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Nove perguntas a André Tecedeiro

andre-tecedeiroAndré Tecedeiro nasceu em 1979, em Santarém. Publicou os livros Rebento-Ladrão (Tea for One, 2014), Deitar a Trazer (Douda Correria, 2016), O Número de Strahler (Do Lado Esquerdo, 2018), A Arte da Fuga (Do Lado Esquerdo, 2019) e A Axila de Egon Schiele (Porto Editora, 2020). Integra, também, as antologias Mixtape II (Do Lado Esquerdo, 2018) e Casa (Do Lado Esquerdo, 2016), e tem colaborado com diversas revistas literárias.

Em 2019, a sua poesia foi tema de uma sessão do Clube dos Poetas Vivos, no Teatro Nacional D. Maria II (Lisboa), e de uma leitura encenada do ciclo Da Voz Humana, na Livraria Ferin (Lisboa). Os seus poemas também têm estado presentes em diversos programas de rádio e podcasts.

André Tecedeiro é licenciado em Pintura e em Psicologia e mestre em Artes Visuais e em Psicologia dos RH, do Trabalho e das Organizações (Universidade de Lisboa). Convidámo-lo a responder a nove perguntas.

1 – O mundo de hoje, assoberbado pela tecnologia e pelo ruído, ainda tem lugar para o ritmo da poesia? Porquê?

Se existe tanta gente com vontade de escrever e de ler poesia, é porque ainda há espaço para ela. Mas esta poesia que hoje se lê e se escreve é uma poesia diferente da que se lia e escrevia quando os dias eram mais silenciosos e largos. Tudo muda de forma articulada e a poesia vai tomando novas formas ao longo da história, vai-se adaptando ao contemporâneo, aos seus ritmos e às suas linguagens.

Tudo muda de forma articulada e a poesia vai tomando novas formas ao longo da história, vai-se adaptando ao contemporâneo, aos seus ritmos e às suas linguagens.

2 – Quanto ao lugar do poeta no espaço público, como é encarado por ti?

Ainda não sei muito bem como gerir esse lugar. Ultimamente pedem-me muito para estar presente em eventos, para debater temas, para emitir opiniões, e não sei muito bem o que se espera de mim, porque não antecipei nem planeei nada disso. Percebo que o que digo tem eco nas pessoas porque recebo muitas mensagens a comentar o que disse ou escrevi, por isso tento passar mensagens positivas e contribuir para o empoderamento das pessoas a quem chego.

3 – Como foi o teu processo de despertar para a criação literária?

Em criança ficava realmente feliz quando na escola me davam um tema para escrever uma composição ou quando ia à biblioteca e voltava para casa com um monte de livros. Quando tinha 11 ou 12 anos ia à biblioteca pelo menos uma vez por semana levar e trazer livros, e ia sempre sozinho ou com amigos da escola. Era uma atividade que não envolvia adultos, por isso era uma coisa que me fazia sentir crescido e independente. Acho que sempre associei a leitura e a escrita a sentimentos positivos, por isso sempre foram coisas que fiz por prazer e que simplesmente continuei a fazer quando cresci.

4 – Fala-nos um pouco das tuas motivações criativas. O que te impele?

Numa primeira instância, o que me impele é o desejo de registar algo que me veio à cabeça, uma ideia. Mas a coisa podia ficar por ali, na forma de uma anotação quase ilegível, se não tivesse também o prazer lúdico de procurar a melhor forma, o melhor arranjo, para que as palavras possam estar mais próximas do que quero dizer. Vai tudo ter ao prazer do processo de escrita.

Numa primeira instância, o que me impele é o desejo de registar algo que me veio à cabeça, uma ideia. Mas a coisa podia ficar por ali, na forma de uma anotação quase ilegível, se não tivesse também o prazer lúdico de procurar a melhor forma, o melhor arranjo, para que as palavras possam estar mais próximas do que quero dizer. Vai tudo ter ao prazer do processo de escrita.

5 – Com que outros artistas – desde escritores, pintores, músicos, cineastas, etc. – procuras dialogar nas tuas obras, quais são as tuas grandes referências?

Naturalmente, vou buscar muito às artes plásticas porque a minha formação começou por ser nesta área. O título do meu último livro inclui o nome de um pintor, por isso este “contágio” é evidente, nem vale a pena disfarçar. Também vou buscar muitas referências ao cinema. Gosto muito de histórias de aventura, fantasia e superação. Tenho um poema que fala do Neverending Story, que foi o primeiro filme que vi no cinema e ao qual regresso muito. O livro “A Arte da Fuga” reúne uma série de poemas baseados em histórias de fugitivos, algumas delas descobertas na banda desenhada ou em enciclopédias, outras que vieram também do cinema, como a de Papillon. O último poema desse conjunto remete para o Stromboli, do Rossellini. Tenho também um poema que foi escrito enquanto ouvia em loop a Gymnopedie nº 1 de Erik Satie. Tudo me pode servir de ponto de partida para um poema.

6 – O teu último livro é A axila de Egon Schiele, pela Porto Editora. O que gostarias de partilhar sobre ele connosco?

Os livros que editei antes da axila estavam todos esgotados, mas continuaram a ter procura, por isso o Valter Hugo Mãe, que é o curador da coleção Elogio da Sombra, convidou-me a agrupar num só volume todos os livros antigos mais um livro de poemas novos (a Axila de Egon Schiele, que acabou por dar nome ao conjunto todo). O livro inclui ainda um diálogo entre mim e a minha esposa, a Laura.

7 – Como poeta que escreve em português, consideras importante manter o diálogo com autores de outros países e regiões de língua portuguesa? Porquê?

Acho que esse tipo de diálogo é muito saudável, refrescante e enriquecedor. Confesso que a língua portuguesa que é falada ou escrita noutros países tem uma frescura que eu invejo, mas da qual não sinto o direito de me apropriar.

8 – O que conheces da cultura galega, tens alguma referência que gostasses de destacar?

Há uns vinte anos, estava num café em Santiago de Compostela e passou na rádio uma música que me deixou tão “agarrado” que tive de perguntar ao empregado quem estava a cantar. Era a Mercedes Peón. Não descansei enquanto não comprei o CD. Durante uns tempos ouvi o Isué em loop. Marcou uma fase da minha vida.

Há uns vinte anos, estava num café em Santiago de Compostela e passou na rádio uma música que me deixou tão “agarrado” que tive de perguntar ao empregado quem estava a cantar. Era a Mercedes Peón. Não descansei enquanto não comprei o CD. Durante uns tempos ouvi o Isué em loop. Marcou uma fase da minha vida.

9 – Por fim, como encaras a relação entre a Galiza e Portugal e como pensas que poderia evoluir?

Penso que a cooperação em projectos transfronteiriços e o intercâmbio artístico é sempre uma boa forma de estreitar laços. A língua galega tem uma proximidade com o português que pode ser explorada criativamente de parte a parte.

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