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Antom Díaz, dos Ulträqäns: «Os Papaqueixos morrêrom novos, como bons rockeiros, e alguém tinha que continuar no caminho do punk-folque galaico»

Maria Espantoso – Antom Díaz leva desde 1994 nos cenários, quando debutou com ‘Os Papaqueixos’, formaçom musical na qual continuou até a dissoluçom em 2001. Polivalente e dinámico, continuou a fazer música com outras formaçons e projetos, às vezes em vários a um tempo, com galegos e outros lusófonos, mas nom só.

Com o angolano Alberto Mvundi fundou a ‘Turma Angolo-Galega’. Em 2002, em parceria com Xurxo Souto e Fran Amil, montárom Os 3 Trebóns, banda na qual ainda está e que comparte com as suas responsabilidades para Ulträqäns —grupo criado em 2007— ou projetos como ‘Ondas Martenot’ —com Leo F. Campos, Cristina Asenjo e Fran Amil— ou a banda ‘Tic Tac’ de Pablo Díaz, focada para o público infantil.

Precisamente som os Ulträqäns notícia nos últimos dias, pois recentemente apresentárom o seu primeiro disco, quase quatro anos depois de começarem a tocar juntos. Com motivo disso conversámos com Antom, e a seguir oferecemos a entrevista que resultou, na qual repassamos a trajetória do grupo, expetativas e algumhas consideraçons sobre as licenças de ediçom e o conceito de música galega.

 

Capa do primeiro disco dos Ulträqäns

Maria Espantoso: Antom, qual é o eixo temático deste vosso primeiro disco?

Antom Díaz: Eixo? Arde-lhe o eixo!! Polo demais, podemos dizer que mais do que um núcleo rígido e unidimensional, o que temos os Ulträqäns no disco que acabamos de autoeditar é um chimpim de três rodas motorizado e de alta velocidade. A roda central ou diretriz é o repertório tradicional galego, mas também celta e muito mais balcánico. De facto, o germolo desta banda foi um grupo de danças do mundo que se chamava “Deixa que Xa!”, em que militávamos Aarón [Bouzón] e mais eu. Esta agrupaçom trabalhava um repertório de danças do mundo, especialmente do leste e do norte da Europa.

Depois incorporárom-se decontado Fran Amil, como nom!, à bateria, e Tino Vilaro à guitarra, dous velhos amigos do rock and roll corunhês. A finais de 2009 entrou a equipa ultraqánida o acordeonista Tomás Sáiz, diretamente chegado de Cuenca. Cada um deles achegou ao grupo a sua maneira de fazer as cousas.

As outras duas rodas do chimpim, as motrizes, som a estribor o punk-bravu —rabudo e irreverente— e a babor o rock progressivo, o jazz e a paranoia psicodélica —para isso apoioamo-nos no sintetizador EWI 4000 ou «pirulo infernal para gerar subidons»—. Agora já temos o nosso veículo a motor disposto a cruzar os torreiros da festa de riba a baixo do país e do resto do universo!

 

O Antom Díaz nos cenários

ME: Que diferença há com experiências anteriores?

AD: Os Ulträqäns recolhem, em certo modo, o testemunho dos velhos Papaqueixos num jeito de entender a música. A chave do assunto é carecer de preconceitos musicais, misturar tudo sem pudor com a ledícia que nos dá a incosciência e conservar um chisco de rebeldia sem esquecer a tradiçom.
Os Papaqueixos morrêrom novos como todos os bons rockeiros, assim que alguém tinha que continuar na senda do punk-folque galaico. Eis a nossa missom neste cacho de planeta!

ME: Quais som as vossas expetativas com este disco?

AD: Em realidade nom há expetativas, já que o mundo da música é completamente impredizível. Muitos bons projetos ficam à beira do caminho apenas polo motivo de nom estarem no lugar adequado no momento justo. Portanto, o grupo nasceu sem qualquer tipo de pretensons, exceto a de nos divertirmos.

O primeiro ano de existência tocámos em muitas festas, de maneira que a gente tem um conceito nosso distinto do que somos agora. Começamos o choio montando umha banda 101% instrumental, por exemplo, e a dia de hoje a metade do repertório do direto já é cantado. Também incorporamos nova instrumentaçom, como a de Tomás ao acordeom, que lhe deu um pulo definitivo à nossa música, deixando respirar um bocadinho mais ao noso frauta [Aarón], que o homem rematava os concertos quase anaerobicamente. E decidimos apostar pola velocidade musical, polo que o contrabaixo foi perdendo protagonismo, cedendo-lho ao baixo elétrico.

Estreia a 25 de abril

ME: E o disco foi estreado a 25 de abril. Figestes algo de particular?

AD: Erguer-se pola manhá cedo e ir choiar… que a música nom dá para viver… ainda que sim para beber [risos]. De todos modos, a nossa triste realidade de ‘entre semana’ nom resta glamou aos nossos diretos da campanha primavera-verao, que cada atuaçom dos Ulträqäns é como se fosse a primeira… e a derradeira.

ME: Algum significado especial para vós 25 de abril?

AD: Tínhamos pensado tirar o disco ‘sim ou sim’ antes do verao, polo que 25 de abril era umha boa data, fazendo a chamada ‘Revolução dos Chcoos’, rememorando a ‘Revolução dos Cravos’. O choco, ou mecano-choco, é a nossa mascote, que sai na capa do disco. Acho que temos que evitar discriminaçom e reivindicarmos também os nossos irmaos os invertebrados… nem tudo vai ser espinha dorsal, bem serve umha cuncha calcárea!

Seja como for, na minha humilde e irrelevante opiniom, 25 de abril nom deixa de ser um bonito símbolo poético do que pudo ser e nom foi: a ditadura dos militares de antes foi substituída pola ditadura dos economistas de agora…

ME: Quais vam ser as próximas apresentaçons do disco?

AD: Continuando com a teima de antes, cada concerto vai ser um lançamento do disco até chegar o próximo trabalho! Entre a crise negra que estamos a suportar e as eleiçons, a contrataçom está-se a fechar muito tarde. Contudo, podo dizer, de memória, que este ano montamos festa em Marim, Corunha, Porrinho, Maceda, Cela Nova, Padrom, Calo (Teu), Mugardos, Bretonha (Pastoriça), Baralhovre (Fene)…

ME: Que valorizaçom se pode fazer do tempo que leva Ulträqäns?

AD: Mais positiva nom pode ser! O grupo montamo-lo em 2007 aproveitando que eu estava de baixa laboral por culpa de que os meus ligamentos nom pudéron agüentar os passes de baile a que foram submetidos diante do palco da orquestra na festa das Sam Lucas de Mondonhedo.

Esse momento de paz e de reflexom, portanto de aborrecimento, levou-me a mercar um contrabaixo elétrico fabricado na China comunista. Em base a isso, juntei-me com o resto da banda e argalhamos um repertório punk-folque para tocar nas festas do verao, nada mais. Mas a cousa foi tomando jeito e medrando aos poucos, assim que nom tivemos mais remédio que gravar disco, autoeditá-lo e preparar um plano de dominaçom mundial que nos leve cara à festa e a cafurnada massiva!!

Ilustraçom com componentes dos Ulträqäns

Multidom de projetos

ME: Tu, particularmente, andas também noutros projetos musicais… como dás feito com tanta atividade?

AD: Pois nom sei como vou dar feito, porque no tempo livre tenho que trabalhar! Mas é algo ao qual nom vou renunciar, pois, como dixem, da música rock na Galiza nom se poe viver, assim que polo menos imo-lo passar bem. Com ‘Os 3 Trebóns’ já fazemos nove anos desde que nos juntamos para gravar o hino do Correlíngua, sem qualquer expetativa tampouco… e aqui estamos, sempre que houver alguém com ánimo de festa. Ademais, é um luxo compartir cenário com uns fenómenos totais como som ‘Os Homes sen Medo’ ou os amigos do ‘Jarbanzo Negro’, que também se unem às nossas festas.

Com a banda ‘Tic Tac’ de Pablo Díaz podo dizer o mesmo: a gente que a forma som uns auténticos craques, o repertório composto por Pablo é lindo de tocar e ainda, como grupo e horário infantil, sempre o tenho mais doado para compaginar com o horário de adultos. É umha satisfaçom ver os pícaros bailar e desfrutar com música do País!

Também estamos com grande intensidade noutro projeto que formámos uns amigos, ‘Ondas Martenot’, um grupo de inspiraçom loispereirística que ideamos para celebrar à nossa maneira o ano das letras galegas longe da pompa institucional. Porque os poetas ou som do povo ou nom som. E Lois fluía versos que quadrárom muito bem com o nosso modo de perceber as cousas, porque era um púnki. Com esta história estamos a fazer umha gira polo País que começou na Coruña e pasa por Compostela, Porrinho, Maceda de Trives, Lugo, Sam Sadurninho, Pastoriça, Ourense, Monforte…

E tampouco podo esquecer a ‘anarco-charanga’ dos ‘Veraneantes’, aquelada pola grande orquestra da montanha galega, ‘Os Cuchufellos’.

Licenças

ME: Sob que licença está editado o disco?

AD: Creative Commons, abofé. E nom há alternativa, salvo que sejas Loquillo, Siniestro Total ou Ramoncín. O mercado e mercadejo da música nom se fijo para os músicos que vivemos ao dia, é um outro mundo que nom nos interessa. O que nom pode ser é que a gente que gere os teus dereitos inteletuais nom seja outra cousa que umha restra de mafiosos. O que nom pode ser é que para editares o teu próprio disco, tanto se és umha banda pequena ou nom, tenhs de pagar umha ‘mordida’ à SGAE porque sim e só se encarregam de tomar nota dos ‘artistas’ grandes com direito a voto que fam pressom para levarem a água ao seu moinho.

Depois, organizas um festival ou um ato público e aparecem os seus empregados a modo de extorsionadores reclamando umha percentagem da arrecadaçom, mesmo que seja um festival benéfico! Copyright ou SGAE, é algo do qual devemos fugir sem contemplaçons.

O que é a música galega?

ME: Apenas umha reflexom final. Vós fazeis música galega e em galego. Acaso pode havê-la galega e em espanhol?

AD: Alegra-me que me fagas essa pergunta [risos]. Do mesmo modo que há um ‘sistema literário galego’, nom sei o motivo polo qual teríamos de renunciar a um ‘sistema musical galego’. Resumindo, para mim, a música galega é a música feita em galego, um código de expressom feito na língua própria da Galiza. E quando digo língua non me refiro apenas às letras das cançons nem moito menos, mas ao jeito de se comunicar e de interagir. Quando apresenta o grupo, quando fás umha entrevista, quando escreves textos relacionados… nom som factos irrelevantes em absoluto.

Acaso a moinheira de Chantada nom é unha peça universal, mas galega ao mesmo tempo? Deixaria de ser umha peça galega polo facto de nom ter letra e ser instrumental? Deixaria de ser galega porque a toque um intérprete argentino? Ponhamos outro caso, umha versom dos Beatles é música galega porque a toque um tipo de Coristanco? O pop británico tocado por alguém da Fonsagrada deixa de ser pop británico?

De todos modos, o verdadeiro problema da música galega atual é outro. Comento-o agora porque me amola muito ler nos meios tipo La Voz de Galicia parvadas como que a cultura galega está subvencionada e burrices similares: a imensa maioria dos grupos galegos, por nom dizer o 100%, nom vírom nunca um euro como subvençom.

Nas festas galegas, que som muitas e grandes, mesmo que seja numha freguesia ou aldeia pequecha, sempre haverá lugar para as orquestras, cousa que me parece muito bem, pois sou-vos bem amigo da verbena e tenho muitos amigos e camaradas que tocam nas orquestras. Os orçamentos dedicados às orquestras som 20 ou 30 veces mais grandes que os quartos dedicados a um típico festival galego com grupos de rock ou folque, por mui importante que seja este festival. E mesmo assim, verbenas há milhares e festivais só uns poucos.

É do que gosta a gente? Parece-me muito bem, mas muito desse dinheiro sai também das contas públicas e dedicam-se a financiar festas caríssimas com um repertório em que é excluída a música galega. E mesmo assim, a SGAE arrecada muito dinheiro quando as orquestras se dedicam a reproduzir —digo reproduzir e nom tocar, porque muitas é o que fazem, em playback, e nom som poucas precisamente— os êxitos supervendas das radiofórmulas espanholas. Eis o triste panorama —e nom é um jogo de palavras— da música galega.

Remato com umha pequena anedota. A última vez que estivem na zona norte de Nafarroa, nas festas de umha pequena localidade, o pessoal dizia: «às 11 vai tocar a orquestra». Esperando ver o típico show pailám que temos na Galiza, essa orquestra era um grupo de rock com trikitrixa que fijo bailar em roda todo o povo, de crianças a velhas de cem anos. E tivem sá inveja…

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