Para compreendermos melhor a problemática do dano-norueguês temos primeiramente que botar a mão de umas pequenas considerações históricas. A saber:
Antes do século VII d.c. as regiões que ocupam os actuais Reinos de Dinamarca, Suécia e Noruega estavam habitadas por povos nórdicos germânicos com uma língua comum derivada directamente do proto-germânico e à qual se lhe deu o nome de proto-nórdico. Desta antiga língua temos testemunha escrita nas inscrições rúnicas e por restos adstráticos no lapão e no finês, línguas, estas, não germânicas, mas fino-úgrias e no entanto próximas geograficamente da língua dos povos escandinavos.
Do século VII em diante as falas desses povos que passaram à história com o nome de Vikings, quer dizer, piratas, começam a tomar distância entre si com pequenas diferenças dialectais que embora reais, eram tão mínimas que os próprios utentes nunca consideraram dar-lhes nomes particulares. Eram essas variantes duas fundamentalmente: uma seria o nórdico oriental (danês e sueco); e a outra o nórdico ocidental (norueguês, islandês e dialectos das Feroé, Shetland, Orcadas e Gronelândia). Estes dialectos nórdicos, tanto o oriental como o ocidental também nos são conhecidos pelas inscrições rúnicas achadas nas pedras desses países, sobretudo no que diz respeita a marcos territoriais, lugares de reunião ou rituais religiosos.
Do século VII em diante as falas desses povos que passaram à história com o nome de Vikings, quer dizer, piratas, começam a tomar distância entre si com pequenas diferenças dialectais que embora reais, eram tão mínimas que os próprios utentes nunca consideraram dar-lhes nomes particulares.
Entre os anos 1150 e 1350 começam a aparecer os primeiros textos feitos com caracteres latinos, as primeiras diferenças entre o faeroês, islandês, gronelandês e o próprio norueguês, quer dizer, entre as distintas falas do nórdico ocidental. Também aparecem as primeiras diferenças no nórdico oriental entre o sueco e o dinamarquês embora a união política escandinava surgida a partir da União de Kalmar em 1397 favorecesse uma língua padrão unificada sobre base dinamarquesa. Foi nesse ano quando a Península Escandinava e Jutlândia, anteriormente organizadas sob a base de pequenos reinos independentes procedem a uma união política, a chamada União de Kalmar da que falamos, na que com a Dinamarca como cabeça do novo reino unido ficam todos os territórios escandinavos sob o mesmo rei.
Em 1520 a Suécia, após muitos problemas e lutas, faz-se independente da União de Kalmar com Gustavo I levando consigo os territórios da actual Finlândia não-germânica. Com isto começam uma série de transformações linguísticas que diferenciam Suécia do resto da Escandinávia à vez que se unifica a sua língua escrita cujo modelo era o sueco da tradução luterana da Bíblia. A própria reforma protestante e as traduções das Bíblias às diferentes realizações linguísticas ajudam na individualização linguística entre Suécia por um lado e o que fica da União de Kalmar, quer dizer, o reino dano-norueguês por outro. A Suécia, pouco antes das guerras napoleónicas, em 1732 faz nascer oficialmente o chamado “novo sueco moderno” com a publicação do Then Swänska Argus de Olof von Dalin.
No entanto na Noruega as falas populares e a língua padrão mantêm uma ligeira distância, mas não maior do que em qualquer outro reino da altura e mesmo na atualidade, sendo o nome do padrão o chamado de Riksmål, quer dizer, língua do reino, norma partilhada com Dinamarca.
O reino dano-norueguês comete o erro de apoiar Napoleão durante os começos do século XIX. Após as Guerras Napoleónicas e a Guerra dos Canhoeiros entre 1807 e 1814, o Reino de Dinamarca-Noruega foi derrotado cedendo parte do território da Noruega ao Rei da Suécia pelo Tratado de Kiel. . Isto traz consigo muitas mudanças, já que com a derrota do imperador francês e por imperativo do tratado de Kiel em 1814, posteriormente reafirmado no Congresso de Viena em 1815 a Noruega perde as suas possessões da Gronelândia, Islândia e as Ilhas Feroé que permaneceram sob controle dinamarquês. Os noruegueses opuseram-se a esta situação com a que perdiam grande parte dos seus domínios e posteriormente uma assembleia constitucional declarou a independência norueguesa em 17 de maio de 1814, elegendo para o seu governo uma monarquia constitucional onde o Príncipe Cristiano Frederico da Dinamarca passa a reinar a Noruega independente com o nome de Cristiano VIII. Mas o conflito não acaba aqui, pois a Noruega é invadida pela Suécia e obrigada a aceitar uma nova união, agora com o país invasor sendo-lhe permitido ter uma constituição liberal e umas instituições autónomas com amplas competências. Só a política militar e assuntos estrangeiros eram dirigidos por Estocolmo.
A União Sueco-Norueguesa durou até 1905 quando num referendum democrático a Noruega decidiu a sua independência após quase um século de luta contra o domínio sueco e a necessidade de se diferenciar da Dinamarca do ponto de vista linguístico. Esta independência é respeitada pela Suécia.
Mas é durante todo o século XIX em que vai estar tingida a ideologia política da Escandinávia dum nacionalismo unionista pan-escandinavo, escandinavismo ou nordismo chefiado, quer pela Suécia, quer pela Dinamarca, embora concorrendo com o nacionalismo da Noruega defensora dum Estado independente e complementado com um isolacionismo linguístico no que diz respeito do padrão dano-norueguês. Esse isolacionismo está sustentado por uma versão da língua chamada de Landsmål, ou língua do país. Esta normativa que nós chamaríamos de isolacionista na Galiza de hoje, foi elaborada a partir do conjunto de falas norueguesas autótones, dialetais, populares e coloquiais construída por dous linguistas noruegueses defensores da separação linguística das falas dinamarquesas das norueguesas com o intuito da elaboração duma língua norueguesa independente. Som eles Ivar Aasem e K. Knudsen quem concretizaram o que havia de ser a língua duma Noruega soberana.
Aasem com o seu trabalho de dialectólogo percorreu os fiordes recolhendo as falas das pessoas mais rústicas, menos letradas e mais afastadas do mundo urbano e da cultura para elaborar o que chamou Nynorsk ou novo norueguês antes chamado Landsmål. O seu trabalho elaboracionista incluiu uma gramática, o Norske Grammar, ou o que hoje chamaríamos o norueguês normativo. Aliás Aasen criou um dicionário normativo que lhe levou grande parte da sua vida. Este trabalho teve o seu fruto em 1884 quando o Nynorsk consegue, após um grande esforço de Aasen, a igualdade legal perante a lei da sua normativa no que diz respeito do padrão dano-norueguês ou Riksmål, “Língua do Reino”, a partir de 1929 denominado Bokmål ou “língua do livro”, para evitar cair na politização que neste momento supunha o chamar-lhe com o velho nome do Reino Dano-Norueguês agora inexistente: As escolas ensinavam as duas sem se lhe impor qualquer delas aos alunos, embora se respeitassem as particularidades trazidas por eles das suas moradas.
A dualidade normativa norueguesa nessa altura era um assunto mesmo político pelo que o Nynorsk/Landsmål e o Riskmål/Bokmål concorrem pela consideração de língua própria dos noruegueses. No entanto, os grandes literatos, talvez levados por uma ideia inteligente de estarem com uma língua de mais amplitude e utilidade escrevem em Bokmål. Autores como Knut Hamsum, Henrik Ibsen, Björnstjerne Björnson, Jones Lis e Alexander Kielland deixam pegada na história como escritores na língua comum dano-norueguesa.
A igualdade legal conseguida em 1884 de ambas as normativas fez com que os funcionários tivessem que conhecer as duas sem existir para ninguém qualquer problema de compreensão e de intercomunicação. O Nynorsk/Landsmål avançou perante o Riskmål/Bokmål durante todo o começo do século XX até o final da II Guerra Mundial com muito sucesso, sobretudo no mundo rural, tradicional e conservador, mas foi desde o momento no que se fez extensiva a educação, a cultura, e os médios de comunicação em massa quando o Bokmål recuperou o seu terreno até a época atual na que esta normativa é a mais importante em percentagem de utentes. Em 2011 é a língua de preferência do 87% dos alunos da escola primária enquanto o Nynorsk/Landsmål é considerada como uma variante regional dos quatro condados mais ocidentais e mais rurais da Noruega.
Foi desde o momento no que se fez extensiva a educação, a cultura, e os médios de comunicação em massa quando o Bokmål recuperou o seu terreno até a época atual na que esta normativa é a mais importante em percentagem de utentes. Em 2011 é a língua de preferência do 87% dos alunos da escola primária enquanto o Nynorsk/Landsmål é considerada como uma variante regional dos quatro condados mais ocidentais e mais rurais da Noruega.
O professor José Luis Alvarez Enparantza “Txillardegi” da Universidade do País Basco diz: “Tudo parece indicar que as novas gerações norueguesas não se importam com falar e escrever a mesma língua que os dinamarqueses”. É portanto que o projeto isolacionista de Ivar Aasen foi um fracasso tendo em conta a deriva natural da sociedade norueguesa num século de independência no que diz respeito da sua língua. É-lhes mais rendível a variante mais próxima ao dinamarques do que outra que isola as falas norueguesas do resto das falas germânicas escandinavas, pois a vantagem que supõe a proximidade é grande e de muita utilidade, mais quando mesmo hoje as distintas realizações linguísticas nórdicas não apresentam diferenças fundamentais e importantes nem no léxico, nem na grafia, nem na morfologia ou a sintaxe, só pequenas variações fonéticas que não impedem a intercompreensão entre dinamarqueses e noruegueses e mesmo entre estes e os suecos; isto é assim até o ponto de existirem programas concursos nas TVs destes países nas que participam cidadãos dos três reinos sem quaisquer problemas de compreensão nem necessidade de legendagens ou traduções.
É-lhes mais rendível a variante mais próxima ao dinamarques do que outra que isola as falas norueguesas do resto das falas germânicas escandinavas, pois a vantagem que supõe a proximidade é grande e de muita utilidade, mais quando mesmo hoje as distintas realizações linguísticas nórdicas não apresentam diferenças fundamentais e importantes nem no léxico, nem na grafia, nem na morfologia ou a sintaxe, só pequenas variações fonéticas que não impedem a intercompreensão.
Igualmente, queremos salientar é a absoluta liberdade do país nórdico para a convivência de duas normas linguísticas com filosofias de base totalmente diferentes. Nada a ver com a ditadura normativa e a intolerância das autoridades galego-espanholas a respeito do tratamento que a nossa língua recebe das instâncias oficiais. Na Noruega vivem todos juntos e assim se respeitam; na Galiza o poder destrói a língua e favorece o “apartheid” dos que defendemos o nosso “Bokmål” galego-português em favor do seu “Landsmål” populista. Por outra parte, a quase totalidade dos partidos políticos que se denominam galeguistas numa amostra de anormalidade histórica no que diz respeito de outros movimentos nacionalitários europeus faz seguidismo do “Landsmålismo” absurdo e permite uma situação que não se vê em qualquer país são da Europa. Aguardamos que a cultura se estenda, que o exemplo se difunda e que o sentimento de liberdade, tolerância, democracia e sentido prático sejam contagiosos num Reino de Espanha falto de todo isso e numa Galiza cujo modelo castelhanocéntrico assobalha perante qualquer vestígio, suspeita ou indício de inteligência.
[Este artigo foi publicado originariamente aqui]