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O movimento da ‘Escola Nova’ entre as duas guerras mundiais, num documentário de Joanna Grudzinska

Escola Nova livro sobre sua DidaticaCom o passo do tempo, os pedagogos vamo-nos dando conta que o movimento educativo mais importante da história em todo o mundo foi, sem dúvida alguma, o conhecido como “Escola Nova”. Embora a expressão “educação nova”, ao ser muito empregada, pode confundir-nos, pois certamente, desde o ponto de vista filosófico, também foi educação nova em contraposição à tradicional, a de Sócrates e Aristóteles na Grécia clássica e a de Quintiliano em Roma, que de forma muito acertada, assinalava que não há melhor ensino que aquele que se faz jogando. E já na Renascença as famosas escolas da alegria e do jogo dos italianos Maffeo Vegio e Vittorino da Feltre. A seguir, os modelos educativos propostos por grandes educadores como Rabelais, Montaigne, Comênio, Locke, Basedow, Pestalozzi, Froebel, Herbart, Spencer, Owen e, a nível teórico, Rousseau.

As primeiras “Escolas Novas”, com esse título expresso, surgiram em Instituições privadas de diferentes países europeus, depois de 1880. Época na que também se publicam os trabalhos iniciais de observação experimental da aprendizagem e se fizeram os primeiros ensaios de medida das capacidades mentais e do rendimento do trabalho escolar. Com o título de “Bureau International des Écoles Nouvelles” (Oficina Internacional das Escolas Novas), dirigido por longo tempo pelo grande educador Adolphe Ferrière, em 1889, os propugnadores do movimento, que já eram suficientemente numerosos, criam uma entidade coordenadora de caráter internacional, que ajuda a difundir por todo o mundo as suas ideias educativas, de caráter teórico e prático. Precisamente, em este mesmo ano se funda a considerada primeira “Escola Nova” da história em Abbotsholme-Escócia, pelo educador Cecil Reddie. Embora, eu considero que a mais antiga é a Instituição Livre do Ensino (ILE), criada em 1876 em Madrid por Francisco Giner de los Ríos e vários de seus colaboradores. E ainda se pode falar de que a primeira, e a pioneira de todas, foi a “Iasnaia Poliana” criada por Leão Tolstói, em 1859, na sua quinta próxima à cidade de Moscovo. Precursora assim mesmo da denominada “Pedagogia libertária”.

O movimento das “escolas novas” terminou por estender-se também a América e a Ásia. Na difusão do novo pensamento pedagógico tiveram grande importância o labor realizado por Ferrière (1879-1960) e por Beatrice Ensor (1885-1974). Esta foi a “alma mater” da The New Education Fellowship (Comunidade da Nova Educação), que se estendeu por todos os continentes. Alguns autores usaram para denominar estas escolas o termo de “Escolas Progressivas” ou “Escolas Ativas”, embora o título mais usado e reconhecido foi o de “Escolas Novas”. Na cidade francesa de Calais, em 1921, os participantes no congresso destas escolas acordaram que o Bureau ou Oficina passasse a ser denominado como “Liga Internacional das Escolas Novas”. A maioria das escolas novas que se foram criando com o tempo, a partires da escocesa, integraram-se no movimento mundial, organizando congressos periódicos para debater e intercambiar experiências e para estabelecer os princípios educativos e organizativos para o funcionamento destas escolas, chamadas novas por ser uma alternativa às escolas tradicionais. Embora, por diversos motivos, como querer manter autonomia e liberdade (o caso da ILE é um exemplo), ou encontrar-se a muita distância do centro coordenador e ser muito difícil em aquele momento o deslocamento dos seus representantes aos congressos que se celebravam em Europa, houve escolas que cumpriam todos os princípios educativos mas que não se integraram formalmente no movimento, como é o caso da Santiniketon (Morada da Paz) de Robindronath Tagore, ainda que sim formou parte da sociedade dinamizada por Beatrice Ensor, que foi citada antes.

Adolphe Ferrière
Adolphe Ferrière

Entre 1889 e 1939 foram nascendo e funcionando numerosas escolas novas na maioria dos países europeus, alguns americanos e outros poucos asiáticos. A escola escocesa de Abbottsholme-Derbyshire, criada por Reddie, provocou uma reação em cadeia, tomando-a como modelo, e incorporando logicamente algumas intuições pessoais dos diferentes criadores, foram aparecendo outras, das que merecem destacar-se as seguintes: a de Bedales-Sussex de J. H. Badley (1893), as alemanasLanderzieehungshelm” (Lares de Educação no campo) em Ilsenburg, de Hermann Lietz (1898), a Comunidade Escolar Livre, em Wickerstorf-Turingia, de Gustav Wyneken (1906) e a Odenwaldschule de Paul Geheeb (1910), que mais tarde criou em Trogen (Suiça) a famosa École d´Humanité. Até 1934 na Alemanha foram nascendo outras muitas com a denominação de “Comunidades escolares”. Na França, o movimento foi iniciado por Edmond Demolins, ao criar em 1899 a “Escola das Rochas”. Até a criação por Freinet da sua escola moderna em 1920, foram surgindo algumas outras de vida efémera e não com a proliferação germânica. A Suíça seguiu mais o modelo alemão, com bastante fidelidade. Tobler fundou em 1907 um lar de educação no campo em Hof-Oberkirch. Já em 1937, escapando da persecução de Hitler, Paul Geheeb, com a ajuda da sua esposa Elisabeth Hugenin, funda a famosa “Escola da Humanidade”, antes mencionada, que ainda funciona hoje, igual que a de Odenwald. Nos EUA as inovações escolares foram-se multiplicando, ao que muito ajudou o caráter descentralizador do sistema educativo norteamericano, e a que muitas universidades contem com centros pilotos para realizar práticas educativas e para a experimentação pedagógica. A mais importante escola nova foi a criada por John Dewey em 1890 na Universidade de Chicago, com o título de “Escola Laboratório” (Laboratory School). A sua influência deixou-se sentir no nascimento posterior de outras escolas novas como a Horace Man, a Lincoln e a Speyer. Mais tarde em 1920, Helen Parkhurst funda o famoso Plano Dalton (The Dalton School) na cidade do mesmo nome. E antes, em 1907, Johnson cria em Fairhope-Alabama a “Escola de Educação Orgânica” (School of Organic Education), e Lewis em Chicago a “Parker School”.

Em Bruxelas-Bélgica o grande pedagogo Ovídio Decroly funda em 1907 a “École de l´Ermitage” e inicia a prática do método globalizado dos centros de interesse. Em Itália, Maria Montessori, grande educadora da escola infantil, funda em 1906 em Roma a “Casa dei Bambini” (Casa das crianças), e o seu modelo terminou por difundir-se em grandes partes do mundo. Não quero deixar de mencionar o nascimento de outras escolas novas, e entre elas a Santiniketon (Morada da Paz) de Robindronath Tagore, fundada em 1901 no coração da Bengala indiana, com funcionamento na atualidade e contando também com uma universidade internacional. Em Bogotá-Colômbia, em 1914, Agustín Nieto Caballero cria o Gimnasio Moderno, considerado como a primeira escola nova de América Latina. Em 1912 nasce em Genevra o Instituto J. J. Rousseau, por obra de Ferrière, Claparède e Bovet, que tanta importância ia ter para o movimento das escolas novas. Em 1920 Hermann Keyserling funda em Darmstardt a “Escola da Sabedoria”. Um ano mais tarde, em 1921, Beatrice Ensor cria a “The New Education Fellowship”, para difundir por todo o mundo o modelo pedagógico das escolas novas. No Brasil é de enorme importância o movimento das Escolas Novas, graças à dinamização exercida por Lourenço Filho, Cecília Meireles, Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo e Armanda Álvaro Alberto. Outras escolas novas importantes foram as de Kilpatrick (Método de Projetos), Neill (Summerhill), Ferrer i Guárdia (Escola Moderna), Kerschensteiner (Escola do Trabalho), Andrés Manjón (Escolas do Ave Maria, em Granada), Rosa Sensat (Escolas do bosque e do mar), Lorenzo Milani (Escola de Barbiana), Rosa e Carolina Agazzi (Escola de Mompiano), Elmhirst (Dartington Hall, em Devon), John Bremer (Escola Aberta, em Filadélfia), Cousinet (Método de trabalho livre por grupos), Makarenko (Colônia Gorki), Petersen (Plano Jena), Carleton Washburne (Sistema Winnetka), Rudolf Steiner (Escola Livre Waldorf, em Stuttgart) e Gabriela Mistral, dinamizadora das escolas novas mexicanas, por proposta de José Vasconcelos, ministro de educação naquela altura. A UNESCO, na cidade de Genebra, conserva grande parte da documentação sobre este grande movimento educativo de caráter mundial. Uma documentação muito valiosa, que é necessário difundir entre educadores e administradores da educação de todos os países do planeta. Muito recentemente, vêm de realizar-se um filme sobre este movimento educativo no período de entreguerras, pela diretora polaca Joanna Grudzinska. O mesmo poderá ser olhado no presente ano de 2015.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

  • Escola Nova escola de H LietzTítulo original: Un Frêle Bonheur, l´Éducation Nouvelle entre les deux Guerres Mondiales (Uma frágil felicidade, a Educação Nova entre as duas guerras mundiais).
  • Diretora: Joanna Grudzinska (França, 2014, 90 min., a cores e branco e preto).
  • Produtora: Les Films du Poisson (París). Com a colaboração de Bourse Villa Médicis e Programme Media, e a difusão de Arte France.
  • Realizadora da pescuda para o Roteiro: Véronique Nowak, investigadora independente. A sua pescuda foi realizada em arquivos audiovisuais sobre os pedagogos da Escola Nova, e entre eles, Freinet, Neill, Montessori, Ferrière, Geheeb, Decroly, Makarenko e Korczak; e em arquivos históricos para o período de entre-guerras. A sua recolha foi feita durante cinco meses, entre agosto e dezembro de 2013.
  • Argumento: As pedagogias alternativas na Europa de entreguerras. Depois da Primeira Guerra mundial, numa Europa traumatizada, um novo género de pedagogos elaboram o projeto revolucionário de cambiar o mundo mudando a escola. Eles chamam-se Montessori, Steiner, Freinet, Korczac, Makarenko, Ferrière, Neill… O seu sonho durou apenas alguns anos, mas ainda se olha hoje, dentro dos muros das nossas escolas.

ÉPOCA DE OURO DAS ESCOLAS NOVAS (1918-1939):

Beatrice Ensor
Beatrice Ensor

Em 1918 Europa acordou depois dum largo pesadelo coletivo e bélico. A experiência traumática da primeira grande guerra fez nascer um sonho pacifista coletivo. Associações internacionais de trabalhadores foram aparecendo e a Liga das Nações foi estabelecida. Os comités criados a favor da paz mundial, sediados na cidade suíça de Genebra, estavam presididos por Robindranath Tagore. Os pensadores e intelectuais buscavam explicações: “De quem é a culpa?”. Na França, Alemanha, Reino Unido, Polónia, Bélgica, Rússia ou Itália, um novo tipo de mestre respondeu que a culpa era da educação tradicional e da sua filosofia, o egoísmo do grupo e uma ausência total de pensamento crítico. Foram estes os grandes educadores do movimento da Escola Nova. Para eles, a paz do amanhã dependia da criação de um novo modelo de ser humano, graças à educação. Experimentos alternativos originais floresceram por toda a Europa. Uma educação sem coerção, na que o autoritarismo fosse substituído pelo autogoverno da comunidade escolar. Com umas escolas que tinham a individualidade de cada criança considerada como fundamental e alentavam um lúdico e criativo relacionamento com a aprendizagem. Escolas que pensavam tanto no corpo como na mente das crianças e o relacionamento entre natureza e arte. Duas grandes personalidades merecem o nosso melhor e maior reconhecimento, pelo seu formoso labor de difusão das novas ideias educativas por todo o planeta. Em primeiro lugar, Adolphe Ferrière, de nacionalidade suíça, verdadeiramente incansável, que não descansou até criar uma coordenadora das novas escolas sob o título de “Liga Internacional das escolas Novas”, fundada em 1921, para repensar a educação a escala internacional e abordar o futuro da humanidade. Em segundo lugar, Beatrice Ensor, que fundou a The New Education Fellowship, com a que ajudou a difundir as novas ideias também na África, na Ásia e na Oceânia. As juntanças e congressos dos dinamizadores e representantes das diferentes escolas novas iam ter lugar em Europa: Calais (1921), Montreux (1923), Heidelberg (1925), Locarno (1927), Elsinor (1929), Niza (1932) e Cheltenham (1936). Por culpa de uma nova e desgraçada guerra, o congresso previsto em 1939 a celebrar em Paris, não pudo ter lugar. Já em 1936, tanto Alemanha como Itália, com os seus governos nazi-fascistas, não participaram. O crescente autoritarismo estava varrendo lamentavelmente o continente. Nos congressos celebrados citados o número de participantes passou de 100 a 2000 em duas décadas, demonstrando a força do movimento ao serem criadas muitas mais escolas novas. Depois de não poder celebrar-se o congresso de Paris, Ferrière olhou com grande desespero e impotência o crescimento do fascismo europeu, que foi acabando com o trabalho de quase toda a sua vida. Os esforços pela paz tinham fracasado, selando o destino individual dos educadores e fechando um lindo projeto coletivo. O sonho derrubou-se quando uma nova e feroz grande guerra se estendeu por quase toda Europa, com repercussões graves noutros continentes.

O filme-documentário da realizadora polaca Grudzinska, usando raras tomas e fotos de arquivo, conta a história de esta incrível luta pelo progresso humano, que foi construído e depois destruído pelas ideologias do século XX. Nenhum outro experimento educativo similar foi tão longe, impulsionado por tantas personalidades excecionais, que atuam em concerto de forma cooperativa e no âmbito internacional. Por esta razão, e porque tanto na altura como agora, a educação mantém-se no centro de qualquer projeto social e político, esta pouco conhecida história deve ser contada hoje, quando ressoa com tanta força como nunca uma grande crise social, que necessita urgentemente um novo modelo educativo. Entre as duas guerras, num mundo em crise, os educadores levam a cabo alguns experimentos educativos assombrosos em toda Europa, em nome de uma crença no progresso espiritual e na igualdade da inteligência dos indivíduos. Eles trataram de reorganizar a educação para criar uma nova classe de criança, por meio da elaboração de um vínculo entre o ensino e os sentidos e sensações, a imaginação, o jogo, o prazer e a vida comunitária. Por exemplo, diferentes objetos se utilizariam para a aprendizagem e educação sensorial, mais que o intelecto; ou a escrita na que se animou a expressar-se por meio da imaginação e da criatividade, ou para o intercâmbio através da produção de textos em revistas destinadas à correspondência entre a escola e a imprensa. O relacionamento entre o mestre e o aluno teve que ser revisado radicalmente pela aplicação dos princípios antiautoritários, inclusive libertários. A coeducação dos sexos, e o relacionamento entre o corpo e a natureza pensava-se que eram indispensáveis para que a escola se pudesse converter num laboratório vivo para a democracia, e para que as comunidades educativas se pudessem converter em repúblicas independentes com autogoverno.

Para a difusão das novas ideias pedagógicas, o movimento internacional contou em diferentes países com publicações periódicas muito importantes. Entre elas há que citar as seguintes: Revista de Pedagogia, dirigida por Lorenzo Luzuriaga, e o BILE de Giner e Cossío, ambas em Espanha; Education for the New Era, dirigida por Beatrice Ensor, para o mundo anglo-saxão; Pour l’ere Nouvelle, para o mundo francófono; La Nueva Era, para América Latina, nomeadamente Argentina e Chile; Progressive Education para os EUA e L´Educateur, revista do Instituto J. J. Rousseau de Genebra.

O filme conta a história das escolas novas em duas partes bem diferenciadas. A primeira, de 1918 a 1929, apresenta informação sobre a fundação do movimento pedagógico, o seu ponto mais alto e as primeiras crises. A segunda, de 1930 a 1939, volta a narrar a radicalização do movimento com o aumento do extremismo na Europa, até a sua final dissolução. Instigador e incansável propagandista do movimento, Adolphe Ferrière, é o narrador principal da história. Guiados por ele, o filme traça as linhas principais narrativas: por um lado, as experiências práticas dos educadores, tratados de uma maneira não hagiográfica, cada um colocado num contexto local e nacional; por outro, a aventura compartida da “Comunidade”, a partir do seu sonho inicial à sua implosão. Em médio de tudo isto, encontra-se a figura de Ferrière, a força da federação do movimento, cujo compromisso e profundo questionamento permitem-nos tecer os fios desta grande revolução educativa. Ferrière foi um educador capacitado, mas não podia trabalhar na sala de classes por ser surdo. No seu lugar, decidiu enumerar, classificar e recopilar todas as suas experiências profissionais; viajou por toda Europa, e também por América Latina, visitando escolas e educadores, mantendo reuniões e um detalhado diário de tudo o que aprendeu e recolheu. Através dos seus olhos obtemos uma ampla visão, íntima e reflexiva da aventura que supôs o movimento, que em grande medida era o seu sonho. O filme baseia-se em documentos de raros arquivos da época, pesquisados em diversos fundos públicos e privados da Europa, na maioria dos casos por primeira vez abertos para a realização deste filme. O movimento das escolas novas era um autêntico e extraordinário laboratório: as revistas, as publicações, os filmes rodados nas novas escolas, as muitas fotos tiradas pelos educadores e os folhetos, constituem um material excecionalmente rico. O material visual é surpreendente, os filmes de publicidade das novas escolas, os filmes educativos, exercícios, fotos de lembranças, tarjetas postais publicitárias, etc. Podemos olhar a alunos banhando-se em rios perto de escolas como a de Summerhill, na classe de Freinet em Vence, ou nos quartos da escola com Ferrière. Estas imagens atuam ao mesmo tempo como “discursos” e as ilustrações das práticas escolares são fascinantes. Como são em branco e preto e sem som, podem ler-se de muitas maneiras, o que lhes permite ser utilizadas desde vários ângulos na estrutura do filme: os acontecimentos na vida dos educadores, as ilustrações dos seus conceitos sobre o ensino, os rastros da ambivalência do movimento, imagens que perduram embora muitas das escolas tiveram que desaparecer por culpa da nefasta segunda guerra mundial. Que trouxe a mudança do clima político na Europa, e que provocou que Montessori fosse cortejada por primeira vez pelos fascistas italianos, antes de ser censurada. Ou que Makarenko fosse criticado e exilado pelos comunistas que logo com a sua morte o aclamaram. Ou que Freinet fosse contestado pelos reacionários do povo onde tinha a escola, pelo grande temor às suas ideias, tendo que volver clandestinamente por um tempo nas montanhas. Ou o exemplar caso de Korczak que optou por seguir as suas crianças do gueto de Varsóvia, para morrer com elas num campo nazi.

PRINCÍPIOS DIDÁTICO-ORGANIZATIVOS DAS ESCOLAS NOVAS:

Escola Nova Livro de Lourenço FilhoNo Congresso de Calais de 1921, promovido por Ferrière, os representantes das diferentes escolas novas presentes aprovaram um catálogo de princípios educativos e organizativos, que serviria como base para o funcionamento das diferentes escolas. Tanto Lorenzo Luzuriaga como o brasileiro Lourenço Filho, nos seus respetivos livros sobre as escolas novas, recolhem amplamente este catalogo e comentado. Eu tenho a bem resumir de maneira sintética o mesmo para este depoimento:

A.-Sobre Organização Escolar:

  • A Escola Nova (em adiante EN) é um laboratório de pedagogia prática.
  • A EN é um internato, pela importância da influência educativa do meio ambiente.
  • A EN está situada no campo, em plena natureza e, a poder ser, perto de uma cidade.
  • A EN agrupa os escolares em casas-lar, baixo a tutoria de dois educadores (um homem e uma mulher)
  • Na EN pratica-se a coeducação de ambos os sexos.

B.-Sobre a Vida Física:

  • A EN dá grande importância às oficinas pedagógicas (ateliês) e aos trabalhos manuais.
  • Na EN as atividades preferidas são a carpintaria, o cultivo do campo e o cuidado de animais.
  • A EN motiva os escolares para realizar trabalhos livres, com o fim de desenvolver a sua criatividade.
  • A EN fomenta a educação física, os jogos populares e ginástica natural.
  • A EN fomenta as atividades ao ar livre, as excursões e os passeios escolares.

C.-Sobre a Vida Intelectual:

  • A EN entende por cultura geral o cultivo do juízo e da razão.
  • A EN acrescenta aquela com a especialização, fomentando a livre eleição.
  • A EN baseia o ensino nos factos e nas experiências, servindo-se do método científico para pesquisar.
  • A EN recorre à atividade pessoal dos estudantes, o desenho e as redações livres.
  • A EN estabelece o programa tendo muito presente os interesses espontâneos das crianças.

D.-Sobre a Metodologia Didática:

  • A EN recorre ao trabalho individual dos alunos, fomentando a sua capacidade expressiva.
  • A EN recorre ao trabalho cooperativo dos escolares, fomentando o trabalho livre por grupos.
  • Na EN o ensino propriamente dito tem lugar em horário de manhã.
  • Na EN estudam-se poucas matérias por dia, respeitando preferências e gostos dos alunos.
  • Na EN estudam-se poucas matérias por mês, para lograr a concentração e a eficácia.

E.-Sobre a Educação Social:

  • A EN funciona como uma “república escolar”, fomentando a assembleia dos estudantes.
  • Na EN os estudantes elegem democraticamente os seus coordenadores.
  • A EN reparte entre os seus alunos os cargos sociais e as responsabilidades.
  • A EN recomenda que não se realizem exames de tipo tradicional, mas exercícios que estimulem o interesse e a curiosidade dos estudantes.
  • Na EN não existem os prémios e os castigos, utilizando outras estratégias motivadoras de emulação e eliminando todo tipo de competitividade entre os estudantes.

F.-Sobre a Educação Artística e Moral:

  • A EN fomenta entre os escolares a ajuda mútua, o voluntariado e a solidariedade, educando para a paz e a não violência.
  • A EN deve ter sempre um ambiente de beleza, fomentando as Belas Artes entre os seus estudantes.
  • A EN dá uma grande importância à música, às canções, ao teatro, à dança e ao canto coral.
  • A EN educa a consciência e o juízo moral e ético dos escolares.
  • A EN educa a razão prática, a reflexão, o juízo crítico, ensinando a pensar os escolares.

TEMAS PARA DEBATER, REFLETIR E ELABORAR:

  • Depois de olhar o documentário, seguindo a metodologia do Cinemaforum, debater sobre a forma (linguagem cinematográfica) e fundo do filme (importante papel de Ferrière como coordenador do movimento das escolas novas, leitura das imagens fotográficas e filmes que aparecem no mesmo, e incidência da política no campo educativo).
  • Elaborar um quadro sinóptico com a listagem das escolas novas mais importantes que houve no mundo, algumas das que ainda funcionam hoje. A listagem deve estar ordenada cronologicamente desde a primeira escola nova criada à última. Terá que incluir ano de criação, nome com o que foi denominada, criador ou criadores, e lugar onde funcionou ou ainda funciona. A listagem pode enriquecer-se com outros dados, como, por exemplo, páginas da internet onde aparecem dados sobre a mesma, os criadores e fotos, se se da o caso.
  • Depois de ler entre todos o livro de Lourenço Filho Introdução ao estudo da Escola Nova, do que também existe edição castelhana nas editoriais Labor e Kapelusz, organizar um Livroforum, para refletir, opinar, debater, criticar e comentar o importante que foi no mundo o movimento das Escolas Novas. Seria importante também fazer propostas para levar à prática muitos dos princípios pedagógicos e organizativos das escolas novas, nas nossas escolas atuais.

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