de ressaltar também o foco popular, umha defesa que se moveu de forma muito mais horizontal e apoiada nos movimentos sociais. Quero destacá-la por duas razons: em primeiro lugar porque da mao da movilizaçom social conseguimos cousas que nom seriam possíveis desde a oficialidade: desde a consciencializaçom individual ou o facto de ganhar espaços sociais novos para a língua até a defesa doutras alternativas históricas ou normativas. A segunda razom é que funcionou e funciona ainda como um canal de exigência política necessário e muito valioso para qualquer sociedade democrática. Como dizia, é difícil valorar um período tam longo que parte dumha mudança tam grande, gosto de pensar que umha parte importante da galeguidade nom deixou de valorizar a mudança de status que se deu a começos dos anos 80, mas também conserva a consciência da relativa precariedade desses direitos e nunca baixou a guarda à hora de exigi-los nem a vontade de ampliá-los.

Gosto de pensar que umha parte importante da galeguidade nom deixou de valorizar a mudança de status que se deu a começos dos anos 80, mas também conserva a consciência da relativa precariedade desses direitos e nunca baixou a guarda à hora de exigi-los nem a vontade de ampliá-los.

Se pudesses recuar no tempo, que mudarias para que a situaçom na atualidade fosse melhor?
Penso que a dimensom histórica da língua galega, a que nos entronca com a lusofonia, foi umha vantagem que demorou e demora ainda em ser posta em jogo com todas as suas possibilidades. É algo que nos individualiza dentro das outras línguas do Estado espanhol, mas jogamos estes anos como se esse nexo nom existisse ou aproveitando-o só desde posiçons retóricas. Acho que umha Galiza que nestes 40 anos mirasse mais para Portugal e Brasil teria ganhado muito em termos de normalizaçom linguística e estima própria. Outro ponto é como desde praticamente todos os governos autonómicos houvo umha ambiçom muito baixa a respeito da língua e da pertinência da sua exigência legal. Atitudes que fôrom desde a irresponsabilidade e um medo estratégico pouco compreensível.

Penso que a dimensom histórica da língua galega, a que nos entronca com a lusofonia, foi umha vantagem que demorou e demora ainda em ser posta em jogo com todas as suas possibilidades. É algo que nos individualiza dentro das outras línguas do Estado espanhol, mas jogamos estes anos como se esse nexo nom existisse ou aproveitando-o só desde posiçons retóricas.

Que haveria que mudar a partir de agora para tentar minimizar e reverter a perda de falantes?

Foto de Lorena Souto
Foto de Lorena Souto

É umha questom enormemente complexa, mas sempre penso que a normalizaçom jogou de forma exagerada as cartas do sentimentalismo e a nom conflitualidade e muito pouco a do conhecimento e a exigência. Está bem defender a língua porque a falavam as nossas avós, claro que sim, é um laço ao que nom devemos renunciar, mas também temos que ser conscientes de que a maioria das nossas avós fôrom defensoras de trincheira da nossa língua sem os recursos que hoje temos. Temos o dever de melhorar o que herdamos e recuperar a memória roubada que se perde na noite dos tempos, e aí entra de novo a dimensom histórica. Ficar com a atitude rebelde das avós é também lutar por outro status social da língua, algo que devemos fazer em âmbitos aos quais a língua nunca tivo a oportunidade de chegar mais que com enorme dificuldade. Particularmente apavora a situaçom do galego na universidade após estes 40 anos, há contextos, como Medicina ou Direito onde é quase impossível receber aulas em galego e mesmo continua a haver problemas para exercer os direitos do estudantado como falantes.

Achas que seria possível que a nossa língua tivesse duas normas oficiais, umha similar à atual e outra ligada com as suas variedades internacionais?
Sim, acho possível e recomendável, embora países como Noruega (também com duas normas) achárom que também nom era umha soluçom mágica e continuava a haver desigualdades entre as duas variedades. Mesmo assim, penso que é importante rebaixar a intensidade da questom normativa, e nom haverá convivência possível com atitudes de marginalizaçom e mesmo criminalizaçom como as que tem sofrido o reintegracionismo durante as últimas décadas. O direito a existir e a defender com liberdade umha perspetiva de futuro para o nosso idioma deveria ser o mínimo marco de convivência.

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